NOTA: Devido ao facto de ter estado na pavilhão n.º 1 da Cidade Desportiva do SL Benfica para assistir ao encontro da 29.ª jornada do campeonato nacional de hóquei em patins, na vitória por 10-4 sobre o Sporting CP não foi possível concluir o texto de hoje, que mostra - mais uma vez - a forma grosseira como um jornal (desta vez é o Record) tratam com desconhecimento e desprezo o futebol e o Benfica. Nas próximas horas conto publicar a "explicação"! E consegui! Concluído!
Fica desde já o recorte que servirá de mote:
Record; página 10; 5 de Junho de 2013 |
OPINIÃO
Impressiona o modo leviano e despreocupado com que os jornais
em Portugal inventam acerca de assuntos onde não se deve inventar. Porque não há nada a inventar. Está tudo "inventado". Ou sabe-se
ou não se sabe. e se não se sabe e quer saber-se o melhor é investigar e aprender.
Cosme Damião nunca
orientou a equipa do "Manto Sagrado" em competições oficiais?! Se o
Record diz eu (não) acredito!
Para quem escreve mentiras destas no Record - enganando os
leitores e pagantes - pensando que conseguem enganar a história. No jornal
deviam decretar quando é que começaram as competições oficiais em Portugal. Nós
mortais cada vez sabemos menos perante tanta informação. Fiquei a saber que,
por exemplo, os campeonatos regionais não são - para o Record - competições
oficiais. Mais vale tarde do que nunca. É de lastimar que, entre 1921/22 -
primeira edição do Campeonato de Portugal (actual Taça de Portugal) - e 1946/47
- último campeonato nacional da I Divisão em que os participantes foram
apurados através dos campeonatos regionais - estes tenham sido competições não
oficiais de onde saiam os participantes para jogar as competições oficiais.
Sempre a inovar (e inventar) esta "imprensa de trazer por casa."
Modelo simples: Um
campeonato a pontuar em duas voltas
Até 1920/21 não havia competições de âmbito nacional em Portugal,
apesar da Federação Portuguesa de Futebol ter sido fundada em 31 de Março de
1914 (há quase 100 anos) para entre outras incumbências - como organizar uma
selecção nacional de futebol - fazer o seguinte:
Art.º 3.º ponto 6.º - Organizar o campeonato de Portugal.
Quer a selecção, quer o campeonato (pseudo), quer o
"verdadeiro" campeonato só muito mais tarde foram organizados,
respectivamente em 18 de Dezembro de 1921, 4 de Junho de 1922 e 7 de Janeiro de
1935.
Mas... antes da FPF e das (des)organizações desta já havia
futebol oficial em Portugal. Eram as competições da responsabilidade das
Associações Regionais, pois até foram três delas (Lisboa, Portalegre e Porto)
que fundaram a FPF!
Em Lisboa (AFL) o futebol era jogado essencialmente nos
campeonatos regionais (a pontuar em duas voltas, por vezes com fases finais),
onde chegaram a competir numa mesma temporada 78 emblemas repartidos por várias
divisões e núcleos geográficos dentro do distrito de Lisboa. Quando era
possível organizavam-se provas a eliminar de preparação para o Regional ou para
encerramento da temporada.
ORGANIZAÇÃO DO FUTEBOL PORTUGUÊS
1906/07 - 1920/21
(LISBOA)
Épocas
|
1.ª competição
|
2.ª competição
|
3.ª competição
|
1906/07
|
I Campeonato regional
|
||
1911/12
|
VI Campeonato regional
|
III Taça Jogos Olímpicos
Nacionais
|
|
1920/21
|
I Taça Associação
|
XV Campeonato regional
|
V Taça de Honra
|
NOTA: As competições (excepto o Campeonato Regional) nem sempre
existiram em todas as épocas
Criação de uma
competição de âmbito nacional, o Campeonato de Portugal
Em 1921/22 decidiu-se finalmente criar um campeonato de Portugal, mas
para não dar muito trabalho, que sempre houve sol e calor no Verão português, o
campeonato de Portugal (CP) era constituído por dois jogos (o primeiro até
foram três pois houve que recorrer a uma finalíssima) entre os campeões
regionais de Lisboa e do Porto. Um grande "campeonato"!
Mesmo com a implementação do CP as épocas continuavam a ser dominadas -
maior número de jogos, mais tradição e dificuldade, porque tinha mais clubes -
pelos Regionais. O CP jogava-se no final da temporada. Depois de concluídos os
Regionais, pois eram as (boas) classificações obtidas nestes que permitiam a
qualificação para o CP. E este lá se foi desenvolvendo: dois clubes na primeira
edição, doze emblemas na quinta, a última sem Benfica (1925/26) e 15 na 17.ª
edição (e última, em 1937/38) quando passou a designar-se Taça de Portugal.
1921/22 - 1933/34
(LISBOA)
Épocas
|
1.ª comp.
|
2.ª comp.
|
3.ª comp.
|
4.ª comp.
|
AFL
|
FPF
|
|||
1921/22
|
I Taça Associação
|
VI Taça de Honra
|
XVI
Campeonato regional
|
I Campeonato Portugal
|
1928/29
|
II Torneio Preparação
|
XXIII
Campeonato regional
|
VIII
Campeonato Portugal
|
|
1933/34
|
VI Torneio Preparação
|
XXVIII
Campeonato regional
|
XIII
Campeonato Portugal
|
NOTA: As competições regionais (excepto o Campeonato de Lisboa) nem
sempre existiram em todas as épocas
O modelo "quase
actual": Apuramentos regionais para os campeonatos nacionais
Anda o futebol português neste "rong-rong" quando
chega o dia 11 de Março de 1934, o dia fatídico para a selecção nacional que em
Madrid, no estádio Chamartin do Real Madrid CF (actual Santiago Bernabéu) "leva"
9-0 do seleccionado espanhol, no jogo de apuramento para o Mundial de 1934. Os
grandes jornalistas da época - Ricardo Ornelas, Cândido de Oliveira, Tavares da
Silva e Ribeiro dos Reis, entre outros - aproveitaram para criticar e exigir o
que há muito pediam à FPF: um "verdadeiro" campeonato nacional, pois
a sua inexistência, ao contrário do que acontecia em Espanha, desde 1921, foi
"dado" como a causa da consequência dos nove a zero!
Foi criado o campeonato da I e II Liga, cujo apuramento era
feito através dos regionais: para a I Liga, Lisboa (4 clubes), Porto (dois
clubes), Coimbra e Setúbal, nestes dois apenas os campeões regionais. O
Campeonato de Portugal continuava a realizar-se no final da temporada, mas com
os clubes apurados da I Liga (todos os oito) e II Liga (os oito melhores).
Uma nota, ou melhor duas! É sempre difícil fazer
extrapolações e comparações mas o "Futeluso" nunca tinha sido criado pelo
FC Porto, se existissem jornalistas íntegros, inteligentes, respeitados e
intervenientes como Ricardo Ornelas, Cândido de Oliveira, Tavares da Silva e
Ribeiro dos Reis! A outra nota - resultante dessa histórica derrota frente a
Espanha - foi uma célebre canção interpretada por Beatriz Costa: (clicar) «Se a selecção trabalha como eu quero, agora é que não falha, nove a zero»
1934/35 - 1946/47
(LISBOA)
Épocas
|
1.ª comp.
|
2.ª comp.
|
3.ª comp.
|
4.ª comp.
|
AFL
|
FPF
|
|||
1934/35
|
II Torneio Relâmpago
|
XXIX
Campeonato regional
|
I Campeonato I Liga
|
XIV
Campeonato Portugal
|
1938/39
|
VII Torneio Preparação
|
XXXIII
Campeonato regional
|
V Campeonato Nacional
|
XVIII
Taça de Portugal
|
1946/47
|
VI Torneio Relâmpago
|
XLI
Campeonato regional
|
XIII
Campeonato Nacional
|
Não se disputou a XXVI
Taça de
Portugal
|
NOTAS: As competições regionais (excepto o Campeonato de Lisboa) nem sempre
existiram em todas as épocas;
A Taça de Portugal em 1946/47 não se realizou devido ao alargamento
"mal calculado" (de 22 para 26 jornadas) do Campeonato Nacional (a
última jornada disputou-se em 2 de Julho de 1947!!!!!)
Modelo actual: Acabaram
os regionais, com competições nacionais de orgânica própria
Em 1947/48 iniciaram-se os campeonatos nacionais com um
quadro competitivo definido, com as promoções e despromoções entre divisões
previamente definidas. A Taça de Portugal manteve-se (no modelo iniciado em
1921/22) como uma competição de final de temporada, iniciando-se depois de
terminados os campeonatos nacionais da I e II Divisões. Apenas em 1959/60 as
eliminatórias da Taça de Portugal começaram a ser disputadas entre jornadas dos
campeonatos nacionais, ainda que a partir dos quartos-de-final apenas depois de
terminarem os campeonatos nacionais. O modelo semelhante ao actual - definição
dos finalistas antes de terminarem os campeonatos nacionais - só depois de
1971/72.
Que saudades de uma final vitoriosa do "Glorioso" no
Jamor!
Alberto Miguéns
NOTA1:
Isto é tudo uma aberração. Os media e as federações são do mais rasca que
existe. Quem não considerar a Taça de Portugal como prolongamento dos 17
Campeonatos de Portugal, também não pode considerar os Campeonatos Nacionais (I
e II Divisões) como continuação dos 4 Campeonatos da Liga (I e II Liga).
Só
podemos agregar estas quatro competições duas a duas devido à resolução do
Congresso da FPF , publicada no Relatório da FPF de 1938/39:
in Relatório da Federação Portuguesa de Futebol em 1938/39; página 6
|
O que
está correcto, tendo em conta esta resolução legal, é a seguinte repartição de
títulos:
Títulos
|
Campeonatos Nacionais
|
Taças de Portugal
|
SLB
|
32
|
27
|
FCP
|
27
|
20
|
Isto
está errado. Se as Taças de Portugal não são consideradas continuação dos 17
Campeonatos de Portugal, os 4 Campeonatos da Liga também não podem ser
considerados Campeonatos Nacionais. Só faz sentido agregar as competições se
forem as quatro agregadas, duas a duas. A justificação é a resolução do
Relatório da FPF.
Títulos
|
Campeonatos Nacionais
|
Taças de Portugal
|
SLB
|
32
|
24
|
FCP
|
27
|
16
|
Ao não
considerar a Taça de Portugal continuidade do Campeonato de Portugal, o quadro
teria de ser (havendo honestidade e coerência) o seguinte:
Títulos
|
Competições
a pontuar
|
Competições
a eliminar
|
||
I Liga
|
I Divisão*
|
Campeonato
Portugal
|
Taça de Portugal
|
|
SLB
|
3
|
29
|
3
|
24
|
FCP
|
1
|
26
|
4
|
16
|
* Mais
os "nomes da treta" que agora lhe chamam
NOTA2:
Estava-me a esquecer do que "interessa". Cosme Damião orientou
enquanto treinador do "Glorioso" as equipas que envergam o
"Manto Sagrado" em 18 épocas
(entre 1908/09 e 1925/26)
O resto é conversa!
De gente (uns rascas e outros à
rasca)
NOTA3: À margem do assunto de hoje, mas na sequência do jogo de ontem. É impressionante a forma como vejo (e por mais esforço que faça nao consigo evitar) e sinto um Dérbi de Lisboa. Facto que é mais sentido em modalidades de pavilhão. Quando vejo um Benfica versus Sporting CP sinto que é uma representação da velha luta de classes: O Pobre contra o Rico. E vence, invariavelmente, o Pobre! Já um Benfica versus FC Porto é uma questão de justiça: O Bem contra o Mal. E vence - geralmente - o Mal! Tem de acabar!
Alberto Miguéns