Quem segura, eleva (e bem) esta bandeira nem sabe quem são os onze futebolistas e que entre eles está Cândido Rosa Rodrigues |
Cândido Rosa Rodrigues era o segundo irmão mais velho do
núcleo base do Belém Futebol Club que deu origem em 28 de Fevereiro de 1904 ao
«Glorioso».
O "pinheiro do Marcelo" (lá ao fundo...) ainda deve ser o mesmo |
Catataus
Candinho nasceu, pela uma da manhã, no primeiro andar do
número 144 da rua direita de Belém, precisamente por cima da Farmácia Franco.
Foi o primeiro filho de Cândido Rodrigues e Maria Conceição Gomes Rosa a nascer
em Belém, pois o primogénito José Rosa Rodrigues (primeiro presidente do Clube)
ainda nasceu no local para onde os pais se casaram, na rua da Esperança, número
26.
Candinho
Com 18 anos, dez meses e 15 dias esteve na fundação do Grupo
Sport Lisboa não sem ser antes um futebolista agregador de inúmeros outros quando um
pequeno grupo de miúdos começou a jogar no pátio interior do prédio onde vivia
e local da Farmácia Franco. Quando esse espaço era curto para «tamanha multidão» passaram a jogar nos vários espaços públicos que no início do século XX
abundavam pelo bairro de Belém apesar deste ser muito maior que na actualidade
devido à profunda transformação (destruição) que teve aquando das obras para
instalar a ambiciosa «Exposição do Mundo Português» em 1940.
O bairro de Belém no início do século XX depois "amputado" em quase 50 por cento para o lado do Mosteiro dos Jerónimos |
Fundação
Metódico foi elemento importante aquando da elaboração
(finais dos anos 40 e início da década de 50) e publicação (a partir de Janeiro
de 1954) da História do Sport Lisboa e Benfica, por Mário de Oliveira e Rebelo
da Silva. Apesar de já ser figura de prestígio do Sporting Clube de Portugal
colocou-se à disposição dos autores fornecendo informação primordial para
historiar e perceber o que realmente ocorrera há quase 50 anos e tempos
seguintes, quer na pré ou na pós-Fundação.
Entre a manhã e a tarde de 28 de Fevereiro de 1904
ASSOCIADO NÚMERO 3 continuando com os recibos do BELÉM FOOTBALL CLUB (até se esgotarem)
Treinos e
primeiras iniciativas
Vivendo em Belém e sendo dos principais dinamizadores no
início do Clube era dos mais assíduos nos treinos. Era facílimo nesses tempos -
mesmo em terrenos públicos - vestir os equipamentos e despi-los em casa bem
como tomar banho. Já quem vivia longe despir-se na via pública... Cândido Rosa Rodrigues vivia "dentro" do espaço
geográfico por onde circulava o Sport Lisboa. Esteve presente em 23 dos 24
treinos da temporada de 1903/04, entre 28 de Fevereiro de 1904 e 3 de Julho de 1904. Depois
participou em quatro dos cinco treinos, em 1904/05, entre 20 de Novembro de
1904 e 18 de Dezembro de 1904, mas não jogou na estreia, em 1 de Janeiro de
1905.
Ao terceiro jogo do «Glorioso», em 29 de Janeiro de 1905,
ocupou a sua habitual posição na linha avançada. E registou isso. Foi um pilar
do resto da época de 1904/05 constando do plantel que ficou registado na
primeira fotografia captada no último encontro da temporada.A equipa com os onze heróis do 17 de Março de 1906. Da esquerda para a direita. De cima para baixo: António Couto, Albano Santos, Emílio Carvalho, Manuel Móra, Cosme Damião, Fortunato Levy e H. Hannour (árbitro inglês); Carlos França, António Rosa Rodrigues, Daniel Queirós dos Santos, CÂNDIDO ROSA RODRIGUES e Silvestre Silva |
Tempo de afirmação
Em 1905/06 esteve presente no jogo para o torneio "inter-clubes"
disputado em 17 de Março de 1906 e que já foi objecto de evocação neste blogue
(clicar).
Uma equipa com os onze heróis do 28 de Janeiro de 1906. Da esquerda para a direita. 1.º nível (atrás): David José da Fonseca, Emílio de Carvalho, CÂNDIDO ROSA RODRIGUES, Marcial e Costa, Fortunato Levy e, atrás, Carlos França; 2.º nível: Manuel Móra; 3.º nível: Daniel Queirós dos Santos, Albano dos Santos, António do Couto e José da Cruz Viegas; 4.º nível (à frente): Manuel Gourlade; Primeiro a contar da esquerda (de pé) árbitro ou adepto: desconhecido. Em Carcavelos, frente ao Carcavellos Club jogou Henrique Costa no lugar de José da Cruz Viegas |
O
«Gloriosíssimo»
Em 1906/07, foi a sua terceira e última temporada mas foi a primeira TEMPORADA com a esplendorosa primeira vitória sobre os "mestres invencíveis do Cabo submarino" que fez do Clube, o «Glorioso» (clicar).
Deserção
para o Sporting CP
No Verão de 1907 os casapianos e os seus amigos de Belém
decidiram rumar ao Sporting CP que fundado há um ano "teimava" em não
apresentar-se em competição entre equipas da 1.ª categoria. Para a formar
contrataram um inglês (Charles Etur), um futebolista do CIF/Internacional (José Belo) e oito ex-Sport
Lisboa. E eis que de um momento para o outro surge um clube que do nada passa a
quase tudo. Só quase pois o Sport Lisboa tendo muitos futebolistas de classe
bastou-lhe inscrever os jogadores da 2.ª categoria de 1906/07 como 1.ª categoria em 1907/08 para dar réplica valorosa a todos os outros emblemas. No
Benfica vem de longe jogar para ganhar sempre e sem medo, nem esquemas.
Foi ele o
marcador do primeiro golo no primeiro jogo do »Glorioso» frente ao Sporting CP
Em 1 de Dezembro de 1907, marcou o primeiro golo num jogo
entre o «Glorioso» e o Sporting CP, marcando por este clube. Este será eternamente e sempre
o primeiro, numa derrota do Clube, por 1-2. O último (até agora...) também foi do Sporting CP, por Bruno Fernandes (o 1
411.º em 432 jogos).
O Sporting CP "foi-se perdendo"
Com os ex-Sport Lisboa em veterania ou desinteressados o Sporting CP foi obtendo classificações cada vez piores. Se em 1907/08 foram segundos, atrás do Carcavellos Club e à frente do Sport Lisboa (a ex-2.ª categoria "deles" em 1906/07) depois tudo mudou:
Em 1909/10
Há a curiosidade de António Rosa Rodrigues (Neco) - nascido em 19 de Outubro de 1886, ou seja, um ano e meio mais novo - ter regressado ao Sport Lisboa e Benfica. E que regresso, ainda que apenas nessa temporada. Sagrou-se campeão regional com o SCP em último lugar. Outra curiosidade: Fez questão de jogar com a "flanela vermelha" do Sport Lisboa - enquanto todos os outros já jogavam com camisolas de algodão com atilhos na gola - pois ficara com ela, visto tê-la comprado "a meias" com Candinho e aquando da deserção, no Verão de 1907, levaram-na para casa pois era "propriedade da família" desde... 18 de Fevereiro de 1905.Casamento em 22 de Maio de 1918
Cândido Rosa Rodrigues apenas jogou mais uma temporada, em 1912/13, no Sporting CP com o seu irmão Neco a ser o único dos ex-Sport Lisboa a sagrar-se campeão regional de Lisboa, pelo Sporting CP, em 1914/15. Candinho dedicou-se aos negócios da família, herdando do pai as embarcações da Nazaré e a formar... família desposando D. Alice Lyllian Gomes de Sousa.
Pai em 15 de
Maio de 1928
Após dez anos de casamento nasceu o seu único filho Luís Filipe que merece destaque nesta evocação. Conheci-o há mais de uma década e foi uma amizade eterna, que com tantos anos de diferença entre gerações não podia durar muito, mas durou o tempo suficiente para saber dele o que um dos fundadores do »Glorioso» dizia acerca dos primeiros tempos, ainda antes de existir clube, a fundação, as três temporadas a jogar com a «flanela vermelha» e depois ver o clube que ajudara a fundar do outro lado, fazendo crescer uma rivalidade que foi útil aos dois grandes emblemas do futebol e desporto português. Foi uma dádiva conhecer e aprender com o filho de um dos mais importantes entre os 24 fundadores pois era irmão do primeiro presidente (José Rosa Rodrigues), jogou na 1.ª categoria do Sport Lisboa e depois acompanhou, do lado do Sporting CP, o crescimento da rivalidade imposta pelos «Dérbies de Lisboa» em várias modalidades. Quanto à relação de amizade, em dezenas de encontros, numa conhecida pastelaria de Lisboa e em sua casa, muito próxima dessa pastelaria, foram horas-e-horas de troca de informações e documentos que só por si dariam para fazer um livro gigantesco e fantástico. São preciosidades para se conhecer, bem, como surgiu o Clube e como se desenvolveu tão precocemente de modo a ser gigante em menos de uma década.
Falecimento
em 25 de Junho de 1974
Regressando a Cândido Rosa Rodrigues, este gerente da Sacor na refinaria de Cabo Ruivo e durante algum tempo, armador na Nazaré, onde tinha habitação conhecida e popular entre os nazarenos, faleceu aos 89 anos, de enfarte do miocárdio, sendo sepultado no jazigo da família no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde repousam três dos 24 fundadores: José (falecido em 30 de Abril de 1924, com 40 anos) e António (falecido em 29 de Julho de 1938, com 50 anos), além de Candinho. Um jazigo não muito longe de Cosme Damião e de Januário Barreto, outra grande figura dos primeiros tempos do Clube.
Trabalho e
lazer
Uma vida apoiada no trabalho, repartido durante algum tempo entre Lisboa e a Nazaré, e a família, com esposa e filho a merecerem a sua dedicação até à doença fatal ocorrida há quase 45 anos.
Figura
importantíssima no início do Clube
Foi dos futebolistas mais utilizados por Manuel Gourlade, entre 1904/05 e 1906/07, com dois golos em 13 jogos, num total de 1 050 minutos, pois por acordo entre os clubes os encontros podiam ter 70, 80 ou 90 minutos. Muitas vezes os oito futebolistas mais uma dúzia de associados não merecem o respeito que deveriam ter por se considerar que desertaram. É verdade. Mas quando o fizeram (Verão de 1907) deixaram para trás um clube que conseguiram tornar no mais popular e consagrado em Lisboa, que apenas perdia frente aos clubes exclusivamente de ingleses: Carcavelos Football and Cricket Club e Lisbon Cricket Club. E foram à procura de uma aventura. E isto é um património que foi fundamental para fazer o «Glorioso» tomar, entre os lisbonenses (e depois entre os portugueses) uma dianteira que nunca mais perdeu!
Obrigado,
Candinho!
Alberto
Miguéns
O excelente texto que o Alberto hoje nos proporciona deixa bem claro qual a importância de Candinho na génese do Sport Lisboa.
ResponderEliminarE, como já é hábito, peço ao Alberto umas linhas para deixar os meus comentários.
É para mim interessante constatar que já existia uma estrutura anterior ao Sport Lisboa pois o Football Club cobrava quotas. Tenho profunda pena que (aparentemente) não tenham sobrevivido listas de sócios quer do Football Club (1903) quer dos primeiros 3 anos do nosso Clube (1904-1907). Seria muito interessante analisar cada uma em separado e também compara-las.
Muitas das "fichas" da agenda de Candinho que o Alberto hoje publica eram para mim desconhecidas. Os originais que estão no Museu são pelas de grande interesse e que deviam - TODAS - estar expostas em lugar de destaque. São bonitas e em certa medida informativas mas é uma pena que não tenham a constituição das equipas nem sequer os marcadores dos nossos golos.
A saída dos irmãos Rosa Rodrigues para o SCP é uma lástima sem remédio na nossa História. Não obstante, os irmãos Rosa Rodrigues serão sempre parte integrante e fundamental da nossa história. As decisões que tomaram e que determinaram caminhos separados do nosso clube a partir de Maio de 1907 por parte de António e Cândido e mais tarde de José e de Jorge, devem ser percebidas no seu tempo e nas suas circunstâncias. Ao que parece e talvez de forma compreensível, os Rosa Rodrigues não terão visto com bons olhos o rumo que o Clube foi tomando após a junção. Saíram e mesmo mantendo alguma ligação nos primeiros tempos pós-saída, ainda assim deixaram de influenciar o destino do clube. E na vida é assim. Tomam-se opções e enfrentam-se as consequências. Felizmente, o Clube sobreviveu a essa crise de Maio de 1907 e a muitas outras que se seguiram. E, talvez “pecado” maior, viram o Clube expandiu-se muito para além do que alguns dos seus criadores alguma vez imaginaram. Mas o Sport Lisboa e Benfica saberá sempre lembrar e homenagear os seus 24 fundadores. Cândido Rosa Rodrigues e os seus irmãos serão sempre nomes indissociáveis do maior Clube Português.
Obrigado Candinho. Obrigado Neco. Obrigado José. Obrigado Jorge.
E obrigado ao Alberto por fazer esta bela evocação.
ResponderEliminarcomo o baptizou o imortal Felix Bermudez) deve estar em conformidade...mas, pelo sim, pelo não, vou perguntar ao Insigne Historiador Ricardo Serrado se este "belo pedaço" está correcto ou não, porque não foi em vão que Vieira o escolheu para fazer a História do Museu Cosme Júlio Damião...perdão, Cosme Damião (sem o Júlio).
Um Serrado que até põe em causa que Cosme Damião seja o fundador do Benfica...mas foi este o escolhido, para fazer o Museu com o nome em qual, o historiador não acreditava.
Vejam esta pérola;
««As palavras do historiador Ricardo Serrado são esclarecedoras:
“Nunca encontrei qualquer indício de Cosme Damião ter sido fundador do Sport Lisboa. O que ele foi sim foi o grande impulsionador do Sport Lisboa e Benfica e talvez por isso tenha nascido o mito de que ele foi fundador do Sport Lisboa.”»»
Portanto, foi este monte de estrume que sacou umas largas dezenas de milhares de euros ao Benfica, fazendo uma história em que não acreditava...mas fez, o dinheiro é tão bonito.
Enfim...mais uma Vieirada...
Sr.Alberto esse jogo com o Campo de Ourique foi o terceiro da equipa de honra?A vitória sobre o Gilman por 3-0 foi o quarto???E esse jogo com um misto foi o sétimo???Se mo pudesse confirmar..
ResponderEliminarOBRIGADO!!!!!!
SAUDAÇÕES GLORIOSAS!!!!!!
Caro Benfiquista Amaral
EliminarCerto. Embora tenha de confirmar a versão que tenho em papel com o que tenho no computador e não tenho acesso de momento.
Gloriosas Saudações
Alberto Miguéns