1974/75: A GRANDE ESPERANÇA DO CICLISMO PORTUGUÊS
APARECEU E DESAPARECEU (PARA SEMPRE) EM MENOS DE UM ANO. TINHA 19 ANOS.
Com forte aposta no plantel do Ciclismo, o Benfica subiu a parada
para 1974. Se a equipa em 1973 era de grande qualidade (Fernando Mendes, Venceslau
Fernandes, António Martins, José Madeira,
José Pacheco, Eusébio Pereira, Orlando Alexandre, Francisco Vieira e João Pinhal)
o "Glorioso" reforçou-se com Joaquim Leite (trepador dispensado pelo FC Porto), Américo
Silva (um regresso de França do vencedor da «Volta» pelo SLB em 1968) e o jovem de 18 anos Dinis Silva (do GC da Ambar,
uma empresa portuense do sector da papelaria que publicitava no ciclismo).
Objectivo para a Direcção presidida por Borges Coutinho. Vencer a «Volta» em 1974
depois de ingloriamente perdida em 1973.
Nasceu em Gesteira, pequena localidade da freguesia de São João de
Ver, no concelho de Santa Maria da Feira pertencente a esse distrito que tantos
ciclistas tem dado a Portugal: Aveiro. Cedo começou a pedalar. Primeiro em clubes
populares, depois no GC da Ambar que apostava nos jovens. Em 1973, aos 17 anos,
aparece no topo das classificações, com o segundo lugar (em representação de
uma selecção nacional) na Volta ao Estado de São Paulo no Brasil. Com tão tenra
idade e tão grande capacidade passou a ser a maior esperança do ciclismo
português para suceder (e superar) a geração nascida nos anos 40. O Benfica
estava atento e entrou em contacto com ele. Logo os maiores clubes portugueses
se intrometeram num processo complexo que foi desbloqueado a escassas horas do
início da Volta a Portugal, na pista do estádio das Antas.
A Glória no
topo de Portugal
Começou a 36.ª Volta a Portugal e pouco depois começa o "miúdo"
a surpreender pois não cede um milímetro. Após a 17.ª etapa, os 201 quilómetros
entre Castelo de Vide e a Guarda, Dinis Silva está em 6.º lugar, a um minuto e
um segundo do líder da equipa (Fernando Mendes em 4.º lugar) e a 2:34 minutos da
"camisola amarela". No dia seguinte - 15 de Agosto - duas etapas. Uma
de manhã para aquecer (42 quilómetros entre a Guarda e Manteigas) e outra, à
tarde, para desbaratar o pelotão (96 quilómetros entre Manteigas e a Torre).
Esta decide-se a partir de Seia. O miúdo deixa os consagrados marcarem-se uns
aos outros em pequenas escaramuças para ver quem não cede e quem está no
"elástico". Dinis Silva com 18 anos parece o mais sensato. Vai
controlando. Depois dá a "sapatada final". Que seja Neves de Sousa
(enviado do jornal "Diário de Lisboa") a explicar e a dar-nos as
classificações que eu só ouvi pela telefonia.
Um
espectacular segundo lugar na competição mais importante do calendário
velocipédico
Na chegada ao estádio José Alvalade, em 18 de Agosto (completam-se
43 anos na próxima sexta-feira), Dinis Silva foi confirmação. O segundo lugar
foi dele por ainda ter pouca experiência a correr solitário contra o tempo. Perdeu a «Volta 1974» por 17 segundos para Fernando Mendes - seis anos mais velho - pois este ganhou-lhe um minuto no contra-relógio final. Só
que ao contrário do que pensava, o tempo que rege o Mundo não corria a seu
favor, aos 18 anos, corria contra ele.
A Morte
levou-o muito precocemente
E de um modo acelerado como se competisse com ele na estrada. Se
fosse em escalada... Galopante foi a doença. Um mês antes de morrer foi a um
médico da cidade do Porto porque sentia-se com menos força que o habitual. Nada
parecia ter. Aconselharam-no a ir a Lisboa para ser diagnosticado por um médico
do Clube. Nada parecia ter, mas havia que ter segurança. Teria de fazer análise
sanguínea. E assim foi. O resultado foi terrível. Teria vinte dias de vida. Leucemia
aguda. Internado no hospital dos Capuchos, em Lisboa, a 22 de Fevereiro, três
transfusões de sangue depois de nada serviram. Expirou na madrugada de 6 de
Março de 1975. Só fazia 20 anos em Outubro! Irra! Como poucos sabiam do que se
estava a passar a notícia varreu tudo e todos. Depois as palavras de
circunstância. Nunca mais seria esquecido. Pois, pois...
Morreu aos 19 anos. Mas 43 anos depois de ter conquistado o topo de Portugal há Benfiquistas a recordá-lo.
O "Manto Sagrado" dá a imortalidade a quem o honra!
Alberto Miguéns
NOTA FINAL (20 de Fevereiro de 2023): a pedido de um leitor.
PERCURSO DA VOLTA:
PARTICIPANTES:
CLASSIFICAÇÕES FINAIS:
Infelizmente nunca mais teve uma oportunidade para ganhar. E ele que parecia ter sido feito para ganhar.
ResponderEliminarTão injusto. Quão frágil é a vida. Tão comovente ler estas linhas que relatam a fibra de campeão e o drama pessoal de um jovem. Tão jovem. Penso em particular na sua família. A morte veio tão cedo. Perdeu a sua família um filho querido, perdeu o nosso País um jovem e perdeu o nosso Clube um futuro campeão. Comovente. Obrigado ao Alberto por lembrar a alguns ou dar a conhecer a outros a estrela que foi Dinis Silva. Que os Benfiquistas saibam e não esqueçam quem foi este jovem.
Honra e memória à alma de Dinis Silva.
Orgulho, infelizmente não tive a oportunidade de conhecer este meu tio avô, dele apenas guardo fotografias.
ResponderEliminarEm Honra do meu tio
Em nome dele um muito obrigado por todas as homenagens prestadas
Caro
EliminarAgradeço. Infelizmente gostaria de ter feito um texto a honrá-lo como vencedor de uma ou mais voltas a Portugal mas... "foi o que foi"
Teve que ser assim.
Saudações
Alberto Miguéns
Bom dia senhor Alberto Miguéns, por acaso tem a classificação da geral individual da Volta de 1974 bem como a lista com os nomes de todos os corredores que nela participaram?
EliminarCaro Joni
EliminarSim, tenho. Vou colocar em NOTA FINAL. Depois indique se era isso que pretende.
Alberto Miguéns