OPINIÃO
Entrevista a Fernando Santos (treinador de futebol da selecção da Grécia) Correio da Manhã; 30 de Junho de 2012; página 2 do suplemento desportivo Correio Sport |
A pergunta de Matilde Rocha
Dias a Fernando Santos sintetiza muito da propaganda mediática que acicata os
ânimos das pessoas afastando-as do essencial. Fernando Santos respondeu como
seria de esperar de alguém que sabe distinguir o futebol da sociedade, o
acessório do fundamental.
O Desporto é desporto ou é uma “Guerra Limpa”
O futebol é o mais belo dos
desportos (em simplicidade nas regras e objectivos do jogo, concepção das
jogadas e funcionalidade das competições, a eliminar ou a pontuar) e também o
que mais perto está da evolução ancestral do ser humano (pequenas tribos
coloridas que enfrentam outras com cores diferenciadas num espaço amplo ao ar
livre), daí a sua popularidade. Até aqui nada de novo. O futebol só difere, em
grandeza, de outros desportos colectivos (na maior parte dos países) porque é
antigo e popular. Ou seja tudo o que se relaciona com o futebol é mais
mediático, porque tem maior visibilidade.
Exacerbar nacionalismos políticos
O que se vai observando –
muito instigado pelos media (televisões, jornais e rádios) devido às “lutas” de
audiências e tiragens – é transformar as competições desportivas em lutas
políticas e combates nacionalistas. Isto à medida que os exércitos nos países
democráticos ocidentais foram deixando os campos de batalha e fazendo vida nos
quartéis. Nas competições mais mediáticas – Campeonatos do Mundo e da Europa de
Futebol e Jogos Olímpicos – os media querem fazer acreditar – até porque
“beneficiam” da exibição, ao vento, nesses eventos dos símbolos nacionais,
hinos e bandeiras - que o que está em confronto não é o desporto, a capacidade
física e táctica individual, quando muito a capacidade dos vários países em
proporcionarem condições para a pratica desportiva e consequente sucesso, por
boas e consistentes práticas, mas o que fica exposto é um confronto político
entre dois ou mais países. Daí os termos utilizados: A Espanha ganhou à Itália;
a Espanha é melhor que a Itália; a Espanha é superior à Itália; a Espanha
humilhou a Itália; etc e tal. Mentira. Porque a Espanha não é a melhor da
Europa. Nem a Espanha, nem qualquer outro país, no passado ou no futuro, que
conquiste o Campeonato da Europa. É a melhor no futebol. Os jogadores de
futebol espanhóis são os melhores da Europa. Isto que, afinal, é tão óbvio
parece ser esquecido com tanta facilidade.
Os dois capitães das selecções de futebolistas de Espanha (Mariano Arrate) e Portugal (Cândido de Oliveira) na estreia da selecção portuguesa, em Madrid, a 18 de Dezembro de 1921 |
Mestre Cândido de Oliveira: inteligente, esclarecido e cosmopolita
Não se pense que este
“fenómeno” de querer fazer corresponder o desporto de cada país ao País na sua
globalidade, ou seja à sua sociedade, é de agora. Não é! Se bem que, quanto a
mim, tem vindo a crescer e a recrudescer, muito porque as guerras na Europa,
entre as principais potências, há muito que acabaram, fazendo parte nem da
memória, mas apenas de livros de História e cenas de filmes. Mas fomenta-se uma
espécie de “guerra limpa” (matar é marcar golo; ganhar a batalha é vencer o
jogo; ganhar a guerra é conquistar o troféu). Que provoca em cada pessoa uma
espécie de orgulho nacionalista, de ser superior a outro. Uma vontade muda.
Quem melhor separou
política de futebol foi Cândido de Oliveira. Que nos anos 50 se insurgiu contra
um título de jornal, antes de um jogo entre a selecção de Espanha e de
Portugal, que dizia mais ou menos (cito de memória) o seguinte: QUAL É O MELHOR
PAÍS: PORTUGAL OU ESPANHA?”
Pois Mestre Cândido de
Oliveira, com a sabedoria, inteligência e prestígio que granjeara, criticou
essa frase afirmando (volto a citar de memória): Portugal não vai enfrentar
Espanha. O que vai haver é um jogo de futebol, em que uma equipa de
futebolistas portugueses escolhidos por Tavares da Silva vai medir forças com
uma equipa de futebolistas espanhóis escolhidos por Pedro Escartín”! Nem mais,
mestre Cândido. É assim o desporto. O que está em causa é mostrar que em
determinada modalidade, o desporto desse país é superior ao que se pratica noutro
país. Mas… acaba aí!
Felizmente o clubismo está acima do nacionalismo
Mas o que é que, até aqui,
esta lenga-lenga, meio sermão, meio doutrinal se relaciona com o “Em Defesa do
Benfica”. É que com os clubes (na sua generalidade, porque também podem ser
feitos aproveitamentos espúrios) o aspecto nacionalista não existe. O futebol
enquanto actividade desportiva organizada, com forte ligação às origens dos
primeiros grupos de civilização humana encaixa muito mais (quase que me
atreveria a dizer em exclusivo) no confronto entre equipas dos clubes que entre
Nações. O futebol dos clubes é uma forma de colocar em confronto, em termos
colectivos, a vontade individual que se associa num grupo, em torno dos
símbolos – nome abreviado e popular, sigla, emblema e cores - de cada clube. As
rivalidades são geridas dentro de cada cidade, região, país ou continente. O
futebol dos clubes não é, por base, nacionalista. É universalista. O Benfica
tem adeptos em todos (ao quase todos…) os países do Mundo. É um factor de união
entre etnias, povos, línguas e culturas díspares. Não provoca xenofobia. Os
futebolistas são de qualquer nacionalidade. O importante é honrarem o “Manto
Sagrado”! Gosto mais “deste” futebol. Desta forma de sentir e ver o futebol. Se
o futebol das selecções (em particular se os media não experienciassem) fosse
menos chauvinista, há aqui um adepto para isso! Um adepto que gostava de ver os
jogos entre selecções nacionais como Mestre Cândido!
As Nações “defrontam-se” nas condições que criam para
melhorar a vida dos Povos
O que devia ser importante
no confronto entre países era na capacidade que estes têm em gerar condições
económicas para que estas proporcionem qualidade de vida aos seus habitantes. É
aqui que os povos (e em particular a comunicação social) deviam “investir”! Os
países são melhores que outros se os seus habitantes tiverem condições de vida
superior aos outros. Os países deviam ter brio em gerar – através do sistema de
educação e valores - cidadãos com qualidade e disponibilidade para se
organizarem em partidos políticos (7 500 assinaturas de eleitores) ou
reorganizarem os partidos existentes e proporem-se a ser eleitos pelos outros.
Depois de eleitos terem capacidade para melhorar as condições sociais e
económicas de todos. Ganhar uma competição desportiva é importante, mas não é
fundamental, nem resolve – no concreto – a vida das pessoas. Pode anestesiar,
mas não “cura”!
Alguns valores onde se vê a "qualidade" dos países, ou seja, a valorização do dia-a-dia (melhor saúde,educação, desafogo financeiro, ...) dos seus habitantes.
Alguns valores onde se vê a "qualidade" dos países, ou seja, a valorização do dia-a-dia (melhor saúde,educação, desafogo financeiro, ...) dos seus habitantes.
O flagelo do desemprego, para quem precisa de trabalhar e não consegue emprego |
A Dívida Pública que torna os países dependentes dos credores |
O rendimento anual por pessoa que permite ter ou não ter qualidade de vida. |
Pela primeira vez aqui comento, nao podia ficar em silenco perante tal acerto. Aguardo pelo post completo. Parabens pelo que vem fazendo aqui.
ResponderEliminarAinda bem que o meu caro Alberto faz uma alusão en passant pela situação social e económica mundial. Percebo perfeitamente a que se refere quando fala em reorganização dos partidos e disponibilidade das pessoas para alterar das coisas. O problema é que as pessoas não querem ou não conseguem ver que este sistema, e estou a falar à escala planetária, está caduco, obsoleto, já não funciona e por mais pensos e compressas que ponham a ferida nunca irá sarar e vai alastrar cada vez mais. Pode ter sido um bom sistema e ter trazido prosperidade e desenvolvimento tecnológico há 100 ou 200 anos atrás mas com o nível de capacidade intelectual e tecnológico dos nossos dias a humanidade precisa de repensar que tipo de vida merece e que planeta quer deixar para as gerações futuras.
ResponderEliminarQuando me refiro a sistema estou a falar dos ismos: absolutismo, fascismo, nazismo, comunismo, socialismo, capitalismo e aquele que é comum em todos o monetarismo. Quando é que algum destes sistemas ou uma cruz no boletim melhorou a vida das populações? O dilema que as pessoas se deparam é que se este sistema já atingiu o ponto de ruptura qual é a alternativa sustentável? Talvez possamos encontrar respostas neste video que eu deixo aqui como sugestão. Coloquem as legendas em português carregando no botão CC. Espero que vos faça pensar.
http://www.youtube.com/watch?v=KphWsnhZ4Ag
Benfica SEMPRE!
Penso exactamente o mesmo.
ResponderEliminarS.L.B!
Caro Alberto Miguéns:
ResponderEliminarVoltando à questão do post do dia 1 de Julho sobre os campeonatos ganhos pelas modalidades, aproveito para lhe solicitar, sendo possivel, o favor de aqui esclareçer o número de campeonatos de hóquei patins conquistados pelo Benfica.
Já li um post seu sobre a modalidade e refere 22, na Benficatv já ouvi por mais do que uma vez, 21.
O meu muito obrigado.
Saudações Benfiquistas
Caro Angolanovermelho
EliminarVou tentar responder no texto a publicar às 00.00 de 3 para 4 de Julho. Mas haverá um texto mais elaborado num dia destes.
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
Caro Alberto Miguéns:
EliminarObrigado pela atenção. Vou estar atento.
Saudações Benfiquistas.