Ao passar pela rua Garrett estarreci ao ver uma placa a anunciar
modificações na segunda Sede que o "Glorioso" teve na Baixa, oitava no
total contando com a Farmácia Franco.
Quando estou
algum/muito tempo sem passar por locais por onde o Benfica já andou
É normal ter mais atenção a esses locais - de antigos Campos/Estádios,
Sedes ou Secretarias - até para ver em que estado estão. Quando por motivos
profissionais ou pessoais passo com frequência esqueço-me de olhar como é
normal. Há muito tempo que não descia a rua Garrett do Chiado para a rua do Carmo
por isso olhei para as janelas do lado direito do terceiro andar mais "famoso,
importante e formoso" da rua Garrett e leio uma das placas o que temo ver
sempre nesses edifícios "famosos, importantes e formosos":
Dois anos, entre
1 de Janeiro de 1913 e 31 de Dezembro de 1914
O "Glorioso" ocupou o lado direito do terceiro
andar do n.º 61 da rua Garrett onde instalou a Sede do Clube. foi um progresso
notável. Já tinha deixado o bairro de Benfica mas indo para umas instalações
exíguas, semelhantes às de Benfica embora no Rossio. O que teve valor não foi o
espaço (praticamente o mesmo) mas a localização no centro da cidade. Mas a
passagem para a rua Garrett foi um "pulo olímpico" pois mantinha-se
no centro da cidade e o espaço era oito vezes superior. Pelo menos assim me
pareceu quando os visitei em meados dos Anos 80. E a rua Garrett nos Anos 10
tinha tanto "movimento e importância como o Rossio, o Chiado, a Praça dos
Restauradores ou a rua Augusta. Eram os eixos de maior acessibilidade e
utilização diária no interior da malha urbana nas horas de trabalho, nos dias
de semana que nesses tempos englobavam o sábado. Só no domingo poderia haver
mais sossego mas também não visto haver três grandes igrejas e outros tantos
teatros e não menos cafés. Dizia-se que rua Garrett era a rua com mais
acidentes automóveis em Lisboa - no tempo em que ainda não estava regulamentado
porque lado eles deviam circular, ou seja, existiam vias mas não estavam
divididas em faixas. Uma rua com tanta "confusão rodoviária" quando
os automóveis em Lisboa se contavam pelos dedos mas existiam dias que deviam de
circular por lá todos eles! e mais alguns que vinham do resto do País!
A porta de entrada para uns seis quartos e uma sala enorme (pelo menos era assim em meados dos anos 80) |
Regressando
ao "Glorioso" (Parte I)
Fica para outro dia uma maior peregrinação pelas três Sedes
da Baixa - Rossio, rua Garrett e largo do Carmo - visto neste blogue já se ter
assinalado a saída do largo do Carmo no regresso a Benfica (inauguração oficial
em 1 de Dezembro de 1916). Para uma Sede que foi a melhor que o Benfica já teve
e que ainda hoje é um edifício notável, agora a sede da Junta de Freguesia de
Benfica. A estadia do "Glorioso" na Baixa, em três locais míticos na
própria História de Lisboa devia impressionar. A bandeira rubra com o emblema
da águia desfraldada às janelas devia ser algo que agora só podemos imaginar
mas os Benfiquistas dos Anos 10 viveram-no durante cinco anos! Meia-década na Baixa. E depois
por lá ficaram as secretarias, exactamente, a substituir (desdobrar
administrativamente) a Sede pois esta apesar de esplendorosa na avenida Gomes
Pereira era de difícil acesso para quem queria fazer inscrições, pagar quotas ou contactar dirigentes do SLB.
A porta frontal de entrada para um enorme Salão (pelo menos era assim em meados dos anos 80) |
Regressando
ao "Glorioso" (Parte I)
As instalações na rua Garrett correspondem a um tempo de
crescimento notável. Não fazendo uma história exaustiva daqueles anos de 1913 e
1914 é impossível não referir que foram nestas instalações que se iniciou a prática
da Ginástica (certamente no enorme salão frontal que ocupa três janelas) em 6
de Janeiro de 1913, que se lançou para as bancas o primeiro jornal de um clube
desportivo em Portugal, "O Sport Lisboa" (em 24 de Agosto de 1913) e se comemoraram títulos, com destaque para os
campeonatos regionais de Futebol, tal como se prepararam as deslocações a
Espanha cuja estação ferroviária de partida e chegada (Rossio) ficava "mesmo
ali ao lado"!
Com tanto
prédio para martelar e destruir em Lisboa (milhares deles) larguem os «nossos»
prédios!
Alberto
Miguéns