AS ELEIÇÕES NO BENFICA SÃO UM DOS PILARES DA SUA
EXPANSÃO E BOAS PRÁTICAS.
São 85 actos eleitorais – não contabilizando eleições
intercalares para algum dos três Órgãos Sociais ou eleições parciais para recompor órgãos por recusa em tomar posse de dirigentes eleitos (as mais significativas em 1926 e 1930, por Cosme Damião e Félix Bermudes, respectivamente, não aceitarem os cargos como presidentes da Direcção). Em 85 assembleias gerais eleitorais houve grandes mudanças nestes
(quase…) 113 anos. Mas a essência mantém-se. Eleições aprazadas (pelos
Estatutos), democráticas, livres e universais. Ainda não conhecemos os
resultados das que vão decorrer hoje e já sabemos a data das próximas: 29
(quinta-feira) ou 30 (sexta-feira) de Outubro de 2020.
Mandatos: De anual a quadrienal
O Mundo evoluiu e o Benfica acompanhou. De mandatos anuais
até 1966, depois bienais (1967 a 1987), trienais (1989 a 2009) e quadrienais
(depois de 2012). Mas sempre «estatutariamente» balizados em periodicidade
fixa, sem ser ao sabor de decisões de órgãos intermédios, como aconteceu
noutros clubes, como Conselhos (cujos cargos eram ocupados por inerência:
antigos dirigentes e/ou figuras adeptas do clube e prestigiadas na sociedade
portuguesa). Um Clube de e para os seus associados. Eis o Benfica!
Listas únicas, unitárias mas não monólitos
No Benfica além de não haver medo (por isso não havia
limites) de listas diversas sujeitas a sufrágio que provocassem divisões
internas, lutas fracturantes e divisionistas sempre se procurou o consenso. O
que é notável. Sabendo-se que havia sensibilidades distintas entre associados acerca do que fazer durante o mandato, no modo de engrandecer o Clube, procurava-se
uma lista única que agregasse essas sensibilidades. E para que os Órgãos
Sociais funcionassem sem sobressaltos essas “sensibilidades” colocavam nos
cargos associados que primavam pela lisura e diplomacia. Mesmo o irascível
Bogalho sempre presente no dia-a-dia Clube nem sempre fazia parte dos Órgãos
Sociais. Era seccionista ou fazia parte de comissões para algum assunto
específico. Só quando tinha de resolver situações concretas se propunha a ser
eleito. Ele percebia isso. Ele que era de «cortar
a direito» e isso nem sempre era o melhor para a concórdia. E discórdia era
algo que apequenava em vez de agigantar. Mas nada de encenações ou “faz-de-conta”.
Até nisso Ferreira Bogalho é um exemplo. Em tempos este blogue já publicou a
lista das eleições. Quem quiser “vê-las” sucederem-se no tempo é só (clicar)
Votações nominais
Em tantas eleições já houve três tipos de votação: nominal,
por órgão e por lista (a actual, desde 2006). Quando comecei a votar (1981) era
por Órgão. Por exemplo, se houvesse duas listas os associados recebiam seis
cartões. Cada um com um Órgão: «dois
conselhos fiscais, duas mesas da assembleia geral e duas direcções».
Podia-se votar num órgão de uma lista e no órgão de outra. Por exemplo
considerar que o Conselho Fiscal da Lista A merecia mais confiança que o da
Lista B mas depois considerar que a Direcção da Lista B era o melhor. Cheguei a
fazer isso, uma ou duas vezes! Mas o que emociona é a democracia directa até
final dos anos 50. Votava-se em nomes. Ou seja, era de associado para associado. Pares entre iguais com funções diferentes. Exigentes mas estimulantes. Riscava-se
quem se achava que não tinha condições para exercer determinada função. No
Benfica não só não havia receio de dar liberdade para apresentar listas como se
permitia escolher nome-a-nome. Alguns eram tão pouco votados, ou seja, tão
riscados que mesmo eleitos, não tomavam posse por perceberem que os outros não
acreditavam neles! Félix Bermudes em 1930 foi eleito presidente, mas tão
riscado, não aceitou. O Benfica também é Glorioso por isto. Que clube aceitava
submeter os seus dirigentes, anualmente, a este escrutínio? O Benfica! Havia
votações que hoje seriam consideradas (por tanto risco) humilhações. No Benfica
eram entendidas como vontade dos associados. Por isso estava intrínseco que
depois de eleitos eram respeitados por todos. Tinham de ser. Eram vistos como
prolongamento do universo de sócios do Clube. Tinham uma legitimidade tremenda!
No final do mandato acertavam-se as contas. Havia quem fosse sucessivamente
reeleito e outros que desapareciam como dirigentes. Era um Benfica que só podia
singrar e agigantar-se. Mesmo com piores condições financeiras e suporte
político no Poder que outros, a democracia interna – directa e anual - fazia
uma espécie de “selecção natural”. Hoje já não tinha razão de ser, mas durante
os anos de penúria em Portugal deu “cérebro e musculatura” ao Clube! «Esqueleto/estrutura
óssea» sempre houve. Os adeptos!
Eu prefiro debate eleitoral a duas listas. Três é de…mais!
No Benfica não gosto de soluções únicas. «Cheira-me» sempre a
solução final. Beco sem saída. Mas nem sempre há condições para se apresentarem
duas listas. Até porque quem perde não arrisca perder duas vezes. Prefere
acantonar-se e muitas vezes, dar o dito por não dito. E eu destes só gosto do
Dito enquanto honrou o Manto Sagrado. O que preocupa é sentir que no Benfica,
ao contrário, dos anos 60 a 80, a crítica é entendida como negativa e servir
apenas para potenciar a desunião. Quando ao ser feita com rigor e honestidade é
pelo contrário, enriquecedora. Sempre foi assim! E não é só no Clube. É em qualquer sociedade. Quanto mais «massa critica» mais potencialidade tem em evoluir. Criticar
(com critério e fundamento) é modernidade. O futuro faz-se "criticando" (para alterar) o passado! Espero que o Benfica não se torne
num clube de acéfalos. Puxa! Do tipo: Não sei o que vais dizer ou propor mas
concordo contigo! Dispenso!
Que o Benfiquismo lhes ilumine o caminho
Aos eleitos. Quatro anos em que o Benfica vai ter condições
específicas como nunca teve. Pinto da Costa velho e caduco octogenário
desenquadrado do tempo presente e futuro (onde ele estará sempre a diminuir)
mas sem que ninguém ouse contestar quem criou o FC Porto (antes dele é como se
não existisse clube) e o SCP atafulhado em dívidas e dúvidas. Que os eleitos de
hoje não desaproveitem as condições que o futuro deixa antever. Como ocorreu
após o “Apito Dourado”!
Carrega Benfica
Alberto Miguéns
NOTA: No tal texto de há quatro anos – o tal que está à
distância de um (clicanço) - também me penitencio de termos uns Estatutos que
considero os piores de sempre (comparando-os de forma relativa ao tempo em que
vigoraram…claro!)
Votei, claro está, mas com a sensação de estar em pleno regime do Estado Novo onde só havia um candidato que era o próprio presidente. Bolas, um bocadinho de oposição precisa-se e é salutar para a vida do clube. Vitórias com 95% são sempre de conformação, mais do que de aprovação.
ResponderEliminarCaro João Sousa
ResponderEliminarAo votar (por volta das 19 horas) ainda se acentuou mais essa estranha sensação de um vazio Benfiquista!
É caso para dizer. Ainda bem que estamos "bem habituados eleitoralmente". Debate (por vezes a resvalar para assuntos acessórios, mas existe!), troca de ideias, indicação de possibilidades, escolha de outros caminhos ou soluções.
Sem duas listas há um vazio que depois se acentua - porque tomamos consciência - no momento de votar: na Lista "A" ou na..."A"!Sim ou sim! A alternativa ser em branco sabe a pouco! É assim desde 1981. Sempre que há lista única parece que falta o vermelho escarlate nas nossas Eleições!
TRIsaudações
Alberto Miguéns