Foi presidente em dois períodos separados por dez anos. No
primeiro (Anos 60) os mandatos eram anuais. No segundo (Anos 70) as gerências
eram bienais e foi reeleito uma vez (1979) estando dois mandatos consecutivos
como presidente da Direcção do Clube. No total, três mandatos.
NOTA: Falta ilustrar este texto com imagens de conquistas da temporada homenageando também o fotógrafo Roland Oliveira que tinha por José Ferreira Queimado uma estima inexcedível. Concluído!
NOTA: Falta ilustrar este texto com imagens de conquistas da temporada homenageando também o fotógrafo Roland Oliveira que tinha por José Ferreira Queimado uma estima inexcedível. Concluído!
Há 105 anos
José
Ferreira Queimado nasceu, em 23 de Dezembro de 1913, na Pocariça, um pequeno
lugar da freguesia de Olhalvo, no concelho de Alenquer. Empregado de Comércio
em Lisboa, entrou para associado do “Glorioso” com o n.º 4879, aos 14 anos, a
23 de Julho de 1928. Pouco tempo depois, em Setembro de 1930 deixou de ser
associado, regressando após doze anos já com o n.º 12 787, recuperando a
antiguidade em 1954. Empresário dinâmico, com negócios no ramo corticeiro,
possuindo uma fábrica no Montijo, foi eleito presidente da Direcção do nosso
Clube aos 53 anos, após ter sido nomeado, no ano anterior presidente da
Comissão Central.
Três listas
a sufrágio
O
facto do mandato anterior decorrer abaixo das expectativas iniciais permitiu
que nas eleições realizadas, em 17 de Junho de 1966, acorressem à Secretaria da
Rua Jardim de Regedor, local habitual das eleições anuais, 3 658 associados
detentores de 78 631 votos, constituindo novo recorde de presenças,
ultrapassando em 221 sócios o valor registado dois anos antes, em 1964. Pela primeira
vez na nossa história havia três listas a concorrer às eleições, com o anterior
presidente a registar apenas cinco por cento dos votos. Saiu vencedora a lista
A, sendo eleito com 60 por cento da votação José Ferreira Queimado, para
presidente da Direcção, com 47 111 votos. Para os outros dois cargos
presidenciais foram escolhidos pelos nossos associados, o Dr. Sidónio Rito
(reeleito na Mesa da Assembleia Geral) e António Ferreira (no Conselho Fiscal).
Os Órgãos Sociais tomaram posse, em 7 de Julho de 1966, tornando-se em rigor
dirigentes do Clube após esta cerimónia.
Futebol
campeão
Foi já no
final da temporada de 1965/66 que o Benfica cedeu sete jogadores (dos 22
seleccionados) para o Mundial de 1966, realizado em Inglaterra, com os nossos
cinco avançados a jogarem todos os seis encontros da fase final, marcando os 16
golos de Portugal, capitaneado pelo nosso Coluna, que obteve o 3.º lugar, ainda
a melhor classificação portuguesa de sempre, em Campeonatos do Mundo. No início
da época de 1966/67 foi contratado Fernando Riera que regressava ao nosso Clube
após um afastamento de três épocas, numa temporada encarada de transição porque
pela primeira vez na nossa história, o Benfica não participava na Taça dos
Clubes Campeões Europeus (TCCE), mas na Taça das Cidades com Feiras (em 1971/72
designada Taça UEFA). A iniciar a temporada conquistámos a Taça de Honra de
Lisboa e no final recuperámos o título de campeão nacional, dando início a mais
um tricampeonato. Entretanto o afastamento precoce logo nos oitavos-de-final
das Competições Europeias foi apenas tolerado (!) porque não se tratava da
TCCE! Há ainda a registar um infeliz acontecimento, em 5 de Dezembro de 1966,
com o falecimento no nosso Estádio do infortunado jogador Luciano. E em 28 de
Janeiro de 1967, em Santiago do Chile, numa das habituais digressões
“corre-mundo” do plantel de futebol, o jogador Augusto Silva sofreu um acidente
vascular – trombose cerebral - que o impossibilitou continuar como futebolista.
Os dirigentes decidiram que continuaria empregado no Clube com funções
administrativas.
Em 1965/66, uma espectacular conquista frente ao Sporting CP |
Alteração da
estratégia na aquisição de futebolistas
Em
1966/67, o Benfica altera a estratégia de aquisição de futebolistas. Continua a
apostar na aquisição dos melhores futebolistas nacionais (não podia
transaccionar futebolistas estrangeiros) mas procura fazer aquisições de
jogadores ainda antes da idade de seniores. É uma mudança radical em relação ao
que estava instituído no Clube desde 1926/27 (ou seja, desde a saída de Cosme
Damião pois para Cosme Damião o Benfica devia formar todos os futebolistas não
fazendo aquisições noutros clubes). O Benfica entre 1926/27 começa a adquirir
futebolistas para colmatar posições que as categorias mais jovens não
conseguiam colmatar com capacidade para não desequilibrar o plantel dando
prioridade a essas aquisições. Em 1966/67, implementa outro tipo de estratégia.
Conseguir trazer os jovens futebolistas de todo o território português fazendo
a formação final nos Juvenis e nos Juniores mas tentando aproveitar mais
futebolistas quando atingissem a idade de seniores. O Benfica na Formação nunca deixou de conquistar.
Por exemplo, os Gloriosos Juniores, em 1965/66, conquistavam pela 10.ª vez
consecutiva o campeonato regional, conseguindo o 16.º título em 23 épocas da
competição, registando ainda sete segundos lugares! Notável! Mas dos 19 campeões,
só Diamantino Costa teve depois carreira longa com o «Manto Sagrado». E em 1966/67, os juniores consagraram-se com o 17.º título em 24 edições do campeonato regional, numa temporada em que não se realizou o campeonato nacional da categoria (foi suspenso). Destes 23 campeões, Humberto Coelho, logo ainda como "júnior de primeiro ano" iniciava a saga da nova política implementada no Clube. O que se
vai suceder é uma política desportiva de sucesso, que as gerências de Borges
Coutinho ainda vão potenciar a um nível mais elevado, permitindo em dez épocas
ter mais de metade do plantel constituído por futebolistas que se sagraram
campeões nacionais como Juniores e/ou Juvenis pelo Benfica. Em 1976/77,
temporada de tricampeonato nacional, o Benfica chegou a utilizar - com Bento, Toni, Pietra e Alhinho impedidos - em jornadas do
campeonato nacional, em simultâneo, dez futebolistas nestas condições (fizeram
a parte final da formação no Clube): José Henrique, Artur Correia, António
Bastos Lopes, Eurico Gomes, Alberto, José Luís, Sheu, Vítor Martins, Néné e
Chalana. E Jordão estava a jogar em Espanha (Real Saragoça). Provavelmente jogaria no lugar de Moinhos ou Victor Batista. Além de Humberto Coelho que estava a jogar em Paris. Provavelmente seriam doze para onze.
Mas tudo começou com esta mudança na política de aquisições implementada na
temporada de 1966/67 logo com Humberto Coelho e Néné a jogarem nos Juniores!
Olha que dois!
Dificuldades
financeiras
As duas
eliminações precoces nas Competições Europeias, em 1965/66 e 1966/67 vieram
aumentar (em muito!) as dificuldades financeiras do Clube, pois o orçamento do
“Glorioso” dependia cada vez mais do sucesso da equipa principal nas
competições da UEFA, as únicas com capacidade para gerarem receitas
apreciáveis. Esta situação era muito delicada, não permitindo quaisquer
investimentos enquanto não fossem apuradas as respectivas receitas. Assim o
passivo aumentou num ano 47 por cento (4838 contos ou 24 190 euros), passando
de 10 391 contos (51 955 euros) em Maio de 1965 para 15 229 contos (76 145 euros)
em Junho de 1966. Cada vez mais o “deficit” da Direcção correspondia ao “deficit” do futebol. A situação
financeira do “Glorioso” amarrava-nos a uma inactividade quase total, no que
respeitava a iniciativas de ordem social e de instalações.
Modalidades
gastadoras
A notável
dedicação de associados e atletas permitiu aumentar para 27 os desportos
praticados com o regresso da prática do halterofilismo, com a presença das
senhoras em dez modalidades. O Clube movimentava em 1967 um total de 3 194
atletas, com destaque para 1 032 ginastas. Mas o eclectismo era essencialmente
efectivo, com 674 títulos conquistados, entre eles, em 1967 pela primeira vez o
campeonato nacional por equipas, em Pugilismo e em 1966/67 o campeonato
nacional de Voleibol feminino, pelas “Marias” - o primeiro de nove triunfos
consecutivos. O hóquei em patins sagrou-se campeão nacional (1966) e no
ciclismo em 1967, a nossa equipa conquistou o campeonato nacional de fundo, com
o ciclista António Acúrsio a sagrar-se campeão nacional de fundo. No ano
anterior, em 21 de Agosto de 1966, o Benfica conquista a Volta a Portugal em
Bicicleta, colectivamente e por Francisco Valada. O Ciclismo era uma “modalidade
estruturante” pois complementava o Futebol e até tinha mais visibilidade que
este, na RTP, devido ao acompanhamento diário que as principais competições
tinham no único canal de televisão. Ainda, depois de José Ferreira Queimado
vencer as eleições, três modalidades com conquistas na Taça de Portugal:
Basquetebol (3.ª consecutiva), Râguebi (2.ª consecutiva) e Voleibol. O
atletismo em 1967 regressou às grandes conquistas: em masculinos campeões
regionais e nacionais de pista; e em femininos, campeões regionais e nacionais
de corta-mato, por equipas e individual, através da inigualável Manuela Simões.
No ano de 1967 alcançamos ainda feitos desportivos inigualáveis: no Badminton o
6.º título consecutivo de campeão nacional e na Luta o 7.º título consecutivo
de campeão nacional. No entanto o conceito “amador” começava a ser ridículo: em
31 de Dezembro de 1966, pela primeira vez em 62 anos de história do “Glorioso”
nas “modalidades amadoras”, as despesas ultrapassavam os 3 000 contos (3 176
656$40 ou 15 845 euros) para apenas receitas de 500 contos (509 929$10 ou 2544
euros) ou seja seis vezes menos! Incrível!
Francisco Valada e o Benfica conquistam a Volta a Portugal em Bicicleta (1966) |
Terrenos da
Luz sem solução
O problema
resultante da situação financeira alarmante impediu o desenvolvimento na
resolução dos terrenos da Luz (e da sua provável permuta pela nossa Sede na
Avenida Gomes Pereira) que continuava a arrastar-se há mais de um decénio,
também muito por dificuldades inusitadas, colocadas pela Câmara Municipal de
Lisboa, que teimava em não solucionar um problema que criara nos anos 50 quando
prometera e demorava a cumprir.
Relatório e Contas da Direcção e Parecer do Conselho Fiscal do Sport Lisboa e Benfica; 1966; página 21 |
Associativismo
imparável
A pujança do
“Glorioso” permitiria que registássemos, em 31 de Dezembro de 1966, um número
assinalável de Filiais (41), Delegações (8) e Casas (5). Os 46 374 associados –
60 com mais de 50 anos de filiação clubística – permitiram ultrapassar pela
primeira vez uma quotização de 7 000 contos (35 000 euros) gerando uma receita
de 7 606 708$50 (37 942 euros), ou seja, metade do valor do passivo!
Relatório e Contas da Direcção e Parecer do Conselho Fiscal do Sport Lisboa e Benfica; 1966; página 3 |
Derrota
eleitoral
No final
do mandato, os Órgãos Sociais propuseram-se às eleições, em 3 de Julho de 1967,
mas foram derrotados, recebendo 31 por cento dos votos, com Adolfo Vieira de
Brito a regressar à presidência da Direcção do Benfica. José Ferreira Queimado
continuou com cargos de nomeação relevantes no Clube, sendo entretanto nomeado
“Sócio de Mérito”, em 2 de Abril de 1970, regressando em 1977 como presidente
da Direcção. Para dois mandatos bienais até 1981. Faleceu, no mesmo dia em que
nasceu, 94 anos depois, em 2007, há doze anos.
Continua em 23 de Dezembro de… 2020
Alberto Miguéns
NOTA 1: Entrevistado aquando das Bodas de Diamante do Clube, em 28 de Fevereiro de 1979 (clicar)
NOTA 2: A prova que há muita mentira a circular por essa internet. Ao Benfica nunca o Estado Novo, via Ministério das Obras Públicas (MOP) ou Câmara Municipal de Lisboa (CML), deu nada. Nenhum terreno foi dado. O Benfica comprou, ainda que a um preço não especulativo. Pagava, em 1966, 60 000$oo pelos terrenos onde estava "apenas" o Estádio. Uma espécie de prestação anual até perfazer o pagamento total do custo dos terrenos estabelecido em 1952. E também é falso que o Benfica quando ficou sem campo nas Amoreiras, em 1939, tivesse o Sporting CP a oferecer o seu antigo espaço no Campo Grande. Impossível, pois o terreno do Campo Grande nunca foi do SCP. Estava alugado por este clube, entre 1917 e 1936. Depois o SCP deixou-o para alugar o campo do Lumiar (em 1937) e depois, sim, comprar o estádio do Lumiar, em 1946. O Benfica quando foi expropriado das Amoreiras, foi para o campo onde o SCP jogara mas que já pertencia à CML que o expropriou por estar no "corredor de protecção à construção da futura Segunda Circular. Ficou lá provisoriamente... até a CML encontrar uma solução. Ficou no Campo Grande mas a pagar o arrendamento! Em 1966, 1 297 escudos por mês.
Relatório e Contas da Direcção e Parecer do Conselho Fiscal do Sport Lisboa e Benfica; 1966; página 120 |
Andam por aí muito "historiadores" que se dizem os melhores da cantareira.
ResponderEliminarMas, história do Benfica contada por Alberto Miguéns, é como passar de fiat 600 para um Panamera!!!
Figura notável da nossa História. Um presidente que teve de enfrentar desafios e tomar decisões que representaram roturas.
ResponderEliminarEste artigo é muito importante pois o Alberto repõe verdades históricas. O Sport Lisboa e Benfica não s mede pela bitola dos Clubes chupistas que tiveram sempre favores e que passam o seu tempo a menorizar rivais, procurando sempre aplicar ao SLB a sua própria bitola. Podem atirar a sua lama mas nunca atingirão o SLB.
Obrigado por nos dar mais esta pérola da Gloriosa História.
Sr.Alberto,o primeiro jogo que me lembro de ver do BENFICA foi a final da taça de PORTUGAL de 1993 em que vencemoso Boavista por 5-2.Será que podia indicar-me o número do jogo???
ResponderEliminarMUITO OBRIGADO!!!!!
FELIZ NATAL PARA SI E PARA OS SEUS!!!!!
SAUDAÇÕES GLORIOSAS!!!!
Caro Benfiquista Amaral
EliminarÉ o n.º 3788. O último foi o n.º 5355.
Santo Natal para si e pessoas que estima.
Gloriosas Saudações
Alberto Miguéns