01 julho 2022

Passa um Mês dos 92 Anos

EM QUE O «GLORIOSO» CONQUISTOU A PRIMEIRA TAÇA DE PORTUGAL.



Ainda designada «Campeonato de Portugal» em 1929/30. Não foi possível, por uma questão de actualidade, assinalar a efeméride a 1 de Junho, mas mais vale tarde do que nunca. É assinalada em 1 de Julho. Este texto será reeditado, revisto e aumentado, aquando do Centenário em 1 de Junho de 2030.


NOTA INICIAL: Agradecimento ao Benfiquista Victor João Carocha pela magnífica composição com que ilustra a abertura do texto de hoje. No final mais quatro notas.


ATENÇÃO: o texto vai ser, previsivelmente, muito longo e maçudo! Quem não gostar da Gloriosa História contada ao pormenor é melhor desistir de imediato! E mereceria até ser mais esmiuçada e melhor contada! Dez vezes mais texto, com o relato dos nove jogos.


O primeiro título nacional na primeira final

O Benfica conseguiu, após quatro participações consecutivas no "Campeonato de Portugal" conquistar o troféu, em disputa desde 1921/22, isto quando a competição ia já na nona edição. Um título tardio tendo em consideração a Gloriosa História do Benfica e a sua implantação entre os portugueses, mas as dificuldades competitivas que o nosso clube sentira nos Anos 20, no campeonato regional de Lisboa, dificultaram a participação no mal denominado "Campeonato de Portugal", já que o apuramento se fazia pelas classificações nos campeonatos regionais. A primeira edição até só registou a participação de dois clubes.

 

Mudança de treinador

Com os afazeres profissionais de António Ribeiro dos Reis, capitão-geral (ou seja, treinador) desde o afastamento de Cosme Damião, em 8 de Agosto de 1926, foi necessário contratar um treinador. Ribeiro dos Reis foi obrigado a ir fazer o curso de capitães do exército a Braga (contou-me a fua filha Margarida Ribeiro dos Reis) pois desde a implantação da Ditadura Nacional que teve origem em Braga, no 28 de Maio de 1926, assim tinha de ocorrer durante um ano. Mas... António Ribeiro dos Reis (a par de Cândido de Oliveira) dominava os conhecimentos do Futebol em Portugal, indcando como a melhor solução o treinador do Vitória FC (Setúbal)... Arthur John. Uma solução para apenas uma temporada visto que Ribeiro dos Reis estaria de regresso ao cargo de capitão-geral, em 1930/31. Os associados do Benfica "torceram o nariz" pois pela primeira vez recorria-se a um "não Benfiquista" depois de Manuel Gourlade, Cosme Damião e Ribeiro dos Reis. Alguns (muitos?) diziam (contou-me o senhor Macarrão) que o treinador tudo iria fazer para o Benfica perder com o Vitória FC (Setúbal)! Feitios. Aliás Ribeiro dos Reis sabendo disso até considerou que um português não-Benfiquista seria impensável. E mesmo um estrangeiro causou muita desconfiança. Coisas de Benfiquistas. Mas Arthur John foi a pedra basilar de uma temporada fantástica. As cambiantes que inventava - trocando inesperadamente de futebolistas de um jogo para outro - baralhava os adversáros. Infelizmente não dá para contar hoje. Mas que ele merece que seja contao... merece.

 

                    PLANTEL DE 21 GLORIOSOS

NOTAS: Min - Minutos jogados; JT – Jogos totais; JCt – Jogos completos;  JI – Jogos incompletos; A – Assistências para golos; G – Golos;   C  – Capitão; GR – Guarda-redes; DD – Defesa-direito; DE – Defesa-esquerdo; MD – Médio-direito; MC – Médio-centro; ME – Médio-esquerdo; (entre parêntesis os nomes na futura táctica em WM); ED – Ponta-direita/Extremo-direito); ID – Avançado-meia-ponta-direito/Interior-direito; AC – Avançado-centro; IE – Avançado-meia-ponta-esquerdo/Interior-esquerdo; EE – Ponta-esquerdo/Extremo-esquerdo


PRIMEIRA ELIMINATÓRIA

Sob a batuta do treinador Arthur John, na primeira eliminatória (uma espécie de dezasseis-avos-de-final) eliminámos, por 8-1, o campeão de Santarém, Sport União Operária, no único encontro - em nove - fora de Lisboa. O Benfica ficara em segundo lugar no Regional de Lisboa. Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"


OITAVOS-DE-FINAL

O adversário foi o Casa Pia AC, num jogo sempre especial, que durava há uma década. Era um embate que prometia muita luta com um adversário (4.º lugar no Regional) pois nessas dez temporadas os jogos revestiam-se de intensa rivalidade: depois de vencer, por 2-0, em "casa" nas Amoreiras, o Benfica empatou "fora" a dois golos, num encontro que apenas durou 87 minutos pois o Casa Pia AC resolveu abandonar o jogo a três minutos do final do tempo regulamentar (90 minutos). Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"

 

QUARTOS-DE-FINAL

O sorteio colocou, o Benfica em confronto com mais um clube de Lisboa, os alcantarenses do Carcavelinhos FC (6.º no Regional). O «Glorioso» venceu, por 4-2, na primeira-mão, jogada no campo das Amoreiras, mas na segunda-mão fomos derrotados, por 0-2, no estádio da Tapadinha, num encontro em que o médio-direito Ralf Bailão foi expulso aos 82 minutos, tendo o jogo terminado um minuto depois! Com a eliminatória empatada, uma vitória para cada clube, foi necessário recorrer a um terceiro jogo, em campo neutro, para desempatar. Mesmo desfalcados de cinco (!) jogadores titulares, dois por castigo e três por doença, o «Glorioso» conseguiu vencer, por 7-0, o Carcavelinhos FC, no Campo Grande, terreno de jogos do Sporting CP, obtendo um dos melhores resultados desses anos e de sempre! Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"


MEIAS-FINAIS

Mais um confronto, em Lisboa, desta vez com os santoaamarenses do União Futebol Lisboa (5.º classificado no Regional e finalista do "Campeonato de Portugal" na época anterior). Previam-se dois grandes jogos até porque o adversário vinha rotulado como a grande sensação da prova, pois afastara o Vitória FC (Setúbal) - segundo classificado no campeonato regional de Setúbal - que eliminara o Sporting CP (3.º no Regional de Lisboa). Venceu-se, nas Amoreiras, por 1-0 e conseguiu-se empatar, a um golo, no campo de Santo Amaro. Finalmente o Benfica estava pela primeira vez, à quarta participação, numa final do "Campeonato de Portugal". O outro finalista era o FC Barreirense (campeão regional de Setúbal) que causara sensação, ao eliminar, nas meias-finais, a poderosa - e principal candidata ao título - equipa do CF "Os Belenenses", vencedor da competição em título (1928/29) e Bicampeão de Lisboa, em 1928/29 e 1929/30. Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"

 

FINAL

A final disputou-se, no Campo Grande, próximo do estádio (Lumiar) onde o FC Barreirense jogava no tempo em que disputava o Regional de Lisboa. O adversário marcou logo aos cinco minutos, mas o Benfica empatou aos 22 minutos, por Augusto Dinis. Assim findou o tempo regulamentar. Já em tempo de prolongamento, aos 97 minutos, Manuel d'Oliveira fez o 2-1 (após assistência de Augusto Dinis) e aos 110 minutos, coube ao casapiano Guedes Gonçalves, fazer o resultado final de 3-1. Clicar para jornal vespertino "Diário de Lisboa"



Um hiato com dez penosas épocas a ver os outros conquistar

A primeira participação na final da competição permitiu o primeiro triunfo. Afastado há dez temporadas das grandes conquistas - desde o Regional de 1919/1920 a que se seguiu a deserção para formar o Casa Pia AC - o «Glorioso» "regressava" com o título de vencedor do «Campeonato de Portugal». Os dez anos que separam este título do último campeonato de Lisboa constituíram, de facto, um caminho árduo. Mas os Benfiquistas nunca desistiram. Nunca! 


Tudo bem festejado, mas À Benfica, logo a pensar no próximo

O resultado despertou grande entusiasmo e deu origem à realização de um banquete de homenagem a todos os futebolistas que para ele - título - contribuíram. Foi uma festa magnífica de exaltação Benfiquista. Fechou-se em beleza uma temporada movimentada, que causara grandes apreensões no início, mas que pode ser classificada como uma brilhante recuperação de um passado extraordinário e vibrante.


Obrigado a todo o Benfica - adeptos, sócios, dirigentes, treinador e futebolistas - de 1929/30.

 

Alberto Miguéns


NOTA FINAL1: como o Benfica actual ignora os adeptos, dirigentes, Arthur John e futebolistas cá estão os Benfiquistas do presente para "Honrar os Ases Que Nos Honraram o Passado";


É incrível como é que o Benfica ignora - humilha e despreza - todos os que estiveram envolvidos nesta conquista, em 1929/30, mas também em 1930/31 e 1934/35! Se não querem a legalidade - juntar os Campeonatos de Portugal com as Taças de Portugal - ao menos separem-nas mas coloquem os 3 campeonatos de Portugal. Este Benfica envergonha quem é decente, como julgo ser este blogue! 


NOTA FINAL2: o Sporting CP vai querer conquistar quatro campeonatos de uma assentada - nem nos próximos 50 anos em campo vão conseguir - por isso vão tentar colocar, em conluío com o FC Porto, um presidente na FPF. Atenção que estando em vigor, desde 1938, que o campeonato de Portugal continuou como Taça de Portugal, não é necessária uma assembleia geral extraordinária (AGE) para modificar a natureza das competições, pois não há nenhum regulamento que o diga visto ser uma impossibilidade. Um presidente da FPF e a sua Direcção podem fazê-lo. Fernando Gomes é que quis fazer uma AGE, pois nada o obrigava;


NOTA FINAL3: nestes dias são só achamentos. Quase toda a "gente acha que"... Mas a história não se faz de achamentos. Eu também "acho muita coisa". A história faz-se com documentos. E contra documentos (factos) não há achamentos (argumentos). Há por aí muito aldrabão a achar o que nunca investigou e estudou. E até surgiu um Historiador do Oriente Lusitano ou Não que também acha. E neste caso é grave pois é Doutor em História. Tapem-no com uma "manta" para que não se constipe!;



NOTA FINAL4: os adeptos - e não só - mentirosos do FC Barreirense (clicarAldrabices atrás de aldrabices:

1. O Campo Grande era o estádio do Sporting CP (por isso neutro) pois o Benfica jogava nas Amoreiras;

2. João d'Oliveira terminou o castigo, após revisão de um processo inacreditável como poucas vezes se tinha visto no futebol português - oito meses de suspensão - em 31 de Maio e a final foi em 1 de Junho (domingo);

3. Silvestre Rosmaninho era casapiano. Aliás anti-Benfica pois foi um dos desertores do final de 1919/1920 saíndo do Benfica para ser um dos fundadores do Casa Pia AC. Se havia alguém que não gostava do «Glorioso» era ele. Isto em 1930, uma década após a deserção;

4. Nunca foi «Águia de Ouro» como é evidente;

5. João d'Oliveira não marcou nenhum golo. O primeiro foi de Augusto Dinis, o segundo de Manuel d'Oliveira - irmão de João d'Oliveira - e o terceiro do empregado na Casa Pia de Lisboa mas intrépido Benfiquista, Guedes Gonçalves. 


Vão aldrabar para outro lado! 

1 comentário:

  1. A década e 20 foi muito dolorosa para o Sport Lisboa e Benfica. A perda dos viveiros de Belém (fundação do CFB e CPAC), os investimentos pesados no parque desportivo da Amoreira, e por fim a irredutibilidade de Cosme Damião em não aceitar os novos tempos, com a necessidade de pagar para atrair os melhores jogadores, todos esses fatores reduziram drasticamente a capacidade competitiva do Clube. Com o modelo competitivo da altura, o SLB nem sequer chegava a disputar as fases decisivas dos títulos nacionais. A mudança vinda com as eleições de 1926 resolveu parte desses problemas, apenas permitindo que no final da década fosse, enfim, conquistado esse título.É por isso que esse título foi um dos mais importantes da nossa História.

    O Alberto descreve em muito maior detalhe esses tempos mal conhecidos e mesmo que não tão vencedores, ainda assim têm um fascínio muito próprio e merecem ser investigados e melhor conhecidos. É um prazer imenso ler estes texto longos e refinados do Alberto. Os dados estatísticos, então, são extraordinários e só aqui se podem encontrar. É o Benfica na sua essência mais nobre e definidora: honrar os ases que nos honraram o passado!

    Obrigado.


    Uma última nota, ainda para o revisionismo histórico desavergonhado. Estou convencido que, se o FCP ganhasse grandemente com essas mudanças, e se não estivesse em clima de confronto com os viscondes, então o desfecho da AG de ontem, teria sido diferente. Por isso, caso a FPF continue a não ter coluna vertebral mais tarde ou mais cedo aprovarão a vigarice. Clubes revisionistas e FPF cobarde, nem sequer tem respeito pelas suas direções anteriores.

    Como diria Eça de Queiroz, "Portugal não é um país, é um sítio mal frequentado"...

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