19 novembro 2024

A Formação de um Grande Plantel: 1963/1964 (Parte II)

COM DISPENSAS E CONTRATAÇÕES ADEQUADAS.


Da esquerda para a direita: Santana, Pedras, Germano, Neto, Augusto Silva, José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna, Simões, Cavém, Serafim e Costa Pereira

Para manter o Benfica a continuar na disputa de finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus.

 

A final perdida, no final de 1962/63, frente ao AC Milan, no mítico estádio de Wembley

Foi um balde de gelo para todos os Benfiquistas, em particular para os dirigentes que consideravam uma injustiça. Até pela questão de Pivatelli ter lesionado Coluna numa jogada que poderia voltar a colocar o Benfica a vencer por 2-1 depois de conseguir uma primeira vantagem por 1-0.



>


Tendo magníficos futebolistas e sendo campeão nacional o «Glorioso» voltaria a ter nova oportunidade de conquistar a "Terceira"

Os dirigentes do Benfica fizeram uma leitura rápida e certeira. Face à evolução do futebol, havia que dotar o plantel de jogadores com maior capacidade atlética e um técnico conceituado conhecedor do futebol italiano pois seriam as equipas de clubes italianos a dominar o futebol europeu depois de serem os espanhóis. O tempo deu-lhes razão pois entre 1962/63 e 1964/65, três finais, dois clubes italianos Campeões Europeus: AC Milan e FC Inter Milão (Bicampeonato Europeu).



Contar com Maurício Vieira de Brito

O ex-presidente estava afastado de dirigente por "motivos políticos". Depois do início da Guerra Colonial (Norte de Angola, em 13 de Março de 1961) e sem final à vita, o Ministro do Ultramar (Adriano Moreira) convoca os "africanistas" - portugueses que faziam fortuna em África (Angola e Moçambique) - dizendo-lhes que teriam de gastar parte da fortuna a dar mais condições de vida aos nativos em vez da gastarem em Portugal (Europa) para diminuir os motivos que levavam os terroristas (ou movimentos de Libertação) a terem simpatia entre as populações locais. Maurício Vieira de Brito que detinha na região de Huambo, propriedades agrícolas da dimensão do Alentejo ou do tamanho da Guiné, já não concorre às eleições no Benfica, em 31 de Março de 1962, com o Benfica praticamente apurado para a segunda final europeia, que seria jogada a 2 de Maio, mas continuou a apoiar financeiramente o Clube. Seria o derradeiro apoio, pois após as eleições, em 26 de Março de 1964, o tempo passaria a ser do seu irmão e rival, Adolfo Vieira de Brito.



Reforço do plantel para 1963/64

Foi decidido dispensar Serra (defesa, nascido em 1935), Saraiva (centrocampista, nascido em 1934) e José Águas (avançado-centro, nascido em 1930). Com o Benfica a só poder utilizar futebolistas portugueses, realizaram-se três contratações de "futebolistas atletas" vedetas, na temporada anterior - 1962/63 - dos seus clubes: Luciano (defesa/médio, nascido em 1940, com 1,82 m, ao SC Olhanense), Iaúca (avançado-centro/extremo-direito, nascido em 1935, com 1,79 m, ao CF "Os Belenenses") e Serafim (avançado/extremo-esquerdo, nascido em 1943, com 1,78 m, ao FC Porto. Nunca um clube em Portugal tinha gasto tanto dinheiro em três futebolistas... e na mesma temporada! Só para comparar a nova ideia e conceito de futebolista para confrontos europeus: José Torres tinha 1,87 m para 1,81 m de José Águas; Iaúca tinha mais quatro centímetros que José Augusto e Eusébio e mais seis que Coluna; Serafim tinha mais 14 centímetros que o outro (e que outro) extremo-esquerdo, Simões com 1,64 m, além de rematar com o pé esquerdo com mas potência, perdendo em habilidade e intuição para Simões.




Percebendo o (provável) domínio italiano no futebol europeu

O Benfica contratou o anterior treinador da ASF Fiorentina, o veterano e muito experiente técnico húngaro Lajos Czeizler (5 de Outubro de 1893/6 de Maio de 1969), que nascendo no Império Áustro-húngaro era de nacionalidade húngara, de Heves a uma centena de quilómetros de Budapeste que estava desde 1949 em Itália e conseguira com o AC Milan conquistar um campeonato nacional e a Taça Latina, em 1951.


Em cima: Busini e os avançados, Renzo Burini, Gunnar Gren, Gunnar Nordhal, Nils Liedholm, Mario Renosto e Lajos Czeizler; Ao centro (centrocampistas): Carlo Annovazzi, Omero Tognon e Benigno de Grandi; e defesas/guarda-redes: Arturo Silvestri, Torwart Lorenzo Buffon e Vicariotto


Depois de uma "pré-temporada" exemplar

Com a conquista do Torneio Ramón de Carranza, depois de duas vitórias, FC Barcelona (V 3-2) e ASF Fiorentina (V 7-3), além de vitórias frente ao CFR "Os Belenenses" e FC POrto, na festa de despedida/homenagem a José Águas.



O Benfica entrou no campeonato nacional imparável

Isolando-se logo na segunda jornada - depois ainda teve a "companhia", mas breve - do CF "Os Belenenses" chegando ao final da primeira volta com mais dois pontos (então uma vitória) para o FC Porto. Mesmo que Lajos Czeizler "teria os dias contados" desde a derrota em Dortmund, independentemente do que conseguisse até final da temporada.

 

30.º CAMPEONATO NACIONAL 1963/1964

J

RES

S

Adversário

FCP

SCP

VSC

01

V 5-2

C

Vitória FC Setúbal

=

+ 1

+ 1

02

V 3-0

F

SC Olhanense

+ 1

+ 1

+ 1

03

V 3-2

F

Seixal FC

+ 1

+ 1

+ 1

04

V 3-0

C

Associação Académica Coimbra

+ 3

+ 3

+ 3

05

V 4-2

F

FC Barreirense

+ 3

+ 3

+ 3

06

E 2-2

C

FC Porto

+ 3

+ 3

+ 4

07

E 1-1

F

CF «Os Belenenses»

+ 3

+ 4

+ 3

Jogo em Dortmund (D 0-5)

08

V 2-1

C

Vitória SC Guimarães

+ 3

+ 4

+ 5

09

D 1-3

F

Sporting CP

+ 1

+ 2

+ 3

10

V 2-0

C

Lusitano GC Évora

+ 1

+ 2

+ 3

11

V 3-0

F

GD C.U.F. Barreiro

+ 2

+ 2

+ 4

12

V 7-0

C

Leixões SC

+ 2

+ 4

+ 4

13

V 2-0

F

Varzim SC

+ 2

+ 4

+ 4

14

V 4-2

F

Vitória FC Setúbal

+ 4

+ 4

+ 6

15

V 8-1

C

SC Olhanense

+ 4

+ 4

+ 6

16

V 10-0

C

Seixal FC

+ 4

+ 5

+ 8

17

V 5-1

F

Associação Académica Coimbra

+ 4

+ 6

+ 8

18

V 8-0

C

FC Barreirense

+ 5

+ 7

+ 8

19

E 1-1

F

FC Porto

+ 5

+ 6

+ 7

20

V 5-2

C

CF «Os Belenenses»

+ 5

+ 6

+ 9

21

V 4-1

F

Vitória SC Guimarães

+ 5

+ 7

+ 11

22

E 2-2

C

Sporting CP

+ 4

+ 7

+ 10

23

V 3-1

F

Lusitano GC Évora

+ 5

+ 7

+ 10

24

V 2-1

C

GD C.U.F. Barreiro

+ 5

+ 9

+ 12

25

V 5-1

F

Leixões SC

+ 6

+ 10

+ 12

26

V 8-0

C

Varzim SC

+ 6

+ 12

+ 12

NOTA: O Benfica sagrou-se campeão nacional na 24.ª jornada



Entre 1961/62 (saída de Béla Guttmann) e 1965/66 (regresso de Béla Guttmann)

Os treinadores foram contratados para se sagrarem Campeões Europeus: Fernando Riera (campeão nacional e finalista na Taça dos Clubes Campeões Europeus), Lajos Czeizler (campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal) e Elek Schwartz (campeão nacional, finalista na Taça de Portugal e finalista na Taça dos Clubes Campeões Europeus, no estádio do adversário, em Milão, que era o Campeão Europeu, em título) foram excelentes treinadores, mas não tiveram tempo para se consagrarem com duas ou mais temporadas.

 

Continua...

 

Alberto Miguéns

 

Sem comentários:

Enviar um comentário