JOSÉ
GOUVEIA MARTINS PARTIU ONTEM PARA O 4.º ANEL AOS 85 ANOS. QUE DESCANSE EM PAZ.
Há anos que queria uma resposta, encontrei-me com ele algumas
vezes e esqueci-me sempre de fazer a pergunta. Nunca me lembrei porque a
conversa tombava sempre para o Benfica dos anos 50. A pergunta que nunca será
respondida. Qual era o clube de origem do Zézinho antes de estrear o CD Montijo? Fiquei sem saber. Foram três, os clubes que deram origem ao
CD Montijo. O Aldegalense Sport Clube (fundado em 14 de Julho de 1909), o Onze
Unidos Futebol Clube (fundado em 16 de Julho de 1923) e o Avenida Futebol Clube
(fundado em 22 de Junho de 1930).
Do Montijo para o Benfica
Nasceu na Aldeia Galega do Ribatejo (actual Montijo) em 6 de Março
de 1930. Começou a jogar num dos três clubes existentes na localidade onde
vivia. Com a fundação, em 1 de Setembro de 1948, do CD Montijo, resultante de uma
fusão dos três emblemas montijenses, fez parte, aos 18 anos da primeira equipa
do clube. Jogador possante e criativo, ambidextro, polivalente, rápido e
goleador interessou ao “Glorioso”. No final da temporada de 1951/52, com 22
anos ingressou no Benfica.
Oito temporadas, entre 1952/53 e 1959/60
Foi treinado no Benfica por seis técnicos: Zozaya (1952/53),
Ribeiro dos Reis (1952/53 e 1953/54), Valadas (1953/54), Otto Glória (1954/55 a
1958/59), Valdivielso (1958/59) e Béla Guttmann (1959/60).
Uma: 1952/53
Foi com o argentino Alberto Zozaya que Zézinho se estreou, em 2 de
Novembro de 1952. Ao 9.º jogo da época, na 6.ª jornada do campeonato nacional,
no estádio das Antas, frente ao FC Porto. Jogou a extremo-direito substituindo
o habitual titular, o barreirense campeão latino, Corona. Esteve presente em 28
jogos (onze golos), com 16 na I Divisão (num total de 26 jornadas) e cinco
jogos na Taça de Portugal (dos sete efectuados pelo “Glorioso”). Com 26 jogos a
titular (dois como suplente): 14 a extremo-esquerdo e 12 a extremo-direito. Na
final da Taça de Portugal (V 5-0 ao FC Porto) foi Rosário (também falecido em
2015) a ocupar o seu lugar.
Duas: 1953/54
Uma época em dificuldades. Apenas onze jogos afastando-se da
equipa logo no início de Fevereiro de 1954, quando Ribeiro dos Reis decidiu
deixar a orientação técnica do futebol substituído pela Glória, Alfredo Valadas (até aí
técnico de campo). Apenas cinco jogos no campeonato nacional. Isto numa
temporada em que Ribeiro dos Reis decidiu passá-lo de extremo para defesa,
“estreia” em 17 de Janeiro de 1954. Em oito jogos como titular (três a
suplente) actuou cinco a extremo-direito e três na defesa: dois na direita e um
na esquerda. Não marcou golos. A polivalência ao serviço do Benfica. Como ela
afirmava. Pelo Benfica temos de fazer tudo. O Benfica é tudo!
Três: 1954/55
E chega Otto Glória. Foi pouco utilizado durante a época mas
depois revelou-se importante na digressão de final de temporada ao Brasil. No
total 18 jogos (dois golos), mas apenas dois para o campeonato (conquistado) e
cinco na Taça de Portugal (conquistada com Zézinho a jogar na final). Com cinco
jogos como suplente, foram 13 a titular: três a extremo-esquerdo e dez a
extremo-direito. E comecei por referir a ponta esquerda por uma questão
cronológica. Otto Glória colocou-o no lugar da Glória Rogério Lantres de
Carvalho, mas depois optou por Francisco Palmeiro passando Zézinho para a
direita no lugar da Glória Francisco Calado. Foi como extremo-direito que jogou
na final da Taça de Portugal (V 2-1 frente ao Sporting CP).
Na final da Taça de Portugal, em 1955, jogou a extremo-direito (segundo, na primeira fila, a contar da esquerda) |
Quatro: 1955/56
Mais uma temporada pouco conseguida. Apenas sete jogos, com cinco para
o campeonato. Dois como suplente e cinco como extremo: quatro na direita e um
na esquerda. Uma temporada para esquecer, penso que afectado por lesões.
Na final da Taça de Portugal em 1957 jogou a médio-esquerdo (terceiro, de pé, a contar da esquerda) |
Cinco: 1956/57
Vinte jogos, mas os números enganam. Cinco jogos para o campeonato
(em 26), quatro na Taça de Portugal (em 8) e a “cereja em cima do bolo” – dois
jogos para a Taça Latina. Os outros nove encontros correspondem a mais uma
digressão ao continente americano (Brasil e EUA). Otto Glória utilizou-o mais
recuado no terreno de jogo: nos 17 jogos a titular (três como suplente), oito
como defesa (seis à esquerda e dois na direita), oito como centrocampista (cinco
ao centro e três na esquerda) e um a extremo-direito (avançado). Em época de
“dobradinha” jogou a final frente ao SC Covilhã (V 3-1) como médio-esquerdo e
na Taça Latina fez os dois jogos como médio-centro. Numa edição realizada em
Madrid, ficou para a história do futebol o modo como anulou o melhor
futebolista do Mundo, Di Stefano. Só a expulsão aos 55 minutos (agarrou a
camisola de um madridista) permitiu que o extraordinário futebolista
hispano-argentino marcasse o golo da vitória. E de grande penalidade, aos 62
minutos, no seu Estádio (ainda de Chamartin, depois Santiago Bernabéu). Como
dizia Zézinho: «Marquei bem Di Stefano? Fiz a minha
obrigação! O que Otto Glória me pediu! Se fosse preciso até o marcava no
balneário!»
Seis: 1957/58
Vinte e três jogos (um golo) com três a suplente utilizado e 20 a
titular: 15 como defesa – dez na direita e cinco à esquerda - e cinco no
meio-campo (três no centro e dois na esquerda). Apenas seis encontros
particulares, mas onze jogos para o campeonato nacional, cinco na Taça de
Portugal e um na…Taça dos Clubes Campeões Europeus. Na segunda mão, na estreia
da competição, na Saudosa Catedral, frente ao Sevilha FC (E 0-0).
Sete: 1958/59
Quinze jogos com sete para o campeonato nacional e um para a Taça
de Portugal, conquistada ao FC Porto. Dos 12 encontros a titular foram sete na
defesa (apenas um como defesa-direito), quatro como centrocampista (três ao
centro e um à esquerda) e… um a avançado-centro! Na I Divisão frente ao GD
CUF Barreiro, no Barreiro! Com José Águas lesionado, o treinador recorreu a
Zézinho. O Benfica era tudo!
Oito: 1959/60
Com a chegada de Béla Guttmann, o montijense tinha os dias
contados. A caminho dos 30 anos seria a derradeira temporada. Cinco jogos, com
dois para a Taça de Honra de Lisboa e um para o campeonato nacional. Nos quatro
a titular, três como defesa-esquerdo e um na direita. Aquele que seria o da
despedida. Estreou-se a extremo-direito (1952) fez o último jogo com o “Manto
Sagrado” como defesa-direito. Estreou-se no campeonato nacional despediu-se na
mesma competição. Para ser campeão nacional. Na 22.ª jornada em 26! Frente à
equipa da Associação Académica de Coimbra, na Saudosa Luz, numa vitória, por 5-1,
em 20 de Março de 1960, com 30 anos e…14 dias de idade.
Valores importantes
Nas oito épocas com o “Manto Sagrado” actuou em 9 499
minutos, correspondentes a 127 jogos marcando 14 golos. Esteve nos sete títulos
do “Glorioso” conquistados nessas oito temporadas: três campeonatos nacionais
(1954/55, 1956/57 e 1959/60); e quatro Taças de Portugal (1952/53, 1954/55,
1956/57 e 1958/59). Jogou as duas finais – 1954/55 e 1956/57 – correspondentes
a duas “dobradinhas”. É (e será para sempre) um dos melhores polivalentes do Glorioso Futebol. Jogou em sete posições, apenas não actuando a guarda-redes, a interior (direito e esquerdo) e médio-direito. Em 105 jogos - 87 completos - a titular (22 como suplente utilizado): 32 como extremo-direito, 21 a defesa-esquerdo, 18 como extremo-esquerdo, 16 a defesa-direito, onze a médio-centro, seis a médio-esquerdo e um como avançado-centro. Contribuiu para 80 vitórias e 20 empates (com 27 derrotas).
Aos 35 anos ainda jogava e marcava golos no CD Montijo |
Do Benfica para o CD Montijo
Aos 30 anos, regressou ao CD Montijo, onde terminou a carreira no
Futebol. Reformou-se da sua ocupação profissional e continuou empolgado com o
Benfica dos anos 60 e décadas seguintes… Faleceu aos 85 anos, em 30 de Agosto
de 2015.
Até sempre Zézinho. As Glórias do Benfica
nunca são Velhas ou Ex-. São Glórias! Simples! Eternas!
Alberto Miguéns
Uma notícia muito triste.
ResponderEliminarTorce por nós no 4º anel, Campeão.
Descansa em Paz.