09 maio 2020

Há 60 Anos na Índia

HÁ SEIS DÉCADAS, O FUTEBOL DO «GLORIOSO» ENCONTRAVA-SE EM DIGRESSÃO PELA ÍNDIA PORTUGUESA.

15 de Maio de 1960; Goa; Da esquerda para a direita.Em cima: Ramalho, Alfredo, Inácio, Sidónio, Jurado, Marques, Zézinho e Bastos; Em baixoAntónio Malta da Silva, Vieira Dias, Peres, Mendes, Espírito Santo e Francisco Palmeiro

Amanhã, 10 de Maio (1960) fez a estreia, em Margão, para depois realizar mais dois jogos, em 12 e em 15, num encontro que foi uma manifestação ímpar de Benfiquismo na Ásia. Há 60 anos! E o Benfica fez deslocar a categoria de Reserva, pois a de Honra, estava a disputar o campeonato nacional.


Os dois navios gémeos «Índia» e «Timor» da CCN - Companhia Colonial de Navegação - que percorriam a rota do Extremo Oriente, entre Lisboa e Dili, em sentidos contrários!

Há muito que os goeses desejavam ver o Benfica
Tal como os angolanos e moçambicanos. O Benfica apenas em 1950 teve condições - viagem de avião - para jogar em África. E foi. De navio seria impossível. Para a Índia ainda era mais difícil. De barco eram meses, até porque nem sempre era possível a viagem pelo Mar Mediterrâneo com a utilização do Canal do Suez devido ao conflito entre Israel e os Árabes. O meu saudoso pai que cumpriu o serviço militar em Goa (Aguada, Mapuçá, Pangim, Margão, Pondá, Alparqueiros e Mormugão/Vasco da Gama, por exemplo) na viagem de ida (navio Timor) foi pelo Cabo da Boa Esperança, enquanto no regresso (navio Índia) já teve a viagem encurtada pelo Mar Vermelho e Mediterrâneo. Em 6 de Maio de 1960, o Benfica seguiu de avião por Moçambique e daqui para a Ásia. Num registo, desportivo e social, inolvidável.


O «Índia» fotografado pelo meu pai no porto de Mormugão, em 1959. O desejo de um militar radiotelegrafista em regressar o mais depressa possível a "casa". Ficava-se pelo desejo... E ver partir o «Índia» ou o «Timor» e ficar em terra, ainda por lá... custava! E se ele soubesse o que estava para acontecer...

A «Reserva» do Benfica, em 1959/60, tinha muita qualidade
O plantel de 14 futebolistas incluía: Bastos (campeão latino, em 1950); Mendes que na temporada seguinte, em 31 de Maio de 1961, foi um dos 15 futebolistas escolhidos por Béla Guttmann que viajaram até à Suíça, para jogarem a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em Berna, frente ao FC Barcelona, então CF Barcelona; Espírito Santo que foi um dos 15 futebolistas escolhidos por Béla Guttmann, em 1961/62, para defrontar o Tottenham HFC, em Londres, na segunda mão das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus (5 de Abril de 1962), cujo resultado permitiu o apuramento para a final de Amesterdão, frente ao Real Madrid CF, com o resultado que se sabe - o Benfica como Bicampeão Europeu, em 2 de Maio de 1962; e Alfredo que era titular indiscutível na equipa de Honra até à recomposição dos onzes titulares com a inclusão de Cruz.


  
Os campos onde o Benfica jogou, com as diferenças de por eles terem passado seis décadas: Vasco da Gama, em Mormugão (à esquerda) e Fatorda, em Margão (à direita)

A digressão à Índia também ajudou...
Com 14 futebolistas de grande classe, na maioria ainda jovens, na categoria de Reserva, em 1959/60, o Benfica - diz-se que por sugestão de José Valdivielso aceite por Béla Guttmann - decidiu reformular a política do futebol sénior para 1960/61, como está bem explicado no fabuloso "Relatório e Contas do SLB, em 1960".



Foram dias de Glória
O Benfica jogou em 10, completam-se amanhã 60 anos, em 12 e a 15. Neste dia enquanto a equipa de Reserva completava a digressão, a equipa de Honra sagrava-se campeã nacional, a uma jornada do final da competição, na deslocação a Matosinhos, para derrotar por 2-1 o Leixões SC. O «Glorioso» regressava aos títulos de Campeão Nacional após um hiato de duas temporadas, pois a última conquista, com «dobradinha» datava de 1956/57, ainda com o treinador Otto Glória.



O dia 15 de Maio de 1960
1. Em Goa (Vasco da Gama) a apoteose como regista o jornal «Diário de Lisboa» publicado em 16 de Maio de 1960, na pagina 7 do "Suplemento Desportivo".



2. Para Matosinhos, o Benfica fez deslocar 15 futebolistas: Costa Pereira e Barroca; Mário João, Artur, Ângelo e Serra; Neto, Cruz e Saraiva; José Augusto, Santana, José Águas, José Torres, Coluna e Cavém. Jogou o seguinte onze (em baixo), pois não havia substituições, a não ser o guarda-redes. Barroca foi depois suplente utilizado no encontro da última jornada, na «Saudosa Catedral». De referir que José Torres jogava na categoria Reserva - era titular indiscutível - mas não se deslocou à Índia.



O Benfica em Goa de avião e os Benfiquistas em Matosinhos no «Timor»
A possibilidade do «Glorioso» recuperar o título, frente ao Leixões SC, após duas longas temporadas de "seca" - 1957/58 a 1958/59 - provocou tão grande euforia entre os Benfiquistas que houve necessidade do meio de transporte dos simpatizantes do Benfica, entre o porto de Lisboa e o porto de Leixões também ser... bem grande!



A excelência do plantel das «Reservas» em 1959/60 era tal
Que houve futebolistas integrados por Béla Guttmann no plantel da equipa de Honra para 1960/61, como Inácio e Francisco Palmeiro (regresso ao plantel da equipa de Honra). Além de Germano (que foi a única aquisição da temporada). Destes 16... 14 seriam Campeões Europeus. Nas cinco deslocações ao estrangeiro, para os jogos na Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica recorreu a quatro futebolistas da Reserva. Do plantel da equipa de Honra, apenas Inácio e Francisco Palmeiro nunca foram convocados para qualquer um desses cinco jogos. 



A continuação de uma categoria Reserva de luxo...
Com apenas a aquisição de Manuel Pinto, do CD Montijo, além da "subida" de cinco juniores: Amândio Gonçalves, António Moreira, Carlos Campos, Carlos Silva e Jorge Lopes. Quinze futebolistas de enorme talento e expectativa quanto a serem reforços a qualquer momento para a equipa de Honra. Em relação aos cinco jogos no estrangeiro, para a Taça dos Clubes Campeões Europeus, Barroca foi sempre convocado (Costa Pereira foi sempre o escolhido), José Torres foi quatro vezes convocado (mas nunca jogou) - Edimburgo, Budapeste, Aarhus e Viena. Mendes foi o avançado-centro escolhido para Berna, mas José Águas manteria a titularidade. No Benfica, guarda-redes e avançado-centro - José Torres e Mendes chegaram a jogar em simultâneo - é para jogar sempre, mesmo na Reserva para depois estarem "em forma" para não se notar grande diferença quando chamados à equipa de Honra. Manuel Pinto foi convocado para a deslocação a Budapeste, mas o titular continuaria a ser Ângelo.




Uma Reserva de Honra
Na Índia Portuguesa, o Benfica esteve irrepreensível, com golos de Peres e Palmeiro (mas o adversário ainda igualou a um golo) na vitória por 2-1 (10 de Maio); Mendes (dois), Vieira Dias e Alfredo Espírito Santo, na vitória por 4-0 (12 de Maio); Alfredo Espírito Santo, na vitória por 1-0 (15 de Maio).






É este o Benfica que é o orgulho de qualquer Benfiquista!

Alberto Miguéns


NOTA: Agradecimento ao dedicado leitor Vítor João Carocha que fez a legendagem das 14 magníficos que muito engrandeceram o «Glorioso» por terras asiáticas.

8 comentários:

  1. Excelente artigo sobre uma digressão pouco conhecida. O Sport Lisboa e Benfica é muito conhecido no Oriente e por lá deixou sempre cartaz de grande Clube apresentando equipas que dignificaram o País e o seu futebol. Alguns dos 14 jogadores desta digressão são hoje relativamente desconhecidos mas apenas não terão atingido destaque porque os frequentes titulares eram atletas de excepção, conforme se provaria nesse mesmo ano. Eram jogadores valorizados não para venda futura mas para engrandecimento desportivo do Clube. Bons tempos.

    Um retrato de uma época em que o SLB começou a conquistar a sua dimensão planetária. O Benfica fortaleceu sempre a dignidade e prestígio que Portugal desfruta no Oriente, palco de muitos acontecimentos relevantes da História Universal onde os Portugueses foram protagonistas.

    Orgulho.

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  2. O Bastos é o único jogador que fez parte do plantel Campeão Latino e Campeão Europeu!

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    1. Caro Luís Montenegro

      Não! Bastos saiu, para o Atlético CP, em final de 1959/60 não fazendo parte do plantel de 1960/61 como pode constatar nas digitalizações que ilustram o texto.

      Saudações

      Alberto Miguéns

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    2. Caro Alberto Miguens,
      Estava convencido que sim, nesse caso não nenhum jogador que tenha feito parte dis dois planteis. Obrigado pelo esclarecimento.

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  3. Ler este texto é um reviver do meu início na vida benquista que começou na época anterior, na malfadada época do golo de diferença. Nāo me lembro nada desta digressāo. Apenas me lembro, como referi num comentário anterior, do jogo seguinte àquele que é mencionado nesta peça da história do Benfica (aquele em que perdemos a invencibilidade).
    Confirmaçāo da leitura diária obrigatória! Que bom!
    Desta vez por trazer à memória os 2os planos. Entre outros lembro-me da forma como era conhecido o Alfredo ("três pés"). Desta equipa de reservas, para além dos que se consagraram (Humberto Fernandes) lembro-me do Amândio que figura junto do Jorge numa lista de jogadores juniores. Amândio e Jorge (era o craque avançado de que desconheço o percurso). Ambos fizeram parte da seleçāo campeā da Europa no ano seguinte. Ambos me fazem recordar a subida íngreme para o Estádio da Tapadinha para assistir às finais de Juniores e Principiantes. Nestas listas nāo aparece o Simōes. Só ingressou em 60/61? (também campeāo europeu sendo Júnior do Benfica).

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  4. Sr.Alberto,estes jogos também contam pra equipa de honra?Os jogadores que nos representaram jogaram na equipa de honra por isso...
    OBRIGADO!!!!SAUDAÇÕES GLORTOSAS!!

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    1. Caro Benfiquista Amaral

      Claro que não. O Relatório "oficial" do clube (estão excerto digitalizados) indica que são da categoria Reserva como quer que sejam da Honra?

      Gloriosas saudações

      Alberto Miguéns

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  5. Obrigado Sr.Alberto!!
    Erro meu!
    SAUDAÇÕES GLORIOSAS!!!!!

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