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Uma tragédia portuguesa
Durante muito tempo (e
ainda hoje) ninguém entendeu (muito bem…) o que se passou. Porque teria um
atleta experiente, sem adversário em Portugal, categórico com experiência de
cinco anos e dominador, ter tomado, repentinamente, atitudes (untar-se de sebo
e correr sem protecção na cabeça) inexplicáveis? Um atleta que tinha o melhor
tempo conhecido (ou dos melhores do Mundo), pois não se faziam mais que uma ou
duas maratonas por ano em cada país, tal a violência física, até nos percursos
e pisos utilizados. Muito se falou e dissertou. O EDB não se “mete” nisso!
Lázaro foi perdendo confiança
Pela leitura das
declarações dos cinco companheiros e relatos nos jornais da época, fica-se com
a sensação que Francisco Lázaro foi modificando o comportamento – em função – e
uma realidade que desconhecia, nem sequer imaginava que existisse. Há medida
que ia observando a realidade que o envolvia – desastre na competitividade do
desporto português e comportamento dos seus adversários directos na maratona – a
responsabilidade que tinha à saída de Portugal avolumando-se com a mediocridade
reinante na delegação (tendo em conta o esforço financeiro que sabia ter
existido no País) fizeram-no alterar o comportamento. Lázaro acreditava que
dele só esperavam um lugar – o primeiro. Tudo o que não fosse “ouro olímpico”
era pouco. Ele foi-se apercebendo que o desporto era de “outra dimensão” em
grande parte dos países presentes nos Jogos Olímpicos. Habituado a olhar os
adversários “olhos nos olhos”, em Estocolmo tinha de “olhar para cima” –
atletas fortes, impressionantes, pesados, mesmo assim a correrem maratonas.
Como poderia “uma meia leca” enfrentar tantos gigantes? “Inventando” não perder
peso durante os 42 quilómetros!
O vencedor da maratona fez
2:36;54. Lázaro tem como recorde pessoal… 2:52;08.
À espera em Estocolmo
O corpo de Lázaro, por
respeito à religião dos portugueses, esteve depositado na capital sueca, numa
igreja católica, durante dois meses, à espera da transladação para Portugal. Um
jornal sueco, ao tomar conhecimento dos fracos recursos económicos de Francisco
Lázaro, propôs uma subscrição nacional em favor da família. O príncipe herdeiro
da coroa sueca, Gustavo Adolfo preferiu organizar um grande festival, no
Estádio Olímpico, reunindo os melhores atletas e cavaleiros presentes nos Jogos.
Trinta e duas mil pessoas encheram as bancadas do recinto, deixando na
bilheteira 14 mil coroas (770 libras esterlinas), valor depositado e entregue à
(futura…) filha de Lázaro, em 1930, quando atingiu a maioridade aos 21 anos.
O funeral em 24 de Setembro de 1912, à passagem pelo Rossio |
Funeral sentido e participado
A bordo do barco “Vendsysset”
o féretro de Lázaro chegou a Lisboa em 23 de Setembro, dois meses e meio depois
de falecer em Estocolmo. O Cais das Colunas que se despedira dele em apoteose como
herói, recebeu-o como… herói. Da certeza de poder contar com uma medalha de
ouro à certeza de já nada poder ser feito. Finalmente a primeira delegação
olímpica estava, completa, de regresso a casa.
Após ter estado em câmara
ardente no Arsenal da Marinha (actual Ministério), a cerca de trezentos metros
do local onde trabalhava, no Bairro Alto, o funeral foi realizado no dia
seguinte (24 de Setembro), para o cemitério de Benfica, acompanhado por
milhares de pessoas. Demorou quatro horas a percorrer cerca de nove
quilómetros.
No cemitério de Benfica |
O Benfica nunca abandonou o Benfiquista
No cemitério de Benfica, perante
milhares de pessoas o corpo foi depositado num mausoléu onde ainda se encontra.
O Benfica através de Cosme Damião teve participação activa na organização do
cortejo fúnebre bem como na contribuição monetária para variadas iniciativas.
Para quem treinava a correr atrás dos carros eléctricos,
foi uma “viagem” pelo caminho de regresso a “casa”, mas uma ida sem retorno.
Alberto Miguéns
NOTA: A desenvolver na próxima hora:
1. A vida da família Lázaro depois da morte
Só tenho umas poucas palavras a dizer (escrever):
ResponderEliminarUm grande herói desportivo à portuguesa e à Benfica.
Obrigado Alberto Miguéns, por nos continuar a iluminar o caminho com rigor e amor à verdade, e irmos descobrindo o que foi, é e será o Benfica!
Isto foi há 100 anos mas estou emocionado!