O FALECIMENTO DO INOVADOR CRUIJFF FOI O PRETEXTO PARA FAZER O QUE ESTAVA HÁ MUITO POR FAZER.
Entre a “malta” de todos os “cantos do Mundo” que se entretêm
com as estatísticas do Futebol há a noção que existem dois clubes “infelizes no
Mundo”. Os dois mais infelizes. O TsV Bayer 04 Leverkusen na Alemanha e o SL
Benfica nas competições da UEFA. Pelo “caminho” constatei trapalhadas uefeiras.
Deixemos os alemães, vamos ao Benfica!
Para os “malucos dos números” a ideia do Benfica como
clube europeu mais infeliz até é “justificada” pelas atitudes da própria UEFA.
Já houve três mudanças no regulamento nos desempates das eliminatórias. Duas
estão relacionadas com o Benfica. Pelo menos é isto que todos contam uns aos
outros.
As três alterações
A primeira mudança (golos fora valorizados) ocorreu entre a
época de 1966/67 e 1967/68 para evitar a proliferação do 3.º jogo de desempate,
cada vez mais indesejado, devido ao incómodo num tempo em que não havia vôos
fretados e organizar jogos com alguma rapidez em campo/país neutro - embora houvesse sempre um estádio de prevenção para cada emparelhamento - era
problemático. Além da presença, em regra, de um número reduzido de
espectadores. A UEFA decidiu regulamentar que: “os clubes que marcassem mais
golos em terreno alheio, no caso de empate no resultado acumulado das duas
mãos, passavam à fase seguinte”.
As alterações “devidas” ao Benfica (I)
Entre 1968/69 e 1969/70 a UEFA decidiu que o “malfadado” 3.º
jogo teria mesmo que terminar. Seria substituído por um prolongamento de 30
minutos no jogo da 2.ª mão e em caso de igualdade a eliminatória seria
resolvida com “moeda ao ar”. Uma alteração profunda na História do Futebol (que
actualmente consideramos normal, mas que não era). Em termos desportivos devia
sempre dar-se uma outra oportunidade (como uma finalíssima) para os competidores
mostrarem realmente qual era superior. Esta alteração foi justificada com o
facto do que se passara na eliminatória entre o AFC Ajax e o SL Benfica em
1968/69. O Benfica foi vencer, por 3-1, a Amesterdão. Depois, na 2.ª mão, esteve a
perder por 0-3 (ao intervalo), mas conseguiu igualar a eliminatória perdendo
por 1-3. Não havia prolongamento. Passava-se para o “terceiro jogo”. E assim
foi. Estes tinham, em caso de necessidade, prolongamento de 30 minutos e
mantendo-se a igualdade recorria-se à “moeda ao ar”. Isto desde o início da
competição. O facto do Benfica apenas ser derrotado, e logo por 0-3, durante o
prolongamento, após empate sem golos nos 90 minutos do tempo regulamentar fez
com que a UEFA alterasse o regulamento. Já li/ouvi a justificação que a UEFA
considerava que estes terceiros jogos além de serem de organização complexa
(davam prejuízo), favoreciam os clubes com plantéis mais jovens, ou seja, era
o factor idade e não qualidade de futebol a decidir. Eu tenho a ideia – por ter
lido um dia num qualquer ano/ocasião – que a justificação neste 3.º jogo que
acabou com os “terceiros jogos" foi mais “ao terem os futebolistas mais influentes na equipa mais novos dava-lhes vantagem”. A UEFA já há algum tempo que “estudava”
o assunto e este foi o jogo em que a “gota de água fez transbordar o copo”.
Billy McNeil, capitão do Celtic FC, com a moeda do azar para o Benfica |
As alterações “devidas” ao Benfica (II)
A alteração só durou uma temporada! Entre 1969/70 e 1970/71 a
UEFA acabou com a “sorte/azar” de uma moeda, devido a uma atirada ao ar, na "Saudosa Luz", na cabine de um árbitro
holandês - perante as escolhas dos dois capitães das duas equipas e tendo como observadores
dois dirigentes dos dois clubes - substituindo o desempate por uma
circunstância de acordo com as Leis do Jogo – a grande penalidade – embora não
tendo a mesma regra. O desempate faz-se através de pontapés da marca da grande
penalidade (onze metros) mas sem direito a recarga após defesa do guarda-redes
(ao contrário da grande penalidade). E esta alteração resultou daquilo que foi
considerado o cúmulo do azar. No Benfica – Celtic FC, o Benfica depois de
copiosamente derrotado, por 0-3, em Glasgow, aplicou igual resultado aos escoceses,
na “Saudosa” Luz marcando o 3-0, por Diamantino Costa, nos instantes finais
quando tudo indicava que seria eliminado. Seguiu-se um prolongamento de 30
minutos sem golos. Depois a “moeda ao ar” perante a impaciência de 49 601 espectadores
mais umas centenas de pessoas, entre jornalistas e membros das delegações dos
dois clubes! Uma expectativa que durou minutos que pareceram uma eternidade e, em que por momentos, todo o estádio - quase 50 mil pessoas - chegou a gritar "passámos" como se fosse um golo, mas era informação que a seguir não se confirmou! Mais desejo que certeza. O clube que conseguira o “impossível” e os adeptos que acreditaram
que era possível saíram cabisbaixos, tristes e incrédulos devido ao azar de uma moeda, quando tinham
acabado de assistir a uma proeza das maiores das competições europeias: “virar”
um resultado de 0-3 para 3-0, conseguindo o agregado de 3-3 que a face de uma
moeda holandesa (florim) desfez! Muda tudo! Passaram a fazer-se desempates
através da marcação de pontapés da marca de grande penalidade. Sem direito a
recarga.
A “questão das idades” do AFC Ajax e SL Benfica
Aproveitei esta coincidência (triste com a morte de Cruijff e
alegre com o tempo da Páscoa) para verificar o que há muito questionava! Havia
ou não uma grande diferença de idades entre as duas equipas (AFC Ajax e o SL
Benfica) no tal 3.º jogo que rezam as crónicas acabou com o “Terceiro jogo”?
Não, não havia. Mas havia, de facto, diferença de idades entre os futebolistas,
considerados mais influentes, mesmo que o enorme Coluna (33,07) nem tivesse
jogado pois faria pesar ainda mais os anos “contra” o Benfica entre os jogadores mais influentes das duas equipas: os "vintões": Cruijff, Keizer, Groot e Sourbier, pelo AFC Ajax; e os "trintões ou quase": Cruz, Eusébio, José Augusto, José Torres e Cruz, pelo Benfica.
Trapalhadas da UEFA
O que também vi é como a UEFA (des)trata as estatísticas. O SL Benfica tinha uma equipa de onze que foram dez, não fez substituições e jogou de início com um suplente! Para além dos números atribuídos a cada futebolista não serem os correctos. Quantos jogos em milhares realizados, em três competições, desde 1955/56, não terão erros grosseiros nos ficheiros da UEFA?
Depois "fazendo rolar" a informação obtém-se o acesso ao terceiro jogo ou jogo de desempate.
Segundo. A trapalhada monumental. 1. O Benfica jogou com dez futebolistas (o número 9 não existe)! 2. Humberto Fernandes (defesa-central a par de Humberto Jesus Coelho) foi o capitão (por ausência de Coluna) mas não jogou! 3. Simões que foi titular também não jogou, mas José Augusto que o substituiu no início da segunda parte foi titular! 4. O Benfica não fez substituições. (clicar para ver o original)
As cinco finais esquisitas: Wembley (1963), Milão (1965), Londres (1968),
Estugarda (1988) e Viena (1990)
Ficam para amanhã, mas o Benfica fez sempre jogos equilibrados: nunca esmagou, nem foi dizimado. Mesmo em 1961 e 1962, Béla Guttmann foi sagaz e soube tirar partido da rivalidade entre os dois clubes espanhóis, tanto na Primeira (aproveitando ter sido o FC Barcelona a eliminar o Pentacampeão Europeu Real Madrid CF) como na Segunda (mesmo sendo o Benfica Campeão Europeu deixou que o Real Madrid CF quisesse mostrar que a eliminação em 1960/61 fora um "acidente" que os impedia de poderem ser Heptacampeões Europeus, em 1961/62).
Quando é o Herói que falha...
Entre todas as finais perdidas sem dúvida que a mais difícil de digerir é a e 1968. Eusébio teve nos pés a "Terceira". Em dez remates naquela situação, Eusébio falhava um! Falhou o que não podia falhar...
Quando é o Herói que falha...
Entre todas as finais perdidas sem dúvida que a mais difícil de digerir é a e 1968. Eusébio teve nos pés a "Terceira". Em dez remates naquela situação, Eusébio falhava um! Falhou o que não podia falhar...
Que venha Munique!
Alberto Miguéns
NOTA FINAL: Lembrei-me agora que foi a lesão do guarda-redes Costa Pereira, na "final da vergonha", em 1965 que levou a UEFA a autorizar a substituição do guarda-redes, nas competições europeias, a partir de 1965/66 (apesar de já ser possível nos campeonatos nacionais e até na Taça Latina, disputada nos anos 50), pois substituições de jogadores de campo (dois) só depois do campeonato europeu de selecções (1968), em Itália, ou seja com início em 1968/69.
CURIOSIDADE: A braçadeira de capitão foi uma invenção da UEFA, para facilitar a identificação de frente dos capitães pelos árbitros (antes decoravam o capitão pelo número nas costas) que teve início na temporada de 1963/64. Precisamente a única, em cinco temporadas consecutivas, entre 1960/61 e 1964/65, em que o Benfica não chegou à final. Depois passou a ser também utilizada nos campeonatos nacionais.
1962/63. Maldini (AC Milan) e Coluna (SL Benfica). Wembley/Londres. Sem!
1963/64. Gento (Real Madrid CF) e Picchi (FC Inter Milão). Prater/Viena. Com!
1964/65. Coluna (SL Benfica) e Picchi (FC Inter Milão). Giuseppe Meazza (San Siro)/Milão. Com!
NOTA FINAL: Lembrei-me agora que foi a lesão do guarda-redes Costa Pereira, na "final da vergonha", em 1965 que levou a UEFA a autorizar a substituição do guarda-redes, nas competições europeias, a partir de 1965/66 (apesar de já ser possível nos campeonatos nacionais e até na Taça Latina, disputada nos anos 50), pois substituições de jogadores de campo (dois) só depois do campeonato europeu de selecções (1968), em Itália, ou seja com início em 1968/69.
CURIOSIDADE: A braçadeira de capitão foi uma invenção da UEFA, para facilitar a identificação de frente dos capitães pelos árbitros (antes decoravam o capitão pelo número nas costas) que teve início na temporada de 1963/64. Precisamente a única, em cinco temporadas consecutivas, entre 1960/61 e 1964/65, em que o Benfica não chegou à final. Depois passou a ser também utilizada nos campeonatos nacionais.
1962/63. Maldini (AC Milan) e Coluna (SL Benfica). Wembley/Londres. Sem!
1963/64. Gento (Real Madrid CF) e Picchi (FC Inter Milão). Prater/Viena. Com!
1964/65. Coluna (SL Benfica) e Picchi (FC Inter Milão). Giuseppe Meazza (San Siro)/Milão. Com!
Foi cá uma aula e peras !!!
ResponderEliminarBoa noite.
ResponderEliminarUma pergunta:
Em que fase da competição estavamos no tal jogo da moeda ao ar?
Caro Rukka,
EliminarOitavos-de-final. Mas o Celtic FC foi finalista. Eliminou o ACF Fiorentina (QF) e o Leeds United AFC (MF). Ma final perdeu, 1-2 (no prolongamento) após 1-1 aos 90 minutos frente ao SC Feyenoord em... Milão (São Siro).
Gloriosíssimas Saudações
Alberto Miguéns
Obrigado.
ResponderEliminarCaro Alberto Miguéns,
ResponderEliminarOs meus cumprimentos.
Venho perguntar-lhe se já conseguiu aquela foto da equipa inicial do Glorioso em São Petersburgo no jogo mais recente com o Zenit.
Cá vou aguardar pelas suas novidades.
Antecipadamente grato.
Saudações Gloriosas.
GV (CA)
Caro,
EliminarTal como temia não houve onze alinhado para a fotografia. O melhor que consegui está publicado em 10 de Março de 2016:
http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/03/contem-com-o-glorioso.html
O fotógrafo como sabia que não formariam o onze tentou captá-los alinhados.
Gloriosíssimas Saudações
Alberto Miguéns
Boas
ResponderEliminarDas finais perdidas , a de 1965 foi a que melhor jogou , mesmo a jogar com 10 e na casa do adversário. O Benfica fez uma campanha espectacular , marcando 27 golos e sofrendo 7 , com goleadas em todas as eliminatórias e sendo os melhores marcadores a edição Eusébio e José Torres com 9 golos.
Conta-se que o local da final foi escolhido dias antes de ser realizada (Milão) e que o Inter que tinha tido ajuda do árbitro na 2ª mão das Meias finais , teria tido influencia.
Sabe se o jogo acabou com o Benfica a ser aplaudido pelos locais e se o presidente do Benfica mandou fazer uma réplica da taça pela exibição ?
Caro,
EliminarVou tentar saber isso, pois de quarta-feira para quinta-feira queria falar dessa final. Sei que o Benfica jogou sob protesto. Adolfo Vieira Brito achou uma afronta o Campeão Europeu de 1964 ter necessidade de jogar "em casa" para ser Bicampeão como o Benfica e ultrapassar o rival AC Milan: vencer o SLB tal como este em 1963 e somar o segundo troféu consecutivo. Entre 1955/56 e 1965/66 (onze edições) só quatro clubes conquistaram o troféu: Real Madrid CF (5 + 1), SL Benfica (2), FC Inter Milão (2) e AC Milan (1). Destes apenas o FC Inter não foi Campeão Latino.
Até amanhã (vou ver o que consigo saber mais acerca dessa final de vergonha) embora o Benfica respeitasse muito um dos futebolistas do FC Inter. Sandro Mazzola filho de Valentino Mazzola capitão do Grande Torino que faleceu após o jogo com o Benfica em 2 de Maio de 1949.
Alberto Miguéns
Muito grato!
ResponderEliminarSaudações.
GV (CA)