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26 dezembro 2018

Gustavo Teixeira 110

26 dezembro 2018 1 Comentários
HÁ 110 ANOS NASCEU UM DOS MAIORES FUTEBOLISTAS DE SEMPRE DO BENFICA E DO FUTEBOL PORTUGUÊS.



NOTA INICIAL: Não me parece possível comparar futebolistas que joguem afastados em sequências de 15/20 anos de distância no tempo pelas diferenças que existem a todos os níveis na evolução do Futebol. Por isso resta comparar cada um entre os do seu tempo. Gustavo Teixeira foi um dos vinte melhores futebolistas portugueses dos Anos 20 e 30 e um dos cinco melhores do "Glorioso" nas temporadas em que honrou o "Manto Sagrado". Por isso este blogue tem uma dívida de gratidão para com ele e muitos mais - que no Benfica quando se opta por uns em detrimento de outros - excluí-se mais do que se escolhe, tal o valor contínuo e longo da capacidade do Clube em 115 anos.



Futebolista dedicado e correcto foi uma referência do “Glorioso” nos anos 30
Gustavo Antunes Teixeira nasceu em Trás-os-Montes, na cidade de Vila Real, em 26 de Dezembro de 1908. Aos nove anos foi inscrito na Casa Pia de Lisboa (na NOTA FINAL ele mesmo explica o motivo), onde poucos anos depois se iniciou no futebol. Aos 17 anos, jogava a avançado no Casa Pia AC, chegando mesmo a internacional português, como médio-esquerdo, aos 21 anos, em 8 de Junho de 1930, no I Bélgica-Portugal.




Ainda pelo Casa Pia AC: Campeão e internacional na Natação
Antes de se distinguir no Futebol foi internacional no I Portugal-Espanha em Natação, no ano de 1926, e campeão de estafetas, em 1927, especialista a nadar de costas. Em Julho de 1928 reforça o Sporting CP na deslocação deste clube ao Brasil, em Dezembro do mesmo ano faz parte da célebre selecção de Lisboa que vence, por 2-1, a selecção de Paris, em Paris e em 1930 reforça o Vitória FC na deslocação do clube de Setúbal ao Brasil. Casapiano consagrado e desportista ecléctico e ilustre. Depois de terminar a formação na Instituição emprega-se no Banco Açores, na Sede da rua do Ouro, em Lisboa, mas continua a jogar no Casa Pia AC até que um desentendimento com o treinador faz que pense em abandonar o Futebol, mas surge o convite do capitão-geral do Benfica, António Ribeiro dos Reis.
  

Estreia com o FC Barcelona
Na época de 1931/32 a cumprir uma temporada de interregno para poder mudar de clube, reforçou como médio-esquerdo, a nossa equipa, em 27 de Março de 1932, no Estádio das Amoreiras, que defrontou o FC Barcelona, num encontro integrado nas comemorações do 28.º aniversário do Benfica. No final da época, aos 23 anos, deixou definitivamente o clube casapiano, transferindo-se para o “Glorioso”.


Ribeiro dos Reis entendia que Gustavo Teixeira seria a "pedra angular"
Que faltava ao plantel/equipa para reconquistar o título de Campeão de Lisboa que "fugia" desde 1919/20 ainda Ribeiro dos Reis era avançado-centro na Gloriosa Equipa. Ser Campeão Regional de Lisboa nos anos 20 e início de 30 era considerado mais difícil que conquistar o Campeonato de Portugal/Taça de Portugal ou o Campeonato da I Liga/Nacional da I Divisão. E foi por esse título tardar que Cosme Damião foi questionado como diridente - para além dos gastos com a construção do estádio nas Amoreiras - pois teimava em «não querer andar atrás de futebolistas pois estes é que deviam andar atrás do Glorioso». António Ribeiro dos Reis assumiu o cargo de capitão-geral de Cosme Damião, em 1926/27, fez as primeiras aquisições - pagando - e só deixou o comando técnico em 1929/30 (quando foi obrigado por motivos profissionais a ausentar-se contratando-se Artur John que conquistou a primeira Taça de Portugal, ainda com o nome de Campeonato de Portugal) até 1935/36 quando Vítor Gonçalves foi contratado definitivamente como treinador conquistando o primeiro campeonato nacional, ainda com o nome de I Liga.  



De avançado na Reserva a médio na Honra
Em 1932/33 começou a jogar na nossa equipa principal como médio-centro, contribuindo para que o Clube conquistasse após doze temporadas de interregno (desde 1919/20) o ambicionado título de campeão regional de Lisboa. Nesta primeira época no “Glorioso” não foi fácil conseguir a titularidade, jogando apenas onze jogos da Honra e três encontros pela categoria de Reserva, curiosamente a avançado-centro, enquanto na categoria principal actuava a médio.


De centrocampista a defesa na Honra
Na temporada seguinte (1933/34) recua de médio para defesa-direito, conquistando finalmente a titularidade, mas em 25 de Fevereiro de 1934, após a jornada do Regional de Lisboa, disputada nas Amoreiras, na vitória por 2-1 com o CF “Os Belenenses”, uma inoportuna doença afasta-o dos campos de futebol durante seis meses, até ao início da temporada seguinte!



Titularidade a defesa-esquerdo
A época de 1934/35 teve grande significado na sua longa actividade desportiva. Após duas temporadas no Clube, a sua personalidade e maturidade levaram-no, aos 25 anos, a capitão do Benfica e da selecção nacional. Foi ainda no início desta época que se estreou no lugar onde passou a mostrar toda a sua enorme categoria, como defesa-esquerdo. A estreia nesta posição e como capitão da equipa de Honra do Clube ocorreu no mesmo jogo, em 16 de Setembro de 1934, num prélio disputado em campo neutro, no estádio do Sporting CP, no Campo Grande, com vitória por 1-0 com o CF “Os Belenenses”. Iniciou-se um período brilhante que duraria seis épocas, até 1938/39 em que manteve a titularidade na equipa benfiquista.


Maturidade e classe
Gustavo Teixeira foi um jogador calmo, possante, correctíssimo que desarmava com “limpeza” e possuía também um poderoso pontapé de “despacho”, colocando a bola bem longe, mas direccionando-a bem. Tinha um óptimo estilo, levando a que o considerassem um jogador elegante e científico. Sabia posicionar-se em campo, não esbanjando energias desnecessárias, por isso “durava o jogo todo”. Era respeitado pelos adversários, estimado pelos colegas e admirado pelos adeptos. Os adversários, em particular os avançados, temiam a “limpeza” com que ele lhes retirava o esférico. Os companheiros de equipa sentiam-se seguros porque sabiam que ele conseguiria “dobrá-los” com eficácia. Os adeptos confiavam na sua capacidade atlética de jogar concentrado e sem desfalecimentos do início ao final de cada jogo, tal como na sua competência em organizar rapidamente a equipa face a situações críticas momentâneas.



Servir bem o "Glorioso"
A época de 1939/40 foi a última como futebolista. Uma lesão aos 18 minutos do segundo jogo da época, em 24 de Setembro de 1939, na vitória por 3-0 com o CF “Os Belenenses”, no Estádio do Lumiar, afastou-o da equipa de Honra. Cinco meses depois, ainda tentou recuperar, efectuando dois jogos em Março de 1940, pela equipa de Reserva, mas foi o abandono definitivo como futebolista, aos 31 anos.



Futebolista e bancário
Apesar de chefe de secção no Banco Lisboa e Açores, localizado na Rua do Ouro, em Lisboa, sempre que solicitado colaborava com o futebol do Clube, quer a nível técnico quer como nosso representante em organismos oficiais, entre eles a Associação de Futebol de Lisboa.


Eu e Gustavo Teixeira
É uma das minhas maiores mágoas como Benfiquista. Nunca ter conversado com ele. E ainda coexistimos no Clube sete anos. Mas quando me apercebi da sua importância no Glorioso Futebol era tarde de mais. Paciência.


Em Coimbra, no campo de Santa Cruz, onde jogava a equipa da Associação Académica de Coimbra. Poucos futebolistas eram respeitados pois tinham de descer e subir as bancadas visto os balneários serem no topo norte (no foto, atrás de Gustavo Teixeira). Do Benfica, só Guilherme Espírito Santo e Gustavo Teixeira recebiam palmas em vez de pauladas!

Treinador
Nunca foi treinador do "Glorioso" mas foi por diversas vezes chamado a treinar selecções regionais, nacionais de juniores e também clubes, entre eles o COL/Oriental logo na estreia deste emblema, em 1946/47. Além de ser sempre uma referência do Futebol em Portugal por isso colaborou em iniciativas comemorativas de efemérides e eventos importantes. Ser casapiano esteve, também, sempre presente no seu ideário de vida.  


Actividade preciosa
Jogou nove temporadas no “Glorioso”, com seis consecutivas sempre a titular: em 1933/34 como defesa-direito e entre 1934/35 e 1938/39, sempre como defesa-esquerdo. Jogou um total de 19 901 minutos (332 horas ou 14 dias) em 229 jogos, 228 a titular, com quatro golos marcados – dois de “livre-directo” - em 136 vitórias e 35 empates! A defesa-esquerdo jogou 15 498 minutos (258 horas ou onze dias), participando em 176 encontros, com dois golos marcados, em 106 vitórias e 27 empates. Na actualidade é o 71.º futebolista com mais tempo a jogar e o 9.º defesa-esquerdo com mais jogos. Durante 13 anos, foi recordista de jogos como defesa-esquerdo, melhorando em 1937 o recorde de José Pimenta, até ser “ultrapassado” por Joaquim Fernandes, em 1950.


Em 5 de Maio de 1935, no regresso à selecção (jogo n.º 33 da SN) frente à congénere de Espanha num jogo em que Portugal, a jogar em Lisboa, no estádio do Lumiar perdia, por 0-3, aos 62 minutos. Foi a estreia de Gustavo Teixeira como capitão na sua segunda internacionalização - a primeira foi em 8 de Junho de 1930 (jogo n.º 24 da SN), ainda como futebolista do Casa Pia AC - na tarde nefasta de Antuérpia, para o resto da carreira, em 1930, pois lesionou-se, saindo aos 60 minutos. O joelho esquerdo "entrapado" passaria a fazer parte do seu equipamento. Cândido de Oliveira (seleccionador neste jogo, frente à Espanha, diria que se não fosse Gustavo Teixeira ser capitão, Portugal jamais conseguiria passar o resultado de 0-3 para 3-3  
NOTA: Legendagens (esta e algumas das outras) com a preciosa ajuda de Victor João Carocha

Capitão e selecção
Pela selecção nacional, obteve dez internacionalizações, a estreia em 1930, incluindo nove pelo Benfica, entre 1935 e 1938, sempre como capitão da selecção. Como capitão do “Glorioso” realizou 174 jogos, com 104 vitórias e 26 empates, em cinco épocas, entre 1934/35 e 1938/39.





Sócio de Mérito e Saudade
Com 29 anos, em 31 de Julho de 1938, foi eleito Sócio de Mérito. Aos 34 anos, foi um dos fundadores do Sport Lisboa e Saudade, em 5 de Outubro de 1943, onde jogou algumas épocas, sendo ele que elaborou as “normas” para a actividade das “nossas glórias eternas”, cujos conceitos básicos ainda hoje estão em vigor.



Títulos importantes
Pelo Benfica venceu cinco competições oficiais: três campeonatos nacionais, então denominados de I Liga, em três épocas consecutivas (1935/36, 1936/37 e 1937/38), um Campeonato de Portugal, anterior designação da actual Taça de Portugal, capitaneando a equipa na final (1934/35) e um Campeonato Regional de Lisboa, em 1932/33. Faleceu com 77 anos, em 7 de Dezembro de 1986. Gustavo Teixeira foi um futebolista dedicado, dos melhores jogadores portugueses do seu tempo, fundamental na reafirmação da mística do “Glorioso”, distinguindo-se por não ter qualquer castigo em 15 anos de futebolista e pelo carinho na sua relação afectiva com o “Glorioso”.



Seria a "pedra angular" e foi
O Benfica recuperou, após doze insucessos consecutivos, o título de Campeão Regional. Sagrou-se Campeão Nacional (ou da I Liga) pela primeira vez -  logo três vezes - e só não foram quatro consecutivas porque houve vigarice (como neste blogue já se escreveu (clicar) e Gustavo Teixeira responde na entrevista que se publica em NOTA FINAL). Voltou a conquistar a Taça de Portugal (ou o Campeonato de Portugal) após três épocas sem o conseguir. A influência como jogador, mas com destaque como capitão foi fundamental, para dar ao plantel equilíbrio durante toda a temporada fazendo exaltar as qualidades, minimizando os problemas e resolvendo as picardias tornando-as pontuais.

Épocas
C.º
Lisboa
C.º
Nacional *
Taça Portugal *
1931/32
Estando livre do Casa Pia AC jogou pelo Benfica frente ao FC Barcelona
1932/33
9
-
1/4 (FC Porto)
1933/34
6.º
-
1/2 (Sporting CP)
1934/35
2.º
3.º
3
1935/36
2.º
1
1/2 (CF "Os Belenenses")
1936/37
2.º
2
1/2 (Sporting CP)
1937/38
2.º
3
FIN (Sporting CP)
1938/39
3.º
3.º
FIN (Ass. Académica Coimbra)
1939/40
Não iniciou a temporada de jogos para competições oficiais
NOTAS: 1. Até 1937/38 o Campeonato Nacional da I Divisão (a pontuar em duas voltas) designou-se Campeonato da I Liga e a Taça de Portugal (a eliminar até jogar a final) teve o nome inicial de Campeonato de Portugal;
2. O treinador foi Ribeiro dos Reis até 1933/34. Em 1934/35 foi Vítor Gonçalves no Regional e I Liga, mas depois (devido às más classificações) a Direcção decidiu que para o Campeonato de Portugal teria de ser Ribeiro dos Reis. Em 1935/36 foi Vítor Gonçalves. Em 1936/37 até 1938/39 foi Lipo Herczka. Em 1939/40 foi Janos Biri  




Obrigado, Gustavo Teixeira

Alberto Miguéns

NOTA FINAL: Excertos de uma entrevista - a última - onde mostra o que sempre foi. Linear, correcto, claro e franco. No Benfica recebia-se dinheiro (depois de Cosme Damião se afastar, acrescento eu) e deixou o Casa Pia AC por incompatibilidade com o treinador. Ele... tal todo o plantel de 1938/39 nunca admitiram que "moralmente" perderam o tal «Tetra dos Seis Segundos». Num dia destes, em 2019, será publicada na integra.




1 comentários
  1. Já sabia alguma coisa sobre o trajecto de Gustavo mas com era de esperar, com este texto aprendo muito mais.

    Gustavo faz parte de uma galeria restrita de ilustres jogadores do SLB com características mais defensivas, que combinaram notáveis capacidades futebolísticas com uma personalidade de marcante, com capacidade de liderança e de orientação serena e eficaz em campo. Alguns desses foram: Henrique Costa, António Pinho, José Pimenta, Gaspar Pinto, Félix, Ângelo, Germano, Humberto Coelho e Luisão.

    A poeira do tempo pode fazer desvanecer um pouco alguma dessa importância mas com textos destes os Benfiquistas avisados (e de bom gosto) que lêem este blogue, podem refrescar a sua memória. E aprender mais. Sempre!

    Obrigado!

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