HÁ CEM ANOS O «GLORIOSO» COMPLETOU 20 ANOS MAS CAMINHAVA BEM RESGUARDADO RUMO AO FUTURO!
Entre dezenas de factos e centenas de ocorrências, podem-se destacar dois: o Benfica joga a primeira vez sem utilizar a camisola vermelha (12 de Janeiro) e a estreia em jogo do Rugby (26 de Dezembro).
Em 1924, o "Glorioso" completou 20 anos. Com duas décadas era já uma referência em Portugal. O Clube, tal como em 1923, não se deslocou ao estrangeiro, mas mantiveram-se jogos internacionais em Portugal - seis frente a quatro adversários - e deslocou-se ao Cartaxo, às Caldas da Rainha (dois jogos) e à cidade do Porto (dois jogos). O Benfica iniciou o ano de 1924, em 12 de Janeiro, para defrontar o AC Sparta Praga cujo equipamento se confundia com o do Benfica, por isso, a equipa do «Glorioso», jogando no campo de Palhavã, utilizou as camisolas do clube da "casa" o Império Lisboa Clube (listadas, na vertical, a preto e amarelo) sendo a primeira vez, ao jogo n.º 365, que não jogou de camisola vermelha. Os seis resultados "internacionais": AC Sparta Praga (D 0-6; 12 de Janeiro), Clube Atlético de Madrid (D 1-2 e D 0-2; 2 e 5 de Março), Real Club Deportivo Español, de Barcelona (D 0-2 e D 0-3; 17 e 23 de Setembro) e Szombathly AK, da Hungria (D 0-6; 25 de Dezembro). Seis jogos, seis derrotas e 1/21 em golos. O futebol português, com o "falso amadorismo", estava a ficar para trás, cada vez mais. Nas deslocações para fora de Lisboa: Estrela FC Cartaxense (V 7-0; 6 de Julho); conquista da Taça Associação Comercial e Industrial das Caldas da Rainha (V 2-0; FC Barreirense; 17 de Agosto e V 3-0; Caldas Sport Clube; 31 de Agosto); e no Porto (V 5-0; Vilanovense FC; 20 de Setembro e V 4-2; Boavista FC; 21 de Setembro). cinco jogos, com cinco vitórias e 21/2 em golos. Não havendo competições de âmbito nacional, a pontuar, por isso prolongadas no tempo e espaço, o «Glorioso» "encarregava-se" de as fazer para gáudio dos habitantes locais que começaram a respeitar o Clube e a admirá-lo. Em 1927, chegaria a confirmação. O Benfica era o clube mais popular de Portugal. Digressões a Espanha com frequência além de jogos internacionais, realizados em Portugal davam uma dimensão inigualável ao «Glorioso». Na temporada anterior, em 11 de Março de 1923 o Benfica realizara o último jogo no seu campo de Benfica, já com a construção de um estádio nas Amoreiras à vista, que seria inaugurado em 1925 (13 de Dezembro). Entre os dois estádios o Benfica preferiu alugar os campos ao Império LC (Palhavã) e CIF/Internacional (Laranjeiras) pois "prejudicavam menos" o jogo - melhor piso - e permitiam maior lotação - o Benfica tinha o mais forte e numeroso grupo de adeptos. Aliás, os jogos frente a equipas de clubes estrangeiros disputavam-se, preferencialmente em Palhavã, mas também no Campo Grande.
As instalações do «Glorioso», entre a avenida Gomes Pereira e a Quinta de Marrocos, eram esplendorosas com Sede, Rinque e Campo de Ténis. Atrás um campo de Futebol, desactivado para os jogos da equipa de Honra, mas utilizado para a restante actividade desportiva, com pista para Atletismo onde se bateram recordes nacionais. Ainda com apenas duas décadas e já era a referência do desporto em Portugal.
Com mandatos anuais, as eleições realizaram-se em 27 de Julho de 1924, no Salão Nobre da Sede, localizada na avenida Gomes Pereira, com estes Órgãos Sociais a tomarem posse, em 6 de Agosto de 1924. Foram reeleitos os três presidentes, bem como mais dez dirigentes em vinte e um. Os Órgãos Sociais regressaram a 21 em vez de 20 com o aumento dos suplentes da Direcção de seis para sete. Houve algum descontentamento com a eleição de Vítor Cândido Gonçalves para presidente do Conselho Fiscal, pois além de ser o capitão da equipa de Honra em futebol estava demasiado próximo da Direcção e dependia muito de Cosme Damião. A bem da harmonia no Clube decidiu-se que era preferível reconduzir Eduardo Conceição Silva. Os Órgãos Sociais mantiveram as três presidências, mas alteraram muito a composição dos três Órgãos Sociais. Foram tantas as mudanças que é preferível colocar as duas composições. Com as obras em curso para construir o estádio das Amoreiras, Cosme Damião assegurou a tesouraria, no sentido de dar consistência financeira a um empreendimento que estava a ser mais oneroso do que se pensava. Um "Benfica de combate" face aos desafios que se adivinhavam.
Vítor Cândido Gonçalves era o médio-centro (Futebol). Ilídio Nogueira era o guarda-redes (Hóquei em Patins) |
Com eleições anuais escolhendo dirigentes dedicados e dispostos a servir o Clube sucediam-se outros de igual estirpe a cada acto eleitoral. O Benfica vivia tempos de crescimento sustentado e que contagiava os atletas para conseguirem resultados para lá da excelência parecendo conseguir o intangível.
Alargamento do eclectismo
Em 26 de Dezembro de 1924, o Benfica estreia-se no Râguebi/ Rugby utilizando nos seus quinzes, um misto de futebolistas e atletas de outras modalidades. O Benfica foi derrotado, por 0-11, pelo Sporting CP no nosso campo de Benfica (atrás da Sede na Quinta de Marrocos). Foi o 12.º jogo da modalidade em Portugal, depois do Carcavellos C&FC, Royal FC, Ginásio Clube Português e Sporting CP praticarem a modalidade, desde 1920, com Carcavellos C&FC e Royal FC a estrearem o Rugby, em Portugal, sendo clubes de ingleses. Estes clubes abandonaram modalidade ou tiveram muitos períodos sem actividade, como é o caso do Sporting CP. O «Glorioso» pratica a modalidade, ininterruptamente, desde 26 de Dezembro de 1924, até à actualidade estando a decorrer a 100.ª temporada do Rugby: 1924/25 a 2023/24. Não há uma época sem que o Clube não tenha disputado jogos.
O Benfica praticava Futebol (ininterruptamente desde 1 de Janeiro de 1905), Ciclismo (ininterruptamente desde 11 de Junho de 1906), Atletismo (ininterruptamente desde 2 de Dezembro de 1906), Ginástica (ininterruptamente desde 6 de Janeiro de 1913), Ténis (de Campo) (ininterruptamente desde 29 de Maio de 1915), Patinagem (ininterruptamente desde 1 de Dezembro de 1916), Hóquei em Patins (ininterruptamente como Secção desde 1916 e estreia em competição desde 19 de Agosto de 1917), Luta Greco-romana (ininterruptamente desde 24 de Julho de 1919) e a estreia em 1921 (24 de Julho) do Tiro com Armas de Fogo, Hóquei em Campo (ininterruptamente desde 10 de Março de 1923). Ressurgiu, em 1923, a Natação (estreada em 18 de Junho de 1914) e o Pólo Aquático (estreado em 2 de Julho de 1916) com a utilização da Doca de Pedrouços, alugando o Benfica uma barraca de praia para apoio aos nadadores. O eclectismo do Clube progredia se bem que não existam - eu pelo menos não conheço - notícias de Luta Greco-romana. O clube com 20 anos de existência mantinha dez modalidades sem interrupções (actualmente quatro - Futebol, Atletismo, Ginástica e Hóquei em Patins - ainda se mantêm assim, excluindo das dez, o Ciclismo, Ténis, Patinagem, Luta Greco-Romana, Tiro com Armas de Fogo e Hóquei em Campo), estreava mais uma (Rugby) e tinha mais quatro com prática histórica. Ou seja, quinze modalidades! Um clube ecléctico para lá da potência futebolística em Portugal (campeão regional em 1919/20, nessa época pela 8.ª vez em onze temporadas). Um orgulho o Benfica, Ser Glorioso. Em 2024 ou há 100 anos, em 1924.
FUTEBOL 1923/24
Com quatro plantéis em competição, o Sport Lisboa e Benfica, pela primeira vez na sua «Gloriosa História» não conquistou nenhum dos quatro títulos em disputa pois participou nos campeonatos regionais para as quatro categorias. Soava o "alarme" com apreensão pela degradação, desadaptação e teimosia em manter a estrutura do Futebol em meados dos Anos 20 como no início da fundação do Clube. Subia o tom na contestação às ideias e procedimentos de Cosme Damião com alguns associados a considerarem que as suas práticas e exigências estavam ultrapassadas. Em 1923/24, Cosme Damião, nem podia usar o habitual argumento. Como me disse Rogério Jonet em 1994 (então associado número 1 do SLB e antigo guarda-redes da quarta categoria) quando questionado em Assembleia Geral ou interpelado ele afirmava, peremptório: «Não ganhámos mais uma vez? Então a categoria x (2.ª, 3.ª ou 4.ª) não conquistou o título? No Benfica não há categoria principal, pois para o Clube as equipas são todas as principais nos respectivos campeonatos». E assim com este pensamento à década de dez o Benfica ia sendo suplantado por clubes de menor dimensão na década de 20 do século XX. Na primeira categoria um terceiro lugar na I Divisão (depois do Casa Pia AC e do Sporting CP). Na segunda categoria o Benfica conquistou a I Divisão, mas depois foi derrotado, por 0-2, na finalíssima, pelo Carcavelinhos FC, campeão da II Divisão. Na terceira categoria um terceiro lugar na I Divisão (depois do Sporting CP e do Império LC). Na quarta categoria o Benfica classificou-se em segundo lugar na I Divisão, conquistada pelo CF "Os Belenenses" que também venceria o campeão da II Divisão. A estrutura dos campeonatos manteve-se em 1923/24 como fora criada em 1921/22. Duas divisões, a I Divisão com os clubes históricos (CS Império, SL Benfica, Sporting CP, CF "Os Belenenses" e Casa Pia AC) e a II Divisão com os clubes mais recentes, entre eles o Vitória FC Setúbal, Carcavelinhos FC, União Futebol Clube, Chelas FC, etc.). O campeão regional era apurado depois do vencedor da II Divisão fazer a «prova de competência» com o último classificado da I Divisão. Vencendo disputaria o título regional com o campeão da I Divisão. Nos quatro campeonatos os campeões da II Divisão conquistaram os títulos regionais, na primeira e na segunda categoria, vencendo os campeões da I Divisão. Na primeira categoria o Casa Pia AC (I Divisão) foi derrotado pelo Vitória FC (II Divisão), na segunda categoria o Benfica (I Divisão) foi derrotado pelo Carcavelinhos FC (II Divisão), na terceira categoria o Sporting CP (I Divisão) derrotou, por 7-0, o Carcavelinhos FC (II Divisão) e na quarta categoria o CF "Os Belenenses" (I Divisão) derrotou, por 5-1, o Vitória FC (II Divisão).
CAMPEÕES
REGIONAIS DE LISBOA (1906/07 - 1923/24)
Época |
1.ª categoria |
2.ª categoria |
3.ª categoria |
4.ª categoria |
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Campeão |
SLB |
Campeão |
SLB |
Campeão |
SLB |
Campeão |
SLB |
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1906/07 |
Carcavellos |
2.º |
----------- |
----------- |
----------- |
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1907/08 |
Carcavellos |
3.º |
----------- |
----------- |
----------- |
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1908/09 |
Carcavellos |
2.º |
Internacional |
3.º |
CS Império |
3.º |
----------- |
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1909/10 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
----------- |
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1910/11 |
Internacional |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
----------- |
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1911/12 |
SL
Benfica |
GS Cruz Quebrada |
3.º |
SL
Benfica |
Sporting CP |
4.º |
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1912/13 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
Sporting CP |
3.º |
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1913/14 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1914/15 |
Sporting CP |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1915/16 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL Benfica |
SL
Benfica |
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1916/17 |
SL
Benfica |
Vitória FC Setúbal |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1917/18 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
GD Fábrica Seixas |
2.º |
GF Benfica |
2.º |
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1918/19 |
Sporting CP |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1919/20 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
União FL |
2.ºs |
GF Benfica |
3.ºs |
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1920/21 |
Casa Pia AC |
4.º |
SL
Benfica |
SL Benfica |
GF Benfica |
F |
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1921/22 |
Sporting CP |
2.º |
Vitória FC Setúbal |
F |
SL Benfica |
Carcavelinhos FC |
F |
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1922/23 |
Sporting CP |
3.º |
CF “Os Belenenses” |
4.º |
União FL |
2.º |
SL
Benfica |
||||
1923/24 |
Vitória FC Setúbal |
3.º |
Carcavelinhos FC |
F |
Sporting CP |
3.º |
CF “Os Belenenses” |
2.º |
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TOTAIS |
8 em 18 44 % |
10 em 16 63 % |
11 em 16 69 % |
6 em 13 46 % |
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Este era o Glorioso Benfica superiormente orientado por Cosme Damião com cinco plantéis - havia ainda a "categoria Infantil" (juniores) a jogar durante o ano de 1924, num total de 76 jogos em cinco plantéis, movimentando mais de uma centena de futebolistas. Não havia paralelo em Portugal.
DESPORTO 1924
Depois da Grande Guerra que causara transtornos a todos mas com o desporto a sofrer pois muitos dos combatentes praticavam uma ou mais modalidades, havia que modernizar a organização desportiva. O Benfica como clube mais popular em Lisboa e no País - embora ainda não houvesse essa ideia com clareza, mas chegaria em 1927 com a realização da «I Volta a Portugal em Bicicleta» - estava na vanguarda.
Caro Senhor Alberto Miguéns,
ResponderEliminarParabéns pelo trabalho, dedicação e o bonito sentimento de amor pela vida e história, símbolo e memória do nosso Sport Lisboa e Benfica.
O ilustre companheiro de jornada após jornada pode ter a certeza que tem vindo a praticar um serviço público de enorme importância e valor em prol do espírito e das cores do Benfica, de todo o universo Benfiquista, para o nosso próprio deleite, os adoradores e seguidores deste imenso clube, que se traduz numa paixão sem descrição possível, e uma devoção que não existe como descrevê-la. O Benfica é bem mais que um clube, e somos todos a prova disso. A sua importância confunde-se, por vezes, com a própria vida, e a honra de representar Portugal no mundo, o encanto do apoio popular de dimensão planetária.
A importância e espectacularidade do nome do Benfica deve-se também ao contributo inestimável de personalidades com qualidades humanas e intelectuais de excelência, pela sua dedicação e trabalho árduo em promover a arqueologia na história, pela pesquisa nas fontes, para uma recuperação de informação e instrução pessoal em cada um de nós que, unidos, fazemos parte da própria identidade especial e única do que traduz a universalidade e importância extraordinária deste clube tão grande e tão amado.
Nunca é demais voltar a agradecer a contribuição inestimável que o seu trabalho e dedicação constituem, e que fazem do nosso amigo Alberto Miguéns uma personalidade viva do clube, um exemplo a admirar e sempre a considerar quando se fala em Benfica.
Um 2024 repleto de saúde, prosperidade e sucessos pessoais e desportivos, é o que lhe desejo, a si, aos seus e a todos os benfiquistas que, como nós, vivem as alegrias e partilham o significado que se traduz no que é o
"Sentir o Benfica", geração após geração.
Que continuemos a desfrutar de muitas vitórias, tainadas e conhaques neste novo ano!
Um abraço, e.. Viva o Benfica!
Que trabalho notável... Continue sempre! Bom Ano!
ResponderEliminarUm texto notável, fornecendo não apenas uma riqueza de dados e evocações mas também reflexões sobre um período notável da História do Sport Lisboa e Benfica. Com uma História tão deslumbrante para que é que tantos e tantos Benfiquistas se preocupam com espuma dos dias? A vivência, o Ser Benfiquista, está exposta nestas evocações, nestas reflexões. É o Benfica, passado, presente e futuro. Honrar hoje os Ases que nos honraram o passado!
ResponderEliminarCaro Sr. Alberto Miguéns...Excelente investigação da sua parte, como é seu apanágio...E relativamente à "Taça da Associação Comercial e Industrial das Caldas da Rainha" que o Sr. divulgou é engraçado que na minhas investigações para o meu blogue "O Arquivo do Caldas" nada encontrei sobre a prova em questão...Gostaria de perguntar-lhe em que fonte pesquisou???...Obrigado e continue as suas preciosas investigações históricas. Um abraço Glorioso.
ResponderEliminarCaro Ricardo Pereira
EliminarAgradeço as simpáticas palavras. No Clube e nos jornais "Os Sports" e "O Sport de Lisboa". O Centro de Restauro dentro da «Catedral» tem essa taça no seu acervo.
Abraço Glorioso
Alberto Miguéns
Caro Sr. Alberto Miguéns...Muito Obrigado...Imaginei que pelo menos no jornal "Os Sports" deveria estar, mas como nesse período só existia na região das Caldas da Rainha, o Jornal "O Círculo das Caldas", este pasquim não noticiou essa prova...Pois o Jornal "Gazeta das Caldas", que ainda hoje existe, só foi fundado no ano seguinte, o de 1925. Um Abraço Glorioso.
EliminarFantástico! O Alberto é a enciclopédia do Benfica!
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