COM A CONQUISTA DO BICAMPEONATO EUROPEU AS PRIORIDADES DO BENFICA MODIFICARAM-SE.
Durante as temporadas seguintes, entrando mesmo pelo início dos Anos 80, foi mais importante conquistar a "Terceira" que conquistar mais um campeonato nacional. Até ao regresso de Béla Guttmann, em 1965/66, qualquer treinador que não conseguisse, no ano de estreia, essa "terceira conquista" não teria uma segunda oportunidade.
Lajos Czeizler sabia que era esse o motivo pelo qual foi contratado
As outras conquistas seriam secundárias. E o Benfica apetrechou o plantel para que tal fosse possível. A partir de 1963/1964 começou a crescer o número daqueles que diziam que o «Glorioso» tinha dois plantéis que se pudessem disputar o campeonato nacional, um seria campeão e outro ficaria nos cinco primeiros lugares, ou seja, entre o 2.º e o 5.º lugar. No início dos Anos 70 até se dizia e escrevia que o Benfica tinha três plantéis: um para ser campeão, outro para discutir o 2.º e o 3.º lugar e outro para se classificar, entre o 4.º e o 5.º lugar. Por exemplo, o Clube chegou a ter os cinco melhores avançados portugueses mas só podiam jogar três, pois com Jimmy Hagan a táctica era em 4.3.3 puro, ou seja, o último "3" com futebolistas que podiam revezar-se como pontas-de-lança. No início de 1963/1964, o treinador idealizou o plantel do seguinte modo, sempre conmvicto que poderia prever mudanças em função da táctica. As lesões nunca se prevêem embora se saiba que vão existir.
Nada ocorre por acaso
Não é dito e até muitas vezes escondido. O «Glorioso» era o clube com maior capacidade financeira, nos Anos 60 e 70, por três motivos:
1. Pelas digressões que realizava, por vezes mais do que uma, todas as temporadas cobrando mais - todos queriam ver Eusébio - que o Real Madrid CF (que já perdera os seus futebolistas mais mediáticos) e apenas superado pelo Santos FC/Pelé. Os restantes clubes portugueses, por exemplo, Sporting CP e FC Porto ninguém, no estrangeiro estava interessado em ver. Nem com estes clubes a "pagarem". Fugiam deles;
2. O Benfica tendo o maior estádio conseguia mais receitas, embora só em três jogos (em 13 jogos e depois em 15 jornadas), para o campeonato nacional. Além de ter mais associados;
3. Nas competições europeias, onde se pagava em todos os jogos, a diferença entre o Benfica e os outros era abissal. Entre 1955/56 e 1984/85 o Benfica realizou 71 encontros na «Saudosa Catedral» com 50 na Taça dos Clubes Campeões Europeus + 10 na Taça dos Clubes Vencedores das Taças + 11 na Taça das Cidades com Feiras/Taça UEFA. O Sporting CP realizou 49 (14 + 14 + 21) menos 22 jogos e menos 36 encontros na principal competição - e onde os bolhetes eram mais caros - da UEFA. Diferença colossal. O FC Porto realizou 42 (5 + 15 + 22) ou seja, menos 29 jogos no total e menos 45 na princvipal competição da UEFA. Diferença astronómica. O Benfica é o único clube que nunca teve o estádio interditado nas competições da UEFA, ao contrário do SCP (uma vez foi jogar a Setúbal) e o FC Portop (dois jogos em Lisboa, no estádio do Benfica)! Diferenças muitas vezes esquecidas e não por acaso. Divulgam tantos números, mas nestes calam-se que nem ratos.
Lajos Czeizler não temia o futebol alemão (ainda sem grandes feitos nas três competições europeias) mas respeitava a força do futebol germânico
A primeira-mão foi penosa, mas havia confiança para o decisivo jogo, em Dortmund, pois o Benfica era muito superior.
A segunda-mão só seria realizada um mês depois
E o Benfica assolado por uma onda de lesões, sem Costa Pereira, Germano, Raúl, Jacinto, Eusébio e José Torres (estiveram no jogo da final para a Taça de Portugal, frente ao FC Porto, na vitória por 6-2) excepto Jacinto que era a alternativa a Germano. A equipa do «Glorioso» foi não só incapaz de assegurar um resultado que lhe permitisse chegar aos quartos-de-final como acabou goleado. Os onze futebolistas que o jogaram fizeram o que puderam... e Lajos Czeizler, também.
O Benfica que tinha potencial para conquistar a "Terceira" ficou-se pelos oitavos-de-final
O treinador, metódico, experiente e competente previu quase tudo. Faltou prever a onda de lesões, mas mesmo prevendo nem acreditaria que tal fosse possível: Costa Pereira, Germano, Eusébio e José Torres. O eixo central. Sobrava Coluna. Lajos Czeizler conseguiria uma época interna notável, das melhores na «Gloriosa História», mas nesse tempo era a Taça dos Clubes Campeões Europeus que aferia a capacidade dos treinadores para dirigentes e associados do Clube.
E assim findou a passagem de Lajos Czeizler pelo «Glorioso»
Alberto
Miguéns
Exigência máxima, apenas compreensível pela grandeza do Clube e dos tempos que então se viviam. Algum sentimento de injustiça pois talvez a opção de manter estes treinadores tivesse dado outros frutos em épocas seguintes. Nunca o saberemos. Ainda assim a ideia que prevalece é a qualidade que trouxeram ao nosso futebol e o brilho das muitas vitórias dos jogos que orientaram. Assim se faz a impressionante história do Sport Lisboa e Benfica.
ResponderEliminarExcelente série de artigos, caro Alberto. Obrigado.