20 novembro 2024

A "Dobradinha" em 1963/1964 (Parte III)

DEPOIS DE UM CAMPEONATO DE EXCELÊNCIA...


De cima para baixo. Da esquerda para a direita: Raúl (6), Cruz (4), Germano (3), Almirante Américo Tomás (Presidente da República), Coluna (5, capitão), Cavém (2) e Costa Pereira (1); Simões (8) (4-1), José Augusto (7) (1-0 e 2-0), José Torres (9) (6-2), Eusébio (10) (3-1) e Serafim (11) (5-2).

Uma Taça de Portugal irrepreensível derrotando na final, por 6-2, o FC Porto.

 

A Taça de Portugal continuava a manter a estrutura do Campeonato de Portugal (a alteração do nome datava do início de 1938/1939)

Com o número de clubes participantes a aumentarem, desde os Anos 40, houve que colocar as primeiras eliminatórias numa fase precoce da época. Do Campeonato de Portugal mantinham-se as eliminatórias a duas mãos e a competição ser disputada depois de terminados os campeonatos a pontuar, ou seja, a partir dos oitavos-de-final (que entre 1934/1935 e 1953/1954 correspondeu à primeira eliminatória). Esta estrutura da Taça de Portugal "empurrava" a decisão final para o mês de Julho, como foi nesta edição.



30.º CAMPEONATO NACIONAL 1963/1964

J

RES

S

Adversário

FCP

SCP

VSC

Taça de Portugal: 1/32; duas mãos

Taça de Portugal: 1/16; duas mãos

01

V 5-2

C

Vitória FC Setúbal

=

+ 1

+ 1

02

V 3-0

F

SC Olhanense

+ 1

+ 1

+ 1

03

V 3-2

F

Seixal FC

+ 1

+ 1

+ 1

04

V 3-0

C

Associação Académica Coimbra

+ 3

+ 3

+ 3

05

V 4-2

F

FC Barreirense

+ 3

+ 3

+ 3

06

E 2-2

C

FC Porto

+ 3

+ 3

+ 4

07

E 1-1

F

CF «Os Belenenses»

+ 3

+ 4

+ 3

Jogo em Dortmund (D 0-5) *

08

V 2-1

C

Vitória SC Guimarães

+ 3

+ 4

+ 5

09

D 1-3

F

Sporting CP

+ 1

+ 2

+ 3

10

V 2-0

C

Lusitano GC Évora

+ 1

+ 2

+ 3

11

V 3-0

F

GD C.U.F. Barreiro

+ 2

+ 2

+ 4

12

V 7-0

C

Leixões SC

+ 2

+ 4

+ 4

13

V 2-0

F

Varzim SC

+ 2

+ 4

+ 4

14

V 4-2

F

Vitória FC Setúbal

+ 4

+ 4

+ 6

15

V 8-1

C

SC Olhanense

+ 4

+ 4

+ 6

16

V 10-0

C

Seixal FC

+ 4

+ 5

+ 8

17

V 5-1

F

Associação Académica Coimbra

+ 4

+ 6

+ 8

18

V 8-0

C

FC Barreirense

+ 5

+ 7

+ 8

19

E 1-1

F

FC Porto

+ 5

+ 6

+ 7

20

V 5-2

C

CF «Os Belenenses»

+ 5

+ 6

+ 9

21

V 4-1

F

Vitória SC Guimarães

+ 5

+ 7

+ 11

22

E 2-2

C

Sporting CP

+ 4

+ 7

+ 10

23

V 3-1

F

Lusitano GC Évora

+ 5

+ 7

+ 10

24

V 2-1

C

GD C.U.F. Barreiro

+ 5

+ 9

+ 12

25

V 5-1

F

Leixões SC

+ 6

+ 10

+ 12

26

V 8-0

C

Varzim SC

+ 6

+ 12

+ 12

Taça de Portugal: 1/8; duas mãos

Taça de Portugal: 1/4; duas mãos

Taça de Portugal: 1/2; duas mãos

Taça de Portugal: final

NOTAS: O Benfica sagrou-se campeão nacional na 24.ª jornada; o CF "Os Belenenses" esteve empatado na liderança com o Benfica na 1.ª jornada (2 pontos), 6.ª (11 pontos), 7.ª (12 pontos) e 9.ª jornada (14 pontos); * o Benfica jogou sem seis titulares facto que afectou, também, a equipa nas 6.ª e 7.ªs jornadas, embora com menos titulares "em falta"



Nestas questões abundantes na História do Futebol...

Os mais "perigosos" não são os mentirosos. São os que sabem a verdade e a ignoram para fazerem dos outros - leitores que deviam respeitar - ignorantes ou mal informados, como é o "caso" dos dois autores, um portista e outro sportinguista, que negam a informação correcta, necessária e merecedora aos seus leitores que lhes compram o livro.



O Campeonato de Portugal é exactamente igual à Taça de Portugal

As duas competições - Campeonato de Portugal e Taça de Portugal - seguem, em 2024/2025, a 102.ª edição com muitas formas de apuramento dos clubes a participar. Quer enquanto campeonato de Portugal ou Taça de Portugal, com a curiosidade da última época como campeonato de Portugal (1937/38) e primeira como Taça de Portugal (1938/39) terem EXACTAMENTE a mesma forma de apuramento.

A prova de que campeonato de Portugal e Taça de Portugal são uma e a mesma competição (por isso os dirigentes da FPF em 1938 estiveram certos e devem ser respeitados por serem honestos. O que de outros na actualidade já não podemos dizer o mesmo):

Apuramento dos 15 clubes a participar no Campeonato de Portugal e depois na Taça de Portugal

1937/38
(17.º e último como CP)
1938/39
(1.ª como TP)
1.º da I Liga/
I Divisão
SL BENFICA     
FC Porto

2.º da I Liga/
I Divisão
FC Porto
Sporting CP
3.º da I Liga/
I Divisão
Sporting CP    
SL BENFICA
4.º da I Liga /
I Divisão
Carcavelinhos FC
CF “Os Belenenses”
5.º da I Liga /
I Divisão
CF “Os Belenenses”
Ass.  Académica
Coimbra
6.º da I Liga /
I Divisão
As. Académica Coimbra
FC Barreirense
7.º da I Liga /
I Divisão
FC Barreirense
Académico FC
(Porto)
8.º da I Liga /
I Divisão
Académico FC
(Porto)
Casa Pia AC
1.º da II Liga /
II Divisão
Leixões SC
Carcavelinhos FC
2.º da II Liga/
II Divisão
União Futebol de
Lisboa       
SC Covilhã
2.º da Zona Norte II Liga / II Divisão
Boavista FC
Vitória SC
(Guimarães)
2.º da Zona Sul II Liga/ II Divisão 
Vitória FC (Setúbal)
SC Farense

3.º da Zona Norte II Liga / II Divisão
CA Marinhense
Vila Real SC
3.º da Zona Sul II Liga/ II Divisão
Marvilense FC
Luso SC (Beja)
Representante Insular      
CS Marítimo
(Funchal)
CD Nacional
(Madeira)
NOTA: Na 1.ª eliminatória jogaram-se sete jogos, para de 14 clubes apurar sete. Na 2.ª eliminatória juntava-se o "representante insular" - permitindo emparelhar oito emblemas - para nesses quartos-de-final apurar os quatro semifinalistasExactamente a mesma forma de apuramento e estrutura de competição apesar de ter alterado a designação de campeonato de Portugal para Taça de Portugal!

Tal como no Campeonato de Portugal que apenas alterou a designação e a estrutura manteve-se 100 por cento igual

O Campeonato Nacional da I Divisão (desde 1938/39 com esta designação) foi a continuação do Campeonato da I Liga (1934/35 a 1937/1938) alterou-se a designação, mas manteve-se exactamente a mesma estrutura.


Apuramento dos oito clubes a participar no Campeonato da I Liga e depois no Campeonato Nacional da I Divisão

NOTA

1937/38

(4.º e último como C.º I L)

1938/39

(Primeiro como C.º N. I D)

Campeão de Lisboa

Sporting CP

Sporting CP

2.º class. C. R. Lisboa

SL Benfica

CF «Os Belenenses»

3.º class. C. R. Lisboa

CF «Os Belenenses»

SL Benfica

4.º class. C. R. Lisboa

Carcavelinhos FC*

Casa Pia AC

Campeão do Porto

FC Porto

FC Porto

2.º class. C. R. Porto

Académico FC Porto

Académico FC Porto

Campeão de Setúbal

FC Barreirense

FC Barreirense

Campeão de Coimbra

Ass. Académica Coimbra

Ass. Académica Coimbra

NOTA: o escalonamento – 4 clubes de Lisboa, 2 do Porto, um de Setúbal e outro clube de Coimbra – foi a escolha resultante do número de vitórias dos clubes nos Campeonatos de Portugal, entre 1921/22 e 1933/34, pois em 1934/35 iniciou-se o campeonato a pontuar, em duas voltas, “todos contra todos” exactamente com a mesma distribuição de clubes por distrito. Em 1939/40 alterou-se de oito para dez, um alargamento forçado para permitir que o FC Porto (3.º classificado no C.º R. do Porto) não fosse jogar no Campeonato Nacional da II Divisão, mas na primeira. Os seus dirigentes conseguiram “convencer” a AF de Coimbra e a AF de Setúbal (para haver paridade entrou o 2.º classificado desta Associação Regional) ficando a AF de Lisboa isolada, com 1-3 em votação para o alargamento. Em 1941/42 voltaria a haver alargamento pelo mesmo motivo, mas a AF de Lisboa exigiu que o seu 5.º classificado entrasse para haver paridade; numa fusão, em 18 de Setembro de 1942, com o União Futebol de Lisboa deu origem ao Atlético CP, alterando completamente os equipamentos e emblema.


No tempo em que o FC Porto era respeitado pelo Povo Português. Quando jogavam bem e/ou os adversários mal ganhavam com mérito. Se o dia (tarde/noite) não corresse bem perdiam e bem... Depois chegaria o treiunador Pedroto e futebolistas como Rodolfo, Pepe, Octávio, Jorge Costa, Paulinho Santos, André ou Fernando Couto, por exemplo e arranjam maneira de vigarizar o Desportivismo e a cultura de saber ganhar e saber perder


O Benfica nesta edição da Taça de Portugal (aproveitando ter que jogar onze encontros) 

Foi arrasador marcando 56 golos para nove golos sofridos, em dez vitórias e um empate (Cavém e Serafim expulsos, aos 61 e 62 minutos). O Sporting CP foi eliminado em "campo neutro" no jogo de desempate pelo Vitória FC Setúbal. Este nos quartos-de-final foi afastado pelo CF "Os Belenenses" (D 1-2, em Setúbal e D 0-2, no estádio do Restelo) que nas meias-finais foi eliminado pelo Benfica.


Sabendo das dificuldades económicas do SC Lusitânia em viajar para jogar, na cidade do Porto, este não propôs fazer os dois jogos nos Açores como muitas vezes o Benfica propunha. Os dirigentes do FC Porto para prepararem melhor a final fizeram a proposta para o adversário desistir (o representante insular que só jogava nos quartos-de-final - foram a Lourenço Marques/Moçambique e meias-finais) dando como troca uma ida ao campo do SC Lusitânia para reverter a receita a favor do clube anfitrião. Passados 60 anos ainda devem estar à espera...


E pelo caminho, em 29 de Março de 1964, entre a 23.ª e 24.ª jornada

Na "Taça de Ouro da Imprensa", no estádio do Restelo, o «Glorioso» massacrou a equipa do Sporting CP, com uma vitória por 5-0, com 4-0 ao intervalo, numa exibição magistral (clicar) (clicar). Duas notas:

1. Augusto Silva (que jogou a interior-direito) conta que aquando do 5-0, aos 55 minutos, na comemoração do golo, o capitão Coluna pediu que não se marcassem mais golos, porque depois quem iria "pagar" o resultado perante os adeptos seria o seu amigo Hilário. Ainda faltavam 35 minutos para terminar o jogo;

2. A titulares na equipa adversária jogaram oito (oito!) futebolistas que conquistariam a Taça dos Clubes Vencedores das Taças, em 15 de Maio de 1964, ou seja, um mês e meio depois. Só Pedro Gomes, José Carlos e Osvaldo Silva não estiveram na equipa do Sporting CP que perdeu por 0-5, mas talvez entre os cerca de 30 mil espectadores!



Na final da Taça de Portugal, Lajos Czeizler foi genial

O Benfica só vencera o FC Porto (3-2) na Festa de Homenagem/ Despedida a José Águas, logo no dealbar da temporada. No campeonato nacional dois empates, um deles muito pela razia de lesões. O FC Porto era treinado por Otto Glória, uma Glória do Benfica, organizador (cabouqueiro) a par de Joaquim Ferreira Bogalho do Benfica Hegemónico, em Portugal (até aos Anos 80) e na Europa (anos 60). Pois Lajos Czeiler conhecendo bem o FC Porto e Otto Glória, reservou para o seu último jogo como treinador do «Glorioso» uma táctica genial.



Colocou em campo dois extremos-esquerdos, os melhores de Portuga: Simões e Serafim

Num tempo em que só se conhecia o "onze" quando as equipas entravam em campo, o capitão Coluna contou que os futebolistas do FC Porto ficaram pasmados e o defesa-direito (Festa) entrou em pânico, pois conhecia bem Simões (Campeão Europeu) e Serafim (que na temporada anterior foi seu colega de equipa). Se um já era difícil de parar... então dois! Coluna dizia que Otto Glória (responsável pela sua estreia, a par de Costa Pereira, em 1954/55, no Benfica) perguntou-lhe o que "era aquilo". Coluna disse-lhe que era um segredo do Mister guardado para este jogo! O que ninguém estava à espera era que o Benfica em vez de jogar com dois extremos-esquerdos jogasse com dois extremos-direitos: José Augusto e Simões. Este futebolista foi a surpresa passando da esquerda para a direita. Afinal quem iria sofrer era o defesa-esquerdo do FC Porto (Almeida). Além disso, Lajos Czeizler consciente do poderio do Benfica perante o FC Porto, jogou como antes da invenção do WM, com apenas dois defesas, Germano mais como médio-centro que defesa-central e Coluna a pautar o jogo. O FC Porto foi desfeito como um baralho de cartas. Ainda Otto Glória não percebera bem o que Lajos Czeizler pretendia e jé havia 2-0, aos 12 minutos! Coluna dizia que aos cinco (71 minutos) cansaram-se de marcar tanto golo! Mas depois José Torres que tanto jogara para os outros merecia, também, marcar. Táctica única, num jogo único. Seis-a-dois.


 

Continua...

 

Alberto Miguéns


1 comentário:

  1. Não foi caso único, esse jogo em que o Benfica se cansou de marcar golos ao rival. O que será caso único é o Benfica fazer isso comparativamente aos rivais... Foram seis, mas pelo que se lê e vê, poderiam ter sido bastantes mais. Um pouco como um jogo recente.

    A década de 60 foi mesmo brilhante entre as brilhantes. Em todas as décadas da sua história, o Glorioso tem dado grandes alegrias, mas naquela não foram somente as vitórias. Foi também a forma como se venceu e convenceu. Com brilho desportivo e elevação quer nas vitórias (muitas) quer nas derrotas (poucas).

    Atletas inesquecíveis, carregados de classe. Treinadores sabedores e ambiciosos. Dirigentes honrados e competentes. Adeptos que mais do que ninguém foram justamente caracterizados por Béla Guttmann, cidadão do mundo, globetrotter do futebol. Ele viu muito em muito lado. Ele comparou e soube elogiar a grande força do Sport Lisboa e Benfica: os adeptos. Saibamos nós, hoje, honrar os Ases-adeptos que nos honraram o passado.

    Viva o Benfica!

    ResponderEliminar