QUAL MIGUÉNS QUAL QUÊ! O SENHOR MACARRÃO É QUE ERA! ESSE TAL MIGUÉNS AO PÉ DELE SERÁ SEMPRE UM APRENDIZ. HUMILDE PERANTE O MESTRE.
Eis um empregado modelo. Não por ser fiel que não era, a não ser ao Benfica! Respeitava as hierarquias, era leal, sabia estar e dizer o que devia ser dito e devia ser feito! (clicar)
Dedicado, competente, sabedor
Foi muito para lá do que um escriturário de Secretaria devia ter feito e produzido! Andava com o Benfica 24 horas. Fazia o que tinha a fazer no seu dia-a-dia como qualquer um de nós, mas era muito mais que um empregado. Juntava Benficas e mais Benficas por tudo quanto era sítio. O Museu não devia ter nome, mas se tivesse que ter um - e ele recusaria como é apanágio de qualquer Benfiquista - devia ser o nome dele! Era O FUNCIONÁRIO!
Funcionava mesmo
Com poucas habilitações académicas fez-se Homem a viver o Benfica. Entre o Bairro Alto e a Secretaria. Depois entre o Campo Santana e a Luz. A saber mais. A querer saber mais. Sempre à procura do impossível. No limite. «O Benfica não tem fim!? Só tem princípio», dizia-me ele! Eu retorquía: «Pois é, Senhor Macarrão. O "Glorioso" é tão grande que não conseguimos ver o tamanho. Só imaginá-lo. No Benfica quando queremos escolher, só conseguimos excluir!»
Macarrão e eu
Conheci-o dia 12 de Março de 1993. Nunca me hei-de esquecer dessa data. Já tinha todos os jogos da equipa sénior de Futebol registados em consultas nas Bibliotecas até 1986/87 e depois desta data registados por mim (nos estádios ou nas televisões). Os raros que não se podiam ver levavam-me à Hemeroteca Municipal (então no Bairro Alto). Estabeleceu-se uma amizade eterna. Enquanto eu viver ele continua meu amigo. Penso tantas vezes quando estou a escrever um texto - até neste blogue - como gostaria o Macarrão que eu escrevesse? Ele gostava da verdade, do rigor, sem mentiras e trapalhadas. Nem floreados ocos. Por isso adoptou-me quase como um filho que nunca teve. Levei-o muitas vezes - até deviam ter sido mais, mas quando damos por isso já é tarde - a casa (quando deixou de poder conduzir) ali para um prédio junto da rua da Fé (a chegar ao Campo Santana).
A «papelada macarrónica» (como eu lhe chamava) fazia sempre dobrar em número de folhas os documentos do Clube, pois para ele faltava muita informação que devia constar e não estava! |
Conheci-o porquê?
Porque depois de ter os jogos queria fotografar as taças correspondentes a conquistas dotadas de troféus. À porta da Sala de Taças recambiaram-me para o Macarrão! Nem sabia que existia. Conhecia de nome um Glorioso Futebolista de final dos anos 30 e meados da década de 40! «O Senhor Macarrão não é o futebolista do "Glorioso" que nas Salésias, para o campeonato em 1938/39, marcou dois golos (e só contou um) ao CF "Os Belenenses"?» Olhou para mim com aquele jeito que só ele sabia fazer, por ser genuíno, e exclamou! «Como é que sabe isso!» Contei-lhe! Passei a ser o Doutor! O Historiador! Para mim eu era apenas o ajudante dele. A aprender embevecido todas as palavras e histórias. Mais organizado por ter formação científica, mas ele é que sabia. Ele é que tinha vivido. Eu só lido ou ouvido! Naquele tempo - Verão de 1993 - o Benfica não tinha dinheiro nem para "mandar cantar um cego" pois não havia BES, nem Salgados e outros que tais a sacar ma$$as até falir bancos (que nunca vão à falência, excepto os bancos de jardim) nem vendas de milhões de milhões, nem prójectes fáinances! Era Jorge de Brito e a sua classe/credibilidade que permitia crédito depois devidamente pago! Ou tinha e havia que o contar bem contadinho! Ou não havia e cada um ajudava como podia e com o que sabia. Eu historiador? Sabia a história! Era de borla! À Benfica! «Já por aqui vieram "historiadores" mas queriam mamar e fazer ronha» (dizia ele). Ainda ele nem imaginava o Júlio que chegaria mais tarde! Com medo que se perdessem alguns documentos únicos disse-lhe para ele fazer cópias de boa qualidade, coloridas, na "Rank Xerox", da rua do Crucifixo. «O Benfica não quer pagar!» queixou-se ele. «Isso não é problema», disse-lhe eu!
Ele conheceu e falou com...
Todos os sócios número um do SLB até falecer em Lagos. No filme o sócio n.º 1 é o Dr. Pagarete, advogado em Lagos, seu conterrâneo. E falou com Cosme Damião, Germano Vasconcelos, José Domingos Fernandes, Luís Vieira, Félix Bermudes (conseguiu-me o telefone de D. Cesina Bermudes), Ribeiro dos Reis, Bogalho, Júlio Ribeiro da Costa (que orador! dizia ele), Manuel da Conceição Afonso, dezenas de dirigentes, centenas de futebolistas e milhares de atletas. Foi por ele que conheci Rogério Carvalho, Julinho, Guilherme Espírito Santo, Rosário, Bastos, Corona, Jacinto, Fernandes e tantos outros. Foi com ele que contactei com Rogério Jonet (sócio n.º 1 em 1993 e 1994). Foi dele que ouvi histórias maravilhosas que Francisco Ferreira, Albino, Gaspar Pinto, Vítor Gonçalves e Valadas, entre outros, lhe contaram. E já outros haviam contado a estes, histórias de 1903 e 1904 e 1905 e 1906 e por aí fora pelo tempo a dentro... Foi com Macarrão que descobri como Mário de Oliveira e Rebelo da Silva haviam feito a História do Clube (1904 a 1954). Como fizeram todos eles "directas", na rua Jardim do Regedor, à procura de documentos que estavam encaixotados e esquecidos.
Aqueles fins de tarde de Primavera/Verão (com Roland Oliveira) ao cimo da escadaria de acesso ao relvado
A contemplar o Monumento com as bancadas vazias. Ainda mais belo (embora menos vibrante) que com elas a transbordar. A brisa fazia do betão e granito uma sinfonia de cornucópia e canto de sereia. Às vezes devemos ter ficado 10/15 minutos, enfeitiçados, sem conseguirmos dizer uma palavra. Impossível falar. Era violentar a obra-prima. Quando virávamos costas, eu e o Roland continuávamos calados, esmagados. Macarrão como bom algarvio lacobrigense tinha de falar de imediato. «Aquele Bogalho tinha que fazer esta Obra. Fazia-me estar horas à procura do porquê de faltarem cinco tostões nas contas se tinham entrado para o Clube! Teve como aliado o arquitecto João Simões que soube passar de jogador a artista. Resultado?! Esta beleza. Não deve haver mulher no Mundo mais bela que este estádio. Nem a Greta Garbo se assemelha!»
Eterno Macarrão
Lembro-me de me pedir "ajuda" porque iam da RTP filmar! «Ajuda? O Senhor Macarrão só tem de ser o senhor Macarrão! Chega e sobra para eles!» Deste documentário já não me lembrava. Só depois de o ver, consegui recordar o pedido dele. Há ainda um outro filme com José Hermano Saraiva (JHS) a falar do valor simbólico da Águia: segundo ele (JHS), "o único ser vivo que consegue olhar o Sol de frente". Também esse programa foi filmado na Sala das Taças com o Senhor Macarrão. E eu, qual emplastro (embora novamente a pedido do Senhor Macarrão) também devo aparecer! Ver NOTA FINAL N.º 7!
Grande Macarrão. Enquanto eu como Benfiquista viver, continuará ele vivo como Benfiquista dentro de mim!
Alberto Miguéns
NOTA1: Todos os pretextos são poucos para se falar de Joaquim Macarrão;
NOTA2: Ele é peremptório, aos 13:40 do programa: «pavilhão número dois que não é Borges Coutinho que nós não damos nomes às instalações». Macarrão?! Continua aí no Quarto Anel para não te exaltares;
NOTA3: E aquele sonho lindo que ele teve e depois contagiou-me. O Benfica ter um pavilhão na Expo'98! Que tamanha ilusão! Está bem está. Veio logo um mandante desiludir. Se os outros clubes não têm nenhum porque razão vai o Benfica querer ter um!;
NOTA4: As paredes da Sala das Taças (trabalhadas a madeira) estavam depois forradas com os galhardetes, por ordem cronológica, dos clubes com quem o Benfica tinha disputado jogos para competições oficiais na Europa e galhardetes do Resto do Mundo. Mas faltava um! Do Sevilha FC saltava para o Ujpest FC! Ele tantas vezes me disse que faltava o do «Hearts» que eu um dia pensei. Vou dar-lhe uma prenda de aniversário (5 de Maio de 1920). Vou escrever para o Heart of Midlothian FC, explicar-lhes que o galhardete trocado em 1960 se extraviou e se podem enviar outro. E assim foi. E enviaram de Edimburgo, na Escócia! No dia 5 de Maio de um mil novecentos e noventa e qualquer coisa cheguei com um embrulho. Ele a agradecer pensando que era uma gravata ou lenço ou cachecol ou outro objecto pessoal. Delirou. Eu disse-lhe. «Não é uma prenda pessoal». Ele. «O quê?! Esta é uma prenda pessoalíssima. A melhor de sempre que recebi depois de sair de Lagos ainda jovem!» Espero que o galhardete de 1960 conseguido nos anos 90 ainda por lá «ande»!
NOTA5: Em 28 de Fevereiro de 2004, foi ele (já "expulso"do Benfica) que fiz questão de convidar para me colocar na lapela o meu "Emblema de Dedicação dos 25 anos"!
Ainda lá está! Pena tenho eu que ele - ou o engenheiro Abreu Rocha - não me coloquem o dos "Cinquenta"! Em 2029! Se lá chegar...
NOTA6 (pela 01:23): Óh Senhor Macarrão. Ai, ai. A foto dos finalistas da Taça de Portugal não é de 1949 é de 1939! Vi o filme pela terceira vez, já por puro deleite sem necessidade de perceber os pormenores. Já me fartei de rir uma dúzia de vezes (ou sorrir que já é tarde)! Foste mesmo tu! Cada tirada ímpar e desenvoltura única. Senhor Macarrão a cem por cento! Até a cantarolar! Inigualável! Benfiquismo elevado à potencia máxima!;
NOTA7 (pelas 02:11): O Senhor Macarrão tinha, claro, razão. Isto hoje não tem fim...Um leitor do blogue acabou de fazer chegar o programa da autoria de José Hermano Saraiva (clicar)
NOTA6 (pela 01:23): Óh Senhor Macarrão. Ai, ai. A foto dos finalistas da Taça de Portugal não é de 1949 é de 1939! Vi o filme pela terceira vez, já por puro deleite sem necessidade de perceber os pormenores. Já me fartei de rir uma dúzia de vezes (ou sorrir que já é tarde)! Foste mesmo tu! Cada tirada ímpar e desenvoltura única. Senhor Macarrão a cem por cento! Até a cantarolar! Inigualável! Benfiquismo elevado à potencia máxima!;
NOTA7 (pelas 02:11): O Senhor Macarrão tinha, claro, razão. Isto hoje não tem fim...Um leitor do blogue acabou de fazer chegar o programa da autoria de José Hermano Saraiva (clicar)
Dedicação de uma vida. Respeito e admiração por um homem que tanto fez pelo seu Clube do coração.
ResponderEliminarEste documentário é uma pérola. Este documentário ilustra como uma dedicação feita da paixão pode ultrapassar a falta de formação específica para cumprir uma tarefa nobre e gigantesca.
É um fresco notável da acção e parte da personalidade de Joaquim Macarrão, Benfiquista que se tornou figura grande do Clube não pelo futebol que jogou mas pelas milhares de horas que dedicou a algo que o Clube deverá para sempre lembrar e estar grato. Esse algo foi a criação de registos, preservação e catalogação de acervo e divulgação da maravilhosa história do SLB. Acção inestimável para que o Museu hoje tenha tanto e tão valioso acervo.
Que as novas gerações saibam perceber e reconhecer o valor deste homem e do seu legado e exemplo. Obrigado Senhor Macarrão. Obrigado também ao Sr. Doutor que aparece por ali e que mostrava já como soube e sabe ser um digno sucessor de Joaquim Macarrão.
Faria tão bem a alguns "doutores" do presente terem que carregar com os postes, pás e baldes de cal do passado!
ResponderEliminarCom admiração e respeito,
Saudações Benfiquistas!
Um dos ases que nos honraram no passado...este tipo de vivência Benfiquista devia ser preservada e divulgada oficialmente aos sócios e á sociedade, mas parece que por hoje infelizmente não se valoriza quem se deve, mas quem aparece de fato e gravata, bem falante e persuasivo..
ResponderEliminarViva o Benfica!
Sr.Alberto esse documentário de que fala está disponivel em algum lado????
ResponderEliminarOBRIGADO!!!!!
SAUDAÇÕES GLORIOSAS!!!!!
Caro Benfiquista Amaral.
EliminarQual? O documentário? Na internet!
https://www.youtube.com/watch?list=PLNdU5M6bH0Da3DCrXTFIUYADE3yPebCcm&v=8l7k7XKAp-c&app=desktop
Saudações Gloriosas
Alberto Miguéns