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27 fevereiro 2021

Lavar as Mãos

27 fevereiro 2021 8 Comentários

COMO PÔNCIO PILATOS.



Há quem diga que todos os comportamentos humanos individuais e colectivos estão contados na Bíblia e cada vez me convenço mais que é verdade.

 

Só Fernando Gomes se lembraria desta "qual Pôncio Pilatos a lavar as mãos" como se nada tivesse a ver com a decisão que tomou!

«É um tema no qual não votarei e que, como sabem, aconteceu umas décadas antes de eu ter chegado à FPF».



Brincalhão (o Entrudo já lá vai)

Não existia tema nenhum (ele é que o deixou criar e tem alimentado), as décadas são quase cem anos e quem é ele para desautorizar os seus pares de 1938/39? Arrogante, pretensioso e pérfido. O que lhe competia era defender os dirigentes que o antecederam e não tentar traí-los.

O que foi decidido em 25 de Outubro de 1938, no Congresso do Futebol, que decorreu entre 23 e 30 de Outubro de 1938 e vertido para o «Relatório e Contas da FPF da Época 1938/39» jamais poderá ser anulado por qualquer comissão em 2017/2021. Revisionismo nunca! Se for aberto um precedente alterando o que foi decidido por uma Direcção da FPF, há mais de 80 anos, no futuro qualquer Direcção da FPF poderá fazer o mesmo a esta tendo em conta o que esta está a fazer a uma que a antecedeu!


 

Página 6 do fascículo da comunicação do delegado da A. F. do Algarve aprovada no Congresso da FPF como muito bem foi explicado em 1945 no jornal "A Bola", na página 7, em 2 de Julho


Há a oficialização da decisão
Com as conclusões desse Congresso no sentido da aprovação, a Direcção da Federação Portuguesa de Futebol oficializou a decisão no Artigo 6.º - Provas do «Relatório e Contas da Época de 1938/39». Ficou para sempre decidido que o Campeonato da I Liga continuaria como Campeonato Nacional da I Divisão; o Campeonato da II liga como Campeonato Nacional da II Divisão; e o Campeonato de Portugal como Taça de Portugal. Esta decisão é irrevogável. Era-o em 1939/40, será muito menos quanto mais anos passarem. Por respeito a quem as tomou. Cada um pode ter a opinião que quiser e puder ter. O preto-no-branco (como se diz) é inequívoco e não pode ser cumprido a 50 por cento (só para a designação das "Ligas" a "Nacionais"; até é mais a 67 por cento (I e II Liga a Nacionais da I e II Divisão) e não cumprir os outros 50 ou, com mais rigor, 33 por cento: designar o «campeonato de Portugal» como «Taça de Portugal». Alterar o que foi decidido no Congresso em Outubro de 1938 e convertido no artigo 6.º do Relatório da FPF (mesmo que metade) é pura e simplesmente revisionismo e traição aos que, em 1938, decidiram que assim fosse e tinham legitimidade para o fazer, pois eram a Direcção da FPF. Colocar a decisão num documento oficial da FPF não é apenas uma, ou mais uma... opinião! É um facto. E contra factos não há argumentos...

Relatório e Contas da Época de 1938/39; páginas 6 e 7; Federação Portuguesa de Futebol


Só se pode comparar o que é comparável

A estrutura e espírito do campeonato de Portugal e da Taça de Portugal eram completamente iguais. Sem tirar nem pôr! O futebol é que mudou, não foi a essência da competição disputada por eliminatórias. A Taça de Portugal em 2020/21 é muito diferente do Campeonato de Portugal de 1921/22? Pois é! Tal como o Campeonato de Portugal em 1937/38 (17.ª edição) já era muito diferente da edição inicial, apenas disputada com dois clubes: FC Porto (campeão regional da AF Porto) e Sporting CP (campeão regional da AF Lisboa). Tal como o campeonato nacional, em 2020/2021 (34 jornadas) é muito diferente dos campeonatos da I Liga (depois I Divisão) - inicialmente com 14 jornadas - e sem promoções e despromoções. Até 1946/47 os clubes apuravam-se para os quatro campeonatos da I/II Liga e depois para os Campeonatos Nacionais da I/II Divisão através das classificações obtidas nos campeonatos regionais que tinham de estar concluídos até 31 de Dezembro de cada temporada.  

A prova de que campeonato de Portugal e Taça de Portugal são uma e a mesma competição (por isso os dirigentes da FPF em 1938 estiveram certos e devem ser respeitados por serem honestos). 

Apuramento dos 15 Clubes a participar no Campeonato de Portugal e depois na Taça de Portugal

1937/38
(17.º e último CP)
1938/39
(1.ª TP)
1.º da I Liga/
I Divisão
SL BENFICA     
FC Porto

2.º da I Liga/
I Divisão
FC Porto
Sporting CP
3.º da I Liga/
I Divisão
Sporting CP  
(vencedor)  
SL BENFICA
4.º da I Liga /
I Divisão
Carcavelinhos FC
CF “Os Belenenses”
5.º da I Liga /
I Divisão
CF “Os Belenenses”
Ass.  Académica
Coimbra (vencedor)
6.º da I Liga /
I Divisão
As. Académica Coimbra
FC Barreirense
7.º da I Liga /
I Divisão
FC Barreirense
Académico FC
(Porto)
8.º da I Liga /
I Divisão
Académico FC
(Porto)
Casa Pia AC
1.º da II Liga /
II Divisão
Leixões SC
Carcavelinhos FC
2.º da II Liga/
II Divisão
União Futebol de
Lisboa       
SC Covilhã
2.º da Zona Norte II Liga / II Divisão
Boavista FC
Vitória SC
(Guimarães)
2.º da Zona Sul II Liga/ II Divisão 
Vitória FC (Setúbal)
SC Farense

3.º da Zona Norte II Liga / II Divisão
CA Marinhense
Vila Real SC
3.º da Zona Sul II Liga/ II Divisão
Marvilense FC
Luso SC (Beja)
Representante Insular      
CS Marítimo
(Funchal)
CD Nacional
(Madeira)
NOTA: Na 1.ª eliminatória jogaram-se sete jogos, para de 14 clubes apurar sete. Na 2.ª eliminatória juntava-se o "representante insular" - permitindo emparelhar oito emblemas - para nesses quartos-de-final apurar os quatro semifinalistasExactamente a mesma forma de apuramento e estrutura de competição apesar de ter alterado a designação de campeonato de Portugal para Taça de Portugal!

 

Embora aguarde as decisões caricatas que estão a ser engendradas na dita comissão e depois numa assembleia geral que se verá a vergonha que terá ou não!

Este blogue continuará a honrar o que o «Congresso do Futebol» decidiu, em 1938, a Federação fez publicar no seu «Relatório e Contas da Época de 1938/39» tal como toda a Imprensa seguiu e rejubilou ficando escrito nos respectivos jornais. 


Em 1938, porque foi quando se decidiu que o «Campeonato de Portugal» passaria a ser, correctamente designado, como «Taça de Portugal» 

Apesar de Ricardo Ornelas (ou do linotipista que compôs o texto na tipografia!) ter trocado 1938-39 por 1939-40 a segunda frase, curta e certeira, diz tudo! Retirada do seu livro de 1950 "Números e Nomes do Futebol Português"


Aquilo que na época foi considerado normal e bem-vindo, pois há muito que os jornalistas reclamavam da existência de competições mal designadas, em 2021 - 83 anos depois - é motivo de uma controvérsia sem nexo e absurda.


Quem ler os jornais de 1938 ou 1939 percebe que a alteração do nome da competição não causou controvérsia nem desconfiança. Antes pelo contrário. Nesses anos foi vista como a reposição da verdade. O «Campeonato de Portugal» nunca fora um campeonato mas sim uma Taça a eliminar. E os jornalistas que há anos mostravam (escreviam) a sua indignação perante tão grande incongruência finalmente viam reconhecida como justa a sua indignação.

Para não ser exaustivo colocando aqui listas atrás de listas de vencedores que são exactamente iguais deixo exemplos retirados de vários jornais. São oito, mas podiam ser vinte! A multiplicar por uma trintena de anos depois de 1938!

"Sporting"

Para o histórico jornal desportivo portuense (depois desta notícia digitalizada a minha homenagem) em 1940 continuava tudo em ordem "o Quadro de Honra da Taça, antigo Campeonato de Portugal ":

 


Um jornal (em forma de revista/pequena dimensão) histórico e importante, até fundamental, para conhecer a História do Futebol em Portugal e ratificar - comparando com os de Lisboa - os jogos do "Glorioso" na cidade do Porto. A minha homenagem neste blogue, publicando a digitalização da ficha dele que fiz aquando da pesquisa dos jogos do Benfica, em finais dos anos 80, na BNP (Biblioteca Nacional).


(clicar sobre a digitalização para obter melhor visualização)



"Os Sports"

Em 1939, o início de um magnífico texto daquele que é, para mim, o melhor jornalista desportivo de sempre, Ricardo Ornelas. E li reportagens acerca de desporto desde o século XIX. Rigoroso, combatente, por isso de causas (entre elas, a má designação das competições desde 1921/22 e até 1934/35 a inexistência de um verdadeiro campeonato nacional em Portugal), publicou muito (mesmo livros) tudo bem feito e com valor fidedigno. A frase à Ornelas (sucinta, exacta e certeira) diz tudo: «"Taça de Portugal" sucedânea directíssima do "campeonato de Portugal"». Repito o inequívoco termo ornelianodirectíssima! Tudo dito!


(clicar sobre a digitalização para obter melhor visualização)



"Diário de Lisboa" 


Em 1944, António Ribeiro dos Reis que tinha uma vida de jornalista e de Benfiquista (sucedeu a Cosme Damião como capitão-geral em 1926) a "lutar" contra a má designação da competição não deixa margem para dúvidas nas páginas do jornal "Diário de Lisboa". Que até pode ser lido na "rede global" (clicar).



"Norte Desportivo" 

Em 1939, o jornal desportivo da cidade do Porto era inequívoco "rejubilando" tal como a Imprensa da época com o facto de finalmente se dar os nomes correctos ao formato das duas competições, designando-as como sempre deveriam estar designadas! 




"Mundo Desportivo"

Em 1948, na continuação de "Os Sports" já com o nome aportuguesado para "Mundo Desportivo" na crónica de Alberto Freitas não se fazia distinção pois a competição era a mesma. Escreveu acerca da final de 1948 recordando as anteriores finais entre os dois clubes, em 1933, 1936 e 1941. Em 1948 foi a quarta vez que se encontraram na final da competição. Tudo normal, pois "anormal" seria separar o que a FPF decidiu, em 1938. Alterar apenas a designação e não criar uma nova competição.

(clicar sobre a digitalização para obter melhor visualização)


Jornal "Mundo Desportivo"; 2 de Julho de 1948; Páginas 6 e 7 (excertos)

"O Século"

Em 1939 (19 de Junho), na crónica de "O Século", Cândido de Oliveira é explicito. A equipa da Associação Académica de Coimbra estava pela segunda vez na final da "Taça de Portugal"! E quando foi a primeira? Em 1923, quando foi derrotada pelo Sporting CP, em Faro! Na segunda edição da competição ainda designada "campeonato de Portugal".



"A Bola"

Em 1945, no seu primeiro ano de existência, mas seria assim por muitos mais com os seus principais fundadores vivos - António Ribeiro dos Reis e Cândido de Oliveira - a listagem dos vencedores e vencidos não deixava margem para qualquer dúvida. Depois, algumas décadas a seguir, em "A Bola" decidiram fazer revisionismo! Mas ninguém pode "culpar" os fundadores do jornal de não saberem escrever e "falar" daquilo que conheciam. E de deturparem o significado das competições, ignorando o que se passara em 1938. Eles, tal como Ricardo Ornelas e Tavares da Silva, entre outros - tinham "obrigado" os poderes do futebol português a darem o nome certo às competições, em vez do "faz-de-conta-que-é"!


(clicar sobre a digitalização para obter melhor visualização)



Em 1953, como é evidente "A Bola" ainda não tinha feito revisionismo, pois Cândido de Oliveira faleceu em 1958 e Ribeiro dos Reis em 1961. Deixo mais uma digitalização (mas não devia, pois tecnicamente um blogue não suporta tanto "peso"). Podia deixar - em teoria...pela razão atrás apontada - uma centena de digitalizações de todos os jornais contemporâneos da alteração de 1938. E até mesmo "A Bola" que é posterior. É de 29 de Janeiro de 1945!

(clicar sobre a digitalização para obter melhor visualização)



"O Benfica"

Em 1944, o actual jornal desportivo mais antigo de Portugal sabia do que escrevia. Tinha assistido à mudança de designação e ao porquê da mesma.



A FPF em  1934 (ao criar os campeonatos da I e II Liga)

Tal como em 1938/39 ao alterar a designação das competições, nem sequer fez nada de original. Limitou-se a copiar o que fizera a sua congénere de Espanha quando em 1928/29 decidiu criar o campeonato nacional (Liga de Espanha) e considerar a Taça de Espanha sucessora do Campeonato de Espanha (desde 1902/03 até 1927/28) pois este também era disputado por eliminatórias (clicar).


Que Fernando Gomes assuma a traição aos dirigentes de 1938/39 e deixe de se refugiar em comissões e assembleias gerais. Se o quiser fazer o melhor é equipar-se:



Alberto Miguéns

8 comentários
  1. Ele não vem de um clube que, num ano festejava 80 anos de existência e no ano seguinte, em vez de 81 comemoraram 93?? Se falsificaram a própria história qual a dificuldade de falsificarem a dos outros?? Felizmente ainda há pessoas atentas como o Sr Alberto que vão desmontando estaa farsas com provas. É pena ninguém na comunicação social ter a coragem de "chamar os boispelos cornos"
    Saudações Benfiquistas

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  2. Esta FPF só se interessa pelas Selecções. Em tudo o resto em que deveria ter um papel activo e decisor no futebol nacional chuta para canto! Como é possível alguém que esteve no apito dourado ser o responsável máximo da FPF e com o "nosso" apoio?!?
    Vergonhoso!

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  3. Dr. Alberto,pedimos-lhe que envie tudo isto -que publicou hoje- para a FPF, para a Liga, para o Benfica, para o canal 11, etc.
    O Pilatos terá de ter isto em atenção...
    Deus nos ajude...

    Saudações gloriosas,
    Ricardo,das Terras de Besteiros

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  4. Não há um jornalista que pegue neste trabalho e o coloque em evidência?

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  5. Vivemos um tempo em que muita gente se arroga ao direito de reinventar a História. Negam as evidências, desprezam as provas, pisam a honra e a obra dos que os antecederam. Sem escrúpulos, sem decência ou coragem.

    As evidências que o Alberto apresentam são esmagadoras.

    Pilatos não foi neutro. Pilatos foi cobarde. Pilatos condenou-se na História. Pilatos condenou-nos a todos. Para sempre.

    Haja decência!

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  6. Pois o Entrudo já acabou mas a vergonha não, este senhor é o mesmo que limpou o seu clube de uma condenação que estava mais que Ade coada e certa, daqui a dias vau reclamar dos seis pontos para poderem ganhar mais um campeonato, é gente desta que não me deixa surpreendido, mas com a certeza que os cargos lhe dão poder para limparem o que nao lhe agrade.

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  7. Caro Sr. Alberto Miguéns...Mais uma vez, muitos Parabéns por este seu artigo...Demonstra que não podemos reescrever a História só porque nos convêm num determinado momento...Este assunto nem deveria ser levado em conta, quanto mais ser apreciado numa Assembleia Geral de uma Federação que superintende uma modalidade,é um chamado NÃO ASSUNTO...Esse Senhor e a sua estrutura federativa que se preocupem com os casos que ensombram actualmente o Futebol Português - Nomeações rigorosas e competentes de Árbitros em todas as competições futebolísticas, verificar e denunciar, seja o clube que estiver em causa e as relações promíscuas e misteriosas entre empresários e clubes.Esses Senhores da FPF que tenham juízo!!!!! Um Abraço Glorioso.

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  8. Caro Alberto,
    mas onde está a dúvida? a documentação(pública) q apresenta n é suficiente? Haverá alguma documentação q n é apresentada pela Federação/Liga? até entendo q existam problemas de interpretação em algumas regras ou leis... mas neste caso é tão claro e simples. Será mais uma trafulhice feita às claras? Como é fácil aldrabar a história.
    Cumprimentos

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