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14 julho 2016

Acto 1 (Obrigado Félix Bermudes)

14 julho 2016 11 Comentários
HÁ CEM ANOS – 14 DE JULHO DE 1916 – O “GLORIOSO” VIVIA A VÉSPERA DE MAIS UM ACTO ELEITORAL.


AVISO INICIAL: O texto de hoje é acerca da Gloriosa História. Só para quem gosta. Envolve o desenvolvimento de um outro texto - Importante Data Esquecida - publicado em 24 de Junho (clicar) embora deixe ficar neste início o essencial para entender o de hoje. E será também a primeira parte da biografia de um dos melhores de todos nós. O Benfiquista Félix Bermudes.

Fez cem anos, em 24 de Junho de 2016, que a Direcção do Sport Lisboa e Benfica comunicou ao presidente da Direcção do “Desportos de Benfica” o seguinte:

«Pensando esta Direcção que da reunião das nossas associações alguma coisa de bom e grandioso adviria para o desporto português e que desta forma se poderia constituir uma associação que pudesse desenvolver com vantagem os diferentes ramos desportivos, muito gratos ficávamos de V. Ex. fizesse nomear três delegados que o nosso vai nomear, para estudarem a forma de pôr em prática o nosso pensamento, reatando, embora de forma diferente, as nossas “démarches”»
A Direcção do SLB
Dr. José Antunes dos Santos Júnior
Eduardo Conceição Silva
Eduardo Martins Pereira
Henrique Jaime Ferreira de Sousa
Francisco Alberto da Silveira
Alberto dos Santos
Cosme Damião*

* Cosme Damião não integrava a Direcção, nem qualquer outro dos dois Órgãos Sociais mas também assinou a carta. Tinha deixado de jogar em 26 de Fevereiro de 1916 mas mantinha-se como capitão-geral (responsável pela orientação desportiva do Clube)

Iniciativa de longo alcance
O Benfica iria passar de um clube meramente futebolístico (embora consagrado, reconhecido e imensamente popular) para uma instituição afirmada com um valor desportivo e social de excelência entre os clubes referência de então, com destaque para o Ginásio Clube Português. Em 1916 nascia o clube desportivo. Ficava para trás o clube de futebol.

Desenvolvimentos entre 24 de Junho e 14 de Julho
As reuniões não foram fáceis. Não transpareceram para a Imprensa (ao contrário do que vai ocorrer depois de 15 de Julho de 1916) e o pouco que se sabe é lendo as actas das reuniões da Direcção eleita em 29 de Agosto de 1915 (mandatos anuais) com tomada de posse em 9 de Setembro, que se queria em funções prolongadas até à junção entre o SLB e o DB. Sabia-se que devido ao património imobiliário e material do “Desportos de Benfica” os dirigentes destes iriam exigir dirigir os destinos do SLB depois da junção (para eles fusão). Pois nem prolongou o mandato que terminaria em finais de Agosto como viu reduzir-lhe a duração. Houve eleições no “Glorioso” dia 15 de Julho, passam amanhã cem anos. Tudo porque as negociações complicaram-se em 9 de Julho. Nessa reunião os três delegados do “Glorioso” foram Félix Bermudes, Alberto dos Santos e Alfredo Alexandre Luís da Silva. Este em substituição de Cosme Damião, pois a personalidade do nosso Cosme poderia ser inconveniente em termos de diplomacia até porque Cosme Damião não era apologista de uma junção a “qualquer custo” como já escrevi no tal texto de 24 de Junho.

O "Desportos de Benfica" era um clube apetecível para ser absorvido pelo SLB

(Clicar em cima da imagem para visualizar com mais definição)



Legitimação para anexar o “Desportos de Benfica” em vez de ser o contrário
Os delegados do SLB perceberam que estavam limitados. Alberto dos Santos era dirigente (mas apenas 2.º vogal). Félix Bermudes um hábil negociador não tinha qualquer cargo nos Órgãos Sociais, entre 14 eleitos: quatro para a mesa da assembleia geral; três para o Conselho Fiscal; e sete para a Direcção. Alfredo Alexandre Luís da Silva era um associado prestigiado e que fazia a “ponte” pois foi dos primeiros dirigentes do “Desportos de Benfica”, era um ex-presidente da Direcção do SLB, entre 22 de Fevereiro de 1910 e 2 de Abril de 1911 (datas de tomada de posse que é o que conta no Benfica para se ser efectivamente dirigente). E vinha do grupo de associados do Sport Benfica para onde entrara em 27 de Maio de 1908, ou seja, quase quatro meses antes da junção com o Sport Lisboa, em 13 de Setembro de 1908.


Acta da reunião da Direcção do Grupo Sport de Benfica quando foi admitido como associado  (n.º 182) o injustamente esquecido Alfredo Alexandre Luís da Silva

A Direcção (e os Órgãos Sociais) dos 82 dias
Em 15 de Julho de 1916 (tomada de posse em 22 de Julho) foram eleitos os irredutíveis que sabiam ter os dias contados. Seria uma forma de Félix Bermudes e Alfredo Luís da Silva terem poder negocial. Assim fiava mais fino. Os dirigentes do “DB” passaram a negociar com o presidente do SLB e não com um associado como ocorrera até 22 de Julho. O mandato cessou em 12 de Outubro de 1916, depois de eleições a 7 do mesmo mês. A “aventura durara” 82 dias! Mas valeu bem a pena. Oh! Se valeu!

Como se percebe poucas mudanças existiram
As mais significativas: Félix Bermudes como presidente da Direcção, Alfredo Luís da Silva como vice-presidente e...Alberto dos Santos como tesoureiro. Os dirigentes do DB passaram a "fiar mais fino"! 

Já estão cansados?! E só agora é que vamos ao Félix Bermudes!

NOTA: O texto seguinte acerca de Félix Bermudes resulta de pesquisa no SLB e outros locais, mas está enriquecido com os apontamentos da(s) “entrevista(s)” que fiz, entre meados e finais dos anos 90 do século XX, à sua filha Cesina Bermudes (duas vezes na sua residência na av. Santos Dumont) e ainda mais uma outra (terceira) em casa da sua sobrinha Elsa (filha da irmã mais nova Clara Bermudes) cuja morada era na avenida 5 de Outubro.

Félix Bermudes aliou à dedicação para com o Clube a persistência, versatilidade e capacidade visionária de perceber em cada momento o que nos poderia trazer o futuro. Uma vida preenchida a todos os níveis: Benfiquismo, profissão (dramaturgo) e particular (três filhos com destaque na sociedade portuguesa).

Primeiros anos
Félix Redondo Adães Bermudes nasceu na cidade do Porto, no 1.º andar do n.º 71 da rua de Santo Idelfonso, a 4 de Julho de 1874. O início da sua vida teve dificuldades extremas. Quando nasceu, o seu pai (Félix Redondo Adães) já estava gravemente enfermo vindo a falecer quando Félix Bermudes contava cinco anos e a mãe (Cesina Romana Bermudes) sucumbiria um ano depois. Quando Félix Bermudes foi baptizado – numa história curiosíssima (que fica para outra ocasião) em 21 de Junho de 1880 – quase com seis anos o pai já tinha falecido e a mãe estava gravemente enferma. Com pouco mais de seis anos Félix Bermudes estava órfão de pai e mãe.


Registo de baptismo em Junho de 1880, a poucos dias de completar seis anos. Órfão de pai falecido em Fevereiro de 1880

Em Lisboa
Nos anos 80 do século XIX, em Lisboa vivia o único irmão, cerca de dez anos mais velho que se tornaria arquitecto famoso – Arnaldo Redondo Adães Bermudes – precisamente para estudar arquitectura vivendo em casa de uns familiares originários, tal como os pais, da Galiza. Félix Bermudes também veio para Lisboa fazer a instrução primária e os estudos superiores.  O nosso Félix estudou na Escola Académica (prestigiado estabelecimento de ensino lisbonense localizado próximo da estação ferroviária do Rossio) nos anos 80 do século XIX, aproximadamente entre 1881 e 1885, frequentando a carteira de Ernesto Rodrigues estabelecendo uma amizade que levaria Félix Bermudes a deixar a administração comercial (formou-se com o Curso Superior de Comércio, equivalente na actualidade a um curso de gestão) enveredando pela dramaturgia.




Viana do Castelo-Porto-Lisboa
Nos anos 90 do século XIX, com Félix Bermudes já maior de idade começou a sua vida profissional numa fábrica (têxtil ou cerâmica, devia ter apontado mas não o fiz!) em Viana do Castelo. Mas, num romântico inveterado, o amor falou mais forte e decidiu “raptar” a amada fugindo para a cidade natal, o Porto. Infelizmente a noiva morreria pouco tempo depois. Um amor infeliz. Sem poder regressar a Viana do Castelo, Félix Bermudes retorna a Lisboa, onde o seu irmão ia tendo uma ascensão prodigiosa no meio entre os seus pares da Arquitectura. O “nosso” Félix conseguiu um emprego para gerir uma indústria de lanifícios em Alcântara. Estávamos em 1903.

A valorosa equipa da 2.ª categoria que conquistou para o "Glorioso" o primeiro troféu, um "bronze" num torneio a eliminar organizado pelo Internacional (CIF) em Março/Abril de 1907. Esse troféu - tal como o que foi conquistado pela 3.ª categoria - teve cruel destino. Mas podem ser visualizados na última fotografia deste texto junto a Félix Bermudes. Para quem não tem paciência vai já a seguir. 


Aparece o “Glorioso”: futebolista e atletismo
De Alcântara a Belém foi um “pulinho”. Interessado pelo novo desporto que começava a ter protagonismo entre os jovens e nos Jornais e Revistas da época, começou a acamaradar com os fundadores. Foi dos primeiros a aderir ao Sport Lisboa fundado em 28 de Fevereiro de 1904 constando que teve participação activa na definição da composição do emblema que ainda é a base do actual. Entretanto o Internacional (CIF) arrenda um espaço para jogar em Alcântara. Félix Bermudes iniciou-se no futebol, pela 2.ª categoria, em 21 de Janeiro de 1906, num jogo com o Internacional, nas Terras do Desembargador, às Salésias, jogando na ponta-direita, numa equipa onde também jogavam alguns futebolistas que ficariam famosos na vida cultural portuguesa no primeiro quartel do século XX: os escultores José Neto e Francisco Santos. Isto para além de Manuel Gourlade (“treinador” das duas categorias e tesoureiro do Clube) e Cosme Damião, o pai do Benfiquismo como o entendemos na actualidade.

A estreia absoluta do Clube em Atletismo. Ai dos grandalhões. Estava lá o Félix Bermudes pronto para fazer estragos nos "bonzões"...se houvesse distracção!

E o Atletismo?
Já durante a época futebolística seguinte (1906/07), em 2 de Dezembro de 1906, coube-lhe representar pela primeira vez o Clube numa competição de “sports atléticos” (nesses tempos era assim que designavam o atletismo), realizado no Velódromo de Palhavã (onde está hoje a avenida de Berna, em frente ao jardim da Fundação Calouste Gulbenkian) participando em quatro provas – corridas pedestres de velocidade (100 metros), resistência (1800 metros) e obstáculos (300 metros) e no salto em comprimento. Em 22 de Novembro de 1906 foi eleito na primeira assembleia geral do Clube para capitão. Eram as suas qualidades de ponderação, criatividade e organização, que transportava para o terreno de jogo, a cativar os outros consócios. Em 4 de Outubro de 1908 foi agraciado como “Sócio Benemérito” e em 15 de Fevereiro de 1923 como “Sócio de Mérito”.

O valente capitão da equipa de 2-ª categoria em 1906/07 que foi obrigada a disputar o campeonato regional da 1.ª categoria em 1907/08 (depois da deserção dos melhores para o Sporting CP)

Da 2.ª para a 1.ª categoria e desta até à 4.ª categoria
Quando a época de 1906/07 chegou ao seu termo com a debandada de oito futebolistas para o Sporting CP e as saídas do guarda-redes Manuel Mora para a Argentina e do médio-esquerdo e capitão Fortunato Levy para Cabo Verde, coube a Félix Bermudes papel importante na resolução da crise que se lhe seguiu. Com a inscrição dos jogadores da 2.ª categoria de 1906/07 no Regional da 1.ª categoria, Félix Bermudes continuou a capitanear a equipa, agora na 1.ª categoria. Após os seis jogos iniciais da temporada, em 25 de Janeiro de 1908 realiza o último encontro pela 1.ª categoria. Consciente da sua idade - 33 anos - a poucos meses de ser pai e com a aposta na escrita de peças de teatro e operetas, bem como adaptações de peças estrangeiras a retirarem-lhe tempo de treino e concentração para estar em campo de "corpo e alma" na equipa de maior responsabilidade, não querendo enfraquecer o grupo, continua como futebolista, mas nas categorias inferiores, onde as exigências eram menores, chegando a jogar na 4.ª categoria na temporada de 1911/12, ajudando a estabelecer, com Cosme Damião, a política de juntar nas categorias abaixo da primeira, jogadores novatos com veteranos, para que estes ensinassem o "abc" da bola e o Benfiquismo (a responsabilidade de ter crer para querer sempre vencer) aos novos que se iniciavam no Futebol e no Benfica!

Mesmo retirado, com vida particular e profissional exaustiva, ei-lo junto aos Gloriosos Futebolistas. Em 6 de Dezembro de 1908, num Sport União Belenense frente ao SL Benfica, numa vitória por 4-0. Ou seja, já com a filha Cesina no berço (seis meses) e em ano de estreia de "O Olho do Diabo". Aposto que tinha chegado de bicicleta!

Casamento: filhas (aos 33 e 38 anos) e filho (47 anos)
Depois de um primeiro casamento, em 23 de Abril de 1899 com Maria Teresa de Barros e Vasconcelos, casa-se com Cândida Emília Borges (data ainda por descobrir) começando a organizar a sua vida privada. Em 20 de Maio de 1908 nasce Cesina Borges Adães Bermudes e em 6 de Agosto de 1912, Clara Borges Adães Bermudes. Se Cesina não teve filhos, Clara teve três filhas, entre elas a filha, Elsa – nascida em 1933 que conviveu com o avô) que mantém descendentes. Mais tarde, Félix Bermudes teve ainda mais um filho, que viveu praticamente toda a vida em Lourenço Marques (actual Maputo/Moçambique), Fernando Barros e Vasconcellos Adães Bermudes (informação da PIDE), com nascimento em 30 de Dezembro de 1921. Estes três filhos merecem destaque à parte no texto do Acto Dois e Meio, sabendo-se que Cesina e Clara, praticaram ciclismo como atletas do Sport Lisboa e Benfica.

No primeiro campeonato nacional de corta-mato (1911) em cima do lado esquerdo o vencedor (Francisco Lázaro) e no outro extremo (lado direito) o incansável Félix Bermudes!

Vida teatral
No final da primeira década do século XX, Félix Bermudes acede a colaborar com o seu colega de carteira na Escola Académica, Ernesto Rodrigues que entretanto enveredara pela vida literária, com destaque para a elaboração de peças de “teatro ligeiro e revisteiro”. Em 1907 fazem uma peça em conjunto representada no teatro da Trindade, em três actos e 17 quadros, denominada “A Semana dos Nove Dias” que foi apresentada como “onirismo mágico-político”. Seguiram-se peças atrás de peças, praticamente uma por ano, até ao precoce falecimento de Ernesto Rodrigues, aos 50 anos, em 1926.
1907 – com Ernesto Rodrigues: “A Semana dos Nove Dias”;

Na mesma coluna do jornal "Diário de Notícias" estreia-se, a 23 no teatro e toca a "estagiar" que do dia seguinte havia que capitanear o Gloriosíssimo frente ao Internacional que safou-se apenas com uma derrota por um golo. Golo de Eduardo Corga, um dos 24 fundadores

1908 – com Ernesto Rodrigues: “O Olho do Diabo”;
1909 – com Ernesto Rodrigues e Pereira Coelho: “Em Águas de Bacalhau”;
1910 – com Ernesto Rodrigues e Pereira Coelho: “Zig-Zag”;
1910 – com Ernesto Rodrigues e Lino Ferreira: “Sol e Sombra”;
1911 – com Ernesto Rodrigues e Lino Ferreira: “Agulha em Palheiro”;
1911 – com Ernesto Rodrigues e Pereira Coelho: “O Pai Paulino”;



1911 – com Ernesto Rodrigues e André Brun: “A Pensão da Pacheca”;
1911 – com Ernesto Rodrigues: “A Princesa dos Dólares”;
1911 – com Ernesto Rodrigues e André Brun: “O Pó de Perlimpimpim”;
1912 – com Ernesto Rodrigues e André Brun: “Có-có-ró-có”;
1912 – com Ernesto Rodrigues: “Os 20.000 Dólares”.

Benfica: Resistência e vários passos em frente
Fundamental para a junção com o Sport Clube de Benfica (1908), na elaboração dos Estatutos inovadores (1912) e na absorção do Desportos de Benfica, disponibilizando-se como presidente da Direcção até à sua realização (1916).


(Clicar em cima da imagem para visualizar com mais definição)


Dramaturgo conceituado: A Parceria
Em 1912, com a junção de João Bastos a Ernesto Rodrigues e Félix Bermudes ficou composto o trio que iria transformar o teatro ligeiro em Portugal sendo o percursor da famosa “Revista À Portuguesa” que iria ocupar os teatros do Parque Mayer a partir do final dos anos 20.
1912 – “O Sonho Dourado”;
1913 – “De Capote e Lenço”;
1914 – “O Pão Nosso”;
1914 -  Paz e União”;
1915 -  O Diabo a Quatro”;
1916 -  Maré de Rosas”;
1916 -  O Novo Mundo



E os troféus?
As jóias da nossa coroa em final de 1909/10! Para comemorar a conquista de todos os títulos nas competições organizadas pela Associação de Futebol de Lisboa o Benfica organizou uma grande festa (com classe, mas sem despesismos) num afamado restaurante para lá das Portas de Benfica onde registou para a eternidade o evento. Em 31 de Julho de 1910. Eis o mesmo local no tempo do restaurante e na actualidade. Isto para corresponder a um pedido do blogue "A Minha Chama". O que um Benfiquista não faz por outro. Até por não Benfiquistas - que estão dentro do Benfica - já fiz tanto! Quanto mais satisfazer um Glorioso Pedido!




(Clicar em cima da imagem para visualizar com mais definição)



Até amanhã...


Alberto Miguéns
11 comentários
  1. Caro Alberto já vi que isto é que vai ser uma série Gloriosa de artigos sobre Félix Bermudes.

    Vou levantar algumas questão de uma leitura única que fiz. As segundas e terceiras leituras trazem quase sempre mais questões mas hoje fica por aqui.

    nota prévia 1: Que desgosto... depois de ler estas linhas por não existir já uma obra completa - anos 1904 a 2016 - com vários livros sobre a Gloriosa história escrita por Alberto Miguéns.

    nota prévia 2: Que excelente leitura e aprendizagem sobre um período de importância fundamental para o SLB e quase desconhecido dos Benfiquistas. Eu que sei umas coisas sabia apenas de uma processo de fusão. Agora sei mais.

    1 - Ao ler as primeiras notas da junção pensei em logo no Dr. Alberto Lima. Foi um emérito advogado teria talvez sido um interessante negociador neste processo. É estranho o seu desaparecimento pois como se viu na deslocação ao Brasil em 1913 era um homem de elevado sentido institucional e um prestigiado advogado Lisboeta. Alberto Lima não estava. Ainda seria sócio?

    2 - José Antunes dos Santos Júnior teve um mandato entre dois grandes presidentes, sucedendo justamente ao Dr. Alberto Lima. Seria um elemento com peso? Nas negociações com o DB nota-se a presença do antigo presidente Alfredo Alexandre Luís da Silva. O SLB deveria estar a usar do seus melhores recursos humanos para a negociação. Mas foi inteligente e presumo decisivo a eleição de Félix Bermudes.

    2 - O temperamento de Cosme. Existe uma ideia propalada no V&P de que ele era democrata e colocava as deliberações a votação dos associados. Julgo entender das palavras do Alberto no entanto que por via de ser um homem de visão (muito cedo definiu as bases de um Clube nacional) e de obra feita teria talvez pouca flexibilidade para negociações delicadas.

    3 - Na ideia dos dirigentes do DB estaria uma repetição do que se passou em Setembro de 1908? Estranho pois nessa época o SLB já não era um Clube em risco de sobrevivência.

    4 - Félix Bermudes foi o único homem presente em ambas as negociações (Setembro de 1908 e de Junho/Julho de 1916)?

    5 - É impressionante o património do DB. Como se acumulou tanta coisa? Anos antes o GSB chegou a ter algum património doado por alguns sócios e percebe-se que em Benfica existiria uma certa burguesia. Ainda assim menos de 10 anos depois é notável olhar para essa lista com o património do DB.

    6 - Interessante que homens conceituados no SLB também não participaram nas negociações. Homens como Ribeiro dos Reis e Ávila de Melo. Ainda não teriam peso

    7 - Na entrevista a IC, Félix Bermudes fala que os pais faleceram antes de completar dois e três anos de idade. Um lapso de memória compreensível. Não se percebe quem foram os tutores mas o seu único irmão, o futuro arquitecto Adães Bermudes, deve ter sido um apoio emocional fundamental.

    8 - A veia romântica de Félix Bermudes. Esse episódio de Viana foi mais um episódio trágico da sua vida. Ainda assim falava de que a vida lhe foi benévola. Lembrei-me da poesia que recitou na entrevista a IC.

    9 - Mas foi esse episódio trágico que o trouxe para Lisboa. E agora percebe-se que de Almada a Belém era uma curta distância.

    10 - Na fotografia do SLB em 1908-1909, Félix Bermudes aparece com uma vestimenta que será de militar ou será da prática de equitação? Curioso.

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  2. Caro,

    Como são muitas questões vou responder aquela que me parece mais fácil. A 2.

    Cosme Damião temia no "Desportos de Benfica" a sobrecarga de dívidas, os encargos elevados e as hipotecas a dirigentes, com destaque para Nuno Themudo. O futuro vai dar-lhe razão. embora depois de resolvidos estes problemas - e não foi fácil - o Benfica teve um crescimento exponencial. Deixou de ser visto e entendido "apenas" como um bom clube de futebol.

    Alberto Miguéns

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  3. Mais uma lição... palavra que me sinto tal e qual um aluno do ciclo, sentado na sua cadeira a ouvir (ler neste caso) o professor de história...

    Mais uma vez, muito agradecido Alberto.

    Saudações TRIGloriosas

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  4. Esqueci-me...

    Sempre tive curiosidade em saber mais sobre a última fotografia. Fica para o capítulo dois Alberto?

    Tudo o que sei está aqui;

    http://4.bp.blogspot.com/-EyvxcchU_PI/UJ0QoTyw08I/AAAAAAAAP2k/MbG-8OWYwqA/s640/SLB_1904.jpg

    Foi um almoço para festejar a conquista dos campeonatos de 1ª, 2ª e 3ª categorias, taça da Liga da FPF (?) e jogos olímpicos nacionais?

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    1. Foi para assinalar a conquista de todos os títulos no campeonato de Lisboa. Foi tirada no restaurante Bacalhau (o edifício ainda existe embora muito degradado) para lá das Portas de Benfica. Vou adicionar um pouco mais de informação no texto pois a efeméride já passou.

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    2. Certo.

      Mais uma vez, agradeço a disponibilidade Alberto. isto é perfeito para a pré época, prefiro aprender mais sobre o Benfica do que andar à espera das transferências etc.

      Saudações TRIGloriosas.

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  5. A vida e obra de Felix Bermudes está a ser vista e revista pela lupa afinada do Miguéns.
    Gostei do que li por alto, porque a peça merece mais uma leitura aprofundada.
    Ao leme do nosso Glorioso houve grande HOMENS!!!

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    1. Caro Minha Chama

      Eu é que agradeço haver Benfiquistas que gostam do Clube desde que existe. que Amam o Clube como um todo e não por ser este ou aquele a dirigir.

      Cada vez estou mais preocupado. Que Benfiquistas é que o Benfica actual restá a deixar ao Benfica do futuro. Benfiquistas que não se importam de ganhar, nem que seja À Porto? A roubar?

      Alberto Miguéns

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    2. Pois... Digo isso há já muito tempo.

      Eu, cujo o primeiro presidente foi FM - por ter cerca de dez anos de idade :-))) - guardo religiosamente o pouco que o meu pai me deixou sobre o Benfica... E vou coleccionando o que posso desde essa altura...

      Não há volta a dar, este é o rumo das coisas neste momento em que existimos: Fast-food life. Tipo: Tudo se passa tão depressa que é melhor esquecer o passado e tornar o presente já em passado; Não sei se me fiz entender...

      É, será que sabem quem marcou mais golos do que Eusébio em finais da Taça de Portugal?

      Espero que não, que os Benfiquistas não se importem de ganhar à porto ou à sporting na época passada! Aliás, a época passada deveria ser revisitada para que todos saibam como foi difícil e como foi preciso muito Benfiquismo e um Benfica à Benfica (de certo modo) para conquistar o 35º.

      PS: Em relação à pergunta, a resposta está no vigésimo R da lista de tópicos deste blog glorioso

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  6. Obrigado pelos vossos textos.
    Chamo-me Jorge Pessoa Ferreira da Costa. Eu e o meu irmão Luis e uma prima, Margarida, somos os únicos descendentes vivos de Félix Bermudes.
    Gostava de acrescentar uma pequena correcção: Clara Bermudes teve 3 filhas. Elsa, Margarida é Clara. Todas com filhos, 2, 2 e 1, respectivamente.
    E é verdade, a neta Elsa foi criada praticamente com o avô. Adoravam-se. O ponto mais alto da rotina diária da minha mãe, era quando o avô chegava a casa e ela se sentava ao seu colo a lerem o jornal. Ele lia e apontava as palavras... E a minha mãe aprendeu assim a ler com apenas 3 anos de idade. E aos 12 anos já tinha um livro de poemas editado.
    Outras histórias... Noutra altura... Até breve (assim se despedia Félix Bermudes)

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  7. Caro Jorge

    É uma honra ter um comentário de um descendente do inaudito Félix Bermudes.

    Já rectifiquei, pois eu apenas conheci essa neta. Elsa em casa - na avenida 5 de Outubro, em Lisboa - da qual estive com Cesina Bermudes a conversar acerca de Félix Bermudes.

    Não sei se sabe mas está editada uma entrevista neste blogue, que comprei na RTP. Pode ouvi-la em 7 de Julho de 2016 no texto:

    http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/07/com-alguns-dias-de-atraso.html

    Até breve...

    Alberto Miguéns

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