O GOLEADOR QUE NÃO
ERA AVANÇADO. ERA UM FUTEBOLISTA QUE MARCAVA GOLOS E MARCAVA MUITOS.
Há 73
anos nasceu o que de melhor teve o futebol português. Em Lourenço Marques, D.
Elisa deu à luz um prodígio do futebol mundial.
Eusébio da Silva Ferreira não é apenas um dos melhores futebolistas do Mundo,
dos 150 anos de existência do futebol. Eusébio foi um dos poucos jogadores que
inovou, e acrescentou, ao futebol muito mais do que “apenas” marcar golos.
Eusébio, pelas suas características, tanto marcava golos como fazia
assistências para que outros marcassem. Foi o primeiro grande goleador a contribuir
para que outros avançados marcassem tanto como ele. Se ele marcou mais foi
porque jogava mais tempo, podendo emparelhar com outros avançados porque a
equipa nunca ficava a perder.
NOTA: Escrevi mais, muito mais, infinitamente mais, do que pensava e queria. Mas falar de Eusébio é assim.
NOTA: Escrevi mais, muito mais, infinitamente mais, do que pensava e queria. Mas falar de Eusébio é assim.
O que é Ser Eusébio?
Eu só muito tarde percebi o que era realmente jogar À Eusébio. Ou seja,
jogar como só ele sabia e conseguia porque é impossível de imitar. Actualmente,
só em jogos de computador. Antes nem isso. Só sonhando.
Parte I: A minha vida com Eusébio
Cresci a ouvir falar de Eusébio sem o ver. Nasci e vivi os primeiros
tempos na minha aldeia alentejana de Montalvão (Nisa), depois em Vila Verde de
Ficalho (Serpa) seguindo-se a infância, até quase aos sete anos, na Figueira da
Foz. Foi nesta princesinha do Mondego que assisti na televisão de uma taberna
(poucos tinham televisão em casa) ao Mundial de 1966 e lembro-me de apenas um
jogo, talvez o único que vi, logo o Portugal frente à Coreia do Norte. Fazia
seis anos em Outubro. Pouco me lembro. Depois em Lisboa fiquei mais perto do poder
vê-lo, mas nem assim. Mas cresci a ouvir falar dele, a elogiá-lo como uma
maravilha de Portugal e do Benfica. Para uma criança qualquer futebolista é um
ídolo. Eusébio era uma constelação de ídolos. Com o meu pai a trabalhar na doca
de Santa Apolónia lembro-me de um dia ele me convidar para ir depois de almoço
(ele almoçava em casa, na Graça) ao trabalho. Fiquei admirado, pois foi a
primeira vez e eu tanto lhe pedia e nunca havia resposta afirmativa. Qual não
foi o meu espanto quando entre um grupo de estivadores o meu pai pergunta:
Sabes quem é? Eu, nos meus 8/10 anos (1969 a 1971) sabia bem quem era. EUSÉBIO!
Parecia um ser humano normal, igual a muitos outros. Não podia ser o Eusébio do
Benfica. Afinal Eusébio era humano! Era, mas pouco, pois entrou num bólide amarelo e
partiu rápido como era veloz a jogar. Não sem antes me cumprimentar com tal
generosidade que durante uma semana não quis lavar a minha mão direita. Até que
me esqueci e acabou o feitiço. Também durante aquela semana não houve melhorias
no meu futebol!
Depois vi três vezes Eusébio. Vi, como quem diz, vi-o a jogar, frente ao
Sporting CP, na final da Taça de Portugal (D 1-4), AFC Ajax (E 0-0) e na festa
de homenagem (E 2-2) frente a uma selecção de jogadores mundiais (FIFA).
Parte II: A minha vida sem
Eusébio
Ainda
como adepto assisti à sua saída do Benfica. Para mim, nessa altura, com 15
anos, ele nunca deveria ter saído até porque o Benfica nunca mais venceria o
que quer que seja. Fim de Eusébio seria fim de Benfica. Entrei para associado
(Janeiro de 1979) assisti ao seu regresso ao Benfica (Outubro de 1980) para mim,
nessa altura, com 20 anos, ele nunca deveria ter saído mas por outra razão, por
ser património do Clube. Depois o tempo foi passando Eusébio continuava a ser
um ídolo, já mito. Se me perguntassem o porquê (e provavelmente perguntaram-me
embora não me lembre) dizia: «marcava muitos golos e o Benfica ganhava muito com ele e
conquista tricampeonatos atrás de tris e só não ganhou todos porque éramos roubados
de quatro em quatro anos, nos anos dos Mundiais, pelos sportinguistas fascistas
que manobravam na DGDesportos ou DGSporting, como nós lhe chamávamos!» Agora
digo. Não percebia nada de Eusébio. Não conhecia o Eusébio. Eu e a maior parte
das pessoas! Foi por esta época, depois do regresso dele ao Benfica, que devo
ter recordado a história de Eusébio, os estivadores, o bólide amarelo e a doca
que perguntei ao meu pai: O que andava a fazer Eusébio na doca de Santa
Apolónia ou da Fundição naquele dia? Resposta simples: «Foi levar uma encomenda para um embarcadiço entregar a uns
familiares de Eusébio, em Moçambique. Fazia isso regularmente. Por isso
convidei-te porque sabia que ele ia lá nessa tarde»!
Eusébio mal conhecido
Parte I: o "clique"
Foi no
estrangeiro que tive o primeiro "clique" para o "Novo
Eusébio". Estava em Turim, no Inter Rail de 1981 ou 1982, quando em
trânsito entre o albergue de estudantes onde pernoitara e a estação ferroviária
de Turim onde iria iniciar nova viagem, de mochila às costas ouço alguém
gritar: Portoghesi. Assustei-me pois era sinónimo de borlista. Eu? Abanou a
cabeça e disse: Portoghesi, Benfica! Acabaram-se as preocupações. Se pronunciava
Benfica estava seguro que as intenções eram boas. Depois compreendi. É que nas
bolsas laterais da mochila que transportava ao lombo, tinha dois símbolos, com
cerca de 10 centímetros, cosidos pela minha mãe na dita mochila vermelha. Do lado
esquerdo uma pequena bandeira portuguesa e do lado direito um emblema do
"Glorioso". De pano um pouco maior que o dos equipamentos solenemente
comprado na Casa Buttler na rua Barros Queirós em Lisboa, entre o Martim Moniz
e o Largo de S. Domingos/ Rossio.
O
italiano entusiasmado gritava: Benfica, Eusébio. E entre o portuliano e o
italianês lá nos entendemos. Quis levar-me ao estádio Comunale para ver o sítio
onde tinha visto marcar o melhor golo de sempre, ao vivo ou na televisão. Um
golo de Eusébio ao guarda-redes juventino Anzolin. E o certo é que ele e eu conseguimos
entrar no estádio e no campo. E os portugueses é que são portoghesi! Levou-me
ao relvado para ver a maravilha, ele que em 1981 ou 1982 parecia ao falar com
um Benfiquista reviver essa noite mágica de 15 de Maio de 1968.
Parte II: a pesquisa
Aquele
episódio fez-me repensar a ideia que tinha de Eusébio. Não era um português.
Era um adepto de um clube adversário que foi eliminado nas meias-finais da
principal competição da UEFA pelo Benfica, com um golo de Eusébio. Um golo que
ocorrera em 1968. E em 1981 ou 1982 um italiano da Juventus FC encontrava-me,
incomodou-se nos transportes públicos comigo para me levar ao "local do
crime"! Havia algo de místico na Mística do Benfica e de Eusébio. Só podia
ser. Um adversário, que teve sucesso, há 14 ou 15 anos, com o insucesso do
clube da sua simpatia, provocava orgulho no italiano! Algo de extraordinário se
passava com Eusébio.
Em
meados dos anos 80 intensifiquei o meu interesse pela estatística do futebol (só
mais tarde pela História do Clube). Decidi começar a fazer um diário desportivo
e associativo acompanhando o dia-a-dia, através do Tome Nota do jornal O
Benfica, colocando depois os resultados durante a semana e nas horas livres
fazer a recolha dos jogos de futebol por ordem cronológica: 1904, 1905,
1906,..., 1960! Eis que em 15 de Dezembro de 1960 chega Eusébio a Portugal.
Habituado a ter de ler as crónicas dos jogos (pois nos primeiros tempos e até
muito tarde em Portugal as fichas dos jogos não eram sintéticas como na
actualidade) era necessário ler toda a crónica para saber quem marcou os golos,
quando, como, etc. Como não confiava (até por razões técnicas
"gralhas" em apenas uma publicação) decidi consultar pelo menos três
quando foi possível (a partir dos anos 20). Habituei-me e quando Eusébio
começou a jogar no Benfica, devia andar eu nas pesquisas desse início dos anos
60 lá para finais de 80 ou início dos anos 90. Tudo isto para dizer que li
TODAS as crónicas de pelo menos TRÊS publicações durante toda a carreira de
Eusébio (tal como antes e depois dela, como é evidente, mas agora interessa o
Eusébio). Além das crónicas ainda lia a apreciação individual ao jogador que o
título do jornal destacasse como fazendo uma boa exibição nesse jogo, do
guarda-redes e, sempre nesse período de tempo em que o craque jogou, de Coluna,
José Águas ou José Torres e Eusébio. Impressionante. Foi a ler Eusébio que eu
percebi o porquê de Ser Eusébio. Era um futebolista de uma dimensão
extraordinária e de uma capacidade inesquecível. Como? Só lendo as crónicas. Se
um dia puder (e tiver Poder) hei-de conseguir digitalizar todas as crónicas dos
jogos em que participou. Só lendo essas crónicas e apreciação individual se percebe a
verdadeira dimensão do génio. Se não é mais um. Mais um grande futebolista.
mais um rei entre vários. Só que Eusébio é Imperador! O Rei de Todos os Reis!
Parte III: a confirmação
Depois
de conhecer como Eusébio jogava lendo o que ele fez, percebi o porquê dele ser
reconhecido como um jogador de "Outra Dimensão". E quem o viu pode
nem saber explicar. Mas viu e ficou impressionado. Até o italiano de Turim, que
provavelmente só o viu jogar uma vez! Quando há pouco mais de um ano assisti,
de lágrimas na face, á sua última jogada em direcção á baliza do Quarto Anel
compreendi. Na multidão havia muitos "italianos de Turim" que
passados 40 anos ainda sentiam que tinham presenciado alguém que era o que
nenhum outro conseguira ser. Não estranhei a multidão, o fervor, a despedida e
a dor. Era Eusébio! O Eusébio que eu lera merecia ter o "Mundo a Seus
Pés"!
NOTA À MARGEM
Para
terminar uma referência à sua saída do Benfica em 1975. Pareceu-me em 1975 (com
14 anos) um perigo que ia transformar o Benfica num Sporting. Ganhar a cada
quatro anos e nunca chegar, sequer, aos quartos de final da Taça dos Clubes
Campeões Europeus. Pareceu-me em 1981 (aos 20 anos) que tinha sido injusto
deixar o Património do Clube vaguear por clubes de menor dimensão, ainda que
dignos. Depois de ler o que se passou em 1975 a decisão dos dirigentes
pareceu-me a única possível, a única À Benfica ou seja a única que colocou os
interesses do Benfica acima dos interesses de Eusébio. Os dirigentes queriam
mantê-lo no Clube como treinador/ "angariador"/ modelo e exemplo para
os jovens atraindo-os para a formação do futebol no Clube. Eusébio queria fazer
o contrato da sua vida e exigia continuar como futebolista. Era o melhor de
sempre queria continuar a sê-lo e o Benfica tinha de fazer-lhe um contrato que
o ressarcisse do passado em que podia ter ganho muito dinheiro se tivesse
jogado no estrangeiro (e só não jogou porque no Portugal do antes 25 de Abril
de 1974) os Clubes podiam accionar a Lei de Opção e segurar o futebolista
indeterminadamente, temporada a temporada até o quererem no plantel. Em 1966
podia ter rumado ao FC Inter de Milão mas a eliminação da selecção transalpina,
no Mundial de 1966 pela... Coreia do Norte, fez os dirigentes italianos
impedirem a contratação de futebolistas estrangeiros por considerarem que o
excesso destes nos clubes italianos enfraquecera a selecção nacional de Itália.
Mas Eusébio não podia ser futebolista no Benfica. Já não tinha condições
físicas para isso (como se provou nos anos seguintes...), não podia ter um
ordenado superior a futebolistas com mais capacidade, mais jovens, que ele e...
nenhum treinador conceituado aceitaria treinar o Benfica tendo a obrigatoriedade
de utilizar Eusébio como titular ou mesmo sendo suplente, poder ser visto no
banco como o "salvador" em momentos menos conseguidos da equipa. Tudo
isto é a minha opinião. Posso estar enganado. Eusébio saiu e saiu bem (em
1975). Foi fazer a vida que quis onde quis. Quando percebeu que o futebol
terminara, sondou se ainda o queriam para fazer o que Borges Coutinho lhe
propôs em 1975. José Ferreira Queimado aceitou e Eusébio voltou. Voltou e voltou
muito bem. Ainda foi "treinador, angariador, modelo e exemplo" de Rui
Costa nas "Escolinhas do Benfica! Afinal só acabaria por estar entre Dezembro de 1960 (quando chegou a Lisboa) e Janeiro de 2014 (quando faleceu em Lisboa), ou seja, durante 54 anos pouco mais de cinco anos (Maio de 1975 a Outubro de 1980) afastado do "Glorioso"!
Não ser
nada e ser tudo
Para Béla Guttmann que
treinava o Benfica em 1960/61, aquele miúdo a um mês de fazer 19 anos era ouro.
Infelizmente o Sporting CP só permitiu que se estreasse em Maio de 1961 ele que
tinha chegado em Dezembro de 1961. Mas Guttmann ainda foi a tempo de o encaixar
numa equipa campeão europeia... sem ele. Para Guttmann Eusébio permitia-lhe
finalmente ter condições para abandonar a "velhinha táctica do "WM"
(3x4x3) fazendo recuar um médio para "quarto-defesa" (jogando com
dois defesas centrais em vez de três) pois Eusébio jogando no meio-campo com
Coluna valiam por mais um. Chegavam para três adversários. Depois restava um
médio para fazer a cobertura do outro centrocampista contrário. Mas deixemo-nos
de tácticas. Em resumo: Eusébio era um médio que sabia ser avançado (precisão e
potência no remate e imprevisibilidade na decisão) e um avançado que sabia ser
médio (versatilidade na finta, subtileza na progressão no terreno, capacidade
no passe e pujança no desarme). Um futebolista nunca visto. Não era médio, não
era avançado e era tudo isso e ainda mais... um goleador temível.
Eusébio vinha buscar constantemente jogo ao meio-campo do Benfica e progredia para assistir os extremos ou o avançado-centro! Mas um goleador não deve estar junto da baliza!!!???
Ei-lo no seguimento da jogada da imagem anterior em que ganha no meio-campo a bola a um portista, no estádio das Antas, com duas opções - passar a Nené curiosamente (momentaneamente) como extremo-esquerdo ou servir o ponta-de-lança Artur Jorge
Não é a "meia-lua"! É o círculo central do meio-campo! Eusébio vai buscar a bola aos defesas ainda no meio-campo do "Glorioso" para passar sportinguista atrás de sportinguista em direcção à baliza... Mas um goleador não deve estar junto da baliza!!!???
Quem é que disse que ele não sabia cabecear. Não tinha o estilo de José Águas, nem a eficácia de José Torres. Mas é melhor do que muitos que se costumam mascarar para surpreenderem miúdos na via pública supostamente incógnitos, mas não é que há sempre um maquinazita marota que capta a surpresa que ninguém sabia. é o Mundo actual Há câmaras de filmar em todo o lado! No tempo de Eusébio, filmagens??, nem nos estádios onde ele brilhava tão intensamente que acho que mesmo que desligassem a iluminação artificial nas bancadas conseguia-se ver sem dificuldade um futebolista a jogar...
O futebol
dele era a vida dele
Colocava em campo o
que de melhor tinha desenvolvido em si como pessoa. Trapalhão, repetitivo,
introspectivo fora do rectângulo de jogo, não "era ele" por ser
tímido. Era o seu exterior. Num campo de futebol com uma bola de couro lá
dentro, libertava o que era interiormente. Transfigurava-se parecendo irradiar
confiança, afirmação, génio e consciência. Como futebolista Eusébio era um
profissional exemplar, no tempo em que os futebolistas geniais eram meio
loucos, meio irresponsáveis. Por isso duravam pouco. Eusébio durou década e
meia. Só não durou mais porque as entradas impiedosas, muitas com conivência da
arbitragem, arruinaram-lhe os joelhos. Os dois diamantes de um futebolista!Eusébio até os lançamentos laterais fazia pois conseguia colocar a bola em cima da baliza... Mas um goleador não deve estar junto da baliza!!!???
Incansável
a transportar jogo
Eusébio era um
batalhador nato. Não ficava à espera que lhe dessem jogo. Lutava pela posse de
bola no meio-campo adversário, muitas vezes também no meio-campo do
"Glorioso". Ganhava a bola ou recebia-a dos defesas e depois progredia
com ela (geralmente pelo centro do terreno de jogo) instalando a incerteza nos
adversários. Eusébio era um autêntico compêndio da incerteza para a equipa
contrária. Vai lateralizar para os extemos, vai passar em profundidade para os
avançados, vai tabelar com os centrocampistas, vai driblar e embalar imparável,
vai chutar de longe, vai, vai, vai. E eles iam recuando e desfazendo em dúvidas
as cortinas defensivas. E ele fazia uma de muitas. Não tinha dúvidas. E
geralmente era bem sucedida. Acima, muito acima da média!
Soberbo a
rematar
Se era imprevisível a
conduzir a bola aprumava-se em rematar pela certa. Não se podia desperdiçar
oportunidades. Rematava com ambos os pés, mais com o direito (talvez por vício)
pois o esquerdo não fazia rir o direito! Também era potente, certeiro e
preciso. E marcava golos de cabeça, apesar do metro e sessenta e oito. Tinha
uma paleta de recursos como se fosse um pintor. Podia rematar em jeito, em
força, em arco, com efeito, com o peito do pé, com o exterior da chuteira ou
fazer passar a bola por cima dos defesas. Nem sempre resultava, mas resultava
muitas vezes. Um sarilho para os defesas, mesmo para os que o conheciam bem.
Nunca sabiam que recurso iria ele tirar das botas.
Exímio nas
bolas paradas
Eusébio tinha a
vantagem que têm os Cantautores que interpretam a música e letra que compõem.
Não dependem de outros. Fabricam-se. São criadores, pequenos deuses poderosos
que mandam no seu tempo e espaço. Eusébio era assim. Quando progredia com a
bola ou a recebia bem colocado junto da grande-área contrária nada tinha a
temer. Os defesas sim! Se não o derrubassem sujeitavam-se a levar com um
balázio ou um serpenteio até ao golo. Se o derrubassem iriam ter um golo na
mesma. Seria de bola parada. Dentro era grande penalidade com aproveitamento
próximo do máximo. Se fosse fora da grande-área em zona frontal era quase
igual. Mas ainda havia outro recurso. Eusébio muitas vezes já em corrida para a
bola, se percebia que as probabilidades de fazer golo eram reduzidas actuava
com simplicidade, tal e qual o seu modo de ser. Em vez de disparar a bola para
a baliza e bater na barreira ou permitir a defesa do guarda-redes, colocava-a
com precisão num outro Benfiquista devidamente colocado dentro da grande-área. É
que Eusébio como todos os improvisadores, antes treinam para melhor improvisar.
Tudo à espera de um remate à Eusébio e afinal a bola vai cirurgicamente cair na
cabeça ou nos pés de outro jogador. E pumba! Golo!
Eusébio marcou mais de cem cantos e deles resultaram mais de vinte golos, pois uma bola dele a 30 metros era meio-golo, ia direitinha para um futebolista do Glorioso era só encostar... Mas um goleador não deve estar junto da baliza!!!??? Neste jogo frente ao FC Porto, Eusébio marca um golo de canto directo (com o pé esquerdo), assiste a cabeçada de José Augusto num canto marcado com o pé direito e ainda dribla vários portistas para outro golo. Eusébio era assim! Quem não gostava eram os adeptos dos adversários. Ainda hoje!
Tinha o
melhor de Messi e de Cristiano Ronaldo
Eusébio não pode ser
comparado a nada, nem antes, nem depois dele. O que não quer dizer que não
tenham existido e existam outros grandes futebolistas. Com características
diferentes. Na actualidade o que mais se assemelha a Eusébio é Messi. Mas não
tem a capacidade física e espontaneidade de remate de Eusébio. Tem a
versatilidade, a generosidade de fazer assistências, a capacidade de vir muito
atrás buscar jogo. Mas falta-lhe a genialidade de Eusébio. Ronaldo é mais
limitado que Eusébio. Menos criativo, mais esforçado, menos generoso, mais
mandão. Têm de jogar para ele. Eusébio jogava para os outros. Então na selecção
nacional é o dia e a noite. Eusébio era generoso, deu dezenas de golos a marcar.
Ronaldo é egoísta. Os pontas-de-lança não servem para marcar golos, servem para
lhe abrir espaços para Ronaldo marcar golos. Só não vê quem não quer ou não tem
interesse em ver. Ai de quem remate à baliza (mesmo que marque) se Ronaldo
estiver em posição de poder facturar. É "despedimento imediato" de
Portugal. O nosso Eusébio se jogasse no Real Madrid CF nos anos 60 e 70 tinha
conseguido encher a sala de Taças dos madridistas com seis ou sete Taças dos
Campeões. Em vez de uma em 1965/66. Ronaldo? Só se for o do Jorge Mendes! Não brinquem com "coisas sérias".
Esta "maldade" foi feita ao Real Madrid CF em 1965 que seria Campeão Europeu na temporada seguinte (1965/66). Isto é Eusébio. É único. É Ser Eusébio! Controlar a ansiedade dos adversários incapazes de decidir perante um predestinado que conheciam bem na sua subtileza, sabendo da imprevisibilidade (à Messsi) para depois desferir o golpe final inesperado em potência (à Cristiano Ronaldo). Só um Messi mais um Cristiano Ronaldo (juntos num só) faziam um outro Eusébio!
O futebol
de Eusébio era belo porque era simples, eficaz porque não inventava, generoso porque trabalhava o tempo todo - 90, 120 os minutos que fossem - incansavelmente, subtil
porque se esgueirava, potente porque era fogo de trovão, quando levantava uma das pernas como se fosse disparar o Mundo transformado numa bola.
Com a perna direita ou com a esquerda. Sirvam-se s.f.f.
Com a perna direita ou com a esquerda. Sirvam-se s.f.f.
Talvez ainda nem tenha nascido o futebolista que o vai igualar. Quanto mais ser-lhe superior.
Por fim(ufa!ufa!) os parceiros a titular de Eusébio no
"Glorioso". Eusébio sem eles, por muito que jogasse, não jogava nada!
Como é evidente não sendo o futebol um jogo de matraquilhos, mas antes
um desporto agradável e se bem jogado, interpretado por artistas, é necessário
entender as limitações a duas dimensões de um jogo dinâmico e repleto de
interacções. Por isso nem se deve dizer que uma equipa joga contra outra.
Uma equipa joga com outra!Alberto Miguéns
NOTA: Provavelmente haverá erros ortográficos, letras truncadas ou omitidas. Devido ao adiantado da hora apenas farei a revisão do texto depois de almoço.
Um homenagem que se nota é sentida pois o Alberto descreve alguns episódios em que enquanto criança e adolescente se cruzou com Eusébio. Em primeira pessoa. Eu só tive essa sorte já quando andava no liceu e já Eusébio tinha deixado de jogar alguns anos atrás.
ResponderEliminarMagníficas histórias. Essa da doca de Santa Apolónia é maravilhosa. Uma criança nunca esquece e Eusébio tinha de facto o dom da bondade e da simplicidade.
O famoso golo contra a Juventus... Esse golo de Eusébio é o santo graal dos golos do Benfica. tudo aponta para que não existam filmagens. Uma vez numa pesquisa no youtube vi um resultado que parecia ser esse golo. O meu coração saltou e fui ver mas era um video de playstation... Incrível esses detalhes relatados pelo italiano. Foi um golo monstruoso. Pensava que teria sido em região frontal e a uns 30 metros. Bem... ainda mais espectacular.
Mais sublime do que tudo é ver Eusébio jogar. Mesmo que seja apenas na televisão. A final de Amesterdão e os jogos do mundial de 1966. A final da Taça contra o Sporting onde ele decidiu com esse livre fenomenal que aí tem. Acho que são os jogos completos que tenho. Talvez também tenha a final do mundialito de 1972.
Eusébio era de facto empolgante. Não tive a sorte de o ver jogar ao vivo. Aquele perfume africano, a explosão de técnica em velocidade, a potência do remate. Incrível. Um Rei de todos e para todos os tempos. E deixou também vincada a sua qualidade como desportista. Admirado e respeitado pelos adversários. Para sempre o Rei Eusébio.
Mais do que comparar com outros que se pavoneiam nos dias que correm, interessa lembrar com inteira justiça quem foi grande, quem foi maior entre os jogadores que envergaram o manto sagrado.
Obrigado por partilhar essas histórias.
Ainda estou arrepiado.
ResponderEliminarLer também é aprender.
Publiquei uma entrevista de Eusébio no início do mês onde F Martins não fica nada bem na fotografia, isto após o regresso de Eusébio ao Benfica...
Esse golo frente à Juve, hei encontrá-lo. Pelo menos gostava de o ver. Sempre ouvi e li sobre ele.
Mais um post para divulgar.
Obrigado Alberto
Saudações Gloriosas.
Minha Chama
EliminarTenho de ler essa entrevista. Eusébio era "tramado" com tudo e todos menos no Benfica com a bola.
Gloriosas Saudações
Alberto Miguéns
Era bem tramado...
EliminarEle, nesta entrevista, fala também de forma bem adocicada de Romão Martins...
Este é o post (pequeno):
http://aminhachama.blogspot.pt/2015/01/eusebio-eis-que-passou-um-ano-e.html
Se não tiver com paciência, fica o link da fotografia:
http://3.bp.blogspot.com/-9gpLY-LN4Lc/VKu58IQ8H3I/AAAAAAAAQPs/QePIv1w_OVg/s1600/Eus%C3%A9bio%2B24.01.1992%2BA%2BMinha%2BChama.png
Aproveita para lhe contar que após a minha publicação deste artigo, um leitor me questionou com o seguinte:
José Pedro Paula 13:09
"Só vi o Eusébio jogar uma vez e foi isso que me fez Benfiquista. Até aí, um tio e um avô queriam fazer-me da Académica ou do Sporting, respectivamente, dois grandes rivais em Moçambique, no Hóquei e no Basket, e eu um dia era dum, noutro dia era doutro.
Foi num jogo de exibição entre o Benfica e o Santos, no Estádio da Machava, estádio do Ferroviário, que fui ver com 2 tios meus, em, muito provavelmente, 1974. O Pelé não jogou, dizem as más línguas que inventou uma lesão à última da hora.
O Benfica ganhou 2-0. Marcaram, primeiro o Simões, só aí fiquei meio Benfiquista, o estádio, está claro, foi ao rubro. Depois, quem havia de ser, marcou o Eusébio, eu pensei que o estádio ia abaixo, literalmente.
Eu começo a dizer "Eu sou do Benfica". Os meus tios, o outro era do Textáfrica, diziam para eu estar calado que não sabia o que estava a dizer. Mas eu não me calei, nem nunca mais tive dúvidas.
Já andei à procura de informações na net sobre este jogo, tão importante para mim, mas nada."
Já o informei (a ele) que poderia deixar aqui este pedido de informação, porque se o Alberto puder, certamente que lhe poderá dar uma resposta.
Saudações Gloriosas
E eu enganei-me. Indico que ele regressou ao Benfica em Outubro de 1980. Dois parágrafos depois digo que Fernando Martins aceitou. Mas Fernando Martins só ganhou as eleições em Maio de 1981. Foi Ferreira Queimado que aceitou. Eu lembro-me de viver o seu regresso e teimo em indexá-lo a Fernando Martins mas foi Ferreira Queimado e Gaspar Ramos que aceitaram.
EliminarJá substituí os nomes.
Alberto Miguéns
SR Dr Alberto é com lagrimas a caírem no meu rosto que lhe agradeço do fundo do coração....MUITO OBRIGADO GRANDE BENFIQUISTA....que a benfica tv mostre ao mundo este seu trabalho ,para que os mais velhos recordem com saudade e os putos aprendam.....(mostrem ao garoto do Jorge mendes QUEM FOI REI EUSEBIO mostrem aos cretinos da f.p,futebol QUEM FOI REI EUSEBIO,e lembrem ao Humberto Coelho quem foi REI EUSEBIO...permita-me SR DR ALBERTO dizer que EUSEBIO foi também a CHAMA IMENSA de UM POVO SOFRIDO muitas vezes cantado pala RAINHA Dna AMALIA RODRIGUES......e Jorge mendes algum,tretas algum ou cretino algum JAMAIS VAI CONSEGUIR MANCHAR A GLORIA DO NOSSO REI EUSEBIO...desculpe-me a emoção e a revolta,eu sei que lá do ALTO O REI JÁ LHES PERDOOU...cabe-nos a nós MOSTRAR aos vindouros QUE O REI ESTÁ PARA ALEM DA ETERNIDADE....
ResponderEliminarAmigo Alberto Miguéns, Obrigado.
ResponderEliminarAgradeço este seu testemunho que em muito enriquece a História do Nosso Sport Lisboa e Benfica.
O Rei dos Reis tem um nome... Eusébio!!! Adorei.
Por um acaso, não tem informações sobre um jogo amigável entre o Benfica e o Santos, por volta de 1974, na ex- Lourenço Marques, no Estádio de Machava?
ResponderEliminarO Benfica ganhou 2-0, golos de Simões e Eusébio.
Já dei voltas à internet e não encontrei nada. E não sou nada mau a encontrar o que procuro.
Grato por qualquer informação.
José Pedro Paula
Caro João Paulo
EliminarTenho esse jogo. Quando chegar a casa publico as informações que tiver.
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
Sr Dr Alberto( sou o anónimo das 13:41)com sabe vivo no douro( Regua /Lamego) longe do NOSSO QUERIDO CLUBE gostaria de lhe pedir para se concordar o Sr Dr propor a quem dirige o MUSEU COSME DAMIÃO apresentar um trabalho( DOCUMENTARIO) de "longa duração" fixo a passar no auditório do MUSEU para visitantes e PRINCIPALMENTE crianças de escolas,PARA PERPETUAR( ensinando CONTRA AS MENTIRAS)a memoria do REI...verem o documentário e perceberem depois ao verem OS VERDADEIROS TROFEUS o que
ResponderEliminaré o markting e o que é real....mas sendo da sua AUTORIA,,,desculpe-me o abuso....abraço