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28 fevereiro 2018

CXIV

28 fevereiro 2018 27 Comentários
28 DE FEVEREIRO DE 1904: DE MANHÃ A TREINAR, DEPOIS ALMOÇAR E FUNDAR.



CXIV

Seguiu-se treinar, treinar, treinar até jogar quase um ano depois, no Primeiro de Janeiro de Mil Novecentos e Cinco.



De manhã no "sítio do costume"...
Chegado o momento certo foi comparecer num treino marcado para o final da manhã desse domingo no terreno que ficava suficientemente longe da azáfama do bairro e suficientemente perto das habitações onde moravam os miúdos de Belém. Sem vestiários/balneários devia ser ainda e depois nas suas casas que se equipavam e desequipavam. Os casapianos eram sobejamente conhecidos e viviam longe não tendo nada a provar por isso a treinar.



...À tarde também
Depois de muitos terem almoçado num dos dois sítios habituais - António das Caldeiradas ou Café do Gonçalves - depois de treinos e jogos foi numa das dependências da Farmácia Franco que se consumou o que nos faz andar agora por aqui a assinalar. Estava fundado O CLUBE e definidos os requisitos mínimos para o seu funcionamento.



Escolha dos símbolos
As cores devem ter sido o mais fácil - branco que vinha do Football Club (Belém) e vermelho como a cor da alegria, garrido, vivacidade, base do entusiasmo na refrega desportiva - e aquela que mais atraía transeuntes para um clube que treinava e jogava em terrenos públicos junto de um bairro populoso onde crianças eram mais que muitas no início do século XX. José da Cruz Viegas (defesa à direita) no FC (Belém) propôs e o desafio foi aceite com facilidade.
O nome é sempre o mais complexo. Ainda é assim com muitas pessoas e empresas. Entre várias propostas ficou assente: Grupo Sport Lisboa (depois reduzido, como é habitual) a Sport Lisboa, mas também era referido na Imprensa como Grupo de Belém. Vulgaríssimo na época indexar as equipas aos bairros onde viviam os seus futebolistas.
O emblema envolvia não só escolher os seus elementos constituintes, como a disposição das cores, o significado e...desenhá-lo para depois ser bordado (que podia...) no bolso branco da camisola vermelha.


Divisão dos futebolistas por duas equipas
Os melhores para representarem o Clube frente a equipas dos melhores clubes e um segundo grupo para enfrentar igual equipa dos adversários mais fortes ou as melhores equipas de clubes menos poderosos.



Em breve havia até uma terceira
Com o sucesso crescente e a fama a impor-se de um modo inexorável já havia futebolistas em quantidade suficiente para constituir um terceiro grupo. Adversários é que devem ter escasseado. Nesses primeiros anos só o Grupo dos Pinto Basto, depois Internacional (CIF) com campo arrendado em Alcântara conseguia movimentar tantos jogadores.

Se há Águia em que os nossos fundadores se devem ter inspirado foi nos estandartes das Legiões Romanas em que a nobre ave heráldica agarrava nos suas garras implacáveis a divisa «Senado e PopulaQão de Roma» substituindo-a por E PLURIBUS UNUM, no sentido de "Todos por Um" como verteu no primeiro verso na primeira estrofe do Hino, Félix Bermudes um dos pioneiros que só não foi fundador porque, neste dia, há 114 anos, não estava, nesse domingo, em Belém 

Muitas civilizações imperiais tiveram a Águia como símbolo de soberania mas, pelo que se conhece, apenas os Romanos empunhavam nos bastões e modelavam em pedra a Águia com a cabeça abaixo das asas numa demonstração de força perante os inimigos que estavam em terra como em terra estão a maior parte das presas das águias. Numa feliz composição o magnífico desenhador Stuart Carvalhais, em 1929, ergueu a cabeça da Águia dando mais sentido ao último verso da segunda estrofe do Hino: «Erguendo ao alto o nosso emblema»

Emblema: esse eterno símbolo
Foi uma grande escolha, cheia de simbologia com base na Águia (ave altaneira, símbolo de elevação da Ideia e do espírito de iniciativa com que se fundou o Clube) e num lema (assumindo a vontade de união, alma colectiva e força como se de uma família se tratasse) sendo a divisa latina E Pluribus Unum elevada para o Céu como se fosse todo o clube a subir até onde tem inicio o infinito. Félix Bermudes que acompanhou os primeiros tempos verteu para os versos do Hino (1929) essa Ideia de 1904, recuando 25 anos, para depois avançarmos até aos 114 e seguintes...


Obrigado a todos vocês aí no «Quarto Anel» que tanta Glória têm sentido em 114 anos. O sentido que souberam dar ao Clube:

Abílio Meireles
Amadeu Rocha
António Rosa Rodrigues
António Severino
Cândido Rosa Rodrigues
Carlos França
Cosme Damião
Daniel Santos Brito
Eduardo Corga
Francisco Calisto
Francisco Reis Gonçalves
Henrique Teixeira
João Inácio Gomes
João Goulão
Joaquim Almeida
Joaquim Ribeiro
Jorge Augusto Sousa
Jorge Costa Afra
José Linhares
José Rosa Rodrigues
Manuel Gourlade
Manuel França
Raul Empis
Virgílio Cunha

Alberto Miguéns


NOTA: Passam agora 41 anos (depois do Natal de 1976) que ouvi pela primeira vez referir o Benfica num tema musical que não está directamente relacionado com uma música do Clube ou feita por adeptos do Clube. O que eu me diverti, pois ainda não era associado - só o fui dois anos depois, em 1979 - tanto que o tema (n.º 5 da Face A: O Desporto Nacional) está "riscado" de tanto gasto. Um tema num dos melhores discos - graficamente (por Carlos Zíngaro) e musicalmente (Júlio Pereira e uma catrefada de músicos e não músicos, que talvez seja único em Portugal, até Júlio Isidro participou!) - feitos em Portugal: «Fernandinho Vai Ó Vinho» de Júlio Pereira. Neste tema além da voz de Júlio Pereira (Fernando), há ainda as vozes de José Afonso (Pai do Fernandinho que canta por duas vezes Benfica), Francisco Fanhais (Professor do Fernandinho que repartia mais desportos) e...Herman José (Ministro de todos os "fernandinhos deste país" que só quer Futebol! Pudera). E as televisões ainda não tinham inventado as tele-tascas para delícia dos Ministros. Ai, Portugal, Portugalzinho! Uma preciosidade: ouvir o enorme Zeca Afonso a pronunciar Benfica...duas vezes! 

Ah, mas que bem que te fica
Como eu seres do BENFICA!

Ah, se o BENFICA ganhar
Vamos então passear!

Por isso som no máximo que ele é o máximo!






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27 fevereiro 2018

Todos Somos Gourlade

27 fevereiro 2018 5 Comentários
SE AMANHÃ - 28 DE FEVEREIRO - É O DIA DO COLECTIVO, DE UM CONJUNTO DE  INDOMÁVEIS.


Antes desse dia podemos afirmar que foi Manuel Gourlade que permitiu a existência dessa vontade colectiva indómita.

NOTA INICIAL: No final do texto em NOTA FINAL o seu registo de baptismo e o que dele disseram Cosme Damião (em 1945), Daniel dos Santos Brito (em 1950) e Mário de Oliveira/Rebelo da Silva (em 1954). Esses depoimentos, o de 1945 e 1950, são de quem o conheceu e conviveu com ele alguns anos, por isso elucidativos da sua importância para a existência do Clube.


Eterno! Obrigado! Glorioso!

Foi ele que teve uma ideia que levou à fundação do Clube, ou seja, à Ideia
E isso ocorreu porque além de futebolista (defesa à esquerda) também era interessado em tudo o que girava à volta do jogo e das equipas para o jogarem. Foi ele que se lembrou de juntar aos miúdos de Belém ávidos por jogarem futebol à experiência de uma geração anterior, já homens feitos, com renome entre os poucos futebolistas desse tempo, com outro tipo de avidez, a de vencer e com meios - futebol nos pés e na cabeça - para isso, os casapianos que brilharam nos campos de Lisboa e Carcavelos na última década do século XIX.


Como se dizia em Portugal era tudo ali à mão. Porta com porta e porta para um pátio

Gourlade surge, para todos nós, em 1903
Mas muito caminho trilhara desde que nascera no bairro da Ajuda, na rua da Paz n.º 118, pelas onze da manhã de 25 de Outubro de 1872, ou seja, tinha 28 anos aquando da mudança do século XIX para o XX. Fica para outro dia fazer uma pequena biografia pormenorizada deste extraordinário exemplo do Benfiquismo. O melhor é encontrá-lo a jogar, por volta de 1902 ou início de 1903, no Verão deste ano certamente, com o seu companheiro de emprego na Farmácia Franco, Daniel Santos Brito e os miúdos que habitavam no mesmo prédio onde estava instalada a citada farmácia, que tinha um pátio interior onde se conseguia jogar. Mas com o número de entusiastas a aumentar depressa o pátio minguou ou os futebolistas entulharam o espaço. A solução foi passar a futebolar nos logradouros que eram múltiplos entre o bairro de Belém e a linha de caminho de ferro Cais do Sodré - Cascais e até para lá desta à beira Tejo.

Football Club, Grupo de Belém ou Catataus em 1903. As equipas eram fotografadas com a disposição em campo. Da esquerda para a direita: Em cima, os defesas e guarda-redes: José Cruz Viegas, José Rosa Rodrigues (guarda-redes e capitão) e MANUEL GOURLADE; Ao centro (médios): Jorge Afra, Carlos França e Daniel Santos Brito; Em baixo (avançados): Duarte José Duarte, António Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, Raul Empis e Armando Macedo

Nos jogos defesa à esquerda no Football Club (Belém)
Não lhe são reconhecidos grandes dotes como futebolista, talvez por se interessar tardiamente pelo «jogo-jogado» (trintão sem passado de adolescente como futebolista) mas quanto ao «jogo-pensado» e ao modo de afirmar um novo clube não há melhor. Consta que num domingo, talvez 29 de Novembro de 1903, o FC (Belém) lançara um desafio ou foi desafiado por um dos mais competentes grupos da época, o Grupo dos Pinto Basto ou FC Swifts (velozes, rápidos). Os miúdos do clube de Belém lá foram entusiasmados, pois o adversário era respeitado, e entre os dois empregados da Farmácia Franco (o balconista Daniel Santos Brito e o contabilista Manuel Gourlade) e os três irmãos Rosa Rodrigues (José, Cândido e António) estava meia-equipa. A outra meia era dos amigos destes, que eram popularmente designados por Catataus. O jogo foi intenso mas saldou-se por uma derrota tangencial, talvez 0-1 ou 1-2, no local logradouro onde era habitual, em Lisboa, jogar-se depois da proibição de o fazer no Campo Pequeno, com a construção da Praça de Touros: as Terras do Desembargador, às Salésias.


A equipa do Grupo dos Pinto Basto/FC Swifts (Velozes)/Internacional/CIF na escadaria da Quinta Nova, em Carcavelos. Poucos eram os grupos de futebol que conseguiam que os ingleses do Carcavellos Club aceitassem os seus reptos ou desafios

Como era normal quem perdia podia pedir desforra
E era no conjunto destes dois jogos - desafio ou repto e desforra - que se apurava o vencedor se o vencido pedisse desforra. A não pedir servia só um jogo. O Football Club pediu desforra mas surpreendentemente, até pela aproximação ao Natal, período religioso e frio em que não se jogava, Gourlade solicitou ao capitão do FC (Belém) José Rosa Rodrigues que pedisse desforra a Eduardo Pinto Basto, capitão do FC Swifts, para daí a 15 dias (talvez 13 de Dezembro) e não para o domingo seguinte. Como era questão de honra o adversário vitorioso, embora provavelmente estranhasse haver um domingo "em branco" pelo meio...aceitou.


Onde tudo se passou e rapidamente. A - Terras do Desembargador, às Salésias onde se jogava. Foi nesse espaço, em finais de 1903, que o Football Club (Belém) perdeu com o Grupo dos Pinto Basto/FC Swifts e foi nesse mesmo espaço que o mesmo grupo reforçado com casapianos da "Associação do Bem" os venceu e na euforia da vitória foi decidido fundar um clube, o "Glorioso"; B - o bairro de Belém (com o prédio da Farmácia Franco e o seu pátio interior, o Café do Gonçalves e o António das Caldeiradas) muito maior que na actualidade pois parte dele foi desmantelado para fazer a "Exposição do Mundo Português", em 1940; C - A "Cerca da Casa Pia" onde treinavam aos domingos, os ex-alunos da Real Casa Pia de Lisboa e onde Gourlade os foi procurar para reforçar o Football Club no jogo-desforra com o FC Swifts; 1 - O local de treinos mais utilizado, entre as traseiras da Casa da Praia do Duque de Loulé e a linha férrea; 2 - os terrenos em frente ao Mosteiro dos Jerónimos problemático por conflituar com o Jardim fronteiriço ao Mosteiro; 3 - Os areais entre docas para lá da linha férrea (em 1903/1904) menos regularizados que aquando desta fotografia que é posterior; 4 - Os terrenos menos utilizados por conflituarem com o Palácio de Belém e a azáfama do bairro que incluía um importante mercado especializado em ter bom peixe; 5 - Os terrenos do Hipódromo de Belém (citados por Eça de Queirós, em "Os Maias") embora excelentes - até mais para o Futebol que para as "Cavaladas" - ficavam pouco acessíveis 

Entre os dois jogos, Gourlade «fisgou-a» bem!
Sabendo que os ex-alunos da Real Casa Pia de Lisboa, que integravam uma agremiação benemérita, a «Associação do Bem», treinavam aos domingos de manhã junto da Cerca da instituição casapiana acercou-se deles no sentido de reforçarem as posições onde o (Belém) Football Club era mais carente. E assim foi. Manuel Gourlade optou pelo menos óbvio. Não se reforçou com os habituais ingleses que andavam por Lisboa sempre livres de clubes e disponíveis para jogar - Eagleson, Ettur ou Gilman - pois mesmo sabendo que o Grupo dos Pinto Basto jogava com ingleses preferiu reforçar-se com futebolistas experientes mas portugueses. Ora um grupo só de portugueses vencer um grupo de ingleses ou mesmo um misto no início do século XX era visto quase como uma impossibilidade, mas não foi...

O "Mítico" logradouro entre a calçada da Ajuda (Oeste) e a rua das Casas do Trabalho (Este), onde nasceu e viveu o infortunado Pepe, limitado a Sul pela rua do Embaixador. As Terras do Desembargador, às Salésias. Local de excelência onde se disputavam os raros jogos de futebol realizados em Lisboa, depois da construção da Praça de Touros, no Campo Pequeno, espaço onde se estreou o Futebol em Lisboa pouco antes do Ultimatum inglês a Portugal

O jogo que tudo criou e mudou
Na desforra, o certo é que o FC (Belém) venceu, por 1-0, e essa vitória foi vivida de um modo estrondoso pois o misto português/inglês que depois deu origem ao Internacional (CIF) era demolidor nos jogos que realizava frente a outros grupos que não fossem os inalcançáveis com exclusividade inglesa: Carcavellos Club e Lisbon Cricket Club (Cruz Quebrada). Na confraternização que se seguiu no Café do Gonçalves (actual Pastelaria Nau de Belém) surgiu a ideia «Com estes futebolistas - e só portugueses - fazia-se um grande team!» E assim foi. A ideia de Gourlade resultara na perfeição.

Os impressos para as quotas do Football Club (Belém) que nos primeiros tempos serviram também como impressos para as quotas do "Glorioso"

Em 28 de Fevereiro de 1904 foi apenas concretizado o que ficara decidido em 1903
Juntaram-se, treinaram de manhã e pela tarde, numa dependência da Farmácia Franco, decidiram fundar o Grupo Sport Lisboa que depois passaria, em 13 de Setembro de 1908, a Sport Lisboa e Benfica, numa efeméride com 110 anos a completar neste ano de 2018. Não foi difícil escolher os primeiros dirigentes. A presidente José Rosa Rodrigues (capitão do Football Club Belém) e como seus auxiliares os dois empregados da farmácia onde o clube ficaria instalado por deferência do proprietário da farmácia, Pedro Franco: Daniel Santos Brito (secretário) e Manuel Gourlade (tesoureiro). 

Primeira categoria do Sport Lisboa em 1907, antes de um jogo com o Internacional/CIF, na Quinta Nova, em Carcavelos. MANUEL GOURLADE em baixo com o casaco vestido e pronto para jogar se um dos onze craques ficasse impossibilitado; Da esquerda para a direita: Em cima: David Fonseca, Henrique Costa, Cândido Rosa Rodrigues, Marcial Costa, Fortunato Levy (capitão) e Carlos França (atrás do capitão); Daniel Queirós Santos, Albano Santos, Manuel Mora (guarda-redes, mais atrás) António Couto e José Cruz Viegas

Primeiros tempos do Sport Lisboa
Coube a Manuel Gourlade a maior parte das atitudes - é isso que se percebe na documentação do Clube (presenças em treinos e iniciativas - financeiras e organizativas - para dotar o clube de condições para singrar). Se as redes para as balizas (e provavelmente os postes e as traves) vinham das embarcações de pesca dos Rosa Rodrigues da Ericeira e Nazaré, o resto era tratado por Gourlade. Era ele que orientava os treinos, registava as presenças, adquiria bolas e utensílios ou, sendo poliglota, escrevia para Inglaterra, fazendo ele do «inglês» que outros clubes tinham (pelo menos um) e o Sport Lisboa...não. Era ele o «nosso inglês»! Não tanto a jogar mas a facilitar a "logística"!




O «nosso inglês» permitia ao Clube ter acesso, directamente de Inglaterra (Reino Unido), ao melhor que havia para o Futebol  em vez de adquirir o que os ingleses a viver em Portugal já não queriam.



O Clube acima de tudo
É que com a entrada progressiva de casapianos "bons de bola" relegou-o para a segunda equipa, como guarda-redes, ou seja, «autorrelegou-se» pois consta que era ele que organizava os plantéis e orientava as duas equipas. E é dele a ideia (mais uma) de reservar um pouco de energia durante os jogos - ou pelo menos não a esbanjar em inutilidades durante os encontros - para ter nos últimos 15 minutos capacidade, se fosse necessário, para empatar jogos aparentemente perdidos ou vencer jogos aparentemente empatados.


Segunda categoria do Sport Lisboa, em 1907. As equipas eram fotografadas com a disposição em campo. Da esquerda para a direita: Em cima, os defesas e guarda-redes: Henrique Teixeira, João Persónio (guarda-redes) e José Neto; Ao centro (avançados): Félix Bermudes (capitão), Eduardo Corga, Leopoldo Mocho, António Meireles e Carlos França; Em baixo (médios): Luís Vieira, Cosme Damião e Marcolino Bragança 
Segunda categoria do Sport Lisboa, em 1905 ou terceira categoria em 1906 ou 1907. As equipas eram fotografadas com a disposição em campo. Da esquerda para a direita: Em cima, os defesas e guarda-redes: Henrique Teixeira, MANUEL GOURLADE (guarda-redes) e Leopoldo Mocho; Ao centro (médios): Carlos Moteiro, Mário Monteiro e Luís Vieira; Em baixo (avançados): António Costa, António Alves, Luís Rodrigues, Eduardo Corga e António Meireles. Equipa que continua na mesa de dissecação de Victor João Carocha o maior especialista mundial em descobrir o que ninguém mais consegue nas imagens da Gloriosa História

Consta que o amor ao Clube levou longe de mais o seu esforço
Empolgado com o Clube que depressa passara de mais um clube a "Glorioso" pois derrotara os mestres invencíveis do Cabo Submarino, em plena Quinta Nova, Carcavelos, o Carcavellos Club (10 de Fevereiro de 1907) e depois sofrendo com a deserção no Verão desse ano, para o Sporting CP, de vários associados - quatro fundadores - incluindo sete futebolistas titulares e mais um futebolista reformado a jogar no segundo team - Manuel Gourlade fez com que contas da Farmácia e do Clube se confundissem. Em breve deixou a Farmácia Franco, mas deslocando-se com o Clube de Belém para Benfica o apego nas margens do Tejo eram mais fortes pois foi aí que passou a "ganhar a vida" como tradutor entre docas e navios que aportavam a Lisboa.

Lá bem ao fundo, encostado à parede, entre a janela e um fresco pintado na parede, sempre atento, Manuel Gourlade, no salão nobre do edifício principal do Asilo d' Espie Miranda. A mesma sala em 2018. Até as «pernas tremeram e as mãos vacilaram» estar junto do lugar onde, em 24 de Julho de 1932, esteve Gourlade. Ainda nem os meus avós - paternos e maternos - tinham casado 

Envelhecimento precoce
Com uma vida que dependia de alguns dias bons e muitos maus o sucedâneo de maus fizeram temer o pior tanto que Daniel Santos Brito temeu pela facto de andar sempre pela borda dos cais em passo errante e más ideias. E foi melhor interná-lo num Lar de Idosos, em Campolide. Lar que tinha, então o nome de Asilo, neste caso Asilo D'Espie Miranda junto aos arcos do Aqueduto das Águas Livres, na encosta de Monsanto, junto à outrora ribeira de Alcântara hoje canalizada por baixo de acessos ao eixo Norte-Sul e avenida de Ceuta.

Com a sua habitual curiosidade, mesmo ancião desfalecido, lá está ele bem atrás da lápide que foi inaugurada em 10 de Outubro de 1932 e que levou sumiço não existindo na actualidade, a não ser o local onde esteve. Pisar o que Gourlade pisou não é cansaço é dádiva

Foi Daniel Santos Brito que lhe levou o crescimento do Benfica
Entrou para o asilo, em 5 de Julho de 1926, aos 55 anos (a confirmar com mais rigor) e lá ficaria até falecer, em 9 de Janeiro de 1944, com 71 anos. Foi o seu amigo, companheiro no futebol e colega da farmácia que lhe ia levando as notícias dos primeiros êxitos nacionais do clube que nasceu (depois de uma ideia sua de juntar os melhores dos miúdos de Belém de início do século XX aos casapianos afamados de finais do século XIX), após o organizar até 1908 e de dar impulso nas «Asas da Águia» ao seu continuador Cosme Damião que soube engrandecê-lo e transformar a Ideia em Ideal. Cosme Damião sempre reconheceu em Gourlade a alma e o alicerce que permitiu depois a ele, enquanto ideólogo, fazer mais do muito que recebera de Gourlade. Acreditamos que foi com rasgado sorriso que Gourlade saboreou os títulos de 1930, 1931 (BI no campeonato de Portugal), 1933 (recuperar o título de campeão regional perdido desde 1920), 1935, 1936, 1937, 1938 (TRI no campeonato da I Liga), 1940 (um BIS com Regional e Taça de Portugal), 1942 e 1943 (BI no campeonato nacional da I Divisão e a primeira "dobradinha" com a Taça de Portugal). Uma vida de sacrifício chegou ao seu final com um sorriso nos lábios e coração ardente de dever cumprido. Aquela azáfama de início de século, entre as papeladas na Farmácia Franco, os logradouros à beira Tejo, as irritações com quem faltava a acordos e compromissos não cumprindo horários e combinações, as cartas para e de Inglaterra, as estações de correio, alfândega, marcações a corda e cal, balizas às costas e as Terras do Desembargador, não tinham sido em vão. Antes pelo contrário. Estava ali não mais um clube, mas O Clube.   

Como mudou a Quinta da Mineira na outra vertente da ribeira de Alcântara em frente à Quinta da Rabicha. Se cresceram os prédios em altura, atrás, dos dois edifícios do Asilo, o eixo Norte-Sul e o alargamento da linha férrea de Campolide para Pinhal Novo "limpou" as casas junto dos arcos do Aqueduto das Águas Livres. Outrora ligavam as duas quintas uma famosa ponte - para jusante da Ribeira só havia outra em Alcântara que significa em árabe, A Ponte.
A ponte do Tarujo foi-se com a canalização da ribeira de Alcântara nos anos 50 para instalar a avenida de Ceuta (a ribeira ou o que resta dela corre por baixo) mas "aposto" que Gourlade, mesmo asilado no edifício mais pequeno - o grande era a residência da família benemérita D' Espie Miranda - deve ter ido colher umas papoilas (antes de serem saltitantes) à Quinta da Rabicha 

Gourlade pode ter ido repousar para o Asilo mas depois todos conhecemos o que se passou
Eis o maior entre os maiores antes de sermos Clube e nos primeiros tempos após o sermos. Manuel Gourlade passou o testemunho a Cosme Damião e este transformou a Ideia em Ideal, o Benfica em Benfiquismo. Digam lá se em todos nós que somos o Benfica, que por vezes ultrapassamos o limite do razoável, que fazemos planos, que compramos e oferecemos Benfica, se não há um Gourlade dentro do nosso coração Benfiquista. Aquele pedaço do nosso músculo das emoções que nasceu e há-de morrer Benfica - que são das poucas células a par de algumas do cérebro que nunca se renovam mesmo que se viva 120 anos - tem um nome, só pode ter um nome, músculo Gourlade.


Gourlade a alma mater do "Glorioso"! O nosso lado do coração à Benfica!

Alberto Miguéns


NOTA À PARTE: Especial agradecimento ao dedicado leitor deste blogue Victor João Carocha (pelas ilustrações e descobertas fascinantes da vida de Manuel Gourlade) e a um dos filhos da família Rosa Rodrigues pelos pormenores que pai e tios contavam acerca da pré-fundação e início do Clube.

É aqui que continuas a estar! Sempre estiveste, como quem te conheceu, testemunhou e reconheceu a obra que iniciaste e outros souberam continuar para torná-la Gigante. Mas há sempre quem semeie primeiro!



NOTAS FINAIS:

1. Registo de baptismo (31 de Outubro de 1872)



2. Cosme Damião (Jornal "A Bola" n.º 11; 5 de Março de 1945; Página 5)



3. Daniel Santos Brito (Jornal "Ecos de Belém; 28 de Outubro de 1950; Página 2)



4. História do Sport Lisboa e Benfica 1904/1954; Mário de Oliveira/Rebelo da Silva (1954; Fascículo n.º 1; páginas 17 a 21/excertos)











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26 fevereiro 2018

Hagan no Quarto Anel Há 20 Anos

26 fevereiro 2018 3 Comentários
MAS AINDA NÃO SERÁ HOJE QUE NESTE BLOGUE SERÁ FEITA UMA JUSTA HOMENAGEM A ESTE EXTRAORDINÁRIO TREINADOR. CONTINUAMOS DEVEDORES PARA COM HAGAN.


Gosto de homenagear os futebolistas e dirigentes assinalando a data em que nasceram pois foi a partir dessa dia que começou a contagem decrescente até honrarem o "Manto Sagrado".

Manias
Os treinadores prefiro assinalar a data em que faleceram pois com este desaparecimento tornou-se irreversível regressarem à Glória no Benfica. Mas também pode ser a data de estreia a treinar o Clube. Depende. No caso de Jimmy Hagan a data que considero ajustada é a da estreia em 2 de Agosto de 1970, pelas mudanças que conseguiu impor no Glorioso Futebol. Ou seja, será num ano destes até 2020, talvez em 2018, data em que completará 48 anos da estreia a orientar o "Glorioso".


O nosso James Hagan foi da geração que a Segunda Guerra Mundial aniquilou como futebolistas. Nascido em 21 de Janeiro de 1918 (durante a Grande Guerra) foi depois em adulto "apanhado" pelo segundo conflito político/bélico 

Um dos melhores de sempre
À parte de Béla Guttmann que nem deveria entrar "nestas contas" tal como Eusébio para os futebolistas, depois de Otto Glória e Sven Eriksson há um grupo de treinadores de excelência (por ordem cronológica): Janos Biri, Fernando Riera e Jimmy Hagan. Talvez os melhores seis treinadores da Gloriosa História. Depois seguem-se outros querendo perfazer uma dúzia: Cosme Damião (embora pré-competições nacionais e internacionais), António Ribeiro dos Reis, Lipo Hertzka, Ted Smith, John Mortimore e Jorge Jesus.



Jimmy Hagan e a Taça Ribeiro dos Reis
Quando o treinador inglês chegou foi desde logo confrontado com a realidade portuguesa. Hagan conhecia o poderio europeu do Benfica, mas também sabia que estava a perder competitividade internacional com a ascensão do futebol do centro e norte da Europa em detrimento do futebol latino. Por isso dizia...«Se pudesse ter três Tonis em vez de um!» A nível interno a "conversa era outra". E entre as conversas com o presidente Borges Coutinho ficou intrigado com uma frase deste, citando eu entre aspas mas não assegurando que tenha sido assim palavra a palavra: «Pois é! Dizem que temos um plantel para fazer duas equipas em que uma é campeã nacional e a outra lutava, pelo menos, pelo terceiro lugar mas nem a Taça Ribeiro dos Reis conseguimos ganhar!» Arguto o treinador perspicaz e fleumático procurou alguém na Direcção do Clube que soubesse inglês e quis saber o que era e que importância tinha o troféu.  


Uma grande dupla presidente/treinador: Borges Coutinho/Jimmy Hagan. Ao nível de Bogalho/Otto Glória e Maurício Vieira de Brito/Béla Guttmann

A Taça Ribeiro dos Reis em 1970/71 (Parte I)
Foi-lhe dito que se disputava no final da época, exactamente para prolongar esta no tempo, que se iniciava quando terminava o Campeonato Nacional jogando-se em simultâneo (aos domingos) com a Taça de Portugal (com esta no início dos anos 70 quase toda concentrada após terminarem os campeonatos nacionais da I e II Divisões ainda resquício do modelo do Campeonato de Portugal disputado depois de terminado o Campeonato da I e da II Liga) e que os clubes inscritos podiam apresentar o categoria de Honra ou a da Reserva, optando o Benfica pela Reserva. Mas...o que geralmente acontecia era serem Mistos e a dificuldade em a conquistar estava no facto dos clubes com melhores plantéis, sendo eliminados precocemente da Taça de Portugal, apresentarem depois os melhores futebolistas na Taça Ribeiro dos Reis. Se até esse momento não tivessem perdido muitos pontos passavam a ter as melhores condições para a conquistar. E claro foi-lhe dito que Ribeiro dos Reis era uma das maiores Glórias do Benfica, onde foi de tudo, desde jovem futebolista nos anos 10, treinador desde meados dos anos 20 e até à década de 50 (embora com muitas interrupções nesses trinta anos) e depois presidente da Mesa da Assembleia Geral praticamente até falecer. Hagan respondeu à Hagan, mais ou menos assim: «Se a Taça tem o nome de UM BENFICA é do Benfica!» Ninguém percebeu muito bem... Mas ainda faltava quase um ano! Agora acrescento eu: A Taça Ribeiro dos Reis também era uma forma do popular jogo Totobola ter 13 jogos para conseguir existir nos meses em que deixava de haver calendários com jogos definidos impossibilitando a impressão dos boletins...atempadamente! 



A Taça Ribeiro dos Reis em 1970/71 (Parte II)
Quando o campeonato nacional chegou ao seu final, em 2 de Maio de 1971, com Hagan a estrear-se no Clube e logo como campeão nacional engendrou um plano - como britânico todas os jogos e as competições devem ser respeitadas - de acordo com o treinador adjunto José Augusto para que «Se a Taça tem o nome de um Benfica é do Benfica!» Nesta décima edição (que seria a última) os clubes foram divididos geograficamente em sete séries com seis vencedores de cada série - um ficava isento - a apurarem-se para os quartos-de-final que definiam três presenças nas meias-finais a que se juntava o clube isento dos quartos-de-final para serem estes quatro emblemas a apurarem os dois finalistas cuja final seria realizada no estádio do Restelo, bem como o jogo para apuramento do 3.º classificado disputado como aperitivo. 


Matine, Zeca e Jaime Graça, em 9 de Maio, já estavam em campo na vitória, por 5-2, sobre o Grupo Desportivo de Peniche (1.ª jornada da 5.ª série da Taça Ribeiro dos Reis)

A Taça Ribeiro dos Reis em 1970/71 (Parte III)
O Benfica tinha de facto um plantel poderoso. A competir na 5.ª série, os adversários eram o Atlético CP (1.º na II Divisão/Sul), GD Peniche (4.º na II Divisão/Sul), Clube Oriental de Lisboa (8.º na II Divisão/Sul), SCU Torreense (9.º na II Divisão/Sul) e SU Sintrense (10.º na II Divisão/Sul). Dez jornadas a duas voltas com dois pontos por vitória e um por empate. Logo na primeira jornada (9 de Maio) Hagan aproveitou o facto do primeiro jogo da Taça de Portugal ser a 16 de Maio devido ao jogo da selecção nacional (12 de Maio) para entrar a "matar", na "Saudosa Catedral" frente ao GD Peniche, numa vitória por 5-2, com um Misto onde dominavam os oito futebolistas da Reserva. Mas estes com Zeca, Matine e Jaime Graça no onze titular era "outra loiça". Depois a competição decorreu em simultâneo - geralmente os dois jogos no mesmo domingo - com a disputa da Taça de Portugal - sete jogos para a Taça Ribeiro dos Reis e seis jogos para a Taça de Portugal, pois as eliminatórias desta eram a duas mãos - até à final da Taça de Portugal, em 27 de Junho de 1971. Em 1970/71 a Taça de Portugal disputou-se integralmente depois da 26.ª jornada do campeonato nacional da I Divisão. Os jogos para a Taça Ribeiro dos Reis eram problemáticos, pois os futebolistas escolhidos dependiam dos convocados para a Taça de Portugal e quando os jogos para esta competição eram em terreno alheio os titulares e suplentes na jornada da Taça Ribeiro dos Reis levavam uma "razia". Mas o "Glorioso" lá foi indo, jogando e pontuando. Por exemplo, frente ao SU Sintrense, tanto se vencia, por 12-1, na "Saudosa Catedral", como a vitória era por 3-2 (em Sintra)! Então não se dizia que o plantel dava para fazer duas equipas: uma campeã nacional e uma quase-campeã nacional?!   


José Torres, Matine e Diamantino Costa, em 4 de Julho, já estavam em campo na vitória, por 10-0, sobre o Clube Oriental de Lisboa (9.ª jornada da 5.ª série da Taça Ribeiro dos Reis)

De manhã na Tapadinha, à tarde no Jamor
O dia 27 de Junho de 1971 é o Dia do Martírio Glorioso.
1. Comecemos pela Idade da Inocência que troca a ordem do tempo. À tarde o meu pai decidiu-se finalmente a levar-me a ver um jogo a sério. A final da Taça de Portugal entre o Campeão Nacional e o Sporting CP. Finalmente o futebol para mim não eram cromos a duas dimensões em movimento, eram mesmo os jogadores com as camisolas vermelhas que os televisores a preto-e-branco (as gerações mais novas nem sequer imaginam) escondiam. O Benfica perdeu por...1-4. O meu pai (que nem era muito de clubismos - dizia que era o Mundo ao Contrário em que os pobres (adeptos) ficavam mais pobres para os ricos (futebolistas) ficarem mais ricos - embora tivesse queda para o SLB embora ele negasse) devia estar, no início tão eufórico, mas mesmo tanto que me comprou uma bandeira que tinha cosido um poster em papel cartão do plantel campeão nacional 1970/71. Essa bandeira no final do jogo foi motivo de gozo pelos sportinguistas, entre o Estádio Nacional e Algés, onde estava o autocarro da CARRIS que nos auxiliou a chegar ao bairro da Graça. Muito gozaram eles com a bandeira-poster. Se ia ao vento diziam: «Essa é que é a equipa campeã nacional que só não levou quatro secos porque o árbitro benfiquista teve pena do clube de que é adepto e marcou um penáltie para o Eusébio não sair a chorar como no Mundial?!». Eu enrolava-a. Quando estava enrolada: «Então tens vergonha de ser do Benfica? Muda para o Sporting!» Aqui era "atacado" pelos dois lados: sportinguistas e Benfiquistas unidos contra um pobre miúdo com dez anos! Eu desenrolava-a. E assim se foi passando a hora a seguir aos 1-4. O meu pai só dizia: «Se tivesse jogado o Toni nada disto tinha acontecido. Este treinador vem lá com as suas inglesices»! Eu até ficava admirado porque afinal o meu pai até discutia futebolistas e treinadores. Espanto!  





A equipa do Dia do Martírio Glorioso (a da parte da tarde). De cima para baixo. Da esquerda para a direita: Jimmy Hagan (treinador), Zeca, Adolfo, Matine, Humberto Coelho, Almirante Américo Tomás (Presidente da República), Malta da Silva e José Henrique; Jaime Graça, Néné, Artur Jorge, Eusébio e Simões (cap.) 

2. Alguns anos mais tarde, muitos anos mais tarde, descobri que o Toni - que passava mais tempo na recruta do quartel em Mafra que na Luz a treinar - até tinha jogado nesse dia pelo Benfica, mas...de manhã na Tapadinha. Na 8.ª jornada da 5.ª série da Taça Ribeiro dos Reis, pela Reserva, que perdeu, por 5-7 (é mesmo, repito: cinco-sete) frente ao Atlético CP. Com este resultado o ACP (12 pontos) encostou no Benfica (13 pontos) a duas jornadas da final da série. Depois as duas vitórias finais colocaram o Benfica nos quartos-de-final. Jimmy Hagan/José Augusto tinham ganho a "aposta" e agora era gerir pois o plantel principal tinha ido de férias após a final da Taça de Portugal. E a Taça Ribeiro dos Reis ia durar até à final, em 21 de Julho, já com o plantel principal de regresso pois o Benfica tinha agendado o primeiro jogo de 1971/72, para 31 de Julho de 1971, na festa de homenagem e despedida a José Torres, frente ao Arsenal FC (Londres), na "Saudosa Catedral". Pois foram de férias, mas não foram todos. Houve futebolistas que nesse ano (1971) para se conquistar a Taça Ribeiro dos Reis não tiveram férias. Os que fizeram os últimos três e decisivos jogos.


José Augusto depois de assegurar a orientação do plantel, em 1969/70, depois da saída de Otto Glória fica como treinador adjunto em 1970/71 (e o treinador da Reserva) e vai ser fundamental para garantir a conquista da X Taça Ribeiro dos Reis, a terceira conquistada pelo Benfica. Outro técnico Fernando Cabrita orientava o Futebol Juvenil. Na fotografia três ases, pois Eusébio é Eusébio!

Quartos-de-Final
Quase houve "mosquitos por cordas" pois os clubes exigiram à FPF que os três jogos, disputados em campo neutro, tinham que se realizar em recintos relvados quando estiveram para se fazer em "pelados". Como o objectivo, hoje, não é fazer a história da Taça Ribeiro dos Reis passemos rápido por ela que ainda faltam três jogos para a final. O Benfica em Leiria venceu, por 4-o, o União CI Tomar (3.º na II Divisão/Sul), em 14 de Julho, com golos de José Torres (2), Raul Águas e Toni (que jogou a defesa-esquerdo). 

Meia-final
Em 18 de Julho, no estádio da Tapadinha (do Atlético CP) o "Glorioso" repôs a normalidade naquele recinto, vencendo por 6-1, o FC Barreirense (11.º classificado na I Divisão), com o guarda-redes adversário Bento a encaixar os seis golos: Praia (3), Raul Águas (2) e Diamantino Costa.

Final
O árbitro até veio da cidade do Porto. A equipa do Benfica não deu tréguas - mas teve que haver prolongamento de 30 minutos - ao SC Braga (6.º na II Divisão/Norte) que até tinha sido o clube isento nos quartos-de-final. Com o jogo a começar pelas dez da noite, o "Glorioso" aplicou 3-1 no clube que tem a mania que é arsenalista e despachou-os para Braga. O capitão José Torres despedia-se em beleza do Benfica com um troféu tendo nele gravado o nome de um grande Benfiquista e rumava ao Vitória FC (Setúbal) com mais uns quantos futebolistas e muita ma$$a, uma pipa dela, em troca da maior esperança do futebol português: Victor Batista. O Benfica só poder ter futebolistas portugueses fazia com que os outros emblemas sabendo da dificuldade do Benfica em conseguir bons futebolistas portugueses, usavam e abusavam, dessa fraqueza que para a tradição Benfiquista era força.

Da esquerda para a direita. Em cima: Fausto Pires (dirigente), Carlos Manuel, Soares, Humberto Coelho, Carlos Pereira, Matine, Jaime Graça, Marques, Messias, Fonseca e José Augusto (treinador); Em baixo: Praia, Vítor Martins, Raul Águas, José Torres (cap.), Diamantino Costa, Jorge Calado e Toni Legenda possível (e apenas provável) face à qualidade do papel do jornal "O Benfica" desse tempo e à mania de publicar fotografias e não as legendar 
Sempre a jogar (e a bem-jogar)
A competir desde 2 de Agosto de 1970 (Fonseca, Messias, Matine, Vítor Martins, José Torres e Raul Águas) outros pouco depois dessa data inicial em 1970/71 (Toni, Carlos Pereira, Praia, Jorge Calado, Marques e Diamantino Costa) houve futebolistas que jogaram a final da Taça Ribeiro dos Reis (21 de Julho) e dez dias depois já estavam no arranque da temporada de 1971/72 (Fonseca, Messias, Toni e Diamantino Costa). Ou outros (Marques, Matine, Jorge Calado, José Torres, Raúl Águas, Praia e Carlos Pereira) prosseguiram noutros clubes. Vítor Martins esteve parado mais tempo acusando o esforço. Férias para eles em 1972? Só para 1973! Taça Ribeiro dos Reis de 1970/71 a quanto obrigaste! A conquista teve um misto de loucura e desejo mas foi por "uma boa causa"!



1970/71 ligou-se "electrizante" a 1971/72
Depois de uma época prolongada para muitos futebolistas com início em 2 de Agosto de 1970 e finalizada em 21 de Julho de 1971 (num jogo com 120 minutos) alguns jogadores tiveram dez dias sem jogos apresentando-se, em 31 de Julho de 1971, para defrontar o Arsenal FC (Londres): Messias jogou 45 minutos, Diamantino Costa (15 minutos) e Fonseca (seis minutos) além dos dois minutos do homenageado José Torres. Mas todos eles (os 12 utilizados e mais os quatro suplentes não utilizados) prosseguiram a temporada de 1971/72 no enfiamento de 1970/71. No "Glorioso" ou nos clubes para onde foram transferidos vários futebolistas da categoria de Reserva, entre eles: Carlos Pereira, Marques, Jorge Calado, Matine, José Torres, Praia, Raul Águas, Inguila, Soares, Carlos Pereira e Diamantino Costa. E se a Reserva é herdeira da 2.ª categoria a equipa B é herdeira da Reserva por isso deixem de inventar estatísticas ajustadas aos interesses individuais. No Benfica conta o colectivo. E PLURIBUS UNUM. Desde 28 de Fevereiro de 1904. Não é desde anteontem.



A evolução do Futebol em Portugal tudo levou
O alargamento da I Divisão, de 14 para 16 clubes, com mais quatro jornadas (de 26 para 30 jogos por clube) e com os encontros para a Taça de Portugal "espalhados" pela época deixou de fazer sentido uma competição como a Taça Ribeiro dos Reis.

Grande Hagan: o modo como ele soube conquistar o que tinha de ser conquistado

Alberto Miguéns

NOTA: Um grande obrigado de saudade a quem contou parte da história, o inigualável Francisco Campas, pois outra parte foi o próprio Jimmy Hagan, em Cascais, neste caso mais a propósito da sua "metodologia pró-físico".

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