Em destaque Carlos Alberto de Faria que seria o primeiro associado distinguido em assembleia geral com a «Águia de Ouro» |
Em 1923, o "Glorioso" completou 19 anos. Com quase duas décadas era já uma referência em Portugal. Depois de um ano de 1922 em que se intensificaram as digressões ao estrangeiro - Sevilha e Madrid - em 1923 o Clube deu prioridade a Portugal embora jogando frente a cinco equipas de três clubes estrangeiros, mas em Lisboa: Bezirk TVE (Hungria; dois jogos consecutivos), Nuselsky SC (Checoslováquia; dois jogos, um em Maio e outro em Dezembro) e a estreia frente a um histórico, SK Rapid Viena (Áustria) em 25 de Dezembro de 1923, por isso, assinalar-se-á em 2023 o centenário deste encontro (D 1-2, no Campo Grande, onde jogava o Sporting CP). O Benfica iniciou o ano de 1923, no Porto, jogando a 1 com o SC Salgueiros (V 4-2) passaram ontem 100 anos; em Junho (25 e 26) defrontou o Sport Faro e Benfica (V 6-1) e SC Farense (V 6-1), respectivamente; em 8 de Julho foi ao Cartaxo (V 5-1 com o Estrela FC Cartaxense); iniciou a temporada de 1923/24 no Porto - vitórias, por 2-1 e 7-1, respectivamente, frente ao SC Salgueiros (no campo da Constituição, do FC Porto) e FC Porto, este a estrear o campo Nun'Álvares, no Carvalhido. Não havendo competições de âmbito nacional, a pontuar, por isso prolongadas no tempo e espaço, o «Glorioso» "encarregava-se" de as fazer para gáudio dos habitantes locais que começaram a respeitar o Clube e a admirá-lo. Em 1927, chegaria a confirmação. O Benfica era o clube mais popular de Portugal. Digressões a Espanha com frequência além de jogos internacionais, realizados em Portugal davam uma dimensão inigualável ao «Glorioso». Foi em 11 de Março de 1923 que o Benfica realiza o último jogo no seu campo de Benfica, já com a construção de um estádio nas Amoreiras à vista, que seria inaugurado em 1925 (13 de Dezembro). Entre os dois estádios o Benfica preferiu alugar os campos ao Império LC (Palhavã) e CIF/Internacional (Laranjeiras) pois "prejudicavam menos" o jogo - melhor piso - e permitiam maior lotação - o Benfica tinha o mais forte e numeroso grupo de adeptos. Aliás, os jogos frente a equipas de clubes estrangeiros disputavam-se, preferencialmente em Palhavã, mas também no Campo Grande.
Primeira Águia de Ouro (então denominada medalha de primeira classe)
Atribuída, em 4 de Fevereiro de 1923, a Carlos Alberto de Faria pelo notável trabalho realizado em África na divulgação do Benfiquismo através do Sport Lisboa e Beira, que era considerado o melhor clube desportivo das colónias portuguesas (Angola e Moçambique) batendo-se ainda com os clubes das regiões de influência inglesa e holandesa que deram origem à Namíbia e à África do Sul.
As instalações do «Glorioso», entre a avenida Gomes Pereira e a Quinta de Marrocos, eram esplendorosas com Sede, Rinque e Campo de Ténis. Atrás um campo de Futebol com pista onde se bateram recordes nacionais. Ainda nem duas décadas tinha e já era a referência do desporto em Portugal.
Com eleições anuais escolhendo dirigentes dedicados e dispostos a servir o Clube sucediam-se outros de igual estirpe a cada acto eleitoral. O Benfica vivia tempos de crescimento sustentado e que contagiava os atletas para conseguirem resultados para lá da excelência parecendo conseguir o intangível.
Alargamento do eclectismo
Em 10 de Março de 1923, o Benfica estreia-se no Hóquei em Campo utilizando nos seus onzes, um misto de futebolistas e hoquistas em Patins. O Benfica venceu, por 4-1, o Hóquei Club de Portugal no nosso campo de Benfica (atrás da Sede na Quinta de Marrocos). Foi o segundo jogo da modalidade em Portugal, depois de um CIF/Internacional frente ao Hóquei Club de Portugal, com vitória do Internacional, por 5-2, em 3 de Março, uma semana antes da estreia do Benfica. O Clube praticaria a modalidade, ininterruptamente, até 1996/97, quando por uma atitude estúpida ou uma série delas a desconsiderar atletas amadores estes recusaram ser humilhados pela Direcção que obrigava o Benfica a perder por "falta de comparência" por não destacar nenhum funcionário para fazer as marcações da modalidade no pelado (campo n.º 5) atrás da piscina, nas anteriores instalações do Benfica, como é evidente.
O Benfica praticava Futebol (ininterruptamente desde 1 de Janeiro de 1905), Ciclismo (ininterruptamente desde 11 de Junho de 1906), Atletismo (ininterruptamente desde 2 de Dezembro de 1906), Ginástica (ininterruptamente desde 6 de Janeiro de 1913), Ténis (de Campo) (ininterruptamente desde 29 de Maio de 1915), Patinagem (ininterruptamente desde 1 de Dezembro de 1916), Hóquei em Patins (ininterruptamente como Secção desde 1916 e estreia em competição desde 19 de Agosto de 1917), Luta Greco-romana (ininterruptamente desde 24 de Julho de 1919) e a estreia em 1921 (24 de Julho) do Tiro com Armas de Fogo. Ressurge a Natação (estreada em 18 de Junho de 1914) e o Pólo Aquático (estreado em 2 de Julho de 1916) com a utilização da Doca de Pedrouços, alugando o Benfica uma barraca de praia para apoio aos nadadores. O eclectismo do Clube progredia se bem que não existam - eu pelo menos não conheço - notícias de Luta Greco-romana e Tiro com armas de Fogo. O clube com 19 anos de existência mantinha nove modalidades sem interrupções (actualmente quatro ainda se mantêm assim - excluindo das nove, o Ciclismo, Ténis, Patinagem, Luta Greco-Romana e Tiro com Armas de Fogo), estreava mais uma (Hóquei em Campo) e tinha mais quatro com prática histórica. Ou seja, catorze modalidades! Um clube ecléctico para lá da potência futebolística em Portugal (campeão regional em 1919/20, nessa época pela 8.ª vez em onze temporadas). Um orgulho o Benfica, Ser Glorioso. Em 2023 ou há 100 anos, em 1923.
FUTEBOL 1922/23
Com quatro plantéis em competição, o «Glorioso» sagrou-se campeão na quarta categoria, vencendo a I Divisão e depois o vencedor da II Divisão (Carcavelinhos FC), para apurar o campeão regional, numa final. Na terceira conquistou a I Divisão, sendo finalista com o campeão da II Divisão, mas depois de um empate a dois golos, foi derrotado, por 1-4, na finalíssima. Na primeira continuou a fazer-se sentir a "sangria" no Verão de 1920 para fundar o Casa Pia AC. Foi longa e desesperante a recuperação. Foi necessário mudar a estrutura do Futebol, em 1926, e apenas em 1932/33 se conquistaria o Regional da "Mística" doze temporadas depois do último Regional que já datava de 1919/20. Na segunda obteve o pior resultado de sempre, ou seja, desde 1908/1909 (4.º lugar) atrás do CF "Os Belenenses", Sporting CP e até do CIF/Internacional num campeonato com cinco clubes, só o Império LC fez pior. Foi a pior temporada desde sempre na secção de Futebol - o Benfica ficou pela terceira temporada sem conquistar o título na primeira categoria (o que já não ocorria desde 1908/1909), teve a segunda categoria a fazer a pior classificação de sempre em 15 edições do campeonato regional, foi vencido na final (finalíssima) pelo campeão da II Divisão na terceira categoria e conseguiu o título na quarta categoria depois de três temporadas sem o conseguir. Havia preocupação entre os Benfiquistas, mas Cosme Damião era inflexível. Como me disse Rogério Jonet em 1994 (então associado número 1 do SLB e antigo guarda-redes da quarta categoria) quando questionado em assembleia Geral ou interpelado ele afirmava, peremptório: «Não ganhámos mais uma vez? Então a categoria x (2.ª, 3.ª ou 4.ª) não conquistou o título? No Benfica não há categoria principal, pois para o Clube as equipas são todas as principais nos respectivos campeonatos». E assim com este pensamento à década de dez o Benfica ia sendo suplantado por clubes de menor dimensão na década de 20 do século XX.
CAMPEÕES
REGIONAIS DE LISBOA (1906/07 - 1922/23)
Época |
1.ª categoria |
2.ª categoria |
3.ª categoria |
4.ª categoria |
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Campeão |
SLB |
Campeão |
SLB |
Campeão |
SLB |
Campeão |
SLB |
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1906/07 |
Carcavellos |
2.º |
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----------- |
----------- |
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1907/08 |
Carcavellos |
3.º |
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----------- |
----------- |
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1908/09 |
Carcavellos |
2.º |
Internacional |
3.º |
CS Império |
3.º |
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1909/10 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1910/11 |
Internacional |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1911/12 |
SL
Benfica |
GS Cruz Quebrada |
3.º |
SL
Benfica |
Sporting CP |
4.º |
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1912/13 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
Sporting CP |
3.º |
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1913/14 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1914/15 |
Sporting CP |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1915/16 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL Benfica |
SL
Benfica |
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1916/17 |
SL
Benfica |
Vitória FC Setúbal |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1917/18 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
GD Fábrica Seixas |
2.º |
GF Benfica |
2.º |
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1918/19 |
Sporting CP |
2.º |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
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1919/20 |
SL
Benfica |
SL
Benfica |
União FL |
2.ºs |
GF Benfica |
3.ºs |
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1920/21 |
Casa Pia AC |
4.º |
SL
Benfica |
SL Benfica |
GF Benfica |
F |
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1921/22 |
Sporting CP |
2.º |
Vitória FC Setúbal |
F |
SL Benfica |
Carcavelinhos FC |
F |
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1922/23 |
Sporting CP |
3.º |
CF “Os Belenenses” |
4.º |
União FL |
2.º |
SL
Benfica |
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TOTAIS |
8 em 17 47 % |
10 em 15 67 % |
11 em 15 73 % |
6 em 12 50 % |
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Este era o Glorioso Benfica superiormente orientado por Cosme Damião com cinco plantéis - havia ainda a "categoria Infantil" (juniores) a jogar durante o ano de 1923, em 81 jogos, movimentando mais de uma centena de futebolistas. Não havia paralelo em Portugal.
DESPORTO 1923
Depois da Grande Guerra que causara transtornos a todos mas com o desporto a sofrer pois muitos dos combatentes praticavam uma ou mais modalidades, havia que modernizar a organização desportiva. O Benfica como clube mais popular em Lisboa e no País - embora ainda não houvesse essa ideia com clareza, mas chegaria em 1927 com a realização da «I Volta a Portugal em Bicicleta» - estava na vanguarda.
Félix Bermudes (como habitual) um dos primeiros a aderir (o n.º 9) e mostrar o caminho dando o exemplo! |
Outro dia (30 de Junho de 1923) mas quase o mesmo cinco que defrontou o Sporting CP, apenas com Carlos Tavares no lugar de Fernando Adrião |
O «Glorioso» no mesmo campo, no Cartaxo, mas um ano depois. Era assim o Benfica. Ia a uma localidade e à vontade das pessoas passava a ir lá todos os anos! |
Os dois defesas do «Glorioso» nesse jogo: José Pimenta (à esquerda) e Artur Augusto (à direita) exactamente como jogaram o encontro |
Tão impressionante constatar como, com apenas 19 anos, o Benfica era um Clube tão dinâmico e sempre o mais querido, como ver a qualidade, quantidade e rigor da informação que o Alberto nos mostra.
ResponderEliminarBenfica, sempre Benfica!