Em
1919, há precisamente 97 anos, nasceu uma Gloriosa Estrela. Que brilhou com
intensidade para lá dos campos de Futebol e pistas de Atletismo até ocupar o
seu lugar no “Quarto Anel” em 25 de Novembro de 2012, aos 93 anos. Ainda é o segundo
futebolista mais novo a estrear-se no “Glorioso” (depois de Hugo Leal) e o mais
jovem a marcar golos com o “Manto Sagrado”.
Benfiquismo: de Lisboa para
Luanda. De Angola para Portugal
Guilherme
Santana Graça do Espírito Santo nasceu na cidade de Lisboa, em 30 de Outubro de
1919. Ainda muito novo, aos oito anos, foi viver com a mãe para Luanda. Já era
Benfiquista – desde que se lembra, desde os três anos – quando foi para Angola.
Foi na filial luandense (Sport Lisboa e Luanda) do “Glorioso” que se iniciou no
futebol, jogando duas épocas: 1935 e 1936. A mãe não gostou que o futebol
tivesse prioridade sobre a escola. Em Julho de 1936, aos 16 anos, rumou para
Lisboa, para continuar (estar “apenas” concentrado…) os estudos vivendo na casa
dos avôs maternos. Mas não seria assim… A ida à Secretaria do SLB, na rua
Jardim do Regedor tudo mudaria. Foi treinar ao nosso estádio das Amoreiras.
Agradou. Ficou.
Goleador depois de Vítor Silva
Estreou-se
no “Glorioso”, em 20 de Setembro de 1936, num jogo particular com o Vitória FC,
em Setúbal, no campo dos Arcos. O Benfica venceu, por 5-2, com Espírito Santo a
entrar ao intervalo, marcando um golo aos 85 minutos. Com o treinador Vítor Gonçalves conquistou a titularidade, permitindo ao clube do “Manto Sagrado” resolver o problema do
abandono precoce de Vítor Silva avançado-centro, Glória do Benfica e de
Portugal, após lesão grave na cula vertebral após pancada num joelho, recordista de golos no Benfica (202) e
na Selecção Nacional (8).
Ganhou a titularidade na primeira época
Estreou-se em 20 de Setembro de 1936, com 16 anos, 10 meses e 20 dias, entrando ao
intervalo, em Setúbal com o Vitória FC, marcando o último golo da vitória por
5-2. Jogou oficialmente no Campeonato Regional de Lisboa em 11 de Outubro de 1936, num empate, sem golos, no campo do
Casa Pia AC. Tinha
16 anos e 346 dias. Faltavam 19 dias para
fazer 17 anos! No ultimo jogo de Vítor
Gonçalves como treinador. Na 2.ª jornada do Campeonato Regional, em 18 de
Fevereiro de 1936, seria Lipo Hertzka a assumir o cargo de treinador sucedendo
a Vítor Gonçalves como treinador Campeão Nacional. Vítor Gonçalves em 1935/36 e
Lipo Hertzka em 1936/37 e 1937/38.
Entre 1934/35 e 1946/47 não havia campeonato nacional sem apuramento pelo
campeonato regional
É bom recordar que até 1946/47 era nos Regionais que os
clubes se apuravam para o campeonato nacional. Se em Lisboa um clube não
ficasse nas quatro primeiros lugares ia jogar a partir de Janeiro no segundo
escalão. Os Regionais tinham de terminar até 31 de Dezembro de cada ano para
saber que clubes estavam apurados para o campeonato nacional que em regra
iniciava-se no primeiro ou segundo domingo de Janeiro seguinte. Por isso
Guilherme Espírito Santo teve de esperar pela primeira jornada, em Setúbal, num
regresso feliz ao campo dos Arcos, onde se tinha estreado com o “Manto
Sagrado”.
Um início de ano de 1937 a dar o mote
Guilherme Espírito Santo perdeu a titularidade com o treinador Lipo Hertzka, passando a jogar na Reserva no campeonato regional. Mas depois fez dois excelentes jogos particulares com o futebolista a brilhar em vários jogos, distinguindo-se em dois encontros particulares com o FC Porto, em 20 e 25 de Dezembro, marcando respectivamente, três e um golo, na vitória por 5-1 (casa) e empate a três golos (fora). Quando o campeonato da I Liga teve início foi ele que surgiu a titular como avançado-centro. Participou com golos na 1.ª jornada do 3.º campeonato
nacional, em Setúbal, com o Vitória FC, marcando os dois golos do “Glorioso”,
na vitória por 2-1! O Vitória FC colocou-se na
frente, mas ele deu valor ao trabalho da equipa fazendo o 1-1 e o 2-1. Em 10 de
Janeiro de 1937. Tinha 17 anos, 3
meses e 11 dias.
Em 1936/37: Bicampeonato Nacional
O “Glorioso” conquistou o título – Bicampeonato em três edições da competição
– brilhando da 1.ª à última jornada. Foram 14 jogos, com 12 vitórias e duas
derrotas, 57/13 em golos. A segunda volta foi arrasadora, com 31/5 em golos.
Mas mais do que estes valores globais avultam as duas goleadas ao Sporting CP
(V 5-1) e FC Porto (V 6-0). Com Guilherme Espírito Santo a marcar,
respectivamente, dois e um golo. Mas a jogar esplendorosamente.
Um grande jogo
Na 14.ª (e última) jornada, o Benfica na liderança, com mais um ponto que o
CF “Os Belenenses” (2.º lugar), mais 4 pontos que o Sporting CP (3.º lugar) e
mais 8 pontos que o FC Porto (4.º lugar) recebemos o… FC Porto no Estádio das
Amoreiras. Só a vitória garantia o Bicampeonato. Espírito Santo esteve
resplandecente marcando um golo (3-0 aos 27 minutos) e liderando o ataque
fazendo jogo com os interiores ou meia-avançada {(Rogério Sousa (direita) e
Luís Xavier (esquerda)} e pontas ou extremos {Domingos Lopes (direita) e
Valadas (esquerda)}. Um Benfica demolidor.
Titularidade na primeira época, indiscutível na segunda (1937/38)
Depois de se estrear na equipa principal (20 de Setembro de 1936) e de ser
um dos pilares da conquista do Bicampeonato Nacional em 1936/37 (totalista nas
14 jornadas com 16 golos) a segunda temporada – 1937/38 - com o “Manto Sagrado”
foi arrasadora. O “Glorioso” jogou 39 encontros, com 3 510 minutos. Guilherme
Espírito Santo jogou 37 (3 330 minutos). Apenas esteve ausente em dois
encontros, ambos já próximos do final da temporada: em 1 de Maio de 1938 num
jogo particular, no nosso estádio das Amoreiras, com o Luso FC Barreiro (V
7-1); e em 22 de Maio de 1938 na 2.ª mão dos oitavos-de-final do Campeonato de
Portugal (actual Taça de Portugal) no empate (1-1) no campo do União Futebol
Lisboa, depois de 3-0 na 1.ª mão (Espírito Santo marcou um golo).
Por Portugal: Estreia como internacional aos 18
anos e 29 dias
Depois de tanta qualidade e quantidade (golos) Guilherme
Espírito Santo acabou por ser seleccionado para representar Portugal. Foi o 98.º internacional português, estreando-se na
Selecção Nacional, ao 36.º encontro de Portugal, em 28 de Novembro de 1937, com 18 anos e 29
dias, no XIII Espanha-Portugal (V 2-1, em Vigo, no Estádio dos
Balaídos) e atingiu a 8.ª internacionalização, em 21 de Maio de 1945, no V
Suíça-Portugal (D 0-1, em Basileia, no Estádio do Rankof). Foi o
17.º goleador português, marcando um golo, com 18 anos, dois meses e dez dias, em 9
de Janeiro de 1938, no III Portugal-Hungria, fazendo o 1-0, aos onze minutos,
no 37.º jogo internacional de Portugal.
Nove golos em… 52 minutos
Em 5 de Dezembro de 1938, há 74 anos, na 8.ª jornada do campeonato regional
de Lisboa, o Benfica recebeu, no Estádio das Amoreiras, a equipa do Casa Pia
AC, vencendo por 13-1 com Espírito Santo a marcar 9 golos, recorde de um
futebolista do Benfica num jogo da equipa principal (se é que no Benfica não
são todas equipas principais). E o Benfica até começou a perder, aos 6 minutos.
E só aos 38 minutos conseguiu empatar, através de Espírito Santo. Depois
seguiram-se mais 11 golos, com oito de Espírito Santo (39’, 49’, 54’, 60’, 82’,
83’, 84’ e 89 minutos. Contava ele que, um amigo também defesa casapiano a meio
do segundo tempo questionava porque não parava ele de marcar a uma equipa onde
tinha tantos amigos. Guilherme Espírito Santo pacatamente, encolheu os ombros
dizendo: “Eu nem procuro a bola, elas aparecem-me à frente!”.
Quando um obstáculo era recorde nacional
Na época de 1937/38, enquanto treinava futebol no Estádio das Amoreiras, a
bola saiu do campo. Junto à linha lateral, os saltadores do Clube treinavam
laboriosamente o salto em altura, com a fasquia já próxima de 1,82 metros, em
busca de melhorar um recorde nacional que datava de… 1915! Espírito Santo
correu para lá da linha lateral para recolher a bola. Deparando-se com o
aparelho do salto em altura - por instinto - saltou, para não embater nesse
obstáculo que dificultava chegar à bola! Saltou e não derrubou a fasquia. Os
atletas do “Glorioso”, em particular Pedro Vasconcelos que estava muito próximo
da marca de 1,82 metros, pasmaram… Provavelmente o avançado-centro do futebol
do Benfica e internacional português batera o recorde nacional do salto em altura!
Depois houve que treinar atletismo
Espírito Santo procurava uma bola que saíra de campo das Amoreiras,
deixando espantados, os atletas do “Glorioso” que treinavam o salto em altura.
Depois, os saltos com intenção já não resultavam! Tinha receio de bater na
fasquia ou cair mal! Havia que treinar, com técnica e adaptação às botas de
atletismo. Com pouquíssimo treino, mas afincado, bateu, no Verão de 1938, três
recordes nacionais absolutos: em 3 de Julho, o recorde nacional de salto em
altura (1,825 metros); em 10 de Julho, o do salto em comprimento (6,89 metros);
e em 17 de Julho, o do triplo salto (14,015 metros). Ainda em 1938, sagrou-se
campeão nacional júnior e sénior, individual e por equipas.
Mais novo que o velho recorde
Quando Pascoal de Almeida, do GS Cruz Quebrada, conseguiu uma espantosa
marca de 1,82 metros em 8 de Agosto de 1915 afirmou, quando questionado acerca
da extraordinária proeza. “Ainda não nasceu em Portugal quem irá bater
esta marca!” E não é que tinha razão. Guilherme Espírito Santo nasceria
mais de quatro anos depois, em 30 de Outubro de 1919. Quando o “velhinho”
recorde de Pascoal de Almeida, que datava de 1915, foi batido em 1938, vigorava
há 22 anos, dez meses e 25 dias. Espírito Santo quando bateu o recorde
nacional tinha 18 anos, 8 meses e 3 dias…
Pelo Atletismo: campeão e recordista nacional
Guilherme Espírito Santo foi campeão nacional e internacional no futebol, e
também no… atletismo, sendo nesta modalidade recordista nacional em três
especialidades. Caso único. Mais do que um grande futebolista, um enorme atleta
português.
Recordista de Portugal em salto em altura, comprimento e triplo salto
TRIPLO SALTO
No salto em comprimento foi recordista nacional entre 1938 e 1941. Melhorou
em 58,5 centímetros o recorde de Acácio Mesquita que datava de 1928, há 10 anos
e deixou de ser recordista nacional em 1941, por 2,5 centímetros.
Marca
(m)
|
Dif.
|
Nome/Clube
|
Data
|
13,430
|
+ 49 cm
|
Acácio Mesquita
(FCP)
|
01.Jul.1928
|
14,015
|
58,5 cm
|
Espírito Santo
(SLB)
|
17.Jul.1938
|
14,040
|
+ 2,5 cm
|
João Vieira
(SCP)
|
17.Ago.1941
|
SALTO EM COMPRIMENTO
No salto em comprimento foi recordista nacional entre 1938 e 1944. Melhorou
em 9 centímetros o recorde de José Carvalhosa que datava de 1931, há 7 anos,
foi igualado em 1941 por Edgar Tamegão e deixou de ser recordista nacional em
1944, por 6 centímetros.
Marca
(m)
|
Dif.
|
Nome/Clube
|
Data
|
6,80
|
+ 10 cm
|
José Carvalhosa
(SCP)
|
13.Set.1931
|
6,89
|
+ 9 cm
|
Espírito Santo
(SLB)
|
10.Jul.1938
|
6,89
|
=
|
Edgar Tamegão
(AFC, Porto)
|
20.Jul.1941
|
6,95
|
+ 6 cm
|
Álvaro Dias
(SCP)
|
26.Ago.1944
|
SALTO EM ALTURA
No salto em altura foi recordista nacional entre 1938 e Junho de 1940 e
entre Agosto de 1940 e 1960. Melhorou em 0,5 centímetros o recorde de Pascoal
de Almeida que datava de 1915, há quase 23 anos, deixou de ser recordista
nacional em 1940 (durante 15 dias), por 1 centímetro. Melhorou o recorde
nacional do salto em altura, por duas vezes, em 1940: em 11 de Agosto (1,85
metros, mais 1,5 centímetros) e em 25 de Agosto (1,88 metros, mais 3
centímetros).
Marca
(m)
|
Dif.
|
Nome/Clube
|
Data
|
1,820
|
+ 7 cm
|
Pascoal de
Almeida (GSCQ)
|
8.Ago.1915
|
1,825
|
+ 0,5 cm
|
Espírito Santo
(SLB)
|
3.Jul.1938
|
1,835
|
+ 1 cm
|
Pedro
Vasconcelos (SLB)
|
16.Jun.1940
|
1,850
|
+ 1,5 cm
|
Espírito Santo
(SLB)
|
11.Ago.1940
|
1,880
|
+ 3 cm
|
Espírito Santo
(SLB)
|
25.Ago.1940
|
1,880
|
=
|
Rui Mingas
(SLB)
Júlio Fernandes
(SCP)
|
24.Abr.1960
|
1,900
|
+ 2 cm
|
Rui Mingas
(SLB)
|
19.Jun.1960
|
Recordista de Portugal no salto em altura até 1960!
Os 1,88 metros no salto em altura duraram 20 anos, até… 1960, quando Rui
Mingas do Benfica conseguiu melhorá-lo por 2 centímetros! Sem possibilidade de
praticar, a nível elevado – com consistência e seriedade – duas modalidades,
dedicou-se em exclusivo ao futebol! Passou rapidamente pelo atletismo, mas com
o poder de uma estrela cintilante, num rasgo de brilhantismo inexcedível.
Fotografia de Roland Oliveira " O Benfica Ilustrado" n.º 14 de Novembro/1958
Guilherme Espírito Santo e Rui Mingas |
Três anos afastado? Da equipa? Sim! Mas não dos corações vermelhos…
Na época de 1940/41, foi seleccionado para o XVI Portugal-Espanha, jogando
a extremo-direito. Em 16 de Março de 1941 no Estádio San Mamés, em Bilbau,
Portugal foi arrasado, com 1-5. Espírito Santo adoeceu, agravando a doença que
se pensava debelada, pois em 1939/40 já estivera afastado devido a uma pneumonia contraída em Paris (28 de Janeiro de 1940) noutro jogo da selecção nacional. Após 16 de Março de 1941, seguir-se-iam três penosos anos. Foi necessário curar o
paludismo – contraído ainda em criança, em Angola - e que afinal se revelara
com as baixas temperaturas do norte europeu. Uma doença que o obrigou a
“faltar” a 121 jogos consecutivos na equipa (o que faltava de 1940/41, 1941/42,
1942/43 e 1943/44, apenas regressando em 6 de Fevereiro de 1944. Ou seja,
esteve inactivo nas passagens dos seus 22.º, 23.º e 24.º aniversário.
Provavelmente, em termos etários, no seu tempo (anos 40) aquele que seria o
tempo ideal. E mesmo assim conseguiria os valores que atingiu. Mas, quantos
golos, triunfos e conquistas não poderia ter acrescentado ao palmarés do
Benfica? Num tempo em que, o Benfica conquistou um Bicampeonato Nacional
(1941/42 e 1942/43) e uma Taça de Portugal (1942/43).
Regresso para a vitória
Depois de tanto tempo inactivo, Guilherme Espírito Santo regressou em 6 de
Fevereiro de 1944 para jogar a extremo-direito e conquistar a Taça de Portugal,
em 28 de Maio de 1944, com uma espectacular vitória, por 8-0, ao GD Estoril-Praia,
final realizada no estádio do CF “Os Belenenses”, nas Salésias. Quinze dias
depois, em 10 de Junho, foi inaugurado o Estádio Nacional. Num jogo de 120
minutos foi Guilherme Espírito Santo a marcar o primeiro golo, aos 40 minutos.
Campeão nacional… mais um!
Na temporada de 1944/45 o Benfica reconquistou o título de campeão
nacional, com Espírito Santo a jogar em 16 das 18 jornadas, com onze golos
marcados. A competição foi interrompida entre a 14.ª e a 15.ª jornada para a
selecção nacional realizar o seu 47.º encontro, no XV Portugal-Espanha, no
Estádio Nacional, com um empate a dois golos. Espírito Santo jogou a
extremo-direito. Estávamos em 11 de Março de 1945, quatro anos depois do aziago
jogo em Bilbau, realizado em 16 de Março de 1941, que ditou o afastamento de
três anos.
Mais um golo ao FC Porto numa vitória histórica
O campeonato nacional retomou com a 15.ª jornada, na recepção ao FC Porto,
com mais uma extraordinária exibição dos futebolistas que vestem o “Manto
Sagrado”. E mais uma vez, Espírito Santo brilhou. E como ele se recordava,
tantas décadas depois, deste jogo. Uma jornada fundamental para a conquista do
título de campeão nacional. Conseguido duas jornadas depois…
E chegou a despedida
Após 14 épocas no Clube, entre 1936/37 e 1949/50, se bem que duas sem fazer
qualquer jogo, por doença (1941/42 e 1942/43) e mais três muito incompletas,
também por doença (1939/40, 1940/41 e 1943/44), decidiu deixar o futebol. Aos
30 anos!
8 de Dezembro de 1949
No início da temporada de 1949/50, ainda novo, com pouco mais de 30 anos,
depois de jogar como avançado-centro em três jogos, incluindo uma jornada do
campeonato nacional – que lhe permitiu sagrar-se campeão nacional no final da
época – abandonou a prática do futebol por pensar que não podia dar o contributo
indispensável a um clube como o Benfica. O “Glorioso” organizou uma festa de
homenagem e despedida, apoteótica, no estádio do Clube, no Campo Grande, em 8
de Dezembro de 1949. Os Benfiquistas consagraram um atleta – no futebol e no
atletismo – de elite que representou o Clube dum modo inexcedível. Foram épocas
de intensa actividade desportiva ao serviço de um único clube. Recebeu, em 31 de
Julho de 1938, a “Águia de Prata” (ainda nem os 19 anos de idade comemorara...) e em 15 de Junho de 2000 o galardão máximo com
a elevação a “Águia de Ouro”.
Oito títulos oficiais
Em 12 temporadas a jogar futebol, conquistou no “Glorioso” oito títulos
oficiais: quatro campeonatos nacionais (1936/37, 1937/38, 1944/45 e 1949/50);
três Taças de Portugal (1939/40, 1943/44 e 1948/49); e um campeonato regional
de Lisboa, em 1939/40. A longevidade permitiu-lhe capitanear a equipa em 13
encontros, num total de 1030 minutos.
Mais de 300 jogos com o “Manto Sagrado”
Realizou pelo Benfica 316 jogos – 285 na Honra e 31 na Reserva – marcando,
respectivamente, 199 e 26 golos, ou seja, um total de 225 golos. Nas 12 épocas
a jogar pela principal equipa do Clube participou em 285 encontros, num total
de 24 561 minutos, marcando 199 golos, ou seja, um golo a cada 123 minutos: em
156 jogos não marcou, mas obteve golos em 129 encontros – um golo em 84 jogos,
dois golos em 29 encontros, três golos em 12 jogos, quatro golos em três jogos
e nove golos num jogo. Enquanto futebolista da equipa de Honra, em 285
encontros, efectuou 280 jogos como titular, incluindo onze em que foi substituído
e um em que foi expulso, por responder a provocações inqualificáveis. Em cinco
encontros não foi titular, mas entrou a substituir outro colega.
Jogou como titular (280 jogos) essencialmente em duas posições – 154 como
avançado-centro e 119 como extremo-direito (ou na ponta-direita). Mas, também,
a interior-direito (seis jogos) e interior-esquerdo (um jogo). Na linha
avançada, apenas não foi titular na ponta-esquerda (extremo-esquerdo) o que não
quer dizer que durante algum jogo não tenha “passado por lá!” Foi, ainda, guarda-redes
de emergência num encontro, durante 58 minutos (desde os 32 minutos), sofrendo
um golo.
Goleador de excelsa qualidade
Pelo Benfica marcou 199 golos a 31 adversários diferentes,
destacando-se 24 golos ao FC Porto, 21 golos ao Sporting CP e ao
Casa Pia AC; 18 tentos ao CF “Os Belenenses”; 17 golos a equipas da Associação
Académica de Coimbra; e, entre outros cinco golos ao Vitória SC, de Guimarães e
dois tentos ao Boavista FC.
Enquanto titular (280 jogos) marcou 198 golos: 139 como titular a
avançado-centro e 59 como titular a extremo-direito. Como titular, por que
quando marcou algum destes golos podia já estar a jogar noutra posição por
indicação do treinador. Mais um jogo como suplente utilizado. Curiosamente o
seu primeiro golo com o “Manto Sagrado”, no jogo de estreia, em 20 de Setembro
de 1936.
Dos 199 golos, 78 foram marcados no campeonato nacional, 45 no campeonato
regional, 26 na Taça de Portugal, seis na Taça de Honra de Lisboa, oito em
Torneios e 36 em jogos particulares.
Marcou 159 golos com os pés, 39 de cabeça e um com o corpo (tronco), com 18
a serem concretizados após lances de “bola parada” e 181 em lances de “bola
corrida”. Dentro da grande área obteve 182 tentos, conseguindo ainda 17 golos
“fora da grande área”.
Desportista até poder
Após
deixar o futebol continuou a representar o Benfica na modalidade de Ténis,
jogando durante três décadas, mostrando nos “courts” a sua vocação de
desportista, sagrando-se campeão regional e nacional em representação do Clube. Em 2005 foi convocado para outro jogo: dar “mimo” à bisneta Marta, acompanhado pela sua senhora, companheira de uma vida.
A mimar a bisneta com a sua esposa |
Pela Família: um exemplo de
vida
Depois
de deixar de jogar, continuou empregado no “Grémio das Mercearias”, onde se
reformou em 1984, aos 65 anos. Uma
vida pessoal (e familiar) muito preenchida: de Lisboa para Luanda, de Angola
para Portugal e para o Benfica. Jogador popular, pela qualidade de jogo,
capacidade em marcar golos e correcção para com todos – de companheiros, a adversários
e espectadores – nunca deixou de ser quem sempre fora. Ainda hoje é assim! A
família foi quem mais beneficiou, com o seu exemplo de pessoa íntegra e
distinta. A última grande participação activa na Vida do Clube foi como Presidente Honorário do Centenário, em 2004. Tinha 85 anos. Um senhor, dentro e fora de campo e das pistas. Para sempre.
Será eternamente uma Gloriosa
Saudade
Alberto
Miguéns
Retive na memória imagens na RTP de um jantar no novo Estádio. À mesa, Eusébio, Coluna e Guilherme Espírito Santo. Um jovem jornalista acerca-se e tenta fazer uma pergunta a Eusébio. Este prontamente lhe diz: a primeira pergunta é para o mais velho! E disse "velho" da forma tradicional. Disse velho associando-lhe o respeito e a prioridade que sempre se deve dar aos mais sábios.
ResponderEliminarEssa mesa de três dos maiores jogadores do SLB. Três figuras que se o Benfica durar outros 100 anos irão sempre ser grandes. Respeito e saudade por todos eles. Respeito, saudade e agradecimento a Guilherme Espírito Santos. Campeão à Benfica!
Evocação bonita para homenagear quem prestigiou o nosso Clube.
Obrigado.
Como sempre, mais um grande trabalho histórico sobre um dos nossos gloriosos e eternos atletas!!
ResponderEliminarSó mesmo o Alberto Miguéns para nos trazer estas pérolas. Conhecia, obviamente, Guilherme Espírito Santos mas humildemente reconheço que não sabia nem metade do significado que este grande Senhor representava para o Benfica. Alberto Miguéns, obrigado.
ResponderEliminarcresci a ouvir estas histórias sobre este imortal do nosso clube,contadas pelo meu avõ.
ResponderEliminarobrigado alberto por me fazer recordar esses tempos.
viva o benfica.
Espirito Santo é uma Glória do nosso Glorioso.
ResponderEliminarSó o Miguéns é que nos podia trazer este belo naco de prosa...e que prosa!!!
Porque li lá em cima o glorioso nome do SPORT LUANDA E BENFICA, tenho o prazer de informar o Miguéns e a todos os Gloriosos que aqui vêm, que ainda tenho guardado na pasta dos documentos imperdíveis, o meu cartão de sócio daquele Glorioso clube e com a cota de Agosto de 1975 paga.
Terminou no Louriçal o jogo de Futsal Feminino.
ResponderEliminarACRD Louriçal,1 - SL Benfica,6
Uma alegria imensa para os Benfiquistas que moram longe da Luz quando podem assistir a um jogo do Benfica. Seja qual for a modalidade.
Foi com um um clube da vila do Louriçal(situada entre Pombal e Figueira da Foz) que a equipa de Futsal masculino se estreou na 1º divisão. Bons tempos.
Saudações Benfiquistas.
Jorge Gomes
Caro Jorge Gomes
EliminarPois foi. Na primeira jornada, com o GD Instituto D. João V (V 4-3; 8 de Outubro de 2001). E jogou a primeira vez nessa "Aldeia do Futsal", em 24 de Fevereiro de 2002 (16.ª jornada; E 1-1; golo de Vitinha I; o primeiro Glorioso a facturar no Louriçal).
Há quem tenha sorte. Estar afastado fisicamente (em amor estão mais perto do que alguns que trabalham no Estádio da Luz!) e poder ver o "Manto Sagrado".
Que volte a ver mais uma jogatana na fase final do campeonato. Era bom sinal. Para o SLB e para o ACRD Louriçal.
TRIsaudações Gloriosas
Alberto Miguéns