UMA ENTREVISTA EM 1950 DAQUELE QUE É,
PROVAVELMENTE, O GUARDA-REDES MAIS NOVO A ESTREAR-SE COM O "MANTO
SAGRADO" NA GLORIOSA BALIZA.
Ouvi algumas histórias dele contadas por quem o conheceu enquanto
futebolista do Benfica (Perlico Dias) ou conviveu com ele (Guilherme Espírito
Santo e Joaquim Macarrão).
Vou contar
duas
Mas antes o mais importante. A entrevista publicada na página 6 e
9 do jornal "Record" n.º 11 em 4 de Fevereiro de 1950. É bom recordar
que aquando da publicação desta entrevista o Benfica não era campeão nacional
desde 1944/45 (1 de Abril de 1945) e ainda não tinha conquistado a Taça Latina
(18 de Junho de 1950).
Alberto Perlico Dias
Foi um associado dedicado ao clube. Ele começou por ser do União
Futebol Lisboa (que juntamente com o Carcavelinhos FC deu origem ao actual Atlético
CP) onde jogou mas apaixonou-se pelo Benfica e inscreveu-se como associado
ainda jovem. Foi ele - por ser bancário numa dependência das Relações Internacionais
- que sabendo inglês foi a Inglaterra contratar um treinador inglês e trouxe
Ted Smith que à chegada causou uma história hilariante mas fica para outro dia
para não misturar o que não deve estar misturado. Foi a única pessoa que
conheci e com quem falei acerca de Artur Dyson que o viu jogar com o
"Manto Sagrado".
Joaquim
José Macarrão
Antigo futebolista e dedicado funcionário sabia milhares de
histórias envolvendo sócios, atletas de todas as modalidades e dirigentes. Até
de outros clubes. Só as histórias contadas pelo Macarrão davam para fazer 500
Vitórias e Património. Gostava de contar as histórias, mas era cuidadoso
graduando-as à medida do interlocutor. Com apenas a 4.ª classe (em
Lagos) e tentativa de prosseguir os estudos no 5.º ano (em Lisboa, creio que na
Escola Industrial Afonso Domingues) era um Doutor. Na Vida e no Benfica. Um
Enorme Benfiquista (se houvesse Benficómetro). Um dos Melhores de Todos Nós!
Guilherme Espírito Santo
Foi colega (na selecção nacional) e adversário do guarda-redes.
Reservado como sempre pouco consegui saber de Dyson, mas riu-se com as
histórias contadas por Perlico Dias e Macarrão, anuindo com a cabeça.
Olhem que trio no Relatório e Contas do SLB em 1994! |
O trio reunido na "Saudosa Catedral"
A mais completa história que ouvi acerca de Dyson foi num dia em
que estava eu e o trio que descrevi. Falou-se da atitude e personalidade de
Dyson que provocou a sua saída do "Glorioso". Perlico Dias avançou e
Macarrão deu os pormenores. Dyson era um pantomineiro (Perlico Dias dixit)
e o sucesso subiu-lhe à cabeça quando foi considerado um dos pilares do Bicampeonato
de Portugal. O Glorioso Guarda-redes tinha 19 anos, cinco meses e 19 dias, em
28 de Junho de 1931 quando o Benfica derrotou, por 3-0, o FC Porto, em Coimbra.
No Verão desse ano de 1931, Dyson chegou junto dos dirigentes do Benfica
dizendo que ia jogar para o Sporting CP por que estes tinham-lhe dado um terno
(calças, colete e casaco) e luvas. Ribeiro dos Reis soube e chamou-o ao
gabinete onde estava um terno, um cinto, uma gravata, um lenço e umas luvas,
dizendo que o Benfica oferecia-lhe mais que o SCP. Artur Dyson foi buscar as
luvas, abriu-as e disse que estavam vazias! Ribeiro dos Reis respondeu-lhe que
no Benfica só havia luvas daquelas. As adequadas para um guarda-redes usar e
fazer boas defesas! Artur Dyson foi para o Sporting CP!
Na sua
vivenda, na Costa da Caparica, Perlico Dias contou outra história
Num dos primeiros jogos - embora eu nunca tenha "encalhado"
com esta história, mas também nunca fiz uma pesquisa exaustiva - de Dyson pelo
Sporting CP, no nosso estádio das Amoreiras, o guarda-redes entrou em campo com uma
cinta vermelha (tipo campino) para espanto de todos - público e ex-colegas de
equipa - irritando, particularmente, Vítor Silva que até era um futebolista
calmo e ponderado. Numa jogada no decorrer do encontro, Vítor Silva (com "ela
fisgada") isola-se, dá um nó no Dyson, coloca-o deitado no pelado e corre para a
baliza. Na linha de golo coloca a bola em cima desta e senta-se. E chama Dyson
que não vai. Nem os outros defesas do Sporting CP. Tudo parado até que o
capitão do Benfica (ou um dos mais antigos no plantel) segreda-lhe algo ao ouvido. Vítor Silva faz com que ao levantar-se
a bola role para dentro da baliza. Quando os colegas e adeptos perguntaram ao
nosso Glorioso Avançado-centro porque tinha feito aquilo, pois nem era nada uma
"atitude à Vítor Silva" este respondeu: «Mas quem é ele para vir para
aqui tourear-nos!»
Enorme Dyson. A idade (19 anos-e-meio, no Verão de 1931) não perdoou. O tempo, sim!
Alberto Miguéns
É com este tipo de histórias que se compreende melhor a personalidade dos homens. Histórias deste tipo são raras mas muito saborosas e instrutivas de ouvir. Assim conseguimos colocar cores em grandes figuras Benfiquistas às quais conseguimos associar algumas das grandes contribuições para o SLB mas das quais conhecemos pouco do seu pensamento enquanto dirigentes e/ou atletas Benfiquistas. É esse o caso de Ribeiro dos Reis. Excelente a forma como lidou com Dyson na questão das luvas (1ª história). E isto mesmo pensando que o mesmo Ribeiro dos Reis foi um dos principais homens que fez a ruptura com o modelos mais radical de Cosme Damião que recusava a contratação (com dinheiro e presumo também com ternos) de jogadores. Brilhante e adequado perante um garoto de 19 anos que mostrou não ter personalidade para jogar no SLB.
ResponderEliminarE o detalhe de Vítor Silva na segunda história... Alguém de verde ouviu "olé"! Hilariante.
Obrigado por me fazer sorrir antes de ir dormir!