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17 outubro 2017

Artur Dyson Em Discurso Directo

17 outubro 2017 1 Comentários
UMA ENTREVISTA EM 1950 DAQUELE QUE É, PROVAVELMENTE, O GUARDA-REDES MAIS NOVO A ESTREAR-SE COM O "MANTO SAGRADO" NA GLORIOSA BALIZA.


Ouvi algumas histórias dele contadas por quem o conheceu enquanto futebolista do Benfica (Perlico Dias) ou conviveu com ele (Guilherme Espírito Santo e Joaquim Macarrão).

Vou contar duas
Mas antes o mais importante. A entrevista publicada na página 6 e 9 do jornal "Record" n.º 11 em 4 de Fevereiro de 1950. É bom recordar que aquando da publicação desta entrevista o Benfica não era campeão nacional desde 1944/45 (1 de Abril de 1945) e ainda não tinha conquistado a Taça Latina (18 de Junho de 1950).



Alberto Perlico Dias
Foi um associado dedicado ao clube. Ele começou por ser do União Futebol Lisboa (que juntamente com o Carcavelinhos FC deu origem ao actual Atlético CP) onde jogou mas apaixonou-se pelo Benfica e inscreveu-se como associado ainda jovem. Foi ele - por ser bancário numa dependência das Relações Internacionais - que sabendo inglês foi a Inglaterra contratar um treinador inglês e trouxe Ted Smith que à chegada causou uma história hilariante mas fica para outro dia para não misturar o que não deve estar misturado. Foi a única pessoa que conheci e com quem falei acerca de Artur Dyson que o viu jogar com o "Manto Sagrado".

Joaquim José Macarrão
Antigo futebolista e dedicado funcionário sabia milhares de histórias envolvendo sócios, atletas de todas as modalidades e dirigentes. Até de outros clubes. Só as histórias contadas pelo Macarrão davam para fazer 500 Vitórias e Património. Gostava de contar as histórias, mas era cuidadoso graduando-as à medida do interlocutor. Com apenas a 4.ª classe (em Lagos) e tentativa de prosseguir os estudos no 5.º ano (em Lisboa, creio que na Escola Industrial Afonso Domingues) era um Doutor. Na Vida e no Benfica. Um Enorme Benfiquista (se houvesse Benficómetro). Um dos Melhores de Todos Nós!

Em 28 de Novembro de 1937, a 36.ª selecção nacional, no XIII Espanha/Portugal, em Vigo (estádio dos Balaídos), na primeira vitória da selecção portuguesa (2-1) sobre a selecção espanhola, que talvez não fosse, pois era mais a selecção franquista devido à Guerra Civil. A FIFA não reconhece este jogo mas para a FPF e para a Imprensa portuguesa (uma espécie de massa associativa da selecção) conta tudo e mais alguma coisa... Em baixo, à esquerda, Artur Dyson (suplente não utilizado) e à direita Guilherme Espírito Santo (estreia na selecção, aos 18 anos e 29 dias)

Guilherme Espírito Santo
Foi colega (na selecção nacional) e adversário do guarda-redes. Reservado como sempre pouco consegui saber de Dyson, mas riu-se com as histórias contadas por Perlico Dias e Macarrão, anuindo com a cabeça.


Olhem que trio no Relatório e Contas do SLB em 1994!

O trio reunido na "Saudosa Catedral"
A mais completa história que ouvi acerca de Dyson foi num dia em que estava eu e o trio que descrevi. Falou-se da atitude e personalidade de Dyson que provocou a sua saída do "Glorioso". Perlico Dias avançou e Macarrão deu os pormenores. Dyson era um pantomineiro (Perlico Dias dixit) e o sucesso subiu-lhe à cabeça quando foi considerado um dos pilares do Bicampeonato de Portugal. O Glorioso Guarda-redes tinha 19 anos, cinco meses e 19 dias, em 28 de Junho de 1931 quando o Benfica derrotou, por 3-0, o FC Porto, em Coimbra. No Verão desse ano de 1931, Dyson chegou junto dos dirigentes do Benfica dizendo que ia jogar para o Sporting CP por que estes tinham-lhe dado um terno (calças, colete e casaco) e luvas. Ribeiro dos Reis soube e chamou-o ao gabinete onde estava um terno, um cinto, uma gravata, um lenço e umas luvas, dizendo que o Benfica oferecia-lhe mais que o SCP. Artur Dyson foi buscar as luvas, abriu-as e disse que estavam vazias! Ribeiro dos Reis respondeu-lhe que no Benfica só havia luvas daquelas. As adequadas para um guarda-redes usar e fazer boas defesas! Artur Dyson foi para o Sporting CP!

Campeonato de Portugal (1930/31). Equipa da final, em 28 de Junho de 1931, em Coimbra, no estádio do Arnado, propriedade do SC Conimbricense, numa vitória por 3-0, com a equipa treinada por António Ribeiro dos Reis, frente ao FC Porto: Artur Dyson; Ralf Bailão e Luís Costa; João Correia, Aníbal José e Pedro Ferreira; Augusto Dinis (1 golo), Emiliano Sampaio, Vítor Silva (capitão, 2 golos), João Oliveira e Manuel Oliveira

Na sua vivenda, na Costa da Caparica, Perlico Dias contou outra história
Num dos primeiros jogos - embora eu nunca tenha "encalhado" com esta história, mas também nunca fiz uma pesquisa exaustiva - de Dyson pelo Sporting CP, no nosso estádio das Amoreiras, o guarda-redes entrou em campo com uma cinta vermelha (tipo campino) para espanto de todos - público e ex-colegas de equipa - irritando, particularmente, Vítor Silva que até era um futebolista calmo e ponderado. Numa jogada no decorrer do encontro, Vítor Silva (com "ela fisgada") isola-se, dá um nó no Dyson, coloca-o deitado no pelado e corre para a baliza. Na linha de golo coloca a bola em cima desta e senta-se. E chama Dyson que não vai. Nem os outros defesas do Sporting CP. Tudo parado até que o capitão do Benfica (ou um dos mais antigos no plantel) segreda-lhe algo ao ouvido. Vítor Silva faz com que ao levantar-se a bola role para dentro da baliza. Quando os colegas e adeptos perguntaram ao nosso Glorioso Avançado-centro porque tinha feito aquilo, pois nem era nada uma "atitude à Vítor Silva" este respondeu: «Mas quem é ele para vir para aqui tourear-nos!»



Enorme Dyson. A idade (19 anos-e-meio, no Verão de 1931) não perdoou. O tempo, sim!

Alberto Miguéns
1 comentários
  1. É com este tipo de histórias que se compreende melhor a personalidade dos homens. Histórias deste tipo são raras mas muito saborosas e instrutivas de ouvir. Assim conseguimos colocar cores em grandes figuras Benfiquistas às quais conseguimos associar algumas das grandes contribuições para o SLB mas das quais conhecemos pouco do seu pensamento enquanto dirigentes e/ou atletas Benfiquistas. É esse o caso de Ribeiro dos Reis. Excelente a forma como lidou com Dyson na questão das luvas (1ª história). E isto mesmo pensando que o mesmo Ribeiro dos Reis foi um dos principais homens que fez a ruptura com o modelos mais radical de Cosme Damião que recusava a contratação (com dinheiro e presumo também com ternos) de jogadores. Brilhante e adequado perante um garoto de 19 anos que mostrou não ter personalidade para jogar no SLB.

    E o detalhe de Vítor Silva na segunda história... Alguém de verde ouviu "olé"! Hilariante.

    Obrigado por me fazer sorrir antes de ir dormir!

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