12 março 2013

João Rocha: Um sportinguista sportinguista

OPINIÃO
O falecido jornalista Neves de Sousa escreveu este belíssimo artigo sobre um célebre contrato – não efectivado - entre José Maria Pedroto, acabado de sair, em 1980, do FC Porto e João Rocha, presidente do Sporting CP. O facto desta digitalização ter pouca qualidade obriga a “tradução escrita”.


HOMEM AVANÇADO NO TEMPO

Pouca gente soube que o muito saudoso José Maria Pedroto esteve a um pequeno passo de ser treinador do Sporting, quando João Rocha era presidente do clube de Alvalade. Tudo estava acertado, pormenor por pormenor, até à mais ínfima partícula de um documento que vinculava as duas partes, pelo menos durante uma temporada futebolística. Porém, no dia em que estava aprazado a assinatura nos papelinhos, Pedroto travou o gesto e subitamente disse para o presidente do Sporting.

“Esqueci-me de lhe lembrar, mas falta aqui uma cláusula. Está tudo certo, tanto em relação aos meus prémios, como aos meus vencimentos, o caso do apartamento e do carro às ordens, tudo muito bem, mas o senhor presidente esqueceu-se de que eu lhe tinha dito logo no primeiro encontro: só vou para um clube que dê garantia de contar com os árbitros”.

“Como?! não percebo?”, indagou João Rocha, nessa altura pouco habituado a saber o que era certa fatia da arbitragem.  Pedroto meteu a caneta na algibeira, levantou-se e apenas disse: “Quinze mil são para mim, mas para os árbitros são precisos outros tantos, caso contrário o Sporting só ganha campeonatos lá para o fim do século”.

O contrato acabou por não ser assinado. Pedroto rumou para outra latitude, mais compreensiva. O Sporting continua a ver navios.


NOTA DO EDB: A “outra latitude” foi o Vitória SC de Guimarães, em 1980/81 e 1981/82, para depois regressar ao FCP de "braço dado" com PdC

João Rocha: um sportinguista diferente!
Porquê diferente? Porque foi (é) um sportinguista... sportinguista!
Mas... o que é que "isso" tem a ver  com o Benfica. Tem... e muito!
1.º  Não foi apenas o Sporting CP vítima do "Método Pedroto". Todo o futebol português perdeu em "verdade desportiva" com as acções de José Maria Pedroto. Este é o "verdadeiro pai do Futeluso". PdC é, apenas, um discípulo, ainda que bom aprendiz.
2.º  João Rocha podemos dizer, foi o último presidente sportinguista "à moda antiga", por que não era anti-benfiquista. Gostava (queria) que o seu SCP vencesse e conquistasse, mas para ele era indiferente se o SLB vencia ou não, desde que não interferisse no caminho do SCP (em qualquer modalidade). Há muitos e variados exemplos. Mas entre todos o mais mediático porque envolve futebol e títulos ocorreu na época de 1979/80:
Na temporada 1979/80 a parelha José Maria Pedroto/Pinto da Costa (JmP/PdC), respectivamente, treinador e chefe do departamento de futebol jogavam muito (quase tudo) fora das "quatro linhas" no sentido de conquistarem o tricampeonato nacional (depois de dois títulos em 1977/78 e 1978/79) ou a Taça de Portugal (a última em 1976/77, a primeira conquista da parelha JmP/PdC). Sabia-se que o insucesso total - não conquistar nenhum título - permitiria ao presidente do FCP, Américo de Sá colocá-los na rua, pois não tolerava mais mentiras e vigarices dessa "parelha" que enxovalhavam a história e dignidade do clube.
O Sporting CP (presidido por João Rocha) e o "Glorioso" (presidido por Ferreira Queimado) tinham boas relações institucionais, até porque ambos os clubes sentiam-se vilipendiados pelas declarações da "parelha JmP/PdC". Os adeptos dos dois clubes sentiam/percebiam que havia que impedir o FCP de conquistar qualquer título, no campeonato nacional e na Taça de Portugal.
Se o FCP, através da "parelha JmP/PdC" manobravam "por dentro, ilegal e vergonhosamente", os adeptos uniram-se para "manobrar - legalmente - por fora".

Os Benfiquistas no estádio do SCP na última jornada do campeonato nacional de 1979/80, em 1 de Junho de 1980, V 3-0 entre o SCP e o UD Leiria
Duas imagens obtidas nas bancadas do Estádio Nacional em 7 de Junho de 1980. Final da Taça de Portugal. Benfica, 1 - FC Porto, 0

Os Benfiquistas foram apoiar o Sporting CP, na vitória por 1-0 (golo de Jordão, ex-futebolista do "Manto Sagrado, aos 42 minutos) frente ao FC Porto "parelha JmP/PdC" em jornada do campeonato nacional. E os sportinguistas foram ao Jamor, apoiar o "Glorioso" frente ao FC Porto da "parelha JmP/PdC", na final da Taça de Portugal, com vitória por 1-0 (golo de César, aos 36 minutos) em 7 de Junho de 1980.
O FC Porto da "parelha JmP/PdC" não ganhou NADA! A "parelha JmP/PdC" foi afastada, como se previa, pelo presidente portista Américo de Sá, um Homem de moral e ética, como o FCP não voltaria a ter. Este não era "andróide"!
João Rocha como bom estratego e visionário, procurou assegurar para treinador do SCP, José Maria Pedroto para afastá-lo "definitivamente" do FC Porto e de PdC. Percebeu que se a "parelha JmP/PdC" regressasse com mais poder o futebol português não voltaria a ser o mesmo. Mas a vigarice não deixou! João Rocha preferiu continuar de consciência tranquila. Um senhor! Ainda que o tempo tenha mostrado que - como estratego - estava certo. E que se tem aceitado a vigarice, o futebol português teria seguido outro rumo. Quanto a Pedroto este não tinha já solução, não tinha emenda. Para ele a manipulação e a trapaça faziam parte da vida!
Repito. João Rocha? Um senhor!
Alberto Miguéns

Previsões para os próximos textos no EDB, agendados para as meias-noites:
12 para 13: João Rocha? Foi mesmo diferente (O Projecto Roquette);
13 para 14: O Benfica em terras gaulesas
Quem é quem?
Primeiro os protagonistas

João Rocha (1930 - 2013)
João Rocha nasceu na cidade sadina Setúbal, em 9 de Julho de 1930. Empresário empreendedor, aos 42 anos, em 19 de Maio de 1973, o órgão fasciszóide Conselho Leonino (composto por antigos dirigentes do SCP e figuras importantes do Estado Novo, a maior parte dos 50 conselheiros "jogava nestas duas qualidades") escolhe João Rocha para presidente do conselho directivo do SCP. Este aceita, mas quis legitimar-se democraticamente numa assembleia geral de associados. Algo que não era tradição no clube. E assim foi, em 7 de Setembro de 1973. Esteve na presidência até 3 de Outubro de 1986, aos 56 anos. Faleceu aos 82 anos, em 8 de Março de 2013.  

José Maria Pedroto (1928 - 1985)
Pedroto nasceu em Lamego, a 21 de Outubro de 1928. Filho de um capitão do Exército mudou-se para o Porto, vivendo junto ao campo da Constituição, do FC Porto, entrando em 1940 para as categorias jovens do futebol portista (1939/40 a 1943/44). Quando chegou a júnior o primeiro desaguisado no FCP. Mal educado - gostava de ridicularizar os adversários - foi jogar para o Leixões SC (1944/45 a 1947/48). Quando foi obrigado a cumprir o serviço militar em Tavira, passou a jogar no Lusitano FC, de Vila Real de Santo António, então a competir na I Divisão.
FUTEBOLISTA
Época
Clube
1948/49
Lusitano FC (VRSA)
1949/50
Lusitano FC (VRSA)
1950/51
CF "Os Belenenses"
1951/52
CF "Os Belenenses"
1952/53
FC Porto
1953/54
FC Porto
1954/55
FC Porto
1955/56
FC Porto
1956/57
FC Porto
1957/58
FC Porto
1958/59
FC Porto
1959/60
FC Porto

TREINADOR
Época
Clube
1960/61
FC Porto (Jun.)
FPF (juniores)
1961/62
FC Porto (Jun.)
FPF (juniores)
1962/63
Associação Académica Coimbra
1963/64
Associação Académica Coimbra
1964/65
Leixões SC
1965/66
Varzim SC
1966/67
FC Porto
1967/68
FC Porto
1968/69
FC Porto
1969/70
Vitória FC Setúbal
1970/71
Vitória FC Setúbal
1971/72
Vitória FC Setúbal
1972/73
Vitória FC Setúbal
FPF (Sel. A)
1973/74
Vitória FC Setúbal
FPF (Sel. A)
1974/75
Boavista FC
FPF (Sel. A)
1975/76
Boavista FC
FPF (Sel. A)
1976/77
FC Porto
FPF (Sel. A)
1977/78
FC Porto
1978/79
FC Porto
1979/80
FC Porto
1980/81
Vitória SC Guimarães
1981/82
Vitória SC Guimarães
1982/83
FC Porto
1983/84
FC Porto

Como treinador iniciou-se nos juniores do FCP, mas com os portistas bem colocados no poder federativo - através do CF "Os Belenenses" - acumulou com o cargo de seleccionador nacional de juniores. No final de 1961/62 percebendo que não seria aposta para treinar o FCP (preterido pelo húngaro Janos Kalmar) novo arrufo. Abandonou o FCP. Depois de quatro épocas fora, regressou ao clube portista para mais três temporadas, entre 1966/67 e 1968/69, quando perdeu a face ao fazer "jogo duplo": no balneário foi a favor dos futebolistas e no gabinete presidencial contra os futebolistas. O presidente da direcção portista Pinto de Magalhães colocou-o fora do clube e fez aprovar em assembleia geral uma decisão de não poder voltar a ser funcionário do FCP, norma apenas possível de ser alterada em assembleia geral. Como foi.. em 1976! Em 1969, voltou a abandonar o FCP. Seguiu-se o tempo de aprendizagem, em Setúbal e na FPF, onde maquiavelicamente se construiu o Pedroto de final de vida: maniqueista, cínico, rancoroso e intriguista. Dominava, na perfeição, os bastidores e tertúlias do futebol português. Depois, a partir de 1976, foi usar o que aprendera e estabelecer os caboucos do "Futeluso". Como nós sabemos, vemos (imagens dos jogos) e ouvimos (histórias e apito dourado no Youtube).

Faleceu no Porto, em 8 de Janeiro de 1985. 
Depois dos dois protagonistas?

O parceiro e o jornalista "sem medo":
Pinto da Costa (1937 a ?)
Pinto da Costa nasceu no Porto (Cedofeita) em 28 de Dezembro de 1937. Em 28 de Dezembro de 1953, no seu 16.º aniversário, entrou para associado do FC Porto. Depois de vários cargos no clube, passando por várias secções das modalidades, foi escolhido em 22 de Maio de 1976, aos 38 anos, pelo presidente do FCP, Américo de Sá, para chefiar o departamento de futebol. Uma das primeiras decisões foi contratar o José Maria Pedroto que treinava o Boavista FC. Depois de sair/ saírem do FCP, em 30 de Junho de 1980, iniciaram o processo de desgaste a Américo de Sá, para concorrerem em lista única, vencendo as eleições em 1982, com tomada de posse, em 17 de Abril de 1982. Há 31 anos, a completar em 2013.

Neves de Sousa (1931 - 1995)
Neves de Sousa faleceu em 1995, aos 64 anos, sendo conhecido pela energia e dignidade com que exercia a profissão.  Sportinguista lúcido e independente, foi uma referência deontológica no seu tempo. Considerado uma personalidade no jornalismo nacional, José Neves de Sousa exerceu a sua actividade essencialmente no extinto "Diário de Lisboa", tal como em vários jornais desportivos, entre eles o "Record", “A Bola” e a “Gazeta dos Desportos”. Colaborou ainda com a Renascença, Antena 1 e Comercial, além de apontamentos episódicos na RTP.

7 comentários:

  1. Vai uma aposta que se eu partilhar este texto no facebook vai haver lagartos a defender o Porto e a dizer que é tudo mentira?

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  2. Caro leitor

    Eu não aposto! Porque perdia! Mesmo com um texto de um jornalista e fotografias/ relatos na imprensa de 1980.

    Gloriosas Saudações Benfiquistas

    Alberto Miguéns

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  3. O problema foi que o pedreiro preferiu o bostas ao joão rocha e deixou-o minar a federação com o seu beneplácito

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  4. Aposto que nao haveria pois um verdadeiro Sportinguista como eu sabe a historia do grande presidente Joao Rocha saudaçoes leoninas

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  5. O vosso ódio é o nosso orgulho!!!! Pinto da Costa sempreeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!
    O presidente com mais titulos mundiais e o resto é treta.

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    1. Os que o anónimo sabe que foram roubados e delambidos contam?

      Alberto Miguéns

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  6. Tanto ódio neste artigo e tanta informação distorcida....

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