19 junho 2015

Fulanização do Futebol (e no Desporto)

EMBORA APENAS NUM SENTIDO. QUANDO SE CONQUISTA.

                  
A importância que se dá aos intervenientes de um jogo ou de uma conquista é cada vez maior. O individual em substituição do colectivo.

Antes...
Até aos anos 40, em Portugal, nem sequer se sabia - através dos jornais publicados - quem eram os treinadores. Eram ( ou consideradas) personagens secundárias. No final não se contabilizavam títulos individuais (quantos campeonatos já haviam conquistado cada jogador ou treinador) e não se indexavam os títulos aos dirigentes, em particular, aos presidentes. Geralmente da Direcção ou Conselhos Directivos. Porque há outros presidentes nos Órgãos Sociais ou Corpos Gerentes dos clubes. Quem ganhava era o clube, até porque o clube representava todos. O insucesso era de todos tal como o sucesso era de todos. Não fazia sentido indexar o sucesso individualmente tal como não tinha sentido indexar o insucesso. Considerava-se que uma conquista era o culminar de um esforço e mestria bem sucedida, desde os adeptos aos jogadores. 

... e Depois
Actualmente dentro de cada conquista colectiva (equipas que se formam dentro do clube para representá-lo em cada jogo de uma competição) valoriza-se o individual escarafunchando-se o numérico. Quantos títulos, minutos, jogos, golos, assistências para golo, etc. Nada a opor a não ser a simplificação. É simplista dizer-se que um jogador conquistou x campeonatos nacionais. Isto é válido para títulos individuais, mas para desportos colectivos é pouco rigoroso. Contribuiu para a conquista de x campeonatos nacionais pelo clube y ou sagrou-se x vezes campeão nacional pelo clube y. Mas percebe-se a simplificação.

Ao contrário
Percebe-se a valorização do sucesso. O que não se percebe é ignorar o insucesso. Quando se valorizava o colectivo (ignorando o individual) estava tudo implícito. Um clube participava em dez campeonatos, conquistava quatro estava implícito que perdera seis. Agora com a valorização do individual o estranho é que se ignore o insucesso. Quando se escreve que Eusébio conquistou onze campeonatos nacionais também deveria dizer-se que perdeu quatro títulos (1961/62, 1965/66, 1969/70 e 1973/74). Quando se escreve que Luisão conquistou quatro títulos de campeão nacional, também se deveria escrever que perdeu  oito campeonatos nacionais (2003/04, 2005/06, 2006/07, 2007/08, 2008/09, 2010/11, 2011/12, 2012/13). Tal como para treinadores e dirigentes, pois quando se lhes indexam as conquistas, não se deviam ignorar os fracassos. Porque para os clubes as conquistas e insucessos estão sempre emparelhados. Ao afirmarmos que o Benfica conquistou 34 campeonatos nacionais nas 81 edições percebe-se que teve insucesso em 47, tal como o Sporting CP ao ter sucesso em 18 fracassou em 63.

NOTINHA I
Este texto - excepto esta nota e o título que não era este mas outro (Ser bom ou mau treinador) - está escrito (e os quatro quadros) feitos desde final de Maio, ou seja, quando decorriam as negociações entre a Benfica Futebol SAD e o treinador Jorge Jesus. Não mudo nada, embora perceba que vá ser interpretado de modo diferente daquele que seria se fosse publicado neste blogue antes de 4 de Junho (saída de Jorge Jesus do Benfica). Reservo essa interpretação para outra notinha, a dois, no final...

Pouco tempo antes de sair do Benfica (ainda que não o soubesse) Cosme Damião inova em Portugal com um livro acerca da Teoria do Futebol

CAMPEONATO NACIONAL
(1934/35 a 1937/38 designado campeonato da I Liga; depois de 1938/39 designado como Campeonato Nacional da I Divisão)

Treinadores com mais sucesso
O treinador com mais sucesso é Otto Glória que conquistou quatro campeonatos nacionais. Um feito que data de 1969, ou seja, há 46 anos. Seguem-se cinco técnicos com três títulos, incluindo Jorge Jesus que ameaça - se renovar o contrato com o Benfica - em 2015/16, igualar Otto Glória (com quatro títulos) e igualar o único treinador tricampeão no Benfica: Jimmy Hagan (1970/71 a 1972/73). Uma proeza com 42 anos.

TREINADORES COM MAIS SUCESSOS (34 edições)
N.º
Treinador
Temporadas
1.º
2.º
3.º
4.º
4
Otto Glória
54/55
56/57
67/68 (5)
68/69
3
Janos Biri
41/42
42/43
44/45

3
Fernando Riera
62/63
66/67
67/68 (7)

3
Jimmy Hagan
70/71
71/72
72/73

3
Sven Eriksson
82/83
83/84
90/91

3
Jorge Jesus
09/10
13/14
14/15

2
Lipo Herczka
36/37
37/38


2
Béla Guttmann
59/60
60/61


2
John Mortimore
76/77
86/87


2
Toni
88/89
93/94


1
Vítor Gonçalves
35/36



1
Ted Smith
49/50



1
Lajos Czeizler
63/64



1
Elek Schwartz
64/65



1
Fernando Cabrita
67/68 (14)



1
Milorad Pavic
74/75



1
Mário Wilson
75/76



1
Lajos Baroti
80/81



1
Trapattoni
04/05



NOTA: Em 1967/68 o plantel foi treinado e as 26 equipas orientadas por três treinadores

Treinadores com mais insucesso
Ignorar os insucessos esconde, e de que maneira, a realidade. Se Janos Biri foi o treinador que impediu mais vezes (em cinco edições) o Benfica de se sagrar campeão nacional, Otto Glória e Toni com quatro andam lá perto, tal como Jorge Jesus, integrando um grupo com Ted Smith, John Mortimore e Jose Camacho. Por três vezes estes quatro técnicos impediram o Benfica de se sagrar campeão nacional. Impediram pode ser palavra forte, mas verdadeira, pois o Benfica enquanto for (já o era em 1934/35) o maior clube português será (terá de ser) sempre o principal candidato à conquista do principal título do futebol português.

TREINADORES COM MAIS INSUCESSOS (47 edições)
N.º
Treinador
Temporadas
1.º
2.º
3.º
4.º
5.º
5
Janos Biri
39/40
40/41
43/44
45/46
46/47 (13)
4
Otto Glória
55/56
57/58
58/59
69/70 (18)

4
Toni
87/88 (26)
92/93 (26)
00/01 (21)
01/02 (16)

3
Ted Smith
48/49
50/51
51/52 (18)


3
John Mortimore
77/78
78/79
85/86


3
Camacho
02/03 (22)
03/04
07/08 (21)


3
Jorge Jesus
10/11
11/12
12/13


2
Lipo Herczka
38/39
47/48



2
Béla Guttmann
61/62
65/66 (23)



2
Mário Wilson
79/80
95/96 (31)



2
Eriksson
89/90
91/92



2
Artur Jorge
94/95
95/96 (3)



2
Manuel José
96/67 (17)
97/98 (4)



2
Souness
97/98 (26)
98/99 (30)



2
Heynckes
99/00
00/01 (4)



2
Jesualdo
01/02 (18)
02/03 (11)



2
Fernando Santos
06/07
07/08 (1)



1
Vítor Gonçalves
34/35




1
M.el Alexandre
46/47 (13)




1
Zozaya
52/53 (15)




1
Ribeiro Reis
53/54 (15)




1
Fernando Cabrita
73/74 (27)




1
Lajos Baroti
81/82




1
Pal Csernai
84/85




1
Ebbe Skovdhal
87/88 (12)




1
Ivic
92/93 (8)




1
Paulo Autuori
96/97 (16)




1
José Mourinho
00/01 (9)




1
Koeman
05/06




1
Quique Flores
08/09




NOTAS: (00) Número de jornadas; Foram excluídos treinadores que orientaram a equipa em situação de recurso, por exemplo, Cabrita (3 jogos em 1965/66), José Augusto (8 jogos em 1969/70), Mário Wilson (um jogo em 1996/97 e 4 jogos em 1997/98), Shéu (4 jogos em 1998/99) e Chalana (um jogo em 2002/03 e 8 jogos em 2007/08)

O "braço direito" de Cosme Damião e seu seguidor como capitão-geral do Benfica não fica atrás do Mestre. De outra geração como futebolista, vivência como treinador e com outra ideia para prosseguir o Ideal de um dos 24 fundadores e o Primeiro-Benfiquista-de-Todos-Nós, avança dois anos depois (1927) com um livro fabuloso para os Anos 20 em Portugal. António Ribeiro dos Reis tinha mais Mundo, mais noção da realidade que o Mestre: em 1927 Cosme Damião tinha 42 anos (1885-1947) e António Ribeiro dos Reis fez 31 (1896-1961)

TAÇA DE PORTUGAL
(1921/22 a 1937/38 designada campeonato de Portugal; depois de 1938/39 designada como Taça de Portugal)

Treinadores bem sucedidos
Além do inevitável (Otto Glória) com quatro Taças de Portugal (três "dobradinhas") seguem-se Janos Biri e Ribeiro dos Reis com três conquistas. Depois mais três técnicos com duas: Ted Smith, John Mortimore e Mário Wilson.

TREINADORES COM MAIS SUCESSOS (28 edições)
N.º
Treinador
Temporadas
1.º
2.º
3.º
4.º
4
Otto Glória
54/55
56/57
58/59 (4)
68/69
3
Janos Biri
39/40
42/43
43/44

3
Ribeiro dos Reis
30/31
34/35
52/53

2
Ted Smith
48/49
50/51


2
John Mortimore
85/86
86/87


2
Mário Wilson
79/80
95/96


1
Artur John
29/30



1
Cândido Tavares
51/52



1
Valdivielso
58/59 (5)



1
Béla Guttmann
61/62 (8)



1
Fernando Caiado
61/62 (4)



1
Lajos Czeizler
63/64



1
José Augusto
69/70



1
Jimmy Hagan
71/72



1
Lajos Baroti
80/81



1
Eriksson
82/83



1
Csernai
84/85



1
Toni
92/93



1
Camacho
03/04



1
Jorge Jesus
13/14



NOTA: Em 1958/59 Otto Glória deixou o Benfica apurado para os quartos-de-final e Valdivielso orientou as equipas até (e na final); Em 1961/62 Béla Guttmann deixou o Benfica apurado para os quartos-de-final (abandonou o Clube entre as duas mãos) e Fernando Caiado orientou as equipas até (e na final)

Treinadores com menos sucesso
Além de António Ribeiro dos Reis, com seis insucessos ainda no tempo do campeonato de Portugal há dois treinadores com cinco campanhas perdedoras: Toni e Jorge Jesus. Depois três técnicos com quatro edições perdidas: Janos Biri, Lipo Herczka e Sven Goran Eriksson. Tudo "gente de qualidade" com importância como referências da Gloriosa História.

TREINADORES COM MAIS INSUCESSOS (59 edições)
N.º
Treinador
Temporadas
1.º
2.º
3.º
4.º
5.º
6.º
6
Ribeiro dos Reis
26/27
27/28
28/29
31/32
32/33
33/34
5
Toni
87/88
88/89
93/94
00/01
01/02

5
Jorge Jesus
09/10
10/11
11/12
12/13
14/15

4
Janos Biri
40/41
41/42
44/45
45/46


4
Lipo Herczka
36/37
37/38
38/39
47/48


4
Eriksson
83/84
89/90
90/91
91/92


3
Otto Glória
55/56
57/58
67/68



3
John Mortimore
76/77
77/78
78/79



2
Fernando Riera
62/63
66/67




2
Fernando Cabrita
65/66
73/74




2
Béla Guttmann
59/60
60/61




2
Jimmy Hagan
70/71
72/73




2
Graeme Souness
97/98
98/99




1
Vítor Gonçalves
35/36





1
Valadas
53/54





1
Elek Schwartz
64/65





1
Milorad Pavic
74/75





1
Mário Wilson
75/76





1
Lajos Baroti
81/82





1
Artur Jorge
94/95





1
Manuel José
96/97





1
Jupp Heynckes
99/00





1
Jesualdo Ferreira
02/03





1
Trapattoni
04/05





1
Koeman
05/06





1
Fernando Santos
06/07





1
Chalana
07/08





1
Quique Flores
08/09





NOTAS: Os treinadores que orientaram a equipa aquando da sua eliminação ou que perderam na final

Conseguir ou não conseguir eis a questão
O Haver e o Deve de todos os treinadores para com o Benfica: saber ou não saber aproveitar o privilégio e a Honra de dirigir o Manto Sagrado. É a vida...

NOTINHA II
Quem ler - depois da saída de Jorge Jesus do Clube - este texto feito antes de 4 de Junho ficará agora com a noção que afinal Jorge Jesus ganhou muito mas perdeu muito mais. Se Jorge Jesus tem renovado com o Benfica ficariam com a ideia que afinal estaria a criticá-lo por considerar que devia ter conquistado mais do que realmente ganhou. É sempre a velha questão do "copo meio cheio ou meio vazio". E acima de tudo a ideia que a fulanização do futebol terá sempre que ser vista numa perspectiva de rácio entre o que se venceu e o que se perdeu, ou seja, contabilizar os sucessos em função das oportunidades (épocas) concedidas a quem defende o "Manto Sagrado".

Venha o Tricampeonato em 2015/16!

Alberto Miguéns

PLANO PARA AS EDIÇÕES DURANTE ESTE MÊS
(provisório como é evidente)
De 20 de Junho a 4 de Julho de 2015 (Sempre pela meia-noite)
Sábado (de 19 para 20): Regresso do Pólo Aquático;
Domingo (de 20 para 21): Os 337 campeões nacionais;
Segunda-feira (de 21 para 22): Quantos Campeões Tem Cada Clube;
Terça-feira (de 22 para 23): Benfica tão brilhante que se vê no escuro;
Quarta-feira (de 23 para 24): Mentiras Oficializadas by SLB;
Quinta-feira (de 24 para 25): Capelada em Odivelas;
Sexta-feira (de 25 para 26): Carrega no Bilhar;
Sábado (de 26 para 27): Sinto-me tão portista!;
Domingo (de 27 para 28): A Gloriosa Coimbra dos cinco troféus;
Segunda-feira (de 28 para 29): Já cá faltava eu!;
Terça-feira (de 29 para 30): O Mais Belo e Inigualável 138
Quarta-feira (de 30 para 1): Ser bom ou mau treinador;
Quinta-feira (de 1 para 2): Os 86 vencedores da Taça da Liga;
Sexta-feira (de 2 para 3): Ó Incomparável;
Sábado (de 3 para 4): Rola e enrola

4 comentários:

  1. Caro Alberto,

    quem foi o treinador que orientou a equipa depois da saída de Gutmann em 65/66?
    Aqui (https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_S.L._Benfica_managers) refere que fez a época completa.
    E pelo que observo também terá outras imprecisões (não tão graves) como nos jogos orientados por Caiado em 61/62 e por Valdivieso em 58/59...

    Saudações Benfiquistas,
    AG

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    Respostas
    1. Caro,

      Em 30 de Março de 1966 o departamento de futebol propõe o «afastamento de Béla Guttmann do campo». Aceite pela Direcção o treinador de campo «de pleno direito» passou a ser o adjunto Fernando Cabrita.

      Ao contrário do que é dito e publicado, para fazer a História dos clubes é necessário ler os Relatórios e as actas das assembleias gerais e das reuniões de Direcção. Dá trabalho, ocupa tempo, mas evitam-se erros e suposições.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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  2. Caro Alberto, dois pontos, uma pergunta:

    1 - Fulanização, mercantilização, mediatização, manipulação, tempos de extremos.
    Vai valendo a tranquilidade ganha por já ter visto muitos campeonatos.
    Os defesos são assim mesmo: tontos. Uns mais outros menos. Vamos esperar que pelas decisões da Direção. É para isso que foram eleitos e é por isso que hão-de ser avaliados. Já vi muita saída dramática e o Benfica geralmente ficou mais forte.
    Rumo ao tricampeonato em 2015/2016!

    2 - Não conhecia o livro de Ribeiro dos Reis. Tinha ideia de ter sido um treinador com bastante insucesso. Fruto das dificuldades inerentes aos investimentos sucessivos ao longos das décadas nas nossas infraestruturas desportivas ("casa às costas") e fruto da mudança de paradigma verificada no clube após as roturas trazidas pelas eleições de 1926. Afinal tem um rácio 3 em 9 quando por exemplo Toni tem 1 em 6. Mas a pergunta tem a ver com o conteúdo do livro. É sobre o jogo, as suas tácticas e aspectos ligados ao treino e orientação desportiva ou também tem também alguma informação histórica?

    Obrigado
    VJC

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    Respostas
    1. Caro VictorJ,

      É sobre o jogo, as suas tácticas e aspectos ligados ao treino e orientação desportiva, mais as Leis do Jogo e como podem os futebolistas dominando-as tirar benefícios desse conhecimento.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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