SEMANADA: ÚLTIMOS 7 ARTIGOS

23 outubro 2013

Taça de Portugal 1960/61: A Grande Farra

23 outubro 2013 3 Comentários
OPINIÃO
OLA JOHN




Os jogos do “Glorioso” na Taça de Portugal fazem lembrar sempre três realidades:
1)     A inexactidão de não considerar as 17 edições do campeonato de Portugal como antecessora da Taça de Portugal;
2)   O sucesso do Benfica nas competições nacionais, a eliminar;
3)   A vigarice em 1960/61 que impediu o “Glorioso” de conquistar três títulos na mesma temporada.

Uma decisão que não está a ser cumprida
O Congresso da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em 1938 decidiu reorganizar as competições. Para não descontinuar as competições que se disputavam desde 1922 (campeonato de Portugal) e 1935 (campeonato da I e II Liga) o Relatório da FPF de 1938/39 consagrou a continuidade das duas competições, com outras designações, respectivamente, Taça de Portugal (prova a eliminar, tal como o campeonato de Portugal) e Campeonato Nacional da I e II Divisão (provas a pontuar, tal como os campeonatos da I e II Liga).

Ponto VI do Relatório da FPF em 1938/39



Um troféu que diz de que lado está a verdade
O troféu da Taça de Portugal data de 1921/22 então denominado campeonato de Portugal, como mostram as placas com o nome dos vencedores que são colocadas todas as temporadas.

Base do troféu com as placas dos vencedores por época. Estão lá todas, incluindo a do campeonato de Portugal (1934/35), bem como das Taças de Portugal (por exemplo a de 1961/62)


Em competições a eliminar os melhores têm mais jogos
O Benfica é o clube com mais jogos disputados na Taça de Portugal, incluindo as épocas em que o troféu teve a designação inicial de campeonato de Portugal. A estrutura competitiva do futebol português tem variado muito. A primeira competição nacional, indevidamente designada campeonato, não era a pontuar, mas a eliminar. Iniciou-se em 1921/22 colocando em confronto o campeão regional do Porto (FC Porto) e o campeão regional de Lisboa (Sporting CP). Nas temporadas seguintes, foram entrando mais campeões regionais, até que na 6.ª edição – 1926/27 – a participação foi alargada aos melhores classificados dos principais campeonatos regionais continuando os campeões regionais a entrarem na competição. O “Glorioso” estreou-se após o 5.º lugar no Regional de Lisboa. Se a 5.ª edição foi disputada por 12 clubes a edição de 1926/27 teve 31 clubes em confronto. Depois seguiram-se temporadas em que os apuramentos para a Taça de Portugal foram sendo alargados, permitindo a inscrição de clubes de vários escalões, até os 2.ºs melhores classificados dos campeonatos distritais puderam (e podem) participar na edição seguinte da Taça de Portugal.


ESTRUTURA DO FUTEBOL PORTUGUÊS
(com possibilidade de apuramento para a Taça de Portugal)
Épocas
1.º Escalão
2.º Escalão
3.º Escalão
4.º Escalão
5.º Escalão
 34/35-46/47
I Liga/ I Divisão
II Liga/
II Divisão

47/48 - 67/78
I
Divisão
II
Divisão
III Divisão

68/69 - 89/90
I
Divisão
II
Divisão
III Divisão
I Divisão
Distrital

90/91 - 12/13
I
Liga
II
Liga
II Divisão B
III Divisão
I Divisão
Distrital
13/14 - ?
I
Liga
II
Liga
CNS
I Divisão
Distrital


NOTAS: (1) Entre 1934/35 e 1946/47 os clubes apuravam-se para a I Liga/ Divisão e II Liga/ Divisão através das classificações obtidas nos campeonatos regionais;
(2) A I e II Divisões só tiveram quadro fixo de clubes (com despromoções e promoções) depois de 1946/47;
(3) A III Divisão só passou a ter quadro fixo de clubes (com despromoções e promoções) depois de 1968/69. Entre 1947/48 e 1968/69 os clubes apuravam-se para a III Divisão através das classificações obtidas nos campeonatos distritais, mas houve várias alterações durante os anos 50 para permitir que os clubes finalistas para apurar o campeão da III Divisão pudessem ascender à II Divisão na época seguinte;
(4) CNS - Campeonato Nacional de Seniores

Eliminatória n.º 366 (com finais) e n.º 328 (sem finais)
Até serem organizados os primeiros (e verdadeiros) campeonatos em 1934/35, com o nome de I Liga e II Liga não é possível definir o escalão dos clubes pois apuravam-se todos pelos respectivos campeonatos regionais. Depois de 1933/34 passou a ser possível saber qual o escalão de cada clube. Para o “Glorioso” a eliminatória com o CD Cinfães foi a 366.ª incluindo nestas as 38 finais (27 conquistadas e onze perdidas) ou a 328.ª se excluirmos as finais. Como seria de prever a maior parte das eliminatórias (com ou sem finais) foi frente a equipas de clubes do 1.º escalão: 164 (em 126 ultrapassadas e em 38 eliminado) contabilizando mais 33 finais (22 conquistas e onze perdidas).Como o CD Cinfães compete no Campeonato Nacional de Seniores, foi a 34.ª vez que o Benfica defrontou um clube deste escalão: 19quando a III Divisão era o 3.º escalão e 14 da II Divisão B, incluindo o único insucesso frente a uma equipa de um clube do 3.º escalão (Gondomar SC, 8.º classificado, na zona norte, da temporada de 2002/03).

TAÇA DE PORTUGAL
ELIMINATÓRIAS E FINAIS
Escalão
Eliminatórias
FINAIS
TOTAIS
Sucesso
Insucesso
Conquistas
Perdidas
Indefinido
26/27 - 33/34
22 + 1
(isento)
6
2
-
30
1.º escalão
126
38
22
11
197
2.º escalão
  80
  2
  3
-
 85
3.º escalão
  33
  1
-
-
  34
4.º escalão
 4
-
-
-
    4
5.º escalão
-
-
-
-
-
Campeões
(1)
 9
-
-
-
   9
Isento
 5
-
-
-
   6 (3)
Desistência
(2)
 1
-
-
-
   1
TOTAIS
281
47
27
11
366
328
38
NOTAS: (1) Campeões da Madeira (4x), Angola (3x), Moçambique (1x) e Açores(1x); (2) Desistência do adversário; (3) Seis vezes isento (incluindo os 16-avos-de-final em 1926/27)

Quatro eliminatórias frente a clubes do 4.º escalão
Frente a clubes do 4.º escalão registam-se quatro jogos, sendo num deles, em 1988/89, que o Benfica regista o melhor resultado nos 485 jogos que já disputou em 86 edições da competição.

AS ELIMINATÓRIAS COM CLUBES DO 4.º ESCALÃO
ÉPOCAS
FASES
ADVERSÁRIOS
1985/86
1/64
FC Alverca
(F) V 2-0
Distrital Lisboa
1988/89
1/16
CA Riachense (1)
(C) V 14-1
Distrital Santarém
1996/97
1/4
SC Dragões Sandinenses
(C) V 5-1
III Divisão/ série B
2004/05
1/16
AD Oliveirense
(C) V 4-1
III Divisão/ série A
NOTA: (1) Maior goleada do Benfica na Taça de Portugal

Muitos jogos, várias goleadas
O Benfica não é o clube que detém as maiores goleadas em cada competição, mas regista valores impressionantes.

Maiores goleadas do SLBENFICA (em competições com troféus equivalentes a títulos)
Competição
Época
Res
Estádio
Adversário
Campeonato Regional
(sem Benfica desde 47/48)
10/11
15-0
Feiteira
Lisboa FC
Campeonato Nacional
46/47
13-1
C.º Grande
AD Sanjoanense
Liga dos Campeões (1)
65/66
10-0
Luz
Stade Dudelange
(LUX)

Liga Europa/ Taça UEFA
92/93
5-0
Izola
NK Izola
(Eslovénia)
09/10
5-0
SLB
Everton FC
(ING)
Taça de Portugal
88/89
14-1
Luz
CA Riachense
Taça dos Vencedores das Taças
(extinta)
70/71
8-1
Luz
NK Olimpija
Ljubljana (JUG)
Particulares
73/74
18-1
Fajã Cima
Selecção de
Ponta Delgada
NOTA: (1) Ainda na fase em que se designava Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica regista o melhor “resultado acumulado” em toda a história da principal competição para clubes organizadas pela UEFA: 18-0, com 8-0 (fora) e 10-0 (na Luz)


Benfica, vítima de uma vigarice em 1960/61
Numa das decisões mais vergonhosas que houve no futebol português, obrigaram o Benfica a jogar, em 1 de Junho de 1961, desfalcado de 15 futebolistas que estavam a viajar de avião desde Berna, onde no dia anterior – 31 de Maio - conquistaram a Primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus (TCCE). Impediram o “Glorioso” de conquistar campeonato nacional, TCCE e Taça de Portugal na mesma época.


Havia datas disponíveis
Não foi por falta de datas que o Vitória FC de Setúbal e a FPF não consentiram que o jogo previsto para 1 de Junho de 1961 passasse para uma data em que fosse possível ao Benfica apresentar os melhores jogadores. E o poder político através da Direcção Geral dos Desportos (DGD ou como os Benfiquistas diziam: DGS - Direcção Geral do Sporting! Com os campeonatos nacionais a terminarem em 28 de Maio de 1961 e a 1.ª mão dos quartos-de-final agendada para 10 de Junho havia muito por onde escolher! Quiseram foi aproveitar o facto do “Glorioso” estar em Berna com 15 futebolistas e defrontar desfalcado, na 2.ª mão (depois da vitória, por 3-1, do Benfica, na Luz) o Vitória FC Setúbal. Assim foi mais fácil para o Vitória setubalense eliminar o Benfica, vencendo por 4-1, anulando por um golo a desvantagem da 1.ª mão. É que para além dos "Onze Gloriosos" que derrotaram o FC Barcelona, estavam em Berna mais quatro futebolistas que não foram escolhidos por Béla Guttmann para o jogo da final: Barroca (guarda-redes), Artur Santos (defesa), Saraiva (médio) e Mendes (avançado). Isto num tempo em que não havia substituições, mas havia jogadores suplentes (ou que ficavam suplentes)!

E o Benfica era o "Clube do Regime!!!
Se o ridículo pagasse imposto!


Jornal O Benfica

E ainda ridicularizaram o Campeão Europeu
Aos vitorianos de Setúbal não lhes chegou o expediente de defrontarem o Benfica desfalcado. Despediram-se com lenços brancos (num adeus que os devia envergonhar) e há crónicas, em jornais, que assinalam algumas frases dos seus adeptos, do tipo “Se eliminámos o Campeão Europeu o que é que somos?!

Jornal O Benfica

O que se seguiu…
O Vitória FC seguiu para os quartos-de-final sendo “presa fácil” do Sporting CP (D 1-4 e V 1-0, em Setúbal). Este sucumbiu nas meias-finais frente ao FC Porto. O Leixões SC foi o outro finalista. O FCP conseguiu levar a final para o seu estádio. Nas Antas, o Leixões SC venceu… por 2-0. De pouco serviu ao Vitória FC e à FPF impedirem o “Glorioso” de conquistar o troféu. Mas impediram o Benfica de conquistar Taça dos Clubes Campeões Europeus, Campeonato Nacional e Taça de Portugal na mesma temporada.


Sorteio em 24 de Outubro de 2013 (Quinta-feira) pelas 12:00 horas

Os 31 adversários nos 16-avos-de-final da Taça de Portugal por ordem da classificação nos respectivos campeonatos (13 do 1.º escalão; 10 do 2.º escalão; e oito do 3.º escalão)

FC Porto
1.º
LZS
Sporting CP
2.º
LZS
SC Braga
5.º
LZS
GD Estoril Praia
6.º
LZS
Gil Vicente FC
7.º
LZS
Rio Ave FC
8.º
LZS
Vitória SC Guimarães
10.º
LZS
FC Arouca
11.º
LZS
CS Marítimo
12.º
LZS
SC Olhanense
13.º
LZS
Vitória FC Setúbal
14.º
LZS
As. Académica Coimbra
15.º
LZS
FC Paços Ferreira
16.º
LZS
SC Covilhã
5.º
SL
FC Penafiel
6.º
SL
CD Tondela
8.º
SL
Leixões SC
11.º
SL
CD Aves
12.º
SL
GD Chaves
15.º
SL
Atlético CP
16.º
SL
CD Feirense
17.º
SL
SC Beira Mar
19.º
SL
Académico Viseu FC
21.º
SL
FC Famalicão
2.º
s.B
AD Fafe
3.º
s.A
AD Camacha
3.º
s.C
CD Cova Piedade
3.º
s.H
Sertanense FC
5.º
s.E
Santa Maria FC
6.º
s.A
GD Ribeirão
8.º
s.B
AD Oliveirense
9.º
s.B
NOTAS: (1)         Liga Zon Sagres (LZS; 1.º escalão); Liga 2 Cabovisão (SL; 2.º escalão); Campeonato Nacional de Seniores (CNS; oito séries de A a H; 3.º escalão)


Quinta-feira “anda à roda” o próximo jogo

Alberto Miguéns


NOTA1: Ainda há uma outra vigarice na Taça de Portugal, embora não esteja relacionada com o Benfica. Constou na época de 1963/64, em  22 de Junho de 1964, O campeão açoriano Lusitânia SC desistiu nas meias-finais "trocando", a pedido do FC Porto, o jogo a disputar com o FC Porto por um encontro amigável em Angra do Heroísmo com receita a reverter para o emblema da ilha Terceira. Jogo em Angra do Heroísmo que nunca se realizou. Em 2014 passam 50 anos de uma dívida de um clube que não sabe honrar o que promete!


NOTA2 (previsões): Próximos textos no EDB
Pela meia-noite de 23 para 24: O Benfica frente a clubes gregos
Pela meia-noite de 24 para 25: Dez Anos Na Catedral
Pela meia-noite de 25 para 26: Era Uma Vez... o Futebol
Pela meia-noite de 27 para 28: O Benfica e o Nacional da Madeira



3 comentários
  1. Já conhecia as histórias. Estão contadas nos livros dos 50 anos do Jornal ”A Bola” e Jornal “Record”. Aconselho a leitura, passe a publicidade.
    E ainda há certos “ilusionistas” que falam e escrevem sobre o clube do regime. Quem era o clube do regime? Haja paciência para tanta lata.
    Saudações Benfiquistas.
    Jorge Gomes

    ResponderEliminar
  2. VITÓRIA sempre! Já sofremos mais do que vocês upa upa...
    Mas cada adepto defende o seu clube, não o do outro, é normal

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Marco Palmeiro

      Grande lata.

      Se eu fosse vitoriano tinha vergonha do que se passou. Lia (e se fosse verdade) calava-me.

      Como é verdade ficava mesmo calado.

      Moral da história: Há Clubes que de pequenos se fizeram grandes. E outros que nunca vão passar da mediocridade.

      Saudações (e envergonhe-se)

      Alberto Miguéns

      Eliminar

Artigos Aleatórios

Apoio de: