22 março 2020

António Pinho 22

HÁ 22 ANOS FALECEU UM FUTEBOLISTA DE EXCELÊNCIA.


O melhor defesa-direito dos anos 20 e um dos melhores de sempre do futebol português.


António Pinho nasceu em Santiago de Riba-Ul, uma aldeia no concelho de Oliveira de Azeméis, em 25 de Fevereiro de 1899. Órfão de pai, ingressou na Real Casa Pia de Lisboa com nove anos, com o n.º 3732, em 30 de Setembro de 1908. 



Estreia na equipa escolar da Casa Pia de Lisboa
Em 1912/13 estreou-se com 13 anos num campeonato interno entre alunos. Aos 15 anos, em 1913/14 já representava esta nobre instituição no Campeonato Escolar da AFL. Aos 17 anos conquistou o “Prémio Dr. Januário Barreto”, destinado ao melhor “jogador-escolar” da AFL, instituído em homenagem ao insigne médico casapiano, falecido muito novo aos 33 anos, em 1909. Januário Barreto foi também o primeiro presidente da Direcção do “Glorioso”, entre 1906 e 1908; e o primeiro presidente da LPF em 1908/09, organismo que daria origem à AFL. 


Um dos melhores futebolistas casapianos da sua geração
António Pinho em 1916/17 subiu à 1.ª categoria escolar, mantendo-se na equipa principal até final da temporada de 1917/18. Após cinco temporadas a jogar pelas equipas da escola, aos 19 anos ingressou no Benfica no início da época de 1918/19. Seguia o percurso habitual dos futebolistas casapianos desde a fundação do nosso Clube, em 28 de Fevereiro de 1904. Entretanto ao terminar os estudos empregou-se na Secretaria da Casa Pia de Lisboa.

Equipa titular do jogo, em Madrid, a 7 de Outubro de 1919. De cima para baixo. Da esquerda para a direita: Cândido de Oliveira, ANTÓNIO PINHO, Clemente Guerra, Fernando de Jesus e José Maria Bastos; António Brás, Herculano Santos, José Pimenta, Artur Augusto e Jesus Muñoz Crespo. Ao centro, o capitão Vítor Gonçalves

Chegar ao topo em meia época
E no Benfica foi “obrigado” a fazer o percurso habitual a todos os que se iniciavam no futebol do “Glorioso”, pois Cosme Damião queria não só bons jogadores, mas jogadores benfiquistas experientes e campeões. Começou na 4.ª categoria, mas devido à sua qualidade depressa chegou à primeira. Estreou-se como defesa-direito em na 4.ª categoria, em 5 de Janeiro de 1919 num jogo com o Grupo Futebol Benfica para o Regional de Lisboa, onde fez nove jogos; na 3.ª categoria fez quatro jogos; na 2.ª categoria fez três jogos; e finalmente estreou-se na 1.ª categoria em 6 de Abril de 1919, num encontro com o Sporting CP para o Regional de Lisboa disputado no nosso campo de Benfica. Conquistou a titularidade até final desta primeira temporada. Uma progressão notável – passar em 13 jogos, num prazo de três meses, da 4.ª à 1.ª categoria, só estava (para Cosme Damião) ao alcance de jogadores muito valorosos. Entretanto a estreia na equipa principal ocorrera em 5 de Dezembro de 1918, mas num encontro particular, com os “sempre difíceis ingleses” de um barco britânico que atracara no rio Tejo – o cruzador “Active”, e que o Benfica venceu por 1-0, no campo de Palhavã, palco dos jogos internacionais em Lisboa. A sua utilização deveu-se ao facto da “necessidade de reforçar” a equipa principal num encontro internacional.

Aos 20 anos e sete meses de idade


Aos 29 anos e nove meses de idade


Esplêndido lutador
Actuou sempre – em toda a sua carreira de 17 épocas de futebolista – como defesa-direito! Foi um atleta resistente e fogoso, dotado de um pontapé forte e certeiro, numa alma esplêndida de lutador. Um grande jogador – enérgico, seguro e valente – e um desportista exemplar – correcto, aprumado e valoroso. Tinha as características de grande defesa, pois “nunca virava a cara à luta”. Mesmo quando defrontava um avançado adversário mais forte e tecnicista, lutava sempre com lealdade, nem que fosse até à exaustão. Nunca se dava por vencido. Sabia que com modéstia o futebol permite que os defesas brilhem frente aos avançados. António Pinho era um indomável, com uma coragem verdadeiramente excepcional! Conseguia ser muito forte, sem recorrer à violência. Por isso foi o melhor defesa português (internacional de 1921 a 1928) durante dez temporadas, entre 1919 e 1928. Indomável, na temporada de 1919/20 efectuou 21 jogos consecutivos pelo “Glorioso” num total de 1890 minutos. Em sete meses, entre 20 de Setembro de 1919 e 25 de Abril de 1920, jogou todos os encontros do Clube.


Sair para voltar
Jogou no Benfica, ao mais alto nível, durante duas épocas em 1918/19 e 1919/20, sempre como titular a defesa-direito. Na primeira temporada aproveitando a “baixa de forma” do habitual titular, o popular Bastinhos e na segunda época “desviando” este futebolista para defesa-esquerdo. Fizeram uma dupla fantástica! No final desta temporada de 1919/20 quando surgiu a possibilidade da sua Casa Pia formar um clube desportivo, foi um dos mais entusiastas, contribuindo para a fundação em 3 de Julho de 1920 do Casa Pia AC. O Benfica sofria a saída de onze futebolistas (de várias categorias) com grande valia e estancava-se uma das “fontes” de recrutamento de jovens futebolistas, a Casa Pia de Lisboa. Foi um “rombo” que levou alguns anos a “sarar”, até porque no ano anterior “secara a outra fonte”, os jovens do bairro de Belém, com a formação do CF “Os Belenenses”, em 23 de Setembro de 1919. Em apenas duas épocas (1919 e 1920) o Benfica debatia-se com o facto de terminar o hábito que datava desde a nossa fundação, de se reforçar e renovar prioritariamente (porque eram as duas melhores “escolas”) com futebolistas de Belém e da Casa Pia! Mudavam-se os tempos! Após oito temporadas, entre 1920/21 e 1927/28 como defesa do Casa Pia AC decidiu regressar ao “Glorioso” no início de 1928/29. Jogou pela última vez com a “camisola vermelha da águia” em 1 de Junho de 1930 na final do Campeonato de Portugal, em que vencemos por 3-1 o FC Barreirense, no campo 28 de Maio, cujo proprietário era o Sporting CP. Aos 31 anos, despedia-se com um título, o mais importante na sua longa carreira de futebolista.

Plantel que conquistou a Taça Preparação da AFL, no estádio do «Glorioso» nas Amoreiras, em 29 de Setembro de 1929. De cima para baixo. Da esquerda para a direita: Pedro Silva, Luís Costa, Ralf Bailão, Fernando Adrião, ANTÓNIO PINHO, Artur Dyson, Aníbal José e Vítor Hugo (capitão); Mário de Carvalho, João de Oliveira, Vítor Silva, Guedes Gonçalves e Eugénio Salvador

Muita qualidade
Jogou quatro temporadas no “Glorioso” sempre a titular, entre 1918/19 e 1919/20 e entre 1928/29 e 1929/30, sempre como defesa-direito num total de 8010 minutos (133 horas ou cinco dias) em 89 jogos, com 88 completos. Capitaneou o Benfica, num jogo, em 6 de Junho de 1929, com empate a um golo com o CS Marítimo. Em 31 de Julho de 1938, aos 39 anos foi agraciado pelo Benfica como “Sócio de Mérito”.


Internacional português
Foi um dos onze portugueses que integraram a primeira selecção nacional, organizada em 18 de Dezembro de 1921, num particular realizado em Madrid com derrota por 1-3 com a Espanha. Já jogava no Casa Pia AC, clube que cedeu o maior número de futebolistas – quatro, dos quais três haviam pertencido ao Benfica: António Pinho, Cândido de Oliveira (capitão) e José Maria Gralha. O Benfica estava representado por três futebolistas: Vítor Gonçalves, António Ribeiro dos Reis, ambos casapianos e Alberto Augusto, marcador do golo da selecção. O único jogador do FC Porto, Artur Augusto também se iniciara como futebolista no Benfica. Ou seja, sete jogadores em onze tinham ligação ao “Glorioso”. António Pinho e Alberto Augusto foram os únicos que jogaram os três primeiros encontros da selecção, em 1921, 1922 e 1923, ou seja, ao 3.º jogo eram os mais internacionais. António Pinho não participou no 4.º jogo, mas esteve depois nos sete jogos seguintes, até ao 11.º, em 1927. Com dez participações era o mais internacional. 


A 5.ª selecção nacional, a da primeira vitória (1-0 com a selecção italiana, em 18 de Junho de 1925, no estádio do Lumiar): Raul Figueiredo, Delfim, Mário de Carvalho, ANTÓNIO PINHO, César de Matos, Augusto Silva, Domingos Neves, Manuel da Fonseca, Francisco Vieira/Chiquinho, João Francisco Maia e Jorge Vieira. Seleccionador nacional: António Ribeiro dos Reis 

Regresso ao «Glorioso», regresso à Selecção Nacional
Só regressaria à selecção nacional na época de 1928/29 já futebolista do Benfica, participando em dois jogos – com a França e com a Itália. Atingiu as 12 internacionalizações, sendo em 1929 o 5.º futebolista mais internacional.


Títulos nacionais e regionais
Na equipa de 1.ª categoria conquistou quatro títulos oficiais: um Campeonato de Portugal (designação inicial da Taça de Portugal) em 1929/30; e em 1919/20 um campeonato regional de Lisboa e uma Taça de Honra da AFL. Nos 89 jogos, em que representou o Benfica, ajudou o Clube a obter 52 (58 %) vitórias e 13 empates. Entre os jogadores do Benfica, é o 19.º defesa direito mais utilizado e o 204.º jogador com mais tempo de jogo! 


Secretaria da Casa Pia de Lisboa
Após a carreira de jogador continuou empregado na Secretaria da Casa Pia de Lisboa, vivendo em Belém. Já reformado, quando enviuvou, decidiu ir morar com um filho em S. Mamede de Infesta, onde viria a falecer aos 99 anos, em 22 de Março de 1998, completam-se, hoje, 22 anos. Dos componentes da primeira selecção nacional (1921) foi o último sobrevivente. Em 13 de Março de 1996, com 97 anos, foi homenageado no anterior Estádio pelos futebolistas do Benfica, quando ele era já o seu decano.


António Pinho viveu sempre com orgulho – ser casapiano e benfiquista. Uma vida simples, com dignidade. O Benfica jamais te esquecerá, eterno “ganso”.

Obrigado, Glorioso Campeão

Alberto Miguéns

NOTA: Muito obrigado ao casapiano Hélder Tavares que permitiu ilustrar melhor o texto acerca de António Pinho que ele conheceu e admira.

QUADRO RESUMO





5 comentários:

  1. Srº Alberto, gostava de saber a sua opinião sobre a minha equipa tipo do Glorioso...Bento (GR) António Pinho(DD) Humberto Coelho (DC) Germano (DC) Francisco Ferreira (DE) Chalana, Coluna, Rogério Pipi-Vítor Silva, Aguas, Eusébio..(4x3x3) Depois de ver o seu trabalho a minha duvida era saber se o defesa direito era António Pinho ou Gaspar Pinto, o Srº ajudou-me na escolha.Esta é a minha equipa tipo, a minha pergunta é qual é a sua ? Sei que é ingrato deixar símbolos de fora...Saudações Benfiquistas

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    1. Caro Benfiquista Silva Pinto

      No Benfica não se escolhe... exclui-se, tal é a grandeza do «Glorioso».

      Vamos lá excluir uns 111, escolhendo 11:

      Bento;

      António Pinho, Humberto Coelho, Germano e Ângelo;

      Néné, Coluna e Francisco Ferreira;

      Eusébio, José Águas e Chalana.

      Gloriosas Saudações

      Alberto Miguéns

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  2. Os relatos que temos de António Pinho indicam que foi um grande jogador e um homem muito bem formado.

    Foi pena que as circunstâncias tivessem levado a que só tenha cumprido 4 temporadas no Glorioso. Foi irónico que a sua exclusão da equipa nacional para os Jogos de Amesterdão tenha contribuído para que regressasse ao Glorioso e ali terminasse uma brilhante carreira.

    Não sabia que, apesar da sua saída do Clube 20 anos antes, António Pinho foi agraciado com o título de sócio de mérito do Sport Lisboa e Benfica. Isso diz muito da forma de como no nosso Clube foi avaliada a sua personalidade e integridade.

    Mais um artigo notável, com imensa informação e acima de tudo que contribuiu para que os Benfiquistas tenham a devida noção de mais uma grande figura da nossa História. Fica aqui o devido agradecimento ao autor deste blogue.

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  3. Obrigado pelos elogios ao meu avô paterno. Foi em casa do meu pai que faleceu.

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    1. Uma honra.

      Confirma-se o falecimento em S. Mamede de Infesta?

      Agradeço

      Alberto Miguéns

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