21 janeiro 2020

A Diferença Que Faz um Asterisco*

A PROPÓSITO DE UMA NOTÍCIA DO JORNAL «A BOLA» ACERCA DOS CLUBES QUE JOGARAM TODAS AS EDIÇÕES DOS RESPECTIVOS CAMPEONATOS NACIONAIS.


Esqueceram-se foi de colocar uma NOTA indicando que o FC Porto é totalista, em Portugal, nas 86 edições do campeonato nacional porque em duas – 1939/40 e 1941/42 – houve necessidade de fazer dois alargamentos do primeiro escalão para permitir que o FC Porto não disputasse o campeonato nacional da II Divisão, ou seja, o segundo escalão. Se tal não tem ocorrido o FC Porto tinha participado em 84 das 86 edições. Há esquecimentos que dão jeito! Muito jeito!


Jornal »A Bola»; página 21; 9 de Janeiro de 2020 

Modelo de competição
Entre 1934/35 (ainda com a designação de Campeonato da I Liga) e 1946/47 o apuramento para o campeonato da I e II Liga, e depois de 1938/39 para os Campeonatos Nacionais da I e II Divisão faziam-se pelas classificações nos campeonatos regionais. Importa clarificar algumas circunstâncias – as duas mais importantes – que por vezes são distorcidas:
1.   Qual a razão de apenas participarem clubes do Porto, Coimbra, Lisboa e Setúbal?
2.  Porque é que Lisboa apurava quatro clubes e o Porto apenas dois?

Clarificação
1.   O motivo era a dificuldade de assegurar transporte entre Braga/Guimarães e Vila Real de Santo António, com o Lusitano FC a ser o habitual campeão. Em meados dos anos 30 isso implicava muitas horas de viagem e custos elevados numa competição que obrigava a viagens caras de comboio e estadia em hotéis algo que não ocorria nos campeonatos regionais. E os futebolistas eram semi-amadores em alguns clubes e semi-profissionais noutros, ou seja, trabalhavam de segunda a sexta-feira. A diferença de “estatuto” estava de qual lado (emprego/clube) recebiam maior vencimento.
2.  A estrutura de definição dos clubes a integrar o campeonato da I Liga teve por base a única competição de âmbito nacional que se realizava desde 1921/22, mas só a partir da 6.ª edição (1926/27) com estrutura competitiva minimamente suficiente para fazer aferições da capacidade competitiva de cada região. As competições a pontuar vieram justificar que a decisão foi bem tomada. O segundo classificado do Porto classificava-se, em regra, depois dos três de Lisboa e por vezes até do 4.º classificado de Lisboa, ou seja, o 2.º melhor na AF Porto era pior que o 3.º ou 4.º classificado na AF Lisboa.

CLUBES PARTICIPANTES NOS CAMPEONATOS DE PORTUGAL (1921/22 – 1925/26)
NOTAS: Competição reservada aos campeões regionais; * O distrito de Setúbal só foi criado em 22 de Dezembro de 1926, por isso os clubes entre o rio Tejo e o rio Sado disputaram o Regional de Lisboa até 1927/28. A AF Setúbal foi fundada em 5 de Maio de 1927 ** O representante da Madeira só iniciava a competição nas meias-finais

COMPETITIVIDADE DO CAMPEONATO DE PORTUGAL 1926/27 a 1933/34
NOTAS: O representante da Madeira iniciava a competição nos quartos-de-final; * O SC Salgueiros eliminou o FC Porto nos oitavos-de-final; ** Leça FC pois o FC Porto foi eliminado, pelo Sporting CP, nos oitavos-de-final

Orgânica do Futebol português
A época iniciava-se com os campeonatos regionais que obrigatoriamente tinham de terminar até 31 de Dezembro de cada ano pois os Campeonatos da I e II Liga (depois Campeonatos Nacionais da I e II Divisões) iniciavam-se no primeiro ou segundo domingo de Janeiro de cada ano.


Resolvida a situação do FC Porto - impedir que disputasse a II Divisão Nacional - tudo regressava ao normal. Em 1939/40 como em 1941/42 

Em 1939/40
O FC Porto classificou-se em 3.º lugar no Regional da AF Porto classificando-se para a II Divisão. O Leixões SC (campeão) e o Académico FC (Porto) disputariam a I Divisão. O FC Porto indiciou a AF Porto para contactar a AF Setúbal para fazer o alargamento, aproveitando o facto do campeão regional ser o FC Barreirense, permitindo ao Vitória FC Setúbal (2.º classificado) também não disputar a II Divisão, mas sim a primeira. A AF Lisboa não aceitou mas a AF Coimbra ameaçou votar a favor, abstendo-se depois. Com 2-1, em votação, o alargamento foi aceite permitindo ao FC Porto (e ao Vitória FC) disputarem a I Divisão.


Resolvida a situação do FC Porto - impedir que disputasse a II Divisão Nacional - tudo regressava ao normal. Em 1941/42 como em 1939/40

Em 1941/42
No final da temporada de 1940/41 as associações regionais aprovaram um alargamento, de oito para dez clubes, do campeonato nacional da I Divisão com a entrada do campeão regional do Algarve e de um jogo de apuramento, entre o campeão regional de Braga e o de Aveiro. Após a conclusão dos campeonatos regionais, o FC Porto classificou-se em 3.º lugar, atrás do Académico FC (Porto) e do Leça FC. Assim o FC Porto seria obrigado a disputar a II Divisão. Quando a AF Lisboa se apercebeu que a AF Porto se preparava para fazer contactos para estabelecer um alargamento de “última hora” como, em 1939/40, exigiu que a existir alagamento, para haver paridade, em vez de quatro clubes colocaria cinco. Assim foi com o Unido FC (Lisboa) que se classificara para a II Divisão a jogar na Primeira!



E no FC Porto ainda se queixam… Tiveram sempre tudo o que quiseram – Utilidade Pública (em 1928), alargamentos para jogarem na I Divisão, estádio (1952) e jogos da selecção nacional no seu estádio – durante o Estado Novo!


Alberto Miguéns

1 comentário:

  1. Quem não respeita nada nem sequer o fundador do seu clube, obviamente não respeita qualquer verdade histórica. Felizmente que alguns ainda cá estão para ver naquilo que o seu clube se vai tornar.

    ResponderEliminar