NESTES DIAS DE TÉDIO EM QUE POUCO OU NADA HÁ A
FAZER DEPOIS DO JANTAR E ANTES DA DEITA DESCOBRI O QUE NÃO QUERIA.
Tinha pensado criar - e criei - um novo "assunto"
aqui no Em Defesa do Benfica a que chamei (dei-lhe o nome) de "Arqueologia
Benfiquista" para ocupar este - e outros, quando os houver - hiato sem Glorioso Futebol. Trata-se de
ir à procura, pelo Mundo, mas principalmente em Portugal, e essencialmente em
Lisboa, por motivos óbvios, de locais relacionados com o Benfica, com a sua
História, com imagens e localizá-las nos dias de hoje. Para honrar o passado, falando e mostrando-o e para perceber como o tempo passou e o Benfica ficou. Tudo muda. Menos o Benfica que é eterno! Para "estreia", pensei numa epopeia
muito famosa do Clube, do Glorioso Ciclismo, integrada nas comemorações do 30.º
aniversário do SLB, em 1934. Pensei e pensei bem, acho eu. Saí-me foi
"mal".
História do SL Benfica 1904-1954; II volume; pp 132; Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; Edição dos autores; Fascículos 1954-1959 |
9 de Abril de 1934
Em 1934 alguns dos melhores ciclistas do Benfica - Gil
Moreira, Carlos Domingos Leal e César Luís (vencedor da Volta a Portugal no ano
seguinte... 1935) - decidiram recriar o famoso "Raide Ciclista
Paris-Lisboa" do Benfica, em 1926, aumentando a dificuldade para o dobro (Lisboa
- Paris - Lisboa) servindo para homenagear (através de mensagem) os combatentes
franceses da Grande Guerra 1914-1918 e os mortos portugueses nessa calamidade que
assolou o Mundo e fez sepultar nos campos da Flandres milhares de jovens
portugueses. Para tal levaram uma lápida de mármore com uma mensagem de saudade
dos que "tombaram" simples mas significativa inscrita num
"pedaço rectangular em bronze", tal como uma palma e o símbolo do
clube também em bronze, numa composição singela mas com significado e equilíbrio.
À Benfica.
Elogio sentido do cônsul português em
Arras
Os ciclistas deixaram Lisboa (Estádio das Amoreiras) em 29
de Março para chegarem a Paris dez dias depois, em 7 de Abril, com tiradas de
um dia finalizadas em Setúbal, Elvas, Cáceres, Salamanca (1 de Abril), Berbiesca,
San Sebastian (3 de Abril), Belin, Poitiers, Chartres e Paris .
Em 8/9 de Abril deslocaram-se ao norte de França, a La
Couture, para no triste aniversário dos 16 anos da Batalha de La Lys colocarem
a Gloriosa Lápida no Monumento português de homenagem aos combatentes. Um acto
de simbolismo pleno de história e honra que levou o cônsul português em Arras a
pronunciar as seguintes palavras:
«Para mim, a vinda da equipa do Benfica aos campos da Flandres
constitui uma das mais belas manifestações de solidariedade humana que tive a
honra de patrocinar. O
vosso clube, enviando aqui uma embaixada formada pelos seus atletas, praticou
um acto de puro desportivismo, que eu nunca esquecerei. Por isso quero
transmitir-lhe os meus votos de agradecimento pelo seu gesto».
Depois o regresso, entre 19 de Abril (saída de Paris) e 29
de Abril na pista do estádio do Lumiar, em Lisboa, novamente com um percurso de
dez etapas em dez dias com pernoita em Tours, Bordéus, Baiona, Vitória,
Palência, Pueblo Sanábria, Orense, Vigo, Porto e Lisboa.
História do SL Benfica 1904-1954; II volume; pp 133; Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; Edição dos autores; Fascículos 1954-1959 |
10 de Novembro de 1928
O monumento é património português sendo traçado pelo
escultor portuense António Teixeira Lopes (1866 - 1942) erigido num terreno de 25 metros quadrados,
junto à Igreja Matricial, doado ao Governo Português, por decisão autárquica de La Couture, em 10 de Setembro
de 1923. Mas "à portuguesa" a previsão para ser inaugurado na
passagem dos dez anos da sangrenta batalha "escorregou" para os dez
anos do final da I Guerra Mundial: Dia do Armistício. Vá lá! Seis meses! Podia ser pior! (clicar para saber mais)
Esquemas da Batalha de La Lys: Antes/Durante e Depois
(Uma "coça" das grandes! Tantas vidas que deixaram de ser vividas)
9 de Abril de 1918
A feroz luta em La Lys dizimou milhares de jovens soldados
portugueses tal como centenas de oficiais. Os alemães triunfaram com facilidade
e poucas baixas. Triunfaram é uma força de expressão. Seis meses depois, em 11
de Novembro de 1918, perderam tudo. Geralmente nas guerras é assim! Haveriam de regressar mais tarde liderados
por um senhor de bigodinho igual a este do filme mas não é este! (clicar para saber mais acerca da Batalha de La Lys)
Não consigo encontrar a placa!
Pois. O certo é que não encontro em fotografias e filmes
mais recentes a placa colocada em 1934 pela embaixada desportiva do Benfica no
monumento português em La Couture. Em 1964 (data desta fotografia) ainda lá
estava.
Em 1984 fui lá propositadamente, desviando-me em Julho desse
ano, da rota "interrailiana" entre Paris e Bruxelas para passar por
lá para ver a placa. Ainda lá estava, se bem que não tenha tirado fotografias. Também
não sei o sítio preciso (não tenho memória de tal): se como em 1934, por baixo do pé do soldado português "Zé Ninguém"; se como em 1964 ou noutro local (mas frontal)
do monumento! Mas estava!
Actualmente não está. Pelo menos não está visível. Eh! Pá!
Bem sei que a placa é (ou era) pequena, mas é (ou era) linda! E foi lá colocada
antes de outras o serem. Foi lá colocada levada numa embaixada de bicicletas,
desde Lisboa. Até Paris. De Paris até La Couture. Com esforço, carinho,
dedicação, simpatia, devoção, sentimento e... glória! E esta não é uma glória
qualquer! É a do Glorioso! Encontrem LÁ a lá-pide. Pode ser!?
Arqueologia Benfiquista: outro modo de
Benficar
Alberto Miguéns
Era muito interessante a conservação e restauro do Benfica saber do paradeiro dessa placa.
ResponderEliminarUma excelente estória, que dignifica o clube e o país.
a explicação esta no vídeo, pois o senhor (Jean Marques) diz que é preciso fazer trabalhos no cemitério, assim a dita " lá-pide" deve/foi enviada para restauro visto ser uma das mais antigas que foi colocada, quanto a quem poder saber o que foi feita dela (se roubada/desviada ou restauro) esse mesmo senhor do vídeo que afirma ser ele quem se ocupa do cemitério é a pessoa mais indicada
ResponderEliminarCarlos 3113
EliminarNão há explicação nenhuma. A montagem das imagens do video enganam quem não conhece a situação, pois dão a ideia de que se trata de um local e são dois. O cemitério militar português é em Richebourg (num antigo campo agrícola onde durante a batalha de La Lys os cadáveres dos soldados portugueses se amontoavam uns sobre os outros) e o Monumento onde está (esteve) a placa é em La Couture. Distam cerca de oito quilómetros. O Monumento já foi restaurado como se vê na fotografia ou noutras de outros ângulos. As placas e todo o monumento foram restauradas em 2010 pela empresa Serviloc. Esta é que deve saber pois para restaurar deve ter tirado fotografias ao trabalho antes e depois de o ter executado. Eu digo deve porque não sei o que se passou. O que sei é que a placa não aparece nas várias fotografias que existem. E se está noutro sítio do monumento deixou de estar na área nobre sendo a primeira placa a ser lá colocada como se percebe na foto de 1934.
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
Deveras muito interessante. Não tinha a menor ideia da existência desta história.
ResponderEliminarObrigado pelo trabalho arqueológico desenvolvido a honrar os gloriosos Benfiquistas.
Esperemos que a placa seja recolocada!
Excelente ideia.
ResponderEliminarQuantos de nós ao revisitar locais, monumentos ou museus acompanhados por guia conhecedor passamos a ter outro olhar, outro entendimento sobre eles?
Estou certo que no caso do Glorioso o Alberto tem muitas surpresas para nos revelar. Locais que nem suspeitávamos ter ligação à história do Glorioso.
Este primeiro caso é muito interessante. O ciclismo está na base da popularidade do Glorioso.
Para além disso o Alberto conseguiu fazer uma feliz ligação de histórias entre o Glorioso e o horror da Grande Guerra.
Uma bonita homenagem.
Saudações Benfiquistas
VJC
ps: o Alberto lembra-se do estado de conservação da placa?
Caro Victor João
EliminarObrigado.
Há locais que foram importantes para o Clube e na sua popularidade.
Em 1984 a placa estava legível. percebia-se que era um emblema em metal do Benfica. Não quis "violar" a cerca apesar de ter ter curiosidade em saber o que estava escrito na placa de metal. Se fosse "hoje" (em 1984 não conhecia em pormenor a Gloriosa História como dez anos depois em 1994, por exemplo) tinha ido mesmo junto da placa copiar o que foi escrito em 1934).
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
NOTA: Em breve voltarei ao "assunto". Pois parece haver novidades. Pela fotografia que enviou da Serviloc antes desta fazer a limpeza em 2010!