05 maio 2020

Colheita 1920 Reserva

HÁ CEM ANOS NASCEU UM BENFIQUISTA QUE TODA A VIDA FOI EXEMPLO PARA OUTROS. 





NOTA INICIAL: Não foi um exímio futebolista - embora conquistasse títulos regionais da AFL, na Reserva e 2.ª categoria - mas "perdendo-se" um futebolista ficou o funcionário inexcedível e exemplar. 

Nasceu, em 5 de Maio de 1920, há 100 anos, na cidade de Lagos. Começou a jogar na filial do Benfica, Sport Lisboa e Lagos (SLL), no campo da Trindade. Uma filial À Benfica (integradora, sem fazer distinção social) ao contrário do clube local ligado ao Sporting CP, o CF Esperança de Lagos.

Em 1936/37, com 16 anos, já jogava na primeira categoria do SLL na esquerda (interior-esquerdo). 

Em Lisboa, o Benfica procurava um extremo-esquerdo com as características de um outro (Eugénio Salvador) que estava "irremediavelmente perdido" do Futebol para o Teatro. Teve que optar, aos domingos, entre as matinés num dos teatros do «Parque Mayer» e as dos estádios, geralmente nas Amoreiras. Venceu o «Parque Mayer».

Em Lagos havia um miúdo que jogava como gente grande, apesar de franzino. A filial apercebeu-se que a solução podia estar em Lagos. E era desejo do miúdo Joaquim José Macarrão deixar a pobreza endémica, com dificuldades mas "sempre comida na mesa" tendo muitos irmãos e um pai ausente por ser pescador.

Em breve, Macarrão estava em Lisboa treinar, mas só podia ficar se lhe garantissem um emprego. E assim foi. O treinador Lipo Herczka que ele sempre elogiou (ao contrário de Janos Biri) pediu para ficar como jogador e afirmou que teria o emprego que necessitava. O Benfica cumpriu a promessa e empregou-o na Secretaria, na rua Jardim do Regedor.


Estreou-se com o "Manto Sagrado", em 6 de Março de 1938, como interior-esquerdo, num encontro da Reserva, disputado no estádio das Salésias, para a Taça Dr. Sá e Oliveira, onde vencemos, por 3-1, a equipa visitada, o CF "Os Belenenses". Em 1938/39, com 19 anos e onze meses, em 2 de Abril de 1939, jogou na 11.ª jornada do campeonato nacional, na difícil deslocação ao estádio das Salésias, onde o "Glorioso" venceu, por 3-2, o CF "Os Belenenses", com Macarrão a marcar dois golos (ambos legais, mas só um foi validado pelo árbitro). Um jogo que teve três dificuldades, o adversário, o campo e o momento. É que ainda estava bem presente o velório e funeral de um antigo colega e Glória do Benfica, Augusto Diniz que morreu tuberculoso aos... 28 anos, com uma vida profissional excelente para a época, sendo Futebolista era, também, empregado bancário. 



Apesar de haver melhores, muito melhores crónicas, o confinamento a menos obriga (clicar).

Alberto Miguéns

NOTA FINAL: Depois da abertura das Bibliotecas e Hemerotecas vai ser possível melhorar este texto e fazer mais dois com os jogos que faltam, entre eles este (clicar) e a sua actividade como funcionário. Com destaque para guardião de grande parte do espólio documental que o Benfica possui e que ele por, pelo menos, duas vezes "salvou" documentos únicos que se iam perder por desleixo e incúria.



2 comentários:

  1. Para aqueles que não conhecem o Sr. Macarrão é um dos nossos Eusébios fora de campo. Benfiquista a quem muito devemos e que muita falta nos faz. Que a memória dos Benfiquistas tenha sempre presente a contribuição e dedicação que ele nos deu durante décadas. Dia 5 de Maio, felizmente um dia fácil para eu recordar.

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  2. Caros amigos e benfiquistas.
    Certamente, muitos de nós, não conheceram o Sr Macarrão como eu o conheci.
    Só posso dizer que muita da nossa história, como clube, passou pelas mãos dele e pelos registos que fazia num livro enorme que guardava religiosamente. ninguém lá mexia a não ser ele. Quando me encontrava, tinha um gosto especial por me mostrar os resultados parciais dos meus encontros de Ping-Pong em todos os lados onde os atletas do Benfica jogavam.E dizia-me; edmundo queres ver um jogo que jogaste em que foste campeão? Queres ver os parciais? Já nos conhecíamos muito antes de ser atleta do Benfica. Uma vez, Valdivieso, que chegou da Argentina para treinar o Benfica, arranjou maneira de, através das Escolas de Lisboa, fazer-se um tornei no Campo de Palmense. Para isso contactaram as vária escolas, entre as quais a minha que era a Machado de Castro, e formámos uma excelente equipa; com bons jogadores, voluntariosos, habilidosos e duros (como ele gostava). Foi escolhido o Sr Macarrão para treinador e o Carlos Alberto para massagista. Eram ambos empregados da Secretaría do Benfica na Rua Jardim do Regedor. Disputámos o torneio e ficámos bem classificados. Valdivieso gostava muito de nós e convidou alguns da nossa equipa (entre os quais eu) a ir aos treinos no Campo Grande. Mas os tempos eram outros e a escola, na opinião dos meus pais, estava primeiro e lá se foi uma eventual carreira no futebol. em resumo o Benfica muito deve a este senhor que completaría hoje 100 anos, que nunca esquecerei e de quem tenho uma enorme saudade, da sua amizade e do seu benfiquismo. Que Deus o tenha em descanso.

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