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06 fevereiro 2020

Obrigado Ornelas

06 fevereiro 2020 3 Comentários
COMO O BENFICA VAI CONQUISTAR O SEU 30.º TROFÉU NA TAÇA DE PORTUGAL...



E este espaço está em dívida - e continuará a estar - para com Ricardo Ornelas eis um bom pretexto (o jogo da primeira mão das meias-finais da 97.ª edição da Taça de Portugal) para prestar homenagem a alguém que não sendo Benfiquista teve dentro de si os valores do «Glorioso»... Ricardo Ornelas.



Em 1939, o início de um magnífico texto no excelente jornal «Os Sports», daquele que é, para mim, o melhor jornalista desportivo de sempre, Ricardo Ornelas. E li reportagens acerca de desporto desde o século XIX. Rigoroso, combatente, por isso de causas (entre elas, a má designação das competições desde 1921/22 e até 1934/35 a inexistência de um verdadeiro campeonato nacional em Portugal), publicou muito (mesmo livros) tudo bem feito e com valor fidedigno. A frase à Ornelas (sucinta, exacta e certeira) diz tudo: «"Taça de Portugal" sucedânea directíssima do "campeonato de Portugal"». Repito o inequívoco termo ornelianodirectíssima! Tudo dito!

(clicar sobre a digitalização para obter melhor visualização)




Cândido de Oliveira é numa Glória do Futebol do Benfica com conhecimento enciclopédico do desporto, com destaque para o Rei Futebol. Ponderado, exigente, disponível e comprometido, os seus escritos enchem de gratidão quem os lê. Tem-se orgulho alheio. Começou por ser casapiano sportinguista mas Cosme Damião viu nele um futebolista à Benfica. Chegou criança ao Benfica, fez-se Homem e capitão da primeira categoria, decidindo partir, como campeão regional, em 1919/20, para fundar o Casa Pia AC que foi logo campeão regional em 1920/21. Pudera! Nunca mais voltou ao Clube (e se houve oportunidades para isso...) sendo ele o mais consagrado e importante treinador português dos Anos 30 a 50, passando pelo CR Flamengo (Brasil) embora nem no jornal «A Bola» de que ele foi um dos fundadores saibam disso. Pelo menos disseram, há uns largos meses, que Jorge Jesus foi o primeiro! 



Ribeiro dos Reis é uma Glória Eterna do Benfica. Foi tudo no Benfica. Tudo. Da ponta dos cabelos às unhas dos pés. Pode haver um Benfiquista - ou Benfiquistas - igual a ele, mas nunca haverá nenhum que o supere. Metódico, didáctico, pedagogo, versátil e estudioso a sua prosa encanta. Supera-se a cada frase, em cada parágrafo. Títulos adequados, simples, sem demagogia ou expressões inúteis e desajustadas. Equilibrado e ponderado nunca se percebe que é do Benfica. Quando tem de dizer o que deve ser dito acerca do que o Benfica faz de errado, diz. Quando tem de elogiar o adversário é com desenvoltura e acutilância que o faz. Benfiquista casapiano recusou sair para fundar o Casa Pia AC aquando do apelo do seu amigo Cândido de Oliveira (fundaram os dois o jornal «A Bola») e de António Pinho. Ler Ribeiro dos Reis sabendo que foi da 4.ª até à 1.ª categoria, nesta foi futebolista, goleador, internacional por Portugal, capitão, treinador, capitão-geral, seleccionador nacional (foi com ele que a selecção obteve a primeira vitória) enquanto fazia o percurso descendente da 1.ª para a 3.ª categoria. Dirigente inexcedível foi o presidente dos associados, como líder da assembleia geral do Clube. Um Gigante do Benfiquismo. Desde a Casa Pia de Lisboa, Liceu da Lapa (Pedro Nunes) até ao seu repouso final no cemitério do Alto de São João onde ainda se sente o Benfica! Mais do que em alguns, que dizem, estão vivos. 

Ricardo Ornelas é, para mim, o melhor dos três, o "Príncipe" dos jornalistas desportivos. Casapiano adepto do Internacional foi um combatente. Sempre na «Linha da Frente». Um Jornalista de causas, ou seja, com J maiúsculo! Quando abraçava o que sabia ser a verdade, o que sabia ser melhor repetia até à exaustão nunca cedendo um milímetro. Desprendido não trocava verdade, rigor e honestidade por dinheiro nenhum, nem vãs glórias. Prosa fácil ao correr da caneta, sem equívocos, sem falsidades, ponderado mas temerário. Dá tanto gosto ler o que escreve que se relê e continua a surpreender. Textos secos, no osso, sempre em passo acelerado, mas o suficiente para se perceber. É o jornalista que menos se lê nas entrelinhas. Se eu fosse jornalista era dele o meu modelo. Era como ele que queria ser. Seria apenas um por cento orneliano? Já era bom. Muito Bom. Praticamente inatingível face à mediocridade actual que grassa, entre serpalhadas, delgácias, azevedados e simõeszadas! 



Ricardo Ornelas ainda chegou a tentar jogar futebol no «Glorioso» - era três anos mais novo que Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis, nascidos em 1896 - mas "nem a guarda-redes", ou como ele escreveu: Fui discípulo de um «Mãos de Ferro» (Silvestre Silva foi seu professor académico e, pelos vistos, na arte de defender balizas, na Instituição, tendo mais 23 anos - 1876 - que Ricardo Ornelas) mas nunca consegui passar de um «Mãos de Papel». Fraco discípulo de um tão grande Mestre!


A imprensa manuscrita e dactilografada feita pelos alunos da Casa Pia foi um ensino fantástico na meninice que depois projectou muitos Casapianos para o sucesso e credibilidade 

Ricardo Ornelas merece muito mais destaque neste blogue com digitalizações daquilo que escreveu. Mais do que alguém dizer como ela era, o melhor é ler o que escreveu. E se escreveu muito e bem. Talvez em 4 de Setembro de 2020, para assinalar os 53 anos do seu falecimento, em 1967, este blogue lhe faça mais uma pequena homenagem publicando dez dos seus textos.

Agradecimento sublime a Ricardo Ornelas

Alberto Miguéns

NOTA: Agradecimentos a Hélder Tavares, João Silva e Mário Pais. Pelo «Dicionário de Autores Casapianos», pela foto da caricatura tirada, ontem, na Hemeroteca Municipal de Lisboa e por tudo. 
3 comentários
  1. Desses três gigantes do desporto Português, Ricardo Ornelas é o que conhecia menos bem. Obrigado o Alberto por nos dar uma ideia do carácter e qualidades humanas e profissionais de Ricardo Ornelas, uma figura que muitas vezes nem sequer é fácil encontrar uma fotografia. Assim é a (falta de) memória dos desportistas Portugueses... Ricardo Ornelas foi mais um dos ilustres filhos da Casa Pia, a abençoada casa-mãe que tantos e tão bons cidadãos deu a este País.

    É uma lástima ver o que se tornou o Jornal A Bola. Lástima pela comparação tão desfavorável do presente face a um passado repleto de ilustres figuras do jornalismo desportivo Português. Lástima também pelo estragos que a sua falta de qualidade e rigor vai causando. Sinais dos tempos em que nos mais diversos sectores das sociedades ocidentais se troca a verdade pela conveniência, a honra pelo dinheiro, a razão pelo esgoto. A Bola não será o pior de entre esses media mas pelo seu passado ilustre deveria procurar elevar-se e ser um farol de qualidade e rigor. É também uma lástima pessoal pois quando - eu criança - folheava com admiração aquele enorme lençol de papel, nunca imaginaria o que um jornal tão respeitado se poderia vir a tornar.

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    1. Por todos esses motivos e mais ainda pelo meu pessoal e profundo asco ao papel, não dou um tostão a ganhar a nenhuma dessas publicações. Lamento profundamente que velhos hábitos enraizados não permitam que outros consócios do Glorioso se consigam libertar dessas autênticas grilhetas mentais.

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  2. Excelente Investigação (mais uma vez) e comentário certeiro do Srº Victor Carocha, que saudades de "A Bola"...eu e o meu irmão (sócios 6598 e 6597) não descansávamos enquanto o nosso Pai não chegava a casa para almoçar, trazendo o jornal (seg. quintas e sábados) para avidamente lermos de fio a pavio, Alfredo Farinha, Carlos Pinhão e mesmo o grande e isento sportinguista Vítor Santos, mesmo assim, atualmente não tão mau como Record e Jogo, imperdoável 1ªs páginas como uma derrota em Paris com o PSG, com o título garrafal "Vergonha"...enfim, isto dava pano para mangas, e caro Alberto Miguéns, não é só a 30ª Taça, está época é mais uma dobradinha para o palmarés ímpar do SLB.
    Bem hajam

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