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03 março 2017

Na Ressaca do 113.º Aniversário

03 março 2017 3 Comentários
JÁ O ESCREVI NESTE BLOGUE MAIS QUE UMA VEZ.


Nota-se nos últimos anos uma tentativa de fazer de Cosme Damião uma espécie de José de Alvalade do Benfica. 


O Dia 28 de Fevereiro é o Dia dos Fundadores. O Dia dos 24!

Vinte e Quatro. Por isso o colectivo no SLB sobrepôs-se sempre ao individual. Quando é um nomeia-se com facilidade, mas 24 não é possível fazer desfilar um-a-um. Mas foram cada um entre todos. Todos por um! Pares entre pares! Como muito bem passou a verso um dos pioneiros (Félix Bermudes) que não faz parte dos 24 porque nesse dia não foi a Belém. Tal como Januário Barreto e muitos outros. Como José Cruz Viegas que até foi quem propôs as camisolas serem de flanela rubra!



A fundação do Sporting CP e do FC Porto
Não têm rigorosamente nada a ver com a fundação do Benfica! NADA! Mas está-se a dar a ideia que o Benfica (tal como o SCP e o FCP) teve um principal fundador! Falso! E essa ideia é evidenciada para a opinião pública e, depois, publicada/transmitida - eu «teleouvi» - por dar-se uma importância descomunal (a Cosme Damião) a cada um 28 de Fevereiro destes últimos anos quando, de facto, ele não teve essa importância, em 1904, que lhe estão a dar!



Ingratidão para os restantes 23
O “Glorioso” começa por ser o resultado de uma vontade colectiva de um grupo de onze futebolistas ou pouco mais (contando com os apoiantes e espectadores) na sequência de uma inesperada (mas desejada) saborosa vitória sobre os famosos jogadores do Grupo dos Pinto Basto, em Dezembro de 1903. Entre futebolistas, espectadores e entusiastas, o Clube - em final de 1903 - sem ainda o ser (só o seria no início de 1904) era já agregador. Sem um "dono" a força estava no colectivo e na dinâmica provocada pelo desejo de singrar. De aguentar as dificuldades, superar os obstáculos e sentir a satisfação provocada pelo sucesso. A Gloriosa História não deixa margem para equívocos.  

História do Sport Lisboa e Benfica 1904 - 1954; I Volume; página 10; Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; Lisboa; Fascículo I editado em Janeiro de 1954; edição dos autores

Entre essa vitória e 28 de Fevereiro de 1904
O processo desenvolveu-se, movimentaram-se vontades, esboçaram-se os símbolos e removeram-se os escolhos. Tudo acabou por ter o desenlace na tarde (depois do treino que terminou pelas 12.30 horas) numa reunião na Farmácia Franco com nomes listados por ordem alfabética numa caligrafia uniforme e legível, alinhada numa folha lisa. Como que a antever uma lisura centenária.

História do Sport Lisboa e Benfica 1904 - 1954; I Volume; página 13; Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; Lisboa; Fascículo I editado em Janeiro de 1954; edição dos autores

Entre 1904 e 1909 Cosme Damião nem foi dos maiores intervenientes ou com maior “protagonismo”
O Benfica não teve um fundador principal, em 1904, como o Sporting CP (José de Alvalade) ou o FC Porto (José Monteiro da Costa). Teve 24 fundadores, entre eles Cosme Damião. Se formos picuinhas vemos que a principal figura do Clube até 1908 foi Manuel Gourlade e em 1908 foi Félix Bermudes. Mas é estar a esmiuçar. Em 28 de Fevereiro de 1904 os principais são 24! Nem há um que seja maior, nem outro que seja menor. Foram aqueles 24 que tiveram protagonismo. Escolheram entre os 24: José Rosa Rodrigues (presidente), Daniel Santos Brito (secretário) e Manuel Gourlade (tesoureiro) para a Comissão Administrativa. Manuel Gourlade foi também o “treinador” e organizador dos futebolistas distribuindo-os por duas categorias. Cosme Damião em 1905 era médio-centro na 2.ª categoria. Estreou-se, episodicamente por faltar, o defesa à direita, na 1.ª categoria, em 17 de Março de 1906, no campo da Cruz Quebrada, efeméride que está prevista ser assinalada neste blogue. Nas eleições de 1906 (22 de Novembro) jogando na 2.ª categoria, não foi escolhido para capitão dessa 2.ª categoria, pois a escolha recaiu em Félix Bermudes (extremo-direito). 



Mesmo no Verão de 1907 quando o Clube parecia sucumbir, depois da deserção de cerca de duas dezenas de associados, não foi dele a ideia de evitar o fim do clube, mas sim de Marcolino Bragança, embora Cosme Damião a par de Félix Bermudes surjam na primeira linha da acção para reerguer o que parecia condenado à inexistência. 



Em 1908 apesar de Cosme Damião (delegado do Sport Lisboa) estar presente nas reuniões com os dirigentes do Sport Clube de Benfica, as actas mostram que Félix Bermudes (delegado do Sport Lisboa) é muito mais activo e incisivo levando a dele (e a do Sport Lisboa) avante nas decisões da junção dos dois clubes.

(clicar em cima da imagem para conseguir melhor visualização)

Cosme Damião: transformação da Ideia em Ideal
A partir de Maio de 1909, Cosme Damião é nomeado capitão-geral (responsável desportivo) do SLB começando a ter um papel importante que depois se revela fulcral. É ele que transforma o Benfica no maior e mais popular clube de Portugal. É Cosme Damião que dá forma ao Benfiquismo. É ele que cria os alicerces das vitórias (A Dinâmica), da sequência de sucessos (A Genica), do acreditar sem limites (A Mística) e da aura de grandeza sem mácula (A Glória). Sempre apoiado noutros elementos que um clube não se constrói só por si. A ideia pode ser de um (no caso do Benfica foram 24) mas a condução, a amplitude, o sentimento de progresso, a genialidade tem que ser em equipa. Cosme Damião foi o inovador persistente e timoneiro dessa(s) equipa(s). É o Pai do Benfiquismo. Mas não foi o Pai do Benfica. José de Alvalade foi o Pai do Sporting CP e José Monteiro da Costa, o Pai do FC Porto.


Há muitas datas para celebrar Cosme Damião
Entre todas – pelas razões já descritas – o 28 de Fevereiro é a menos indicada, porque esconde a realidade que ocorreu em 1904. E é uma ingratidão para os outros 23 fazer crer que ele foi o principal fundador quando foi um entre 24!

Cosme Damião é a principal figura do Clube, mas não é o principal fundador em 28 de Fevereiro!

Alberto Miguéns

NOTA (Datas para Cosme Damião)

2 de Novembro de 1885 - Nascimento na Travessa do Alqueidão, Lumiar, em Lisboa (devia ser "Feriado Benfiquista")

17 de Março de 1906 - Estreia na 1.ª categoria;

26 de Fevereiro de 1909 - Nomeado pela primeira vez dirigente (vogal na Direcção);

1 de Maio de 1909 - Funções como Capitão Geral;

26 de Fevereiro de 1916 - Último jogo - despedida - como futebolista;

27 de Setembro de 1925 - Eleito pela última vez como vice-presidente da Direcção;

15 de Outubro de 1935 - Agraciado com o galardão supremo, a "Águia de Ouro";

12 de Junho de 1947 - Falecimento, em Sintra (Costa do Pó), na Quinta Mirante (devia ser "Dia de Reflexão Benfiquista")


AINDA UMA NOTA FINAL (os últimos são os primeiros): Um agradecimento muito especial aos descendentes - netos/netas mas também filhos/filhas (há pelo menos três ainda entre nós) - de alguns dos 24 Fundadores com quem contacto regularmente (e nem todos Benfiquistas) mas que sabem muito acerca do início do "Glorioso" - porque os seus lhes passaram o "Fogo Sagrado" - e que se confessam melindrados por sentirem que os seus avós e pais são esquecidos neste dia. Jamais. Como podem ver, nós os Benfiquistas, jamais poderemos esquecer os vossos Pais Biológicos que afinal são os nossos Pais Clubísticos.  




3 comentários
  1. Artigo muito oportuno e como sempre muito rigoroso e assertivo.

    Ficam claras as diferenças com o SCP e FCP. A diferença esteve logo na origem.

    Fica claro que não se pode ser ingrato com os outros 23 fundadores. A importância do colectivo foi desde cedo uma das virtudes do nosso Clube.

    Fica claro que a fundação do nosso Clube foi um processo multi-participado. O Acto fundador formalizou algo que já estava (e continuou) em curso. A definição de um Ideal, de uma identidade, símbolos e cores.

    O artigo salienta a Farmácia Franco como o espaço físico central desse Acto fundador. Não foi o único mas foi decisivo.

    Ficou claro e devidamente balizado no tempo quais foram os homens que tiveram (tal como podemos julgar a esta distância temporal e com os dados disponíveis) maior relevância no Clube.

    Fica claro e nunca é demais relembrar que a primeira direcção foi constituída por José Rosa Rodrigues, Daniel Santos Brito e Manuel Gourlade.

    Fica claro que o tempo de Félix Bermudes e Cosme Damião ainda não tinha chegado. Ou melhor fica claro que entre 1904 e 1907 a sua contribuição para o Clube era essencialmente de serem jogadores.

    Fica claro como a partir de 1908 esses dois grandes homens assumiram por inteiro o desafio de não deixar morrer um Clube que já estava no coração dos Lisboetas que gostavam de futebol. O Clube era já demasiado especial e querido para morrer. Bermudes e Damião foram decisivos mas não isolados na sua acção. Fica claro as diferenças de postura e acção. Félix Bermudes foi fundamental e entusiástico na junção.

    Fica claro como Cosme Damião foi o homem das transformações, do robustecimento do Ideal, das inovações, do crescimento do Clube. Fica no entanto claro o perfil de Cosme, um homem que rejeitava o individualismo e praticava o colectivo, a organização e disciplina. Era metódico e esclarecido. Toda essa capacidade de líder dotado de um perfil de correcto, competente e desportista o tornou respeitado entre os seus pares e adversários.

    Excelente ideia de colocar as diversas (outras) datas mais importantes da vida de Cosme Damião.

    Cosme não foi o único fundador. Por muito que nestes tempos modernos se abuse das simplificações, simplismos e promoção da ignorância para ganhar mais uns cobres, há que dizer basta! Há que ser rigoroso, respeitador e reconhecido para com esse colectivo de 24 homens que tanto aspiraram e que legaram a tantos milhões este nosso querido Clube.


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  2. Maia uma bela cátedra da nossa maravilhosa história.

    Quando li o titulo RESSACA, veio-me à lembrança da ressaca que está a viver o Moreirense.
    Já viram que, depois daquelas duas jogatanas no Algarve onde correram tanto, que mais pareciam as selecções dos Estados Unidos e da Jamaica nos 4x100 metros livres...nunca mais ganharam?
    Aquilo é que foi cá uma dose....

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  3. E o Vitória FC também nunca mais ganhou um jogo...

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