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15 julho 2016

Eleição de Félix Bermudes

15 julho 2016 1 Comentários
FORAM 82 DIAS INTENSOS. EM TERMOS ASSOCIATIVOS TALVEZ OS TRÊS MESES MAIS ALUCINANTES DA NOSSA EXISTÊNCIA.


O que durante alguns dias (24 de Junho a 15 de Julho) tinha sido tratado com sigilo passa a ser objecto intenso de divulgação para os associados saberem o que os dirigentes pretendiam para o futuro da colectividade e serem parte activa na solução sendo informados dos riscos.

Era isto que distinguia o Benfica de outros grande clubes - a proximidade
Os dirigentes eram uma extensão do colectivo. Estavam dirigentes. Tinham que resolver assuntos, por vezes melindrosos, mas tomavam as decisões decididas pelos associados. O Clube era o colectivo. Eram os sócios a decidir por isso eram dados aos associados todas as informações. Eles confiavam plenamente nos seus dirigentes como extensões temporárias da vontade colectiva. Os relatórios das Direcções são impressionantes. Até o número de lápis e tinteiros de tinta para canetas, bem como o papel gasto eram apresentados aos sócios. Os associados eram de facto o Clube. O sentiam-se donos daquilo que ajudavam a pagar e respeitavam, com deferência, os que - de entre eles - estavam ao serviço de todos. 


Eleições a 15 de Julho (há precisamente cem anos)
Pois o jornal "O Sport de Lisboa" era um semanário desportivo editado ao sábado.




Era raro o sábado sem notícias acerca do futuro imediato do Clube
Vou destacar aquelas que considero mais importantes e decisivas. Passado um Agosto (que nesse tempo não era de férias nem de "estação estúpida") com ajustes na estratégia a tomar em 6 de Setembro os associados - numa assembleia geral que sempre foi um dos pilares do SLB aberta à comunicação social, neste tempo reduzida à Imprensa - tomam conhecimento do andamento de todo o processo (SLB-DB) e incentivam os seus dirigentes a defenderem intransigentemente os interesses do colectivo.



Semana de grandes decisões (9 a 16)
Trabalho intenso da Direcção liderada por Félix Bermudes sempre na continuidade das decisões dos associados nas assembleias gerais aproveitando as capacidades intelectuais de um presidente invulgar. Assertivo, racional, impoluto impunha-se pelo seu exemplo. Uma garantia de verdade e honestidade que deu brilhantismo a uma gerência curta em tempo mas cheia em boas decisões.


Um domingo (17 de Setembro) fundamental
Estava consumada a fusão que a habilidade de Félix Bermudes fez uma vez mais, como em Setembro de 1908, transformar numa junção. Em 1916 conseguiu "ir mais longe" foi uma absorção. O "inventário" das duas colectividades era díspar. O DB tinha um valor imobiliário e imaterial imensamente superior ao SLB, embora carregado de dívidas e hipotecas. O SLB apresentava-se como o melhor clube de futebol português - em prestígio, história e número de associados, bem como de simpatizantes - mas a usufruir de instalações precárias. Um andar alugado na Baixa (Largo do Carmo) e um campo com poucas condições (nem jogos internacionais recebia) em Sete Rios. Mas esmagava a concorrência no Futebol. 


Benfica dominador (até 1915/16)
Entre o início dos campeonatos disputados em Lisboa e o final dos anos 10 o “Glorioso” foi hegemónico. Da 1.ª à 4.ª categoria.

CAMPEÕES REGIONAIS DE LISBOA (1906/07 - 1915/16)
Época
1.ª 
categoria
2.ª 
categoria
3.ª categoria
4.ª categoria
1906/07
Carcavellos
-----------
-----------
-----------
1907/08
Carcavellos
-----------
-----------
-----------
1908/09
Carcavellos
Internacional
CS Império
-----------
1909/10
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
-----------
1910/11
Internacional
SL Benfica
SL Benfica
-----------
1911/12
SL Benfica
GS Cruz Quebrada
SL Benfica
Sporting CP
1912/13
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
Sporting CP
1913/14
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
1914/15
Sporting CP
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
1915/16
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
TOTAIS
5 em 11
45 %
6 em 8
75 %
8 em 11
73 %
3 em 5
60 %
NOTAS: (1) Em 1906/07 e 1907/08 organizados pela Liga de Foot-Ball Association (LFA); (2) Em 1908/09 e 1909/10 organizados pela Liga Portugueza de Futebol (LPF); (3) Entre 1910/11 e 1947/48 organizados pela Associação de Futebol de Lisboa (AFL)

Em 1915/16
O troféu da 1.ª categoria (1.º da esquerda) já estava na posse definitiva do Clube. E o provisoriamente outro feito para nova série (que iam sendo colocadas placas dos campeões enquanto não fossem conquistados definitivamente - três triunfos consecutivos ou cinco alternados);
O troféu da 2.ª categoria (2.º da esquerda) também já estava na posse definitiva do "Glorioso". E provisoriamente um outro (que também ficaria no Clube em 1917/18;
O troféu da 3.ª categoria (2.º da direita) já estava na posse do Clube desde 1911/12, até já havia um segundo (1914/15) e provisoriamente um terceiro (1915/16);
O troféu da 4.ª categoria (1.º da direita) era a nova jóia. Prestes a ser conquistado pelo Sporting CP, em 1913/14, Cosme Damião deu-lhes um nó do tamanho da decência, conquistando-o definitivamente em 1915/16. O SCP ficou irado de verde!
No tempo - 1910/11 - em que os troféus estavam provisoriamente no clube. O da 1.ª categoria (ao centro) ficou definitivamente em 1913/14. O da 2.ª categoria (junto a Félix Bermudes) ficou na nossa posse definitiva em 1914/15. O da 3.ª categoria (junto a Cosme Damião) foi "mesmo nosso" em 1911/12 (o primeiro a ser conquistado definitivamente pelo clube). Em 1910/11 o da 4.ª categoria nem tinha tido início. Os dois bronzes entre o da 2.ª categoria e o da 1.ª foram conquistados em Abril de 1907 mas foram empenhados pelo funcionário do Clube por volta de 1915. O vaso dos torneio de futebol dos "Jogos Olímpicos Nacionais" (atrás do troféu da 3.ª categoria) foi "papado" pelo Benfica em 1913 quando o Sporting CP não quis comparecer ao jogo. Foi a terceira vitória vitória do "Glorioso" e a conquista definitiva do "jarrão"!

O Glorioso Sport Lisboa e Benfica
Era imparável, numa democracia sem paralelo, mesmo num Portugal Republicano cheio de contradições. O "Glorioso" passava a usufruir de instalações ao nível dos melhores clubes de Lisboa e passava a oferecer um "leque" de modalidades que nem o Ginásio Clube Português conseguia oferecer. 

Aprovada a fusão fizeram-se novas eleições
Com os dirigentes do "Desportos de Benfica" a ocuparem as duas presidências que teriam impacte no futuro do Clube. Nuno Themudo (principal credor do clube) como presidente da Direcção e António José Dantas no Conselho Fiscal. Foram um dos piores Órgãos Sociais em toda a Gloriosa História só comparável a alguns na actualidade.


A promiscuidade entre dirigentes do DB (agora no SLB) e na EMB começaram a causar mossa
Com muito dinheiro envolvido, muitas dívidas acumuladas, muitos bens hipotecados, tinha tudo para correr mal. E o destino marca a hora. Inexoravelmente, Mas isso são "contas de outro rosário"... Fiquemos com a nata do leite!


Digam lá se não valeu bem a pena
De um andar exíguo no Largo do Carmo o "Glorioso" passou para um edifício de grande classe. Ao nível do que tinham as melhores empresas financeiras de Lisboa - bancos e seguradoras. Eis o Benfica que passou de um Grande Clube de Futebol para um Grande Clube Desportivo.



Até eu gostava de recuar cem anos
E "apanhar" o carro eléctrico nos Restauradores, todos os meses, rumo a Benfica pagar as minhas quotas e "papar" Hóquei em Patins" no rinque e o Futebol no campo de jogos. Rinque atrás da Sede. Campo de jogos atrás do rinque!


Um dia vou voltar ao assunto (parte I)
Inauguração oficial da Sede em 1 de Dezembro de 1916


Um dia vou voltar ao assunto (parte II)
O SLB praticada Hóquei em Patins, pela primeira vez, entre associados, que eram exímios patinadores, com vasta experiência enquanto atletas do ""Desportos de Benfica". Há cem anos é bom lembrar porque há quem tenha interesse em esquecer-se deste Centenário. O Hóquei em Patins existe desde ontem!


Não foram fáceis as negociações
O ponto único do Artigo n.º 1 não deixa margem para dúvidas. Embora tenha durado até aos Estatutos de 1923. Afinal foi suprimido com facilidade. Coisas à Portuguesa. Definitiva só a morte para quem está vivo ou semi-vivo!



O que é que fez correr os "Benficas"
As magníficas instalações ainda hoje existentes, embora remodeladas e pertença da Junta de Freguesia de Benfica, a "minha freguesia". Mas evito ir lá desde que me disseram que a placa da compra da Sede (em 1945) na segunda presidência de Félix Bermudes (Acto 3) foi picadinha em farelos «porque SL Benfica é uma coisa e JF Benfica é outra! PQP!


Apesar de não ter sido autorizado a trepar ao telhado da Escola Superior de Educação para fazer o mesmo enquadramento fotográfico é possível ver, na fotografia do campo, lá ao fundo, no topo da colina os edifícios da Quinta da Granja que ainda existem! 

Até amanhã

Alberto Miguéns


NOTA: A "tal" placa descerrada, em 30 de Dezembro de 1946, na Sede do SLB (actual J.F. de Benfica) a assinalar a compra do edifício em 1945, alugado desde 1916 com dívidas "astronómicas" que foram pagas ao cêntimo. À Benfica. Sem deixar encargos para o Benfica do futuro e sem tramar os dirigentes que continuavam a transportar a Chama Imensa pelos épocas seguintes
1 comentários
  1. Vários presidentes tiveram mandatos que mudaram por completo o SL Benfica.
    Este foi um desses. Foi uma felicidade que um homem de excepção estivesse ao comando do nosso Clibe. Mandato decisivo.


    A Gomes Pereira era um campo jeitoso mas de facto não dava para garantir um espaço para o futuro. E o ringue. Se José Prazeres, António Adão e companhia tivessem aquele piso nos seus dias de hóquei... Foram gigantes.

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