Em 8 de Agosto de 1964, bem depois de “saborear” o
Bicampeonato Europeu, em 1960/61 e 1961/62, partiu para o «Quarto Anel» um dos
pioneiros do Futebol em Portugal e do «Glorioso». Não foi «Fundador», em 28 de
Fevereiro de 1904, certamente por viver longe de Belém e não estar nesse
domingo em Belém.
Casapiano
“bom de bola”
David José da Fonseca nasceu em Lisboa, a 27 de Junho de 1879
na freguesia de Santa Isabel, em Lisboa. Aos sete ou oito anos, em 1887, foi
admitido na Real Casa Pia de Lisboa onde fez os estudos e formação cívica e
física, saindo da instituição, aos 19 ou 20 anos, em 1899, depois de concluir o
“Curso de Encadernação», na Escola Industrial Marquês de Pombal, então
instalada na rua de Alcântara próximo da Casa Pia, no Restelo.
«Futeboladas»
casapianas
Foi um dos casapianos que formou equipas célebres em valor e
abnegação, tal como em 22 de Janeiro de 1898 quando foram a Carcavelos, à
Quinta Nova, derrotar por 2-0, os «mestres ingleses do Cabo Submarino» como
lhes chamava Cosme Damião. David José da Fonseca tinha 18 anos e daí a um ano
deixaria a Instituição Casapiana. Como muitos ex-alunos depois de deixarem as
instalações da Casa Pia de Lisboa continuou a jogar em equipas episódicas que
se formavam e terminavam ao ritmo dos desafios que lançavam para jogar futebol.
É provável que tenha pertencido à «Associação do Bem». A Fundação do «Glorioso»
surge, em grande parte, para dar continuidade a um clube que mesmo “só com
portugueses” (tal como era o grupo escolar da Casa Pia) conseguisse derrotar
outros clubes mesmo que jogassem com ingleses ou fossem só de ingleses.
Estreia no
Grupo Sport Lisboa
David José da Fonseca estreou-se na segunda temporada
(1905/06) em 28 de Janeiro de 1906, jogando como meia-ponta-direita frente ao
Internacional/CIF, numa vitória por 2-1, nas Terras do Desembargador, às
Salésias de Belém. Tinha 25 anos. É titular indiscutível da primeira categoria
na temporada seguinte (1906/07) a da «Gloriosíssima» vitória, por 2-1, na
Quinta Nova. O Carcavellos Club estava invencível desde o tal dia 22 de Janeiro
de 1898, ou seja, há nove anos. Pelo Sport Lisboa, neste memorável 10 de
Fevereiro de 1907, alinharam quatro dos casapianos de 1898: Emílio de Carvalho,
António Couto, Daniel Queirós dos Santos e David José da Fonseca.
Em 1907/08
Quando se pensava que o Sport Lisboa estava em desagregação e
desapareceria comprometeu-se com um dos mais importantes clubes da época, o
Grupo Football Cruz Negra, que jogava no Largo da Luz, então um terreiro onde
se realizava a «Feira da Luz». A curiosidade é que David José da Fonseca um
dia, muitos anos mais tarde, em 1 de Dezembro de 1954, viu o seu Benfica
inaugurar um estádio a menos de 50 metros do local onde jogou uma temporada
pelo facto do seu Clube estar em desagregação, em Belém, por não ter um campo
privativo, mas jogar em terrenos públicos. Se no Verão de 1907, muitos
futebolistas rumaram ao Sporting CP, o certo é que David José da Fonseca não
foi para esse clube, ingressando no «Cruz Negra». Talvez um dia se saiba
porquê! Ainda no final de 1907/08 regressou ao Clube (que não se desagregara)
com Henrique Costa (este “amnistiado” apesar de jogar no Sporting CP durante
essa temporada por ter testemunhas que tinha dado a palavra a José de Alvalade,
quando pensava que o Sport Lisboa seria extinto, e não poder voltar atrás –
perante a recusa do Sporting CP em “libertá-lo” a bem - quando se apercebeu que
o Sport Lisboa continuaria).
1908/09 a
1910/11
Com duas épocas – 1908/09 e 1909/10 - em grande, geralmente a
jogar como ponta-esquerda David Fonseca é um dos mais utilizados nos escassos
jogos que se realizavam. Em 1909/10 sagra-se como Campeão Regional de Lisboa no
primeiro título oficial "absoluto" do Clube. No início da temporada de 1910/11, em 23 de
Outubro de 1910, num jogo particular de “pré-época” faz o derradeiro encontro
pela primeira categoria, num “escandaloso” empate sem golos, frente ao Sport
União Belenense, na Quinta da Feiteira, em Benfica. Foram 14 jogos (1 170 minutos) com um golo marcado.
1910/11 a
1912/13
Aos 31 anos, veterano e sem ter tempo para manter a “forma
apurada”, ocupado profissional e particular, continuou a jogar no Benfica,
ainda que na segunda categoria, pois era um dos imprescindíveis para Cosme
Damião. Sagrou-se Campeão Regional pela segunda categoria, em 1910/11 e 1912/13.
O «elevador”
Benfiquista À Cosme
Para o capitão-geral Cosme Damião havia futebolistas que eram fundamentais manterem-se muitas épocas no Clube ascendendo até à primeira categoria e depois, com a veterania física e ocupação profissional e familiar absorventes, passarem de categoria em categoria até mesmo terminarem na terceira ou quarta. Eram estes "veteranos" que incutiam nos novatos o que era jogar À Benfica e mostrar que tinham que mostrar valor individual e colectivo bem como aptidão pessoal para poderem representar o Clube. E ao chegar à primeira categoria, onde poucos tinham lugar, "honrar os ases que anteriormente tinham honrado o Clube" como definiu na perfeição - na letra do Hino do Clube - um desses veteranos que se iniciou na 2.ª categoria, foi capitão na primeira e acabou a jogar na quarta categoria: Félix Bermudes. Pois David José da Fonseca tinha a mesma têmpera.
Uma vida de
Benfiquismo
David Fonseca foi daqueles futebolistas que depois de jogar, da glória e das luzes da ribalta, de ser ídolo, conhecido em meia-Lisboa e reconhecido na Imprensa soube depois ser um pacato adepto ocupando o seu lugar na bancada tendo a seu lado outros Benfiquistas que nem sonhavam, nem sabiam que ele era o DAVID JOSÉ DA FONSECA que tantas alegrias lhes tinha dado ou, para os mais novos, que os pais e tios lhes tinham contado. Do estrelato para o anonimato sem querer mais do que um balcão para ter as quotas de associado em dia e um lugar no Estádio para ver o «Glorioso». Eis David José da Fonseca contado por quem o conheceu muito bem, Joaquim Macarrão.
No Restaurante "Bacalhau" para lá das Portas de Benfica
Uma excelente fotografia, obtida em 31 de Julho de 1910, expondo os primeiros troféus do Clube, com David José da Fonseca equipado À Benfica entre outros futebolistas e dirigentes. Uma gesta de grande valor que fez do Benfica o mais bem sucedido e popular clube português. Depois deles é "não estragar"!
Faleceu há
55 anos
Depois de uma vida a acompanhar o Clube durante... 60 anos, entre 1904 e 1964! Passa hoje uma efeméride que será eterna enquanto eterno é o Benfica. Um dos maiores entre todos nós!
Obrigado,
David!
Alberto
Miguéns
Que fotografia espectacular, essa de 1910. Os nossos ases do passado.
ResponderEliminarSaudações Gloriosíssimas.
Casapiano de boa cêpa. O seu pai foi sineiro na Igreja de São Roque. Esteve entre os Gloriosos pioneiros que venceram o Carcavellos Club e que tanto honraram o manto sagrado nos tempos das Salésias, da Feiteira e da Quinta Nova em Carcavelos. Nome gigante da nossa História inicial. É muito mais do que uma figura simpática e o dono de uma enorme bigodaça. David José Fonseca foi um dos homens que semeou a Mística. Um dos grandes. Um dos inesquecíveis.
ResponderEliminarEsses cartões de jogador são espectaculares!
Espero que David José da Fonseca tenha ainda tido saúde e lucidez para ver e celebrar a conquista das duas Taças dos Campeões Europeus. Bem merecia.
Magnífica e justíssima evocação. Obrigado.