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17 maio 2018

Crítica ao Filme Ruth Sem o Estrelar

17 maio 2018 0 Comentários
A MAIOR IDIOTICE É ALGUÉM QUE NÃO É PAGO PARA FAZER CRITICA DE CINEMA IMITAR QUEM É PAGO PONDO-SE A CLASSIFICAR FILMES COM ESTRELAS. SERIA UMA CRÍTICA PIMBALHADA ESTRELADA.



O filme "Ruth" deve ser visto/"criticado" tendo em conta três princípios base sendo este um blogue Benfiquista que tem por principal objectivo defender o Benfica. Mas é mesmo defender com valores e justificações não é com demagogia e aldrabices repetidas à exaustão que envergonham o Benfica e o Benfiquismo. Assim dividirei a "crítica cinematográfica" ou uma aproximação possível ao que se entende ser isso em três pontos: A. O filme do ponto de vista estético; B. O filme do ponto de vista histórico (visto tratar-se de uma reconstituição histórica); C. O filme do ponto de vista Benfiquista.


Eusébio (Igor Regalla) e Domingos Claudino (Vítor Norte) em Lagos

A. RUTH não é um filme sobre uma figura desportiva. É um filme de caricatura política a um Portugal colonial de final dos anos 50 e início da década de 60 que para realizar este objectivo usa com mestria - pois ajusta-se que nem uma luva ao que se pretende - a história da disputa de Eusébio em Lourenço Marques e depois em Lisboa, a que não pode faltar a viagem entre as duas cidades. É essa viagem que até dá nome ao filme. Tendo em conta o que penso ser a razão da obra cinematográfica, o argumento é excelente, a realização é menor por comparação (em relação à excelência do argumento), mas "salva" pelas interpretações de um grupo extenso e notável de actores que tendo, em regra papéis curtos - em termos de aparecimentos rápidos e parcos diálogos - dão leveza a um filme longo (mas que não se "sente") que por vezes se torna exaustivo, mesmo obsessivo, em mostrar determinados aspectos. Não estava à espera de um filme «experimental» ou inovador, mas conhecendo a obra de João Botelho (uma meia dúzia de excelentes filmes) e o filho não querendo alforriar-se, daí assinar António Pinhão Botelho, obriga a comparar cinematografias. 


O pai de Eusébio (Paulo Furtado) já enfermo irreversível. Foi ele que lhe passou o Benfiquismo!

Estava à espera de ver planos mais ousados e profundos. Horizontes infinitos. Explorar a imensidão africana de onde brotou um génio. Mas não. Muita claustrofobia laurentina. O que se passa em Lourenço Marques em final dos anos 50 fez-me lembrar a Figueira da Foz nos anos 60 em que lá vivi. Até as peladas no bairro da Mafalala parecem "as minhas" no pousio do Casal do Rato. Quando "a bola" passa para Portugal (Europa) melhora a expressividade. As imagens e a montagem acertam o ritmo e podia ser melhor se tem existido capacidade de ser mais sintético em vez de optar por estereotipar e ridicularizar as personagens sportinguistas. 


Maurício Vieira de Brito (Fernando Luís) no gabinete na Secretaria da rua Jardim do Regedor

B. O filme tem alguns erros históricos, mas não deve haver filme que os não tenha. Surpreendem por serem logo perceptíveis. Não havia telefonias-a-transístores nem nos anos 60 quanto mais em 1950. A missa antes do Concílio Vaticano II (1962/1965) era celebrada em latim! E mais uns que são mais "ligeiros". Por vezes os realizadores até fazem questão de os introduzir deliberadamente. Há um erro "grave Benfiquista" mas engraçado quando Eusébio chega ao Lar do Benfica, no topo da calçada do Tojal. Não digo qual é, mas quem ler esta crónica e já viu ou for ver o filme que esteja atento ou recorde o que viu.


Mário Tavares de Melo (Miguel Borges) e Albertino Malosso (?)

C. A história da recusa de Eusébio no Grupo Desportivo de Lourenço Marques (clube dos Benfiquistas mesmo depois da vergonha que foi a supressão do Sport Lisboa e Lourenço Marques transformando-o em GDLM), a sua passagem pelo Sporting Clube de Lourenço Marques, a "luta" travada pelos Benfiquistas laurentinos para recuperar Eusébio aos sportinguistas, o disfarce de Eusébio para viajar incógnito para que os «piolhos» do SCP no aeroporto, em Lourenço Marques, não descobrirem quem viajava, a chegada ao aeroporto da Portela, a primeira deslocação com o plantel (17 para 18 de Dezembro de 1960) à Covilhã, os primeiros treinos com o "Manto Sagrado" no Campo Grande, o afastamento de Eusébio/Domingos Claudino para a Meia-Praia (Lagos/Algarve) e as peripécias até o SLB ganhar o futebolista ao SCP são mesmo singularidades do guião baseado no argumento feito para caricaturar o Portugal Colonial. 


Major (quando o conheci brigadeiro) Rodrigo Guedes de Carvalho (?), Mário Tavares de Melo e D. Elisa (?)

Acerca desses assuntos benfiquistas (menos do Portugal colonial) falei mais de 20 vezes com o extraordinário Benfiquista Mário Tavares de Melo presença assídua semanal junto de Joaquim Macarrão durante os anos 90, umas cinco vezes com o brigadeiro Rodrigues Guedes de Carvalho e umas três vezes com Gastão Silva. Com Domingos Claudino falei meia dúzia de vezes mas nunca, que me lembre, acerca de Eusébio. E devia tê-lo feito. E claro com Eusébio mas era inútil porque cada vez que falava com ele, acrescentava um ponto ou até mais... 


O presidente Maurício Vieira de Brito cumprimenta Eusébio a caminho da Covilhã onde o Benfica jogaria no dia seguinte (18 de Dezembro de 1960) frente ao Sporting local para a 12.ª jornada do campeonato nacional, numa Gloriosa Vitória por 3-1 (dois de Águas e um de Santana). Santana o camisola 8 (interior-direito) que seria o "sacrificado" para Eusébio vestir o "Manto Sagrado". Eusébio acompanhou o plantel apesar de não poder jogar

O livro mais expressivo acerca destes assuntos, datando de Outubro de 1966, também difere em muitos aspectos do que é descrito no filme e este também difere do que me foram contando Mário Tavares de Melo (de fundador do Sport Benfica e Chimoio a talhante em Lourenço Marques), Rodrigues Guedes de Carvalho (Águia de Ouro em 25 de Novembro de 1988) e Gastão Silva (falecido em 5 de Janeiro de 2018). Mas sempre com legitimidade pois um filme é (e será sempre) uma obra de ficção que deve querer essencialmente enaltecer a Sétima Arte, seduzir os espectadores e preocupar-se menos com o rigor.    


Dois desempenhos na pura arte de representar ao mais alto nível: "Domingos Claudino" e "Gastão Silva". Fantásticos

Agradeço à inexcedível Benfiquista os dois convites - fui eu e a minha filha - para assistir à estreia do filme. Obrigado Leonor "Talisca" Pinhão!

Isto sou eu a criticar que não percebo nada de Cinema apesar de ver mais de 50 filmes por ano (desde há cerca de vinte anos apenas na Cinemateca Portuguesa) há mais de 30 anos e devo ter p'raí uns dois mil DVD's para já nem falar das centenas VHS obsoletas encaixotadas. Mesmo assim considero que vejo menos Cinema do que devia para poder fazer uma critica consistente. 


O livro fundamental para entender a vida de Eusébio desde a sua infância até ao brilhante terceiro lugar no «Mundial de Inglaterra» (1966). O livro foi editado, em Lisboa, no mês de Outubro de 1966, resultando de uma ou várias longas conversas de Fernando F. Garcia com o inigualável Eusébio

A qualidade e característica deste filme é a "prova provada" que é possível fazer bom cinema em Portugal sem cair no pimba nem fazer cinema «intelectualóide» para só ser visto/entendido pelos realizadores e amigos. Que venha o segundo filme do realizador e outros assim, entre o 8 (pimba) e o 80 (pseudo-intelectuais). Viva Eusébio! Parabéns Leonor Pinhão! Obrigado António Pinhão Botelho. 

O filme merece (e deve) ser visto, por isso afirmo:

O último a ver o filme não passa de um BenfiQuisto!

Alberto Miguéns

NOTA: Este texto estava previsto para ser publicado pela meia-noite mas a indignação foi mais forte sendo reagendado para as dez horas.


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