26 agosto 2024

Eriksson no Quarto Anel

MORREU UM ETERNO CAMPEÃO.



Este blogue entra em luto não havendo qualquer outra publicação neste dia 26 de Agosto de 2024.



Sven-Göran Eriksson nasceu em Sunne (Suécia) em 5 de Fevereiro de 1948, cresceu em Torsby (Suécia), viveu pelo Mundo e faleceu, em Bjorkefors, nos arredores da sua localidade natal de Sunne, a 26 de Agosto de 2024, aos 76 anos e quase sete meses.

Eriksson ou Ériquexe (como pronunciava Fernando Martins quase como em sueco: Êriquesôm), Fernando Martins (presidente da Direcção) e Júlio Borges (secretário para o Futebol Profissional da Direcção), em 4 de Junho de 1982


Assinou contrato como treinador do «Glorioso» em 4 de Junho de 1982, ou seja, com 34 anos e quatro meses.




1. Como a comunicação social indicou que tinha 33 anos causou espanto pois era um ano mais novo que Bento (25 de Junho de 1948). E "quase" da mesma idade de Néné (20 de Novembro de 1949) e Humberto Coelho (20 de Abril de 1950) que faziam parte do plantel. 


2. Com o início da época de 1982/83 quem tinha dúvidas depressa as desfez. Com futebol de excelente qualidade o Benfica consegue vinte vitórias consecutivas (incluindo os cinco encontros na pré-temporada) e 28 encontros invicto - 26 vitórias e dois empates - com a derrota ao 29.º jogo.



3. Com o final da temporada por ano civil na Suécia o Benfica não contrata um avançado, mas um centrocampista... Stromberg - 4.º estrangeiro no Clube e primeiro não "ponta-de-lança" (depois de Jorge Gomes, César e Filipovic). Como justificou Eriksson, para quê ter bons avançados se falta capacidade física ao meio-campo para colocar a bola durante grande parte dos 90 minutos na frente! Além disso, Stromberg apesar de mostrar muita qualidade não foi logo titular. Eriksson foi inteligente pois mostrou que não protegia um seu conterrâneo. Foi mais pela insistência dos media e adeptos que o catapultaram para titularidade indiscutível em 1983/84.



4. Com 28 jogos invicto, quando surge a primeira derrota, em 1982/83 - e foi na 14.ª jornada do campeonato nacional (seria a única) - já o Benfica com 12 vitórias e um empate estava com avanço de quatro pontos para o FC Porto e seis para o Sporting CP, numa edição com 30 jornadas e dois pontos por vitória. 


Um trio que se completava na perfeição - Eriksson (treinador), Toni (adjunto) e Fernando Martins (presidente da Direcção) - na primeira metade dos Anos 80.



5. Quando surge a polémica do FC Porto querer disputar a final da Taça de Portugal de 1982/83 no seu estádio das Antas, Eriksson não se opõe afirmando que o Benfica ia lá conquistar o troféu. E foi. Pedroto queixou-se. Perdemos porque a final já foi no início de 1983/84... se tem sido no final de 1982/83 o Benfica (12 jogos da Taça UEFA) estava cansado (mais oito jogos na Taça UEFA que o FC Porto (4), afastado de goleada (D 0-4) pelo RSC Anderlecht) e era nossa. Esperto, mais esperto não havia que Pedroto, mas Eriksson deu-lhe uma lição.



Eriksson, Jorge Castelo (pioneiro como analista dos jogos) e Eusébio no relvado da «Saudosa Catedral»

6. Com duas temporadas deslumbrantes, em 1982/83 e 1983/84, com destaque para o Bicampeonato Nacional, partiu para Itália mas nunca se esqueceu do Benfica e o Benfica muito menos se esqueceu dele. Haveria de regressar.


Um treinador que fez Escola. Entre a primeira e a segunda passagem deixou-os melhores futebolistas e encontrou-os noutras funções. Entre todos... Sheu que tem uma admiração (quase) ilimitada por Eriksson.


SEGUNDA PASSAGEM

Toni (adjunto), Eriksson (treinador), João Santos (presidente da Direcção), Jorge Brito (vice-presidente da Direcção para a gestão desportiva) e Gaspar Ramos (vice-presidente da Direcção para o Futebol)


7. Regressou no início de 1989/90 para ficar até final de 1991/92. Mais um título de campeão nacional (1990/91) e uma final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, logo em 1989/90.

Thern que ingressa no «Glorioso» no regresso de Eriksson em 1989/90

Uma amizade para a vida. Toni foi treinador adjunto de Eriksson, em 1982/83 e 1983/84. Depois continuou como adjunto dos que se seguiram. Em 1987/88 (a 28 de Novembro de 1987) assume o cargo interinamente passando a treinador principal com o Benfica a jogar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Em 1988/89, com Toni, o Benfica é Campeão Nacional e Toni aceita voltar a adjunto de Eriksson com o regresso deste em 1989/90. Não sei se haverá semelhante, quanto mais igual, no Mundo e desde que o futebol foi inventado (26 de Outubro de 1863). 



8. "Respeito-o muito senhor Eriksson, mas guerra é guerra"! 28 de Abril de 1991. 34.ª jornada em 38. Estádio das Antas. O autocarro do Benfica é apedrejado perante a conivência das autoridades, obrigam o Benfica a passar entre adeptos portistas para serem insultados. Chegam ao balneário e está fechado a cadeado. Só há autorização para ser aberto uma hora antes do início do jogo. Quando abrem o balneário os primeiros a entrar saem rapidamente e avisam os outros que o cheiro é nauseabundo - litros e litros de creolina que um dia rimaria com Carolina - obrigando os futebolistas a equipar-se no corredor do túnel de acesso ao relvado. Entretanto, surge na risota o presidente do FC Porto. O senhor elegante e educado Eriksson e o traste nojento Pinto da Costa cruzam-se e este faladra: "Respeito-o muito senhor Eriksson, mas guerra é guerra"! No final do jogo o resultado foi de 2-0 a favor do «Glorioso», com dois golos do suplente utilizado... César Brito (felizmente) próximos do final do jogo, aos 82 e 85 minutos, pois se fossem no início havia formas habilidosas de passar de 2-0 para 2-3. Benfica, praticamente, campeão nacional devido ao avanço pontual de um - se o FC Porto vencesse passava a ter um ponto de vantagem - para três pontos.




Duas personalidades do Benfica e do Mundo do Futebol: um dos melhores treinadores mundiais da modalidade (Eriksson) e Eusébio, o melhor futebolista português de sempre: além de fazer assistências (sua principal função) para os avançados-centro, depois pontas-de-lança - José Águas, José Torres, Artur Jorge, Victor Batista e Jordão, entre outros que foram várias vezes os melhores marcadores das competições em que o Benfica participava - "ainda" era goleador. Notável.

Eriksson, Eusébio e Toni: que trio glorioso! O Benfica tinha mais espectadores, em muitos dos treinos no campo n.º 3, que alguns clubes da I Divisão nos seus jogos!


9. Eriksson na segunda passagem já tinha que defrontar outro tipo de adversário e adversidades. Em junho de 1982, Pinto da Costa tinha sido eleito e tomado posse como presidente da Direcção há dois meses. Em Junho de 1989 levava sete anos de impunidade e manipulação de muitas pessoas e instituições. O sucesso nunca poderia ser o mesmo pois os adversários sabia ele vencer, mas as adversidades não lhe competiam a ele eliminar... 




10. A empatia entre Eriksson e os adeptos tal como com os futebolistas era fantástica. Sabia muito bem o que queria e como conseguir lá chegar.

Álvaro e Sheu elevam o seu treinador como se fosse uma Águia


11. Eriksson é um dos melhores treinadores na «Gloriosa História» emparceirando com Cosme Damião, Janos Biri, Otto Glória, Béla Guttmann ou Jimmy Hagan, entre outros (que tiveram muita qualidade, mas só ficaram uma temporada, mesmo vencendo "dobradinhas"). Pessoalmente foi o melhor futebol que vi o Clube jogar e o treinador com mais classe que alguma vez vi no trato com elegância e distinção, pois mesmo de Jimmy Hagan ainda era muito novo, para perceber. 

Toni (ajdunto), Palhinhas (massagista), Eriksson (treinador) e Diamantino Ferreira (guarda-redes suplente) em "teste" de pré-temporada

Crónica de uma morte anunciada
Desde 11 de Janeiro de 2024 que se sabia da situação grave e irreversível, pois um cancro no pâncreas, é fulminante. Cada vez, a cada dia que passava, ouvindo-se falar dele estando a ser homenageado era um alívio até que chegou o dia de hoje. Um dia infeliz na «Gloriosa História». 


Obrigado - Por Tudo - Eriksson!


Alberto Miguéns


NOTA: agradecimento ao dedicado leitor Victor João Carocha que permitiu compor o texto com imagens sugestivas que ilustram bem a passagem que ficará para a eternidade de Sven-Göran Eriksson pelo «Glorioso»



NOTA: agradecimento ao dedicado leitor deste blogue Victor João Carocha que elaborou a imagem que ilustra esta publicação 

7 comentários:

  1. Boa Tarde, Sr. Alberto Miguéns...Um dia triste para todo nós, Benfiquistas...O esperado sucedeu, um pouco mais cedo...UM TREINADOR QUE MUDOU O FUTEBOL DO BENFICA E DO FUTEBOL PORTUGUÊS...Pelo menos esta Direcção teve a ombridade de lhe fazer uma Homenagem em vida, que é como deve ser...Homenagear em vida aqueles de quem nos orgulhamos...ATÉ SEMPRE MISTER SVEN....

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  2. Grande homem grande treinador descansa em paz Eriksson.

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  3. Talvez o ultimo verdadeiramente grande treinador a Benfica.
    Do Benfica que guardo na memoria e no coracao. Que tem vindo a desaparecer mas que um dia comecara a renascer.
    Obrigado Mister por tudo o que nos deu e pelo seu exemplo.
    RIP

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  4. Felizmente quando comecei a ir ver o Benfica foi logo com o Eriksson, assim apanhei uma excelente referência. Que infelizmente estão a desaparecer.

    Só espero que se faça um minuto de silêncio quando voltarmos a jogar no nosso estádio como fizeram no ultimo jogo com um dos obreiros das Pedras da Calçada, como explicado no seu post de 22 de Agosto. Ao não fazer mostrarão bem as prioridades atuais do Benfica...

    Saudações Benfiquistas

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  5. Não vi os treinadores da década de cinquenta e sessenta, mas vi todos os das décadas seguintes. Se há algum de que me lembro sempre, é este Senhor. Foi Treinador de um Benfica (ainda) grande e contribuiu, não pouco, para que fosse (ainda) maior. Teve duas passagens pelo Benfica e seguiu o seu caminho até hoje. Se me perguntassem que treinador quereria que treinasse hoje o Benfica, diria sempre: Sven-Göran Eriksson. Acho que é a melhor homenagem que lhe posso prestar. Estará sempre na minha memória viva, apesar da distância que já nos separa desse tempo.
    Ao ver as fotografias desta publicação, as saudades que tenho do Benfica desse tempo!

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  6. Compare-se a qualidade e a classe deste senhor como pessoa com os grunhos que pululam por aí.
    Um grande treinador e um grande homem!

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  7. Deu-me alguns dos anos mais empolgantes da minha vida benfiquista. Era um encanto ter um cavalheiro sabedor de futebol no banco do Benfica. Respeitado pelos adversários, mesmo por gente suja, era amado por muitos benfiquistas. É um dos grandes de sempre, como diz o Alberto. Epítome do que deveria sempre ser um treinador do Benfica. Tive o privilégio de o ver em ambas as passagens pela Luz. Tive a angústia e ao mesmo tempo o consolo de o ver receber uma última homenagem no Estádio da Luz. Será sempre um dos nossos. É um imortal do Benfica.
    E uma vez mais, a necessidade de dizer: obrigado, Mister Eriksson! Descanse em paz.

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