HOMENAGEM
Preparação para uma maratona fatal
Preparação para uma maratona fatal
A última corrida
Portugal levou à capital
sueca uma delegação de seis elementos – cinco elementos de estratos sociais
elevados e o popular Francisco Lázaro. Ficaram alojados numa escola primária. Na
abertura dos jogos foi Lázaro que transportou a nova bandeira nacional,
instituída após a implantação da República, que ocorrera há menos de dois anos,
em 5 de Outubro de 1910.
De derrota em derrota
À medida que a competição
decorria os atletas portugueses coleccionavam desilusões. E Lázaro a vê-los a
perder. E Lázaro tinha o melhor tempo na maratona. E Lázaro tinha de
honrar-nos. E Lázaro era a última esperança lusa.
Participação portuguesa nos V Jogos Olímpicos, em
Estocolmo
Dia
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Atleta
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Modal
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Especialidade
|
Resultado
|
Consequência
|
01
|
Stromp
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ATL
|
100 m (5.ª s.)
|
(3.º) s/t
|
Eliminado
|
01
|
Cortesão
|
ATL
|
800 m
|
(2.º) s/t
|
Apurado 1/2
|
02
|
Cortesão
|
ATL
|
400 m (sér.)
|
(3.º) s/t
|
Eliminado
|
03
|
Cortesão
|
ATL
|
800 m (1/2)
|
Des. lesão
|
Eliminado
|
05
|
Stromp
|
ATL
|
200 m (18.ª
s)
|
(4.º) s/t
|
Eliminado
|
08
|
Pereira
|
LUT
|
Eliminado por Anderson
(Suécia)
|
||
08
|
Vital
|
LUT
|
Eliminado por Asikainen
(Finlândia)
|
||
10
|
Correia
|
ESG
|
Excluído pelo júri da
série
|
||
14
|
Lázaro
|
ATL
|
Maratona
|
Desistiu
|
Faleceu
|
Bom no físico. Apoio da comitiva lusa
No dia anterior à prova o
maratonista recebeu a nota “bom” após uma rigorosa inspecção médica, com
análise a pulmões, coração e palpação da região inguinal. Em 14 de Julho de
1912, Francisco Lázaro almoçou às 10 horas, seguindo depois, de automóvel, para
o estádio olímpico. Cedo deixou de ter portugueses por perto. A delegação
portuguesa distribuiu-se pelo percurso da maratona. António Pereira e António
Stromp colocaram-se ao quilómetro 5 (de ida) e 35 (de volta), mal saberiam eles
que seriam os primeiros a impacientar-se com a demora. Joaquim Vital ficou ao
quilómetro 15 (de ida) e 25 (de volta). Mal sabia ele que seria o último
português a vê-lo com vida! Os outros dois, Fernando Correia e Armando
Cortesão, ficaram na bancada.
Lázaro fez o impensável
Fernando Correia e Armando
Cortesão estranharam não o ver entre as dezenas de maratonistas que se
exercitavam na pista do estádio. Aproximando-se da hora de partida, foram à sua
procura, rumando aos balneários. Depararam-se com uma cena inesperada. Lázaro
estava untado com sebo “para impedir a perda de líquidos”,
foi a sua justificação, pois sendo mais franzino que os seus “gigantes
adversários” não poderia perder peso. Nunca ninguém conseguiu entender como
Lázaro - que não sabia qualquer outra língua além do português - conseguiu
arranjar o sebo para se untar! Tentaram levá-lo para debaixo de um chuveiro
para tirar o sebo e limpá-lo, mas já não havia tempo. Se têm chegado mais cedo!
Depararam-se com outro “imprevisto”. Lázaro não tinha qualquer protecção para a
cabeça, eram quase duas da tarde e estavam 32.º C. O maratonista não se mostrou
preocupado: «O calor não me incomoda. Até folgo que o haja, porque fará afastar
alguns concorrentes.»
Depois foi de mal a pior
Ao início da tarde, estando
um dia “abrasador”, apareceu na partida da Maratona com o corpo untado de sebo
e de cabeça descoberta. Ao quilómetro 15 estava em 27.º lugar, a quatro minutos
do líder. Ao quilómetro 25 era já o 18.º classificado, seguindo muito próximo
da frente da corrida, segundo relato de Joaquim Vital (não confirmado pelos
registos oficiais). Ainda segundo Joaquim Vital, tinha muita sede. Foi-lhe dada
água que bebeu sofregamente. Depois do quilómetro 30, uma quebra que seria
fatal deixou Lázaro prostrado na estrada.
A reacção dos outros olímpicos
Ao quilómetro 35, Pereira e
Stromp aguardavam pela passagem de Lázaro, impacientemente, pois esperavam
vê-lo na dianteira. Os maratonistas foram passando e de Lázaro nada. Foram à
sua procura em sentido contrário. Depois de terminada a corrida no estádio, sem
a chegada de Lázaro, Cortesão e Correia fizeram de automóvel o percurso
contrário. Ninguém o encontrou. Foi António de Castro Feijó, embaixador de
Portugal na Suécia a dar-lhes a triste notícia que Lázaro desistira e se
encontrava hospitalizado.
O que faz o improviso português! Nem sempre
dá vantagens…
A camisola da maratona final |
Alberto Miguéns
NOTA: A desenvolver nas próximas horas:
1. A certidão de óbito
2. As homenagens fúnebres na Suécia e em Portugal
3. A vida da família Lázaro depois da morte