HOMENAGEM
Antiga travessa do Borralho em Lisboa, numa homenagem ao infortunado Francisco Lázaro (1891 - 1912) |
Eterno Lázaro!
Com a morte de um campeão, Portugal
ficou traumatizado. Só voltariam a realizar-se maratonas nacionais 14 anos
depois, em 1936.
A filha que nasceu órfã
Quatro meses depois de
Lázaro falecer e dois meses depois dos restos mortais serem sepultados em
Benfica, nasceu a sua filha, a que chamaram Francisca. Em 1968, com 56 anos,
vivia desde 1956, com o marido e um filho (neto de Lázaro), bem como com a sua
mãe Sofia, viúva de Lázaro, em Lourenço Marques (actual Maputo), capital da
província ultramarina de Moçambique. D. Sofia se tivesse a idade do marido, em
1968, teria 76 anos. Em 9 de Setembro de 1968 deram uma entrevista, publicada no
jornal “O Benfica” que interessa reproduzir.
D. Sofia pronuncia-se:
«O meu marido era operário.
Treinava-se quando ia para o trabalho, correndo ao lado dos eléctricos do
Chora, de Benfica ao Bairro Alto. À nossa despedida (26
de Junho de 1912) eu chorei muito, apesar de ele se mostrar muito animado e contente,
garantindo-me que: venceria ou morreria. E
dizia-me muitas vezes que gostaria que o filho que esperávamos fosse uma
menina, pois, se saísse rapaz e não gostasse de desporto, seria um desgosto
enorme e, no caso de vir uma menina, então levá-la-ia com ele para ficar a
ver.»
D. Francisca pronuncia-se:
«A figura do meu pai,
apesar de ser operário, despertou muita atenção na Suécia. Segundo dizem, era
um rapaz com boa apresentação e o seu falecimento causou geral consternação. A
família real da Suécia ficou muito chocada e o príncipe herdeiro, actual rei,
tratou de indagar em que condições ficava a família do morto. Impressionado,
tratou de organizar um festival desportivo que devia ter a maior importância e
cujo produto se destinava a ser entregue à nossa família. Em seguida um barco
da marinha de guerra sueca propositadamente, veio a Lisboa trazer o féretro e
mandaram-nos uma latinha de terra colhida no local onde meu pai faleceu, assim
como uma fotografia da igreja onde esteve o corpo depositado. O produto do
festival foi depositado e os juros passaram a ser divididos em três partes –
uma para a minha avó (mãe de Lázaro), outra para a minha mãe e outra
para mim, dinheiro esse que semanalmente recebíamos no consulado da Suécia em
Lisboa. Quando atingi a maioridade entregaram-me o depósito que constituía uma
espécie de dote. Nunca deixou toda a família real de manter contacto connosco e
nós procedíamos e procedemos ainda hoje (1968) considerando essa amizade como
qualquer coisa de admirável que nos toca muito fundo, nos sensibiliza e honra.
Ainda outra recordação: no primeiro aniversário da morte (1913) enviaram-nos
coroa para que em Lisboa houvesse sobre o túmulo de meu pai as flores da casa
real. Acredite, ficámos de tal modo sensibilizados, que durante muito tempo,
até mesmo depois de casada, andei a pensar em ir viver para lá. E tenho a
certeza de que se o tivesse feito não me teria arrependido, pois a família real
haveria de me ajudar!»…
Francisco Lázaro com 21 anos foi vítima do infortúnio, e
apesar de quando faleceu já não ser atleta do “Glorioso”, ainda estavam bem
presentes na memória dos benfiquistas, as suas valorosas qualidades desportivas
e a humildade de uma vida simples.
DATAS Acontecimentos
08.Jane.1891 Nascimento em Lisboa
03.Mai.1908 Vitória na 2.ª Maratona Nacional
Junho
1910 Vitória na 4.ª Maratona
Nacional
07.Mai.1911 Vitória no I Corta-Mato Nacional
18.Junh.1911 Vitória na 5.ª Maratona Nacional
09.Julh.1911 Vitória no Grande Prémio do Progresso
Ano de 1912 Vitória na 6.ª Maratona Nacional
14.Julh.1912 Maratona Olímpica em Estocolmo
15.Julh.1912 Falecimento na Suécia
23.Sete.1912 Chegada a Portugal da urna
24.Sete.1912 Funeral para o cemitério de Benfica
TRIUNFOS
Ano Prova Distância Tempo
1908 Maratona 24 km 1
h 39’
1910 Maratona 42,8 km 2 h 57’
1911 Corta-Mato 5 km 20’ 25’’
1911 Maratona 42,8 km 3 h 09’ 53’’
1911 GP Progresso 30 km 2 h 10’
1912 Maratona 42,2 km 2 h 52’ 08’’
MELHORES MARCAS
Prova Marca
Maratona (42,2 km) 2 h 52’ 08’’
Fundo (30 km) 2 h 10’
Corta-Mato (5 km) 20’ 25’’