O Benfica não foi pioneiro a jogar a modalidade em Portugal, mas entre clubes não ligados a instituições escolares e militares foi um dos primeiros. E foi fundador da Associação de Basquetebol de Lisboa, em 10 de Outubro de 1927. A culminar uma fase de jogos esporádicos para outra de maior e melhor organização.
O Benfica escolheu para estreia um adversário experiente.
Com alguns anos de prática e onde estudaram alguns dos associados do Benfica que quiseram jogar a modalidade com o «Manto Sagrado». Ainda sem regras definidas (e sabidas) o primeiro encontro foi com sete basquetebolistas em campo. Já no hóquei em patins tinha acontecido o mesmo. Em 20 de Março de 1927, a experiente equipa da Escola Académica foi arrasadora, com 11-1 como resultado final. Ficou lançada a semente para mais jogos e presença ininterrupta nas competições da ABL e da FPB. Glória aos pioneiros que nos honraram o passado.
O jogo disputou-se em "casa"
Junto ao estádio das Amoreiras, o Benfica com aquele engenho e arte que durante muitos anos foi apanágio dos Benfiquistas ergueu um campo que foi também o da estreia da modalidade na tal derrota copiosa. Foi neste espaço que o basquetebol singrou e que se fizeram basquetebolistas muitos Benfiquistas. António Bravo em 1929 já integrava a selecção de Lisboa que defrontava Coimbra e o Porto (com uma época em competição de avanço para Lisboa).
Espaço desportivo ecléctico À Benfica
Um campo inaugurado em 13 de Dezembro de 1925, para Futebol (desde 1 de Janeiro de 1905), Hóquei em Campo (desde 10 de Março de 1923), Râguebi (desde 26 de Dezembro de 1924) e Andebol (desde 8 de Maio de 1932). No topo norte ainda foram construídos dois campos de Ténis (desde 29 de Maio de 1915) e o campo de Basquetebol (desde 20 de Março de 1927). O Ténis de Mesa (desde 29 de Janeiro de 1928) e o Bilhar (desde 2 de Novembro de 1938) eram jogados na Sede, na avenida Gomes Pereira, tal como o Hóquei em Patins (desde 3 de Junho de 1917) no rinque localizado nas traseiras da Sede.
Os hábitos da tendência
No actual espaço (Liceu Francês) que ocupa a área das antigas instalações do "Glorioso" reservaram os campos de jogos das actividades de educação física desse afamado estabelecimento de ensino para o espaço onde o Benfica construiu o campo de basquetebol.
Manuel Achemann: quando os últimos são os primeiros
Pioneiro e resistente, deve-se muito a este basquetebolista a importância da modalidade no “Glorioso”.
Manuel de Matos Leopoldo Segurado Achemann nasceu em 1908, há mais de um século, entrando para associado aos 17 anos, em 1925. Dois anos depois, foi um dos “sete magníficos” que estreou o nosso basquetebol, em 20 de Março de 1927, há mais de 88 anos, jogando nessa equipa atípica de sete atletas, que saiu derrotada por 1-11 como lançador, por ser perito em “fazer cestas”, marcando o único ponto do Benfica, num “lançamento”, após uma falta de um jogador da Escola Académica.
Resistente
Em 1927/28, na segunda temporada do basquetebol benfiquista, a primeira com jogos oficiais para o campeonato regional de Lisboa, foi titular na 2.ª categoria, fazendo também um jogo na 1.ª categoria, na 8.ª jornada (antepenúltima) do respectivo campeonato, marcando cinco pontos, na derrota por 8-15 com o Triângulo Vermelho Português/ACM. Ganhou depois a titularidade na 1.ª categoria, e até mais do que isso, resistiu às dificuldades que assolaram o nosso basquetebol em 1933, levando mesmo a Direcção a escrever: “Ou há possibilidade de progresso e então a existência da Secção impõe-se, ou não há e o melhor é acabar-se com uma coisa que não aproveita a ninguém e que interessa a muito poucos”. Manuel Achemann não vacilou, e contagiando outros associados, transformando uma modalidade aparentemente moribunda no seio do Clube, para uma continuidade que duraria… até à actualidade!
Bom lançador
Foi um bom lançador no seu tempo, jogando por isso a avançado-centro, mas denotava dificuldades a defender, e no tempo em que não havia substituições, mas havia exclusões do jogo à 4.ª falta, obrigando a equipa a terminar os jogos com menos atletas: eram considerados bons basquetebolistas aqueles que marcavam muitos pontos ou os que não permitiam que os adversários marcassem; excelentes os que marcavam e também sabiam defender bem; e extraordinários, os que além disto, pela sua destreza técnica, ainda provocavam faltas, e exclusões, na equipa adversária. Não podemos afirmar que alguma vez Manuel Achemann tivesse sido o melhor basquetebolista benfiquista do seu tempo. Mas era o mais certeiro no cesto, dedicado, entusiasta, resistente e equilibrado entre todos. Nunca foi escolhido para os encontros entre selecções regionais. Coube a António Bravo, nosso excelente defesa-direito a honra de ser o primeiro jogador do “Glorioso” seleccionado para Lisboa, em 1928/29, para dois encontros, o II Lisboa-Porto e o II Lisboa-Coimbra.
O primeiro decénio
Achemann jogou na 1.ª categoria durante nove temporadas consecutivas, entre 1926/27 e 1934/35, participando nos primeiros oito Regionais de Lisboa, sete em rigor, pois 1932/33 foi a excepção, em que foi decidido inscrever os melhores basquetebolistas no campeonato “mais fraco”, o da 3.ª categoria, permitindo a sua conquista, porque nem a “Liga dos Pequenos” nos conseguiu “parar”! Aliás, foi essa a equipa que nos representou no final da temporada no I Campeonato de Portugal. Entre 1935/36 e 1939/40 jogou nas outras categorias, mas em 1937/38, titular na 2.ª categoria, havendo ainda a 1.ª categoria de reserva, regressou episodicamente à 1.ª categoria de honra, como suplente utilizado, para marcar dois pontos, em 14 de Novembro de 1937, na derrota por 17-18, nas Amoreiras, com o CA Campo de Ourique. Aos 29 anos, despedia-se da equipa principal. Nesta categoria, em dois jogos conseguiu marcar 20 pontos, valor fantástico para o tempo em que jogou: em 1929/30, na vitória por 30-29 com a equipa do Triângulo Vermelho Português, em Almada, marcando 67 por cento da nossa pontuação, em 29 de Setembro de 1929; e cinco anos e meio depois, em 1934/35, na vitória por 34-12 com o Carnide Club, na 10.ª (e última) jornada do Regional de Lisboa, marcando 59 por cento da pontuação da equipa, em 17 de Fevereiro de 1935.
Mais de mil pontos
Nas 14 temporadas em que jogou no Benfica, entre 1926/27 e 1939/40 disputou 198 jogos, com 152 como capitão, marcando 1411 pontos: na Honra, com 121 jogos (88 como capitão) e 626 pontos; na Reserva, com 19 jogos, sempre como capitão, e 221 pontos; na 2.ª categoria, com 40 jogos (27 a capitão) e 415 pontos; e na 3.ª categoria, com 18 encontros, sempre como capitão, e 149 pontos. Quando fez o último encontro pelo Benfica, na 3.ª categoria, em 11 de Fevereiro de 1940, há mais de 80 anos, era o nosso basquetebolista recordista com mais presenças em jogos, mais encontros a capitão e mais pontos obtidos. Honrou como poucos o "Manto Sagrado"!
Treinador
Ainda enquanto jogador da categoria de honra, na temporada de 1931/32, treinou o nosso basquetebol, conseguindo nos campeonatos regionais, o 5.º lugar (Honra), 3.º lugar (Reserva), 3.º lugar (2.ª categoria) e 2.º lugar (3.ª categoria).
Triunfos
Nunca conseguiu sagrar-se campeão regional na 1.ª categoria, título que tanto perseguiu, mas obteve dois títulos regionais - na 3.ª categoria (1932/33) e na Reserva (1935/36). Tinha 32 anos quando participou, no último jogo como basquetebolista, em 11 de Fevereiro de 1940, em jornada do Regional da 3.ª categoria, como suplente utilizado a defesa-esquerdo, marcando um ponto ao Sporting CP. Estreou-se com um ponto em 1927... despediu-se com outro em 1940!
Distinções honrosas
Foi Sócio de Mérito em 31 de Julho de 1938, com 33 anos, falecendo aos 54 anos, em 1962, como associado n.º 622. Tinha 37 anos de sócio dedicado ao Clube. Partiu para o "Quarto Anel" há mais de 57 anos, mas também nos deixou um legado importante - o Basquetebol como modalidade histórica no Clube. Agradecemos!
A Gloriosa História é inultrapassável!
A
Alberto Miguéns
Glorioso Basquetebol, modalidade querida por muitos Benfiquistas ao longo das gerações.
ResponderEliminarEste é o tipo de artigos e de informação que não se pode encontrar em mais lado nenhum senão neste Glorioso Blogue. Obrigado ao Alberto por esta pequena maravilha da nossa História.
Que orgulho do meu avô
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