22 janeiro 2017

Palmeiro No Quarto Anel

FUI SURPREENDIDO PELA TRISTE NOTÍCIA. NÃO SABIA QUE ESTAVA DOENTE. ESPERO CONSEGUIR NAS PRÓXIMAS HORAS FAZER UM TEXTO QUE DIGNIFIQUE ESTA GLÓRIA DO BENFICA.


Arronches, 16 de Outubro de 1932 - Costa da Caparica, 22 de Janeiro de 2017 (84 anos)


Foi daquela "geração maldita" entre a conquista da Taça da Latina (1949/50) e as duas finais com sucesso na Taças dos Clubes Campeões Europeus: 1960/61 e 1961/62. A nível interno sagrou-se campeão nacional em 1954/55, 1956/57 e 1959/60. Na Taça de Portugal participou em três conquistas: 1954/55 (dobradinha), 1956/57 (dobradinha) e 1958/59 (perdendo nesta temporada o campeonato nacional para o FC Porto por...um golo). Honrou o "Manto Sagrado" em 15 076 minutos (178 jogos) marcando 49 golos. Capitaneou o "Glorioso" em cinco jogos. Foi titular em 170 jogos (com 154 completos) e entrou como suplente em oito encontros. Nos 178 jogos, participou em 109 vitórias, 27 empates e 42 derrotas.


Francisco Palmeiro como Glória do Benfica e de grande popularidade entre os adeptos, em 1953, a vender rifas obtendo receitas para erguer o Estádio nas melhores condições possíveis  

(clicar para conseguir melhor visualização)


O jogador das "primeiras vezes"
Foi o primeiro jogador do Clube a marcar um golo na inauguração da "Saudosa Catedral", em 1 de Dezembro de 1954, embora até tenha sido o defesa-direito, Jacinto a "inaugurar" as balizas num autogolo a favor do FC Porto.


Em Sevilha, à frente o capitão Fernando Caiado (com o galhardete) e o sub-capitão Francisco Palmeiro

Foi o primeiro futebolista do Benfica a marcar um golo nas competições europeias, na principal, a Taça dos Clubes Campeões Europeus, na 1.ª mão daquela que pode ser considerada como dezasseis-de-final (embora com oito jogos) "oficialmente" designada eliminatória preliminar, pois havia oito emblemas isentos "à espera" dos oito desta eliminatória. Em 19 de Setembro de 1957, em Sevilha, no actualmente inexistente estádio Nervion (embora no mesmo local do actual estádio do Sevilha FC) marcou o primeiro golo do jogo, na derrota por 1-3, frente ao clube de Sevilha. Foi ele que capitaneou a equipa do "Glorioso" no jogo da 2.ª mão na "Saudosa Catedral".


Foi o primeiro futebolista do Benfica a marcar três golos num jogo pela Selecção Nacional (segundo na história da selecção) em 3 de Junho de 1956, no 24.º Portugal - Espanha, disputado no Estádio Nacional, num jogo particular para preparar a fase de qualificação para o Mundial de 1958, cuja fase final se disputaria na Suécia. Francisco Palmeiro mesmo jogando a extremo-esquerdo quando era mais utilizado como extremo-direito marcou os três golos da selecção em dia da sua estreia, na vitória por 3-1. Fez o 1-0, 2-0 e 3-1 com todos os golos obtidos na primeira parte. 


A Selecção Nacional n.º 88. Da esquerda para a direita. De cima para baixo: Carlos Gomes, Pedroto, Passos (capitão), Ângelo, Juca e Virgílio; Hernâni, Vasques, Águas, Caiado e PALMEIRO
Até chegar ao Benfica...passou pelo Benfica
Passou a infância a fugir dos defesas, da escola e do pai que odiava vê-lo a jogar futebol. Estava-lhe reservado, tal como aos seus dois irmãos - um mais velho outro mais novo - um lugar na empresa familiar de camionagem. Mas Francisco Palmeiro não podia ver uma bola de futebol ou alguém desafiá-lo para um jogo. Era-lhe superior. Até à ira do pai. Quando sentia "borrasca" refugiava-se em casa do avô. Iniciou-se, aos 13 anos (1945/46) no Atlético Clube de Arronches (filial do Atlético CP). O seu virtuosismo e capacidade física depressa chegaram a Lisboa e ao SLB. O Benfica tem uma filial em Arronches desde 1939. Surgiu a possibilidade de rumar ao GD Portalegrense mas o pai foi inflexível. No Benfica talvez...se lhe arranjassem um emprego. Chegou no início da temporada de 1949/50 ao Clube, estreando-se mesmo no Barreiro, pelos "cadetes", em 24 de Outubro de 1949. Só que o emprego tardou e o pai exigiu o seu regresso a Arronches e às suas camionetas ainda lhe fazendo relembrar que «Aprende! Não se vive de promessas, meu rapaz.» Mas Arronches já era pequena para o seu futebol. Aos 18 anos (1950/51) foi jogar no "O Elvas" - CAD seguindo-se, finalmente, a ida para o GD Portalegrense. Entretanto o serviço militar fez com que Francisco Luís Palmeiro Rodrigues voltasse a Lisboa. A segunda oportunidade não seria desperdiçada. 



As oito temporadas no Benfica: 1953/54 a 1960/61
Aos 20 anos (a fazer 21) ingressou na categoria Reserva, estreando-se com o "Manto Sagrado" na «equipa principal», em 25 de Dezembro de 1953, num Torneio Luso-Argentino, substituindo o lesionado José Águas, aos 38 minutos, frente ao CA Independiente (Buenos Aires), no Estádio Nacional. A titularidade (interior-direito) foi no jogo seguinte frente ao CA Boca Juniores (Buenos Aires).



1953/54
Agradou de imediato à Comissão Técnica (Ribeiro dos Reis e José Simões) que dirigiam o futebol do "Glorioso" na sua época de estreia. Fez toda a segunda parte da temporada de 1953/54 - no ano civil de 1954 - como titular com apenas três jogos particulares em que esteve ausente por motivos militares. Foram 21 jogos (12 + 9) em que mostrou as suas qualidades com executante de nível elevado. As 16 jornadas finais (em 26) do campeonato nacional com cinco golos, três jogos na Taça de Portugal e os dois jogos particulares (mais um golo) com que o "Glorioso" fechou uma época que seria a última com as características que vinham de 1926/27: o semi-profissionalismo. Pouco depois do início de 1954 a Comissão Técnica pediu a demissão (após a derrota por 0-5 em Braga, frente ao SC Braga). Valadas assumiu o cargo de treinador principal fazendo algumas alterações, entre elas, Palmeiro deixou de ser interior (geralmente à direita mas também à esquerda) e fixou-se como extremo-direito.



1954/55
Com a chegada de Otto Glória atingiu a sua plenitude. Nesta primeira época de mudança radical no "Glorioso Futebol" actuou em 36 jogos marcando nove golos. O Benfica fez 50 jogos. Iniciou a temporada a extremo-esquerdo (20) passou por interior-direito (três) e terminou-a a extremo-direito (13) para ocupar a vaga de Du Fialho que se lesionou com gravidade. Disputou quatro jogos emblemáticos: inauguração da "Saudosa Catedral" a extremo-esquerdo; jogo frente ao FC Barreirense, a interior-direito, para manter a possibilidade de aproveitar uma "escorregadela" do CF "Os Belenenses" que liderava o campeonato nacional (o que acabou por acontecer); a final da Taça de Portugal, V 2-1, frente ao Sporting CP, como extremo-direito; e na digressão de final de temporada, ao Brasil e Venezuela, marcou um golo para o Torneio Charles Miller ao SE Palmeiras, no estádio Pacaembu, em São Paulo, numa das grandes vitórias de todos os tempos do "Glorioso" visto o poderoso clube ter internacionais brasileiros como Valdemar Carabina (defesa-central), Rodrigues (ponta-esquerda, titular do Brasil no Mundial de 1954) e Jair Rosa Pinto (interior-direito, titular no Mundial de 1950).



1955/56
Foi uma temporada esplendorosa com 29 jogos (dos 35 do Benfica) marcando 14 golos. Mais uma vez alternou entre a ponta-esquerda (vinte) e a ponta-direita (oito). Ainda passou num jogo por interior-direito. Para competições oficiais participou em 23 das 26 jornadas do campeonato nacional e nos dois jogos da Taça de Portugal numa temporada "vazia" em títulos. Não fez parte da comitiva que em Milão, disputou a Taça Latina (3.º lugar).


1956/57
Foi uma temporada infeliz por vários motivos. Fez os sete jogos iniciais da temporada, quatro na ponta-esquerda e três na direita. Se o primeiro jogo foi para inaugurar o estádio Municipal de Castelo Branco seguiram-se seis para o campeonato nacional com três golos. Regressou no final da época realizando 16 encontros (três golos), sempre a extremo-direito – dois na Taça de Portugal, dois na Taça Latina (em Madrid, numa final frente ao Real Madrid CF, depois de eliminar o AS Saint-Étienne) seguindo depois para uma apoteótica digressão pelo Brasil e dois jogos nos EUA. O Benfica foi o primeiro clube português a jogar neste país. Em 2 de Junho foi titular na vitória, por 3-1, ao SC Covilhã, na final da Taça de Portugal.



1957/58
Na temporada de estreia nas competições europeias fez uma época razoável com oito golos em 28 jogos dos 43 realizados pelo “Glorioso”. Vinte e dois na ponta-direita e seis na ponta-esquerda. Esteve mais uma vez presente num jogo emblemático (embora com o golo do “Glorioso” marcado por José Águas): a inauguração da iluminação artificial, num empate a um golo com o CR Flamengo, do Rio de Janeiro.


Atrás do actual estádio do Sevilha FC (ainda em construção) o velho estádio Nervion onde o Benfica se estreou nas competições da UEFA com Francisco Palmeiro a fazer o primeiro golo do encontro

HONRAI AGORA OS ASES QUE NOS HONRARAM O PASSADO
Data
19.Setembro.1957
26.Setembro.1957
Competição
Taça dos Clubes Campeões Europeus
Fase
1.ª El. - 1.ª mão
1.ª El. - 1.ª mão
Cidade
Sevilha
Lisboa
Campo
Nervión
Luz
Resultado
D 1-3
E 0-0
Guarda-redes
Bastos
Bastos
Defesa-direito
Chico Calado
Chico Calado
Defesa-central
Serra
 Serra
Defesa-esquerdo
Ângelo
Ângelo
Médio-direito
Pégado
Pégado
Médio-esquerdo
Alfredo
Alfredo
Extremo-direito
Palmeiro (1-0)
Palmeiro
Interior-direito
Coluna
Coluna
Avançado-centro
José Águas
José Águas
Interior-esquerdo
Caiado
Zézinho
Extremo-esquerdo
Cavém
Cavém



1958/59
Inaugurou a temporada jogando na estreia com o Benfica a participar na festa de despedida de Fernando Cabrita, na Covilhã, futebolista talentoso que menos de uma década depois seria campeão nacional pelo “Glorioso” e que toda a vida falou desta gentileza do Benfica. Chico Palmeiro só regressaria no início do ano civil de 1959, participando em 26 jogos com três golos marcados. Perdia espaço na esquerda para esse extraordinário futebolista português (Cavém) mas lutava pela titularidade à direita com Vieira Dias, Palmeiro Antunes e Chino. Fez os últimos doze encontros da temporada incluindo o histórico último encontro, na final da Taça de Portugal, frente ao FC Porto com um dos golos, por Cavém, mais rápidos de sempre do Benfica e o mais rápido e decisivo numa final da Taça de Portugal. 1-0 dentro dos 3o segundos de jogo e ficou...assim até final!


1959/60
Com Béla Guttmann a treinador e a aquisição de José Augusto os adeptos do Benfica sonhavam com uma linha avançada de grande valia: Francisco Palmeiro, José Augusto, José Águas, Coluna e Cavém. Mas uma lesão no início da temporada afastou o jogador dos campos e deu a possibilidade de José Augusto jogar a extremo-direito com Santana a aproveitar para entrar no onze titular como interior-direito. Participou em nove jogos com um golo, sendo três jogos para o campeonato nacional e dois na Taça de Portugal. A época foi passada a jogar na Reserva. Depressa Francisco Palmeiro percebeu que estava traçado o seu destino no “Glorioso”. Dificilmente regressaria à titularidade tendo o Benfica futebolistas para a esquerda e direita da linha avançada com enorme valia.


1960/61
Na oitava (e última) época a situação agravou-se com a chegada de Eusébio. Francisco Palmeiro praticamente não jogou, a não ser na categoria Reserva. Apenas quatro encontros na equipa principal e destes só um para competições oficiais. Mesmo quando foram convocados os 15 futebolistas para a Glória de Berna, na primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus, Francisco Palmeiro não foi um dos quatro escolhidos que ficaram de fora desse jogo frente ao FC Barcelona: Barroca, Artur Santos, Saraiva e Mendes. Decidiu que já nada tinha a dar ao Benfica a não ser continuar Benfiquista. Assim nasceu (mesmo às “turras” com um irmão mais velho sportinguista) assim morreria. E cumpriu-se!


Golos!? Poucos mas...bons!
Jogador habilidoso e versátil era exímio em interpretar as necessidades do colectivo. Foi pedra basilar no Benfica treinado por Otto Glória. Era imprevisível, tanto tentando a jogada individual rumo à baliza contrária, como tabelando com os interiores ou centrando para o avançado-centro José Águas. Mesmo não tendo por função marcar golos, mas sim assistir quem estivesse em melhor posição para os fazer, o facto de actuar em zonas avançados do campo e ter vocação e simplicidade em marcá-los permitiu que facturasse 30 golos nas 86 jornadas (7 740 minutos) do campeonato nacional em que participou...pelo Benfica. Em 86 jogos, o "Glorioso" obteve 55 vitórias, 13 empates e 18 derrotas. Na Taça de Portugal jogou 27 encontros (2 430 minutos) com cinco golos, em 21 vitórias, um empate e cinco derrotas.


Depois do Benfica
Fez o último jogo em 7 de Maio de 1961, na 1.ª mão dos oitavos-de-final da Taça de Portugal, frente ao Vitória FC Setúbal. Tinha 28 anos e meio. A viver na Costa da Caparica e com um negócio de distribuição de tabaco na margem sul (em sociedade com outra Glória do Benfica, Salvador) ainda jogou no Atlético CP e depois no campeonato distrital de Setúbal: Almada AC, GD Pescadores Costa da Caparica e Monte da Caparica AC. Depois reformou-se, mas  era presença assídua em eventos e tertúlias do Clube. Até hoje!


Até sempre Chico Palmeiro

Alberto Miguéns

NOTA: Texto feito com base em várias conversas (e apontamentos) com ele e fotografias - em grande parte - extraídas do n.º 21 da colecção "Ídolos do Desporto" - cujo empréstimo gentilmente cedido por Mário Pais agradeço.

2 comentários:

  1. Que descanse em paz!
    E que lá no "assento etéreo" onde subiu, torça por nós e nos ajude a ganhar o tetra.
    Até sempre campeão!
    C.P.

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  2. Francisco Palmeiro fez o primeiro golo Benfiquista na antiga Catedral.
    Era um alegre companheiro de equipa e um excelente jogador.
    O Glorioso ficou hoje mais pobre.
    Sentidas condolências à família.
    Que descanse em Paz.

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