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04 agosto 2016

A VÉNIA

04 agosto 2016 3 Comentários
ESTA SAUDAÇÃO DOS GLORIOSOS JOGADORES AOS ADEPTOS TEM UMA HISTÓRIA COM 46 ANOS.


Foi depois da primeira digressão ao Extremo Oriente (Japão e Coreia do Sul) que o Benfica quando se estreou em Portugal fez a “Primeira Vénia”. Depois desta seguiram-se milhares…

A Expo'70 e o Benfica
O "Glorioso", em 24 de Agosto de 1970, que foi o dia dedicado a Portugal na Exposição Tecnológica Mundial (Expo'70), em Osaka, esteve no Pavilhão de Portugal a representar o país. Foi surpreendente para a comitiva perceber - estamos a falar de 1970 - que o Benfica era tão conhecido (e respeitado) no Oriente como na Europa. Aliás esta primeira ida ao Extremo Oriente é um dos capítulos mais brilhantes (e dos mais ignorados) da Gloriosa História. Impressionante. Merece que este blogue lhe dedique mais atenção. Talvez dia 24 de Agosto de 2016. Foi brilhante a digressão do SLB a Macau (dois jogos: um frente à selecção de Macau e outro com a de Hong-Kong), Japão (Kobe e Tóquio) e Coreia do Sul (Seul).   


Digressão ao Extremo Oriente
O Glorioso Futebol iniciou a temporada de 1970/71 - actualmente seria designada como pré-época - em Angola (dois jogos em Luanda) e Moçambique (um jogo em Lourenço Marques), seguindo para Macau (dois jogos neste território sob administração portuguesa), Japão (três jogos) e Coreia do Sul (dois jogos). Foi um êxito total, muito para além do aspecto desportivo, pois desde há mais de cem anos - 1912 - que nunca se pode reduzir o “Glorioso” no estrangeiro, a simplesmente jogar ou "ir fazer mais um jogo"!


Em 25 de Agosto de 1970, para incredibilidade total, face ao rígido protocolo japonês, os Príncipes Herdeiros desceram ao relvado para cumprimentar os Gloriosos Futebolistas. O que ocorria era o contrário. Os atletas é que eram "obrigados" a deslocarem-se à tribuna para venerarem os herdeiros do Imperador! Até permitiram ser fotografados. Foi o segundo jogo no Japão, primeiro em Tóquio. O SLB venceu, por 4-1, a selecção japonesa. O "Glorioso" presidido por Borges Coutinho e treinado por Jimmy Hagan, alinhou com: José Henrique; Malta da Silva, Humberto Coelho, Zeca (aos 85'/ Barros) e Adolfo; Jaime Graça, Matine (aos 73'/ Vítor Martins) e Simões (capitão); Nené (aos 85'/ Praia), José Torres (aos 76'/ Raul Águas) e Eusébio (4 golos). 
Perante 60 mil espectadores eis um verdadeiro 4 (defesas).3 (centrocampistas).3 (avançados).
Estreia em Portugal
Em 13 de Setembro de 1970, o Benfica cumpria o 8.º jogo de castigo devido à invasão na temporada anterior – 1969/70 - da “Saudosa Catedral” durante um Benfica frente ao CF “Os Belenenses”, na 16.ª jornada do campeonato nacional, realizada em 25 de Janeiro de 1970. A 1.ª jornada do campeonato nacional realizou-se no Estádio Nacional, frente ao GD CUF do Barreiro. Foi a estreia da vénia trazida da digressão ao Extremo Oriente.


O que significam as mais importantes saudações japonesas?
Tradicionais desde o século VIII, os cumprimentos são usados de acordo com a ocasião. Como boa parte da etiqueta japonesa, esse tipo de saudação tem origem nos ensinamentos do pensador chinês Confúcio (551 a.C.-479 a.C.). Chegou ao Japão no século IV da nossa era, mas só ganhou força 400 anos depois, já no século VIII, quando a cultura chinesa começou a influenciar fortemente o país. 
Existem vários tipos de saudação, que variam conforme a circunstância. Mas, para todas elas, alguns gestos são constantes: deve-se dobrar o corpo a partir da cintura, cuidando para manter a cabeça recta. A mulher coloca as mãos juntas, com as palmas sobre as coxas, enquanto o homem mantém os braços ao longo do corpo. E o olhar acompanha a curvatura. Para os japoneses, encarar outra pessoa directamente é uma séria agressão à intimidade alheia. E o contacto corporal (beijo, abraço ou aperto de mão) é inexistente em contexto social e público.
Inclinar o corpo é a forma de cumprimento mais tradicional do Japão desde o século VIII. Pode parecer simples, mas o acto de curvar-se em reverência, chamado de ojigi, está repleto de significados. Dependendo de como é feito, pode apontar o grau de importância tanto de quem é cumprimentado quanto de quem cumprimenta. Também é necessário trocar palavras apropriadas durante a saudação, e por isso não é raro que dois japoneses, ao encontrarem-se, façam cinco ou seis reverências enquanto falam. Essa demonstração de respeito é tão importante que os nipónicos também se curvam mesmo quando conversam pelo telefone.

Eis as cinco principais (as mais utilizadas no dia-a-dia)

Saikeirei

Feita como prova de respeito à hierarquia, exige uma inclinação de 75 graus. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, era utilizada para louvar o imperador. Fazia-se a reverência até para quadros com imagens do monarca. É esta a vénia que os Gloriosos Atletas fazem perante os Benfiquistas. A de maior reverência entre as três que não implicam humilhação (ficar de joelhos).

Keirei
Esta é a saudação padrão, usada para cumprimentar os amigos e familiares. Ao encontrarem-se ou despedirem-se, as pessoas inclinam sempre o tronco em 45 graus. Corresponderá ao abraço ou ao beijo, embora no ocidente haja culturas em que os homens entre si não se beijam, como é o caso de Portugal.

Eshaku
Tem inclinação de 15 graus e é praticada com frequência. Não é uma demonstração de respeito ou afeição, mas apenas de cordialidade. Serve, por exemplo, para agradecer ao sair de um restaurante. Pode dizer-se que corresponde ao aperto de mão ocidental.



Kirei
Muito utilizada no passado, caiu em desuso nas últimas décadas. A saudação, adoptada tanto em ambientes internos quanto na rua, era realizada a partir de uma postura chamada kiza, em que a pessoa fica de joelhos.


Dogeza
Reverência muito usada no Japão feudal. Quando encontrava o senhorio, o homem comum tinha que ajoelhar-se e fazer uma saudação profunda, tocando a testa no chão. Hoje em dia, só é utilizada para pedir perdão por uma falta grave.


A Gloriosa Vénia. Vénia única

Alberto Miguéns

NOTA1: agradecimento à embaixada do Japão, por aconselhamento do professor de Natação Benfiquista (Shintaro Yokochi), muito atenciosos e diligentes, além de pacientes, na explicações que solicitei;

NOTA2 (pela 1:45): Estive a reler o texto e as legendas no sentido de o melhorar e fiquei mais algum tempo a admirar a foto dos onze futebolistas com o presidente e os dois herdeiros. Impressionante a classe destas três pessoas. Deixo os que têm o Manto Sagrado de lado pois admiro-os "mais" quando jogam. E não é o caso. Preparam-se para jogar. Os dois príncipes japoneses são isso mesmo príncipes. Que postura. Fidalguia. E eu não sou monárquico mas reconheço nobreza. E também no nosso presidente: Duarte António Borges Coutinho, 4.º Marquês da Praia e de Monforte. Que Clube é este que já teve um presidente com título nobiliárquico e outro - Manuel da Conceição Afonso - que foi anarco-sindicalista e era operário linotipista (colocava as letras de chumbo nos linótipos) em tipografias?
3 comentários
  1. Bom dia Alberto, já tinha escrito sobre a tourné desse ano por comparação com a que o Benfica fez a época passada. Simplesmente achei o cerimonial fantástica... Quase que se pode afirmar que os deuses vieram à terra para tirar uma fotografia como o BENFICA!

    http://aminhachama.blogspot.pt/2015/08/o-benfica-e-as-pre-epocas-longinquas.html

    Vou colocar este artigo "linkado" à secção da vénia.

    Saudações TRIGloriosas

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  2. Caro Alberto,

    Crónica espectacular, desconhecia por completo a origem da vénia no Benfica.

    Muito provavelmente pelas minhas primeiras recordações de jogos no Estádio da Luz coincidirem no tempo com a introdução desta saudação.

    Em tempos mais recentes os jogadores do Benfica passaram a dar as mãos no momento da vénia, o que desvirtua um pouco a saudação original. Sinceramente não gostei quando passou a ser feita dessa forma.

    Já agora, com o devido respeito pelo(s) autor(es) do blogue em questão, coloco link remetendo para um magnífico registo fotográfico dessa digressão do Benfica em 1970.

    http://aminhachama.blogspot.pt/2015/08/o-benfica-e-as-pre-epocas-longinquas.html

    Melhores cumprimentos
    José Durão

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  3. Obrigado pelo texto, imensos benfiquistas mais novos desconhecem por completo a origem deste gesto.

    Da mesma forma que se recuperou a história do Torino para novas gerações de benfiquistas, esta tradição também devia ser recuperada e enquadrada no seu contexto histórico, passando a vénia a ser feita de forma correcta, e os benfiquistas informados sobre a sua origem.

    Neste momento parece uma vénia das que se fazem após o final de uma peça de teatro, o que elimina o seu simbolismo (Benfica como clube global, antes da globalização). Se mandasse, até ia mais longe, entrando em contacto com a embaixada de um dos países que inspirou esta tradição para providenciar alguém para ensinar a vénia aos jogadores.

    Se é para fazer que se faça correctamente! Quem tiver contacto com pessoas dentro do clube que faça a sugestão, e ajude a reforçar a mística, que nunca é demais.

    Cumprimentos.

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