15 abril 2020

Chalana e Luís Piçarra (II)

CONTINUANDO O QUE FOI INICIADO ONTEM... 


Há que repetir um excerto e depois continuar.

Luís Piçarra estando pouco em Portugal, até 1955 foi até morrer associado do «Glorioso»
Vejamos algumas datas, mais ou menos incompletas. Luís Raul Janeiro Caeiro de Aguilar Barbosa Piçarra Valdeterazzo y Ribadenayra nasceu em Moura, a 23 de Junho de 1917. Entrou para associado do Benfica, em 1933, talvez em Outubro/Novembro (hei-de saber a data certa!), aos 16 anos. Entre 1945 (primeira digressão ao Brasil, Argentina e México e 1975 (30 de Março) passou mais tempo fora de Portugal (Europa) que em Portugal (Metrópole). Durante 30 anos correu a América, Europa, Egipto e Próximo/Médio Oriente. Mas nunca deixou de ser sócio do Benfica. Quando faleceu, em Lisboa, a 23 de Setembro de 1999 era o associado n.º 268 com (mais ou menos por uns dias) 66 anos de dedicação ininterrupta (mesmo a sério) ao Benfica! Recebeu o emblema de dedicação classe prata (25 anos) em 1959 e o de classe ouro (50 anos) em 1984. 

Uma interpretação do «Outro Mundo»



O que se sabe?
Quando Luís Piçarra chegou a Portugal, saído de Luanda, em 30 de Março de 1975, a caminho dos 58 anos, passou a deliciar-se com as proezas de Chalana. Espírito alegre apesar de ter perdido a capacidade de cantar, em final de 1970, continuava a encantar. Em final de 1991 publicava a sua autobiografia com capa bem vermelha «Luís Piçarra// instantâneos da minha vida // Memórias», como se faz referência neste programa de televisão (clicar).

Eu e o tenor (desencontros)
Sabendo onde ele morava, desde 1971 ou 1972, não por ele mas pelo filho Mário como escrevi ontem, quando foi anunciado que estava a terminar o seu livro de memórias, “abriu-se” a oportunidade pela qual ansiava desde finais dos Anos 80 mas que não me atrevera a investigar onde vivia. Agora sabia que estava naquela casa e não estando estaria numa em que naquela sabiam qual era. Fui umas três vezes, no mínimo – uma de propósito – mas nunca tive coragem de bater à porta. Quando lá chegava pensava. Ele está tão mal, com tanta dificuldade em falar, porque vou estar a incomodar. Dessas três vezes, numa paguei o bilhete de comboio do Cais do Sodré até Carcavelos, fui a pé, parei à porta, voltei para trás e voltei a comprar o bilhete Carcavelos – Cais do Sodré. Noutra fui encontrar-me com uma pessoa e depois do encontro passei pelo prédio onde vivia Luís Piçarra. Continuei em negação. Noutra fui filmar e fotografar os locais que os pioneiros do Clube calcorrearam e onde jogaram, na Quinta Nova (instalações do Cabo Submarino) que fica a Sul da estação ferroviária de Carcavelos. No regresso pensei passar pela casa de Luís Piçarra (do outro lado da estação) estive junto à porta e neguei-me. Estava visto que faltava o impulso fundamental.



E eu nem queria muito
Interessava-me saber porque fora ele escolhido para interpretar o «Ser Benfiquista». Quando? Como? Onde? Se aceitou logo. Se deu muito trabalho acertar no primor com que ficou? Perguntas destas, não acerca do seu Benfiquismo – que não conhecia – mas a prioridade era saber tudo o que fosse possível saber acerca do «Ser Benfiquista» Duas/três horas de conversa – estava disposto a ir lá às vezes que fossem necessárias – chegariam. Nada de nada.


Eu e o tenor (tinha de ser)
Quando foi notícia a sua ida para a Casa do Artista, talvez no início de 1999, combinei com o senhor José Joaquim Macarrão (associado n.º 471, de 1937) irmos vê-lo. Assim foi. O senhor Macarrão combinou que estava livre do Benfica, pelas oito da tarde e eu passei pela «Saudosa Catedral» nesse dia e fomos a pé até Carnide. Chegados à Casa do Artista foi-nos informada que naquele dia ele não estava em condições de nos receber. Fiquei de regressar no dia seguinte. O senhor Macarrão disse que já tinha compromisso assumido. Eu disse-lhe que combinaria, no dia seguinte, com Luís Piçarra uma nova visita cem conjunto. Pois nem fui no dia seguinte, nem no seguinte ao seguinte. Adiando chegou a notícia do seu falecimento. Tinha de ser. O que não se faz quando deve ser feito depois corre-se o risco de não se fazer. Mais uma vez ocorreu isso.

Há momentos de sorte e outros de azar
Como Benfiquista Luís Piçarra consta da lista daqueles que tive azar, de querer falar com eles, em não o conseguir, por este ou aquele motivo, tal como com o arquitecto João Simões, Luís Gato, Vítor Silva, Guedes Gonçalves, Ralf Bailão, José Pimenta, Dyson, Gustavo Teixeira, Otto Glória, Alcobia, Martins, Jacinto Marques, Moreira, Félix, Zézinho, Salvador, Du Fialho, Pedras, Barros e Fehér, por exemplo. Tive sorte com outros (alguns três vezes, a maior parte uma vez): Germano Vasconcelos, António Adão, Rogério Jonet, Cesina Bermudes, Luís Filipe Rosa Rodrigues, Joaquim Fernandes, Francisco Ferreira, Mário Tavares de Melo, Albino, Corona, Manuel Alexandre, Eugénio Salvador, António Pinho, Júlio Ribeiro da Costa,  João Correia, Luís Xavier, Mário Rui, Carlos Torres, Fernando Riera, Caiado, Mortimore, Eriksson, Baroti, Valadas,  Arsénio, Francisco Calado, Pascoal, José Águas, Costa Pereira, Alfredo, Cavém, Santana, Serra, Mendes, Neto, Humberto Fernandes, Germano, Ibraim, Alhinho, Frederico e Saraiva, por exemplo, quase todos por “culpa” do senhor Macarrão. Jonet por “culpa” do jornalista Arons de Carvalho. Nunca tinha feito, nem pensado nisto. Ainda enchi bem o papo! Mas… podia ser bem mais!


Há uns dias tentei o filho Mário
Amanhã escreverei mais acerca do Benfiquista Mário Piçarra, filho de Luís Piçarra, nascido em 26 de Setembro de 1947, pois acompanhei a sua carreira musical no grupo «Terra a Terra». Em meados dos Anos 80 deixei de saber por onde andava até que, em 2018, soube que ia editar um disco (CD: Caraças é Deplástico) de nome «Claridade» dedicado ao pai. Esperei pela ocasião e falei com ele, pessoalmente, na SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) dizendo-lhe que não sendo aquele o momento apropriado gostava de falar com ele acerca do pai, a propósito do «Ser Benfiquista». Ele foi gentil – apesar de já não se lembrar minimamente (nem maximamente) de mim – e deu-me o telefone, ou melhor, um contacto. E não é que o tempo foi passando. Quando tentei o contacto há uns dias, eis que surge uma notícia bruta. «Morreu no início do ano passado, faz agora um ano» É pá! Como sou alérgico aos media portugueses nem sei se foi, ou não, notícia. Fiquei destroçado!


Fazer o que tem de ser feito
Se eu sempre quis fazer um ou vários textos acerca do «Ser Benfiquista» e de Luís Piçarra, hei-de fazê-los e serão publicados neste blogue. Fotografias não faltam – o livro de memórias dele tem 154 (pelo menos!) mais um mapa de África. Mas necessita de notícias da Imprensa e isso, nesta ”covidada” que vivemos é impossível.

A internet é mentirosa ou alguns que a fazem
Podia recorrer à internet mas isso é correr o risco de aldrabar como se consegue provar até em situações tão simples, quanto mais as mais complexas. Nem na data de edição do livro acertam. E é logo por quatro anos! Puxa! Como se prova e comprova! (clicar)



E agora?
Esperar que tudo regresse à “normalidade” e procurar nos jornais da época – sabendo as datas em que esteve em Portugal – por notícias e entrevistas. É a vida! Enquanto tal não acontece é deliciarmo-nos com ele, a ouvi-lo. Felizmente, na internet (não é má de todo!) há 13 gravações dele, incluindo o Granada que diz-se, foi ingénuo pois podia ter ficado com os direitos de autor e não precisava de fazer mais nada na vida!

Uma interpretação do «Deste Mundo»



Não acredito que não volte a escrever acerca de Luís Piçarra (a solo) depois das Bibliotecas e Hemerotecas reabrirem...

Esperar que a COVID-19 se vá embora de mansinho…

Alberto Miguéns

2 comentários:

  1. Nas sociedades destes nossos dias é uma tragédia termos toda esta ignorância, este desprezo pelo que os mais antigos (do que nós) nos podem dar. O seu conhecimento e vivências de Ser Benfiquista são fundamentais para percebermos a verdadeira essência do Sport Lisboa e Benfica. Muito para lá destes dias feitos de betão e do mercantilismo desenfreado. Fico feliz por saber que o Alberto tem todo esse acervo. Fico agradecido que vá partilhando com os seus leitores.

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  2. Mais um excelente texto.
    Grato pelas suas crónicas, que são um excelente testemunho acerca da procura de factos importantes da história do nosso clube.

    Viva o Benfica, com Saúde e Paz

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