25 janeiro 2017

O Campeonato dos Estádios Nos Anos 50

HÁ UM CAPÍTULO DENTRO DA HISTÓRIA DO FUTEBOL PORTUGUÊS, EM LISBOA, NOS ANOS 50, QUE NUNCA É CONTADO.


Que o seja com o máximo de rigor possível. Depois a apreciação do seu efeito, no futuro dos clubes, é puramente da minha responsabilidade.

Dia da inauguração

A Luz e o sucesso do SL Benfica (parte I: 1954)
O projecto do estádio não teve a aceitação absoluta e "fácil" entre os associados do Clube. Só a personalidade e prestígio de Joaquim Ferreira Bogalho permitiu fazer um estádio para 35 mil pessoas embora pudesse aguentar com 40 mil…dizia-se. A generalidade dos Benfiquistas queria um estádio maior e pistas: ciclismo e atletismo. Só assim seria um estádio. De contrário não passaria de um campo. Bogalho pouco se importava. Ele lançou um desafio aos Benfiquistas. O estádio será o que os Benfiquistas conseguirem fazer. Nem será mais (para não criar encargos financeiros incomportáveis que enfraqueçam o Futebol como tinha ocorrido com a construção do estádio nas Amoreiras, entre 1923 e 1925) nem menos, pois causaria problemas face ao número de associados crescente. Pistas? Nem pensar. Encarecia a obra (obrigando a ter um perímetro exterior maior para manter a lotação) e não fazia sentido pois raramente seriam utilizadas ao contrário do futebol com jogos a cada quinze dias, pelo menos! E o estádio só seria feito à medida que houvesse dinheiro para o ir erguendo. Mais dinheiro e mais rápido a chegar ao Clube significaria que seria inaugurado mais cedo. Isso permitiu (com a colaboração das páginas centrais do jornal “O Benfica”) uma campanha de mobilização por todo o Mundo Benfiquista que é uma autêntica Odisseia sem paralelo na Gloriosa História! Quando questionavam: É muito pequeno! Não tem pistas! Não tem iluminação! Não tem cobertura na bancada dos bilhetes mais caros (central) que atraia os mais ricos (os associados ficavam do lado contrário)! Alguns mais estrangeirados até argumentavam: não tem camarotes como já se faz em Espanha, Itália e Inglaterra! Bogalho justificava sempre com o mesmo argumento. Há um plano de expansão que contempla isso tudo e muito mais. Depende dos Benfiquistas a sua concretização!


Consta que quando Bogalho quis saber o custo de cada elemento - primeiro anel, segundo anel, semi-bancada com camarotes cobertos e acessos directos ao segundo anel - recusou (e a Direcção concordou) os dois últimos por serem «tão dispendiosos quanto os dois primeiros: as bancadas do primeiro e segundo anéis»! A construtora insistiu: Mas é para os dirigentes ficarem bem instalados! Bogalho retorquiu: Logo arranjaremos um sítio! E assim foi, entre o primeiro e o segundo anel do lado norte atrás da saída dos balneários  (na foto de baixo...em baixo)! À Bogalho! À Benfica!

O Restelo e o declínio do CF “Os Belenenses” (1956)
Os associados (mas principalmente os dirigentes) do clube de Belém não mediram as consequências dos gastos. Queriam um estádio maior que o do Benfica (44 mil pessoas podendo ser ampliado no topo norte até 51 mil lugares…dizia-se!), com duas coberturas (central e associados) depois de desistirem de uma contínua, iluminação artificial e pista de atletismo! Um clube que apenas reservara 13 mil lugares (30 por cento da lotação) para os seus associados - a contar com o seu aumento devido ao novo estádio - dispunha de 31 091 lugares para o público! Uma "perfeita loucura"! Dinheiro? Não havia, mas para isso é que há instituições de crédito! Endividaram-se tanto, que nem o acordo de pagar uma mensalidade à Câmara Municipal de Lisboa (CML) conseguiram - apenas os primeiros quatro meses foram pagos - sendo intimados a entregarem o estádio à CML, em  29 de Junho de 1961. Nem cinco anos durou na posse do clube. Pouco depois passaria a estádio Almirante Américo Tomás. Antes do estádio do Restelo foram campeões (1945/46) conseguiram ser segundos classificados por duas vezes e terceiros em dez campeonatos nacionais. Depois da inauguração (23 de Setembro de 1956) foram segundos uma vez (1972/73) e terceiros cinco vezes (a última em 1987/88).


Dia da inauguração


O José Alvalade e o declínio do Sporting CP (1956)
O Sporting CP ainda elevou mais a fasquia. Um estádio para 60 mil pessoas totalmente coberto! Com duas pistas - atletismo e ciclismo - e iluminação artificial. Depois começou a faltar o dinheiro e eram só duas coberturas. No final nem conseguiram fechar o estádio deixando-o incompleto na bancada oposta à da cobertura! Onde havia um peão que eu frequentava quando o Benfica por lá passava! De 60 mil acabaram em 42 610 como lotação oficial! Mesmo assim, mais 2 610 que "o do Benfica a deitar por fora"! A inauguração foi em 10 de Junho de 1956 que o SCP decidiu adiantar para coincidir com as comemorações oficiais do «Dia de Camões, de Portugal e da Raça», pois era para ser inaugurado em 1 de Julho, no 50.º aniversário do clube. Antes do estádio, o Sporting CP sagrou-se campeão nacional nove vezes em 22 edições (41 por cento). Nas 60 seguintes outras nove conquistas (mas apenas 15 por cento dos títulos disputados). Esclarecedor. E não foi pior porque encurtaram os encargos ao encurtarem as bancadas!



Dia da inauguração


A Luz e o sucesso do SL Benfica (parte II: 1960 e seguintes)
O Benfica foi cumprindo o plano que estava previsto, muito por culpa de dois presidentes mecenas que muito dinheiro deixaram ao Clube: Maurício Vieira de Brito (torres de iluminação com a colaboração de vários Benfiquistas na campanha dos azulejos) e Terceiro Anel (quase todo pago por ele); e o irmão Adolfo Vieira de Brito com o pavilhão para as modalidades no interior do Terceiro Anel, em 15 de Maio de 1965, bem como no melhoramento do acesso a este. Além de Jorge Brito (como associado) com a pista sintética de atletismo no campo n.º 2 (onde está a actual "Catedral"). E depois muitos outros melhoramentos – campos de ténis, pavilhão polivalente (Voleibol e Andebol), piscina e outros três campos (3, 4 e 5) – com “desvio” de dinheiro do Futebol tudo a culminar com o “Fecho do Terceiro Anel” aproveitando transferências de futebolistas para o estrangeiro (disse-se!). Antes da inauguração, em 1 de Dezembro de 1954, da “Saudosa Catedral” o Benfica conquistou oito títulos. Depois até ao seu desmantelamento (2002/03) o “Glorioso” conquistou 22! Além das campanhas europeias, mas quanto a estas não há possibilidade de comparação pois o SLB só teve estreia na UEFA já na Luz!


Só quase quatro anos depois da inauguração houve iluminação artificial. O SLB até teve de defrontar, em 5 de Setembro de 1957, o FC Barcelona (V 4-0) no estádio do Restelo por não ter luz artificial!


Até na Guerra dos Estádios dos anos 50 quem soube merecer o Futuro fomos nós! 

   De um lado ou do outro a elegância da imponência! 
   O que não é fácil! Ser-se grande e belo ao mesmo tempo. 
   Um amor perdido! O meu primeiro amor!

Obrigado Bogalho! Mais uma vez!

Alberto Miguéns

NOTA1: As quatro fotografias são "bonecos" (como ele dizia) de Roland Oliveira. As três primeiras até voou de helicóptero, em 4 de Janeiro de 1987. Nunca ninguém conseguiu fotografar o nosso amor como ele! Quantas vezes ficámos os dois - ou três, quando o senhor Macarrão também se queria inspirar - na bancada a olhar, sem dizer nada, sem conseguir dizer nada, a contemplar o estádio vazio que parecia respirar? Quantas vezes não fomos ao murete do telhado daquele primeiro prédio em frente (actualmente do outro lado da av. Lusíada) furtivamente (o nosso amor enlouquecia-nos), para não darem por nós, tirar uma panorâmica como esta? Para registarmos as alterações na nossa Cidade Desportiva.  Que saudades, Macarrão! Que saudades, Roland! 



NOTA2: Enquanto o "Glorioso" optou por dois mealheiros gigantes (na Feira Popular e na Secretaria) além de leilões e dádivas, o SCP «mais fino» estabeleceu a "Subscrição Lagarto" que se revelou pouco convincente para utilizar um eufemismo! 


Ainda por lá andei algumas vezes mas só via vermelho-e-branco. As riscas evitava pois sempre me causaram dioptrias!

NOTA3: O Poder do Povo contra o desprezo do Poder Autocrático. O Terceiro Anel foi utilizado pela primeira vez em 29 de Maio de 1960 e inaugurado oficialmente em 5 de Outubro de 1960. O primeiro troço da Segunda Circular, entre o Calhariz de Benfica (agora conhecido por Fonte Nova) e o Campo Grande, em 20 de Agosto de 1962. Os seja, durante oito temporadas o estádio da Luz com 40 mil lugares (1954/55-1959/60) ou 75 mil (1960/61-1961/62) foi uma ilha servida por uma azinhaga (da Fonte), uma rua-quase-azinhaga (Soeiros) entre a estrada de Benfica e a estrada da Luz. A partir desta é que foram feitos acessos para transportes públicos directos. Mas isso merece um texto à parte. Seguem-se fotografias da AML aquando da construção da Segunda Circular em 1961. E uma fotografia aérea de 1958.



Não é ficção, foi realidade

4 comentários:

  1. Caro Dr Alberto,

    O Sporting, no período anterior à inauguração do Estádio de Alvalade, venceu 9 Campeonatos, isto nas primeiras 22 Edições, isto é, anterior ao Estádio de Alvalade, o Sporting era então o Clube que mais Campeonatos tinha conquistado em Portugal, pós inauguração de Alvalade, em 60 campeonatos posteriormente disputados, o Sporting venceu os mesmos 9 campeonatos, com esta curiosidade, o Alvalade XXI ainda não festejou ou "vivenciou" um unico campeonato. Já o sabia, mas os factos comprovam-no, com a construção do Estádio de Alvalade em 1956, foi sinalizado o declinio desportivo do Sporting!

    Outra curiosidade, e desde já agradecia a sua resposta, qual a razão de em Portugal terem sido inaugurados/construídos 4 Grandes Estádios na década de 50, havia alguma motivação politica/económica ou de ordem sociológica para tal? Por exemplo, a Exposição do Mundo Português, tinha já ocorrido em 1940!

    Voltando ao Sporting, e entroncando na hegemonia dos 5 violinos, foi justamente Candido de Oliveira o "pai" dos 5 violinos. Todavia, no início da década de 50, será o Treinador do FC Porto, e é ainda hoje reconhecido o seu extraordinario trabalho no Porto, não venceu qq campeonato, mas o FC Porto irá conquistar dois campeonatos nessa década (após 16 anos de longo jejum), títulos conquistados, também, ou sobretudo fruto do trabalho organizado e das sementes deixadas pelo Mestre Candido, aliás, Candido de Oliveira é o primeiro pensador do crescimento estrategico do FC Porto. Onde pretendo chegar, Candido de Oliveira treinou o Sporting e o FC Porto, entre outros Clubes, mas nunca foi Treinador do Benfica, e segundo creio, até seria benfiquista (ou estarei equivocado?), qual a razão pela qual Candido de Oliveira (um "adiantado mental" para a época), nunca ter treinado o Benfica nas décadas de 40 ou 50? Por razões politicas? Pela tradição então do Benfica, privilegiar Treinadores estrangeiros? (sim, V Gonçalves foi a excepção)

    Saudações des_Portistas do Bairro da Graça

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    1. Caro Representante dos Portistas do Bairro da Graça

      1. De facto entre 1934/35 e 1955/56 o Sporting CP conquistou nove títulos, com sete concentrados em oito épocas (3 + 4) entre 1946/47 e 1953/54). O SLB conquistou oito (3 + 2 + 1 + 1 + 1). O FC Porto conquistou quatro (1 + 2 + 1 este o de 1955/56). Resta o do CF "Os Belenenses" em 1945/46. O actual estádio do SCP foi inaugurado (6 de Agosto de 2003) na 2.ª época (2003/04) após o conquista do 18.º título em 2001/02;

      2.1. Em Lisboa havia um plano de Duarte Pacheco para fazer um "trevo" com quatro estádios para os três maiores clubes e outro para os restantes, em Monsanto (que no início dos anos 40) praticamente não tinha árvores. Esse plano morreu com o acidente estúpido que o matou!;

      2.2 Nunca estive motivado para saber em pormenor o porquê de um estádio em 1952 (FCP), outro em 1954 (SLB) e dois em 1956 (Lisboa). Mas sei que o Estado através das duas autarquias estimulou com expropriações de terrenos a construção. Tenho ideia que era do agrado dos governantes a passagem de estádios de madeira ou alvenaria a betão por questões de segurança. Houve temporais que só não provocaram tragédias porque as probabilidades de ocorrerem durante um jogo com estádio esgotado eram muito reduzidas. Mas várias vezes ventos fortes derrubaram bancadas;

      3. Cândido de Oliveira era um homem extraordinário como cidadão e como treinador. Treinou o CR Flamengo! Em 1950! Foi excelente treinador no SCP e depois do Brasil no FCP e na Académica de Coimbra. Tinha sido jogador do Benfica até fundar o Casa Pia AC em 1920. era o capitão do SLB quando decidiu com outros casapianos deixar o Benfica. Vítor Gonçalves e Ribeiro dos Reis foram os únicos que não abandonaram o Benfica. além de Cosme Damião, mas este era dirigente e mais tarde até foi presidente do Casa Pia AC. Depois há as estórias que devem ter algum "fundo de verdade", ou seja, devem ser história.

      3.1. No SCP chamavam-lhe melancia - verde por fora, vermelho por dentro - mas o certo é que disse que ia vencer o SLB, em casa do Benfica, por três golos (depois de ter perdido por 1-3 no Lumiar) e venceu por 4-1 conseguindo ser campeão por um golo na diferença de resultados entre os dois clubes pois terminaram empatados em pontos, o "campeonato do pirulito" em 1947/48;

      3.2. Diz-se que o seu amigo Ribeiro dos Reis (fundaram os dois A Bola com Vicente de Melo) disse-lhe que enquanto fosse dirigente do Benfica e tivesse poder de decisão ou de influenciar ele nunca mais voltaria ao Benfica. Se virou as costas, em 1920, quando o Clube necessitava dele, não mais regressaria. O SLB esteve doze temporadas consecutivas sem ser Campeão de Lisboa, entre 1920/21 e 1931/32 e tal foi consequência - sempre se disse isso no SLB - de uma dúzia de casapianos terem saído do Benfica no final de 1919/20 com o SLB campeão regional. O CPAC foi logo campeão de Lisboa em 1920/21;

      3.3. A única pessoa com quem falei acerca do assunto (Qual o clube de Cândido de Oliveira?) foi com Mário Wilson que foi treinado, em Coimbra, por Mestre Cândido. Mário Wilson disse-me que ele não tinha clube, pelo menos nos anos 50. Até insisti com MW. Mas quando preparavam os jogos frente ao Benfica ele nunca dizia nada, não falava do SLB como o seu clube? MW disse que nunca sentiu isso. Era um jogo como outro qualquer. MW foi arrasador: «O clube dele era o Futebol». Se o «Grande Capitão» disse eu aceito piamente!

      Saudações

      Alberto Miguéns

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  2. Que saudades dos fins de tarde e fins de semana que passava no parque desportivo do Benfica.
    Os jogos de Basket no pavilhão por baixo do 3º anel.
    Os de Andebol no Borges Coutinho. Os jogos de ténis...
    E os treinos da equipa de honra no campo nº 2.

    Lembro-me de ver o Valdo a marcar livres com a barreira de bonecos e o Silvino na baliza, era o Erikson treinador na 2ª passagem.
    O Valdo marcava em arco e a bola saía sempre 1 palmo por cima da barra.
    Ao fim de uma boa meia dúzia de livres sempre iguais, o Toni disse ao Eusébio, que por ali andava, para marcar 1.
    O Eusébio vai a mancar, naquele seu estilo próprio, chuta a bola e... PIMBA! Bola lá dentro!

    Foi a única vez que vi o Eusébio chutar uma bola ao vivo, já ele tinha arrumado as botas há muito tempo.
    Mas nunca hei-de esquecer aquela imagem. A bola a sobrevoar os bonecos, o Silvino batido sem hipóteses e o Toni a dar um abraço ao King e a dizer alto e bom som: "AH GRANDE EUSÉBIO!!!"

    Saudações benfiquistas,
    JP

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  3. Sempre gostei mais do Estádio do Sport Lisboa e Benfica (Estádio da Luz e do Estádio do Restelo (ou Municipal do Restelo, ou Estádio Américo Thomaz). O Estádio de Alvalade que sempre achei feio era o que via mais vezes pois passava por lá a caminho da Escola. O Estádio das Antas era o mais feio.

    Ainda bem que nunca se fez a pala prevista no projecto inicial para o nosso Estádio. Horrível. Para além daquela cor verde sapo/lagarto, a pala era uma "poia" em cima da bancada central.

    Ganhamos o campeonato? Claro que sim! A nossa linda Catedral era de uma beleza estonteante!

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