Em 2009 foram 20 461 os associados votantes |
As eleições periódicas,
instituídas e cumpridas são um dos pilares que contribuíram, para fazer de um
clube que, aparentemente, teria poucas condições para ser o maior de Portugal…
o maior de Portugal.
Entre 24 foram escolhidos três. O início da grandeza. De baixo para cima |
Primeiro uma escolha (1904)
As eleições foram
instituídas desde início no Clube. Se na fundação, em 28 de Fevereiro de 1904,
os três dirigentes da Comissão Administrativa - José Rosa Rodrigues
(presidente), Daniel Santos Brito (secretário) e Manuel Gourlade (tesoureiro) –
foram “apenas” escolhidos entre os 24 fundadores, foi porque o processo que
conduziu à criação do Clube (entre a ideia, em 13 de Dezembro de 1903 e 28 de
Fevereiro de 1904) fez com que dele emergissem essas três figuras, sem margem
para dúvidas, numa espécie de votação implícita.
Em 1906 melhorou-se o grupo de dirigentes do “Glorioso”, com a eleição do presidente, Januário Barreto, ilustre desportista e médico altruísta |
Depois uma eleição (1906)
Em 22 de Novembro de 1906,
procedeu-se à eleição da primeira Direcção – Dr. Januário Barreto (presidente),
Manuel Gourlade (1.º secretário), José Rosa Rodrigues (2.º secretário) e Daniel
Santos Brito (tesoureiro). Como se tratava de um clube de futebolistas,
formando três “teams” (movimentando
cerca de 50 futebolistas) os associados decidiram também eleger, em plena
assembleia geral… os capitães: Fortunato Levy (1.ª categoria) e Félix Bermudes
(2.ª categoria). (H) À Benfica.
Dois capitães de glória
No campo da Feiteira, Fortunato Levy (o terceiro da esquerda, depois de David Fonseca e Cândido Rosa Rodrigues) |
No campo de Alcântara do Internacional, Félix Bermudes entre Eduardo Corga e Leopoldo Mocho, de costas |
Responsabilidade e rigor
A vantagem de escolher os
dirigentes através de eleições em que todos (ver 1) os associados se podem
candidatar e, em simultâneo, podem votar, é ampla. Pois permite que os
dirigentes não pertençam a uma “casta” mas são “pares entre pares”. Com
mandatos temporalmente definidos, os dirigentes são “obrigados” –
associativamente – a submeter as suas decisões aos outros associados. Que as
validam (reelegendo), criticam, sugerem ou recusam (não os reelegendo). E ficam
sufragados, porque tal como definiu Ferreira Bogalho, há que ter em conta que
os resultados de um mandato vão muito para além do mandato: «há que ter em conta as condições que uma Direcção herdou e
também… as condições que vai deixar para a Direcção seguinte.»
Melhores e seguintes
Há uma identificação real
entre eleitos e eleitores, próprias do sistema democrático, que vincula quem
elege a quem é eleito e quem se abstém do processo, tendo a possibilidade de o
fazer. Não fazendo qualquer tipo de discriminações (económicas, ideológicas ou
de género), clube tolerante e agregador, o que interessa, sempre interessou, é
quem consegue engrandecer o Benfica. Há uma filtragem, natural, separando os
melhores dos piores (os que por diversos motivos e motivações) não sabem ou não
conseguem estar à altura das exigências de um clube sem igual. «No Benfica interessa muito pouco, ou nada, o que se é ou
diz, mas muito mais, tudo, o que se faz (e como se faz).»
Identificação e identificados
Uma das vantagens da
democraticidade num clube é o facto de isso permitir que os associados se
sintam verdadeiramente integrados, porque se sentem próximos de quem elegeram.
Talvez isso ajude a explicar o facto de no “Glorioso”, apesar das inúmeras e
fantásticas personalidades que desenvolveram a sua acção no Clube, eles sejam
recordados em exclusivo pelo que fizeram, ficando na memória (de gratidão)
colectiva do Benfica, e não pelo facto de emprestarem o seu nome, a uma infra-estrutura
ou a parte dela, que com o tempo deixará de ter significado pela ausência de
referências, acabando por restar apenas um “nome”, quase sem significado real. «Nada é de ninguém, tudo é do Benfica.»
Liberdade e comprometimento
Sem constrangimentos (não
há “castas”) ou entraves (ver 1) na possibilidade de se candidatarem todos os
associados são responsáveis pelo desenvolvimento do Clube. Se não se candidatam
é porque concordam com quem se candidata. Se não concordam podem (e devem)
apresentar-se como alternativa, pois todos são responsáveis. Deste modo os
dirigentes são, efectivamente, entendidos como um prolongamento dos sócios, com
estes a estarem bem identificados com eles, por que os escolheram directamente,
apoiaram, foram vencidos ao apresentarem-se como alternativa ou não
concorreram, tendo no entanto as condições exigidas para tal. «No Benfica não se é dirigente… está-se dirigente.»
Ainda não se realizaram as próximas eleições (26 de
Outubro de 2012) e já se sabe a data das… “próximas”: 28 de Outubro de 2016! É
o Benfica, estúpido!
Alberto Miguéns
(1) De
acordo com as normas estatutárias, que têm variado. E têm mudado, no sentido de proteger o desenvolvimento
do Clube, evitando aventureiros que, sabendo da restrita participação
associativa nos actos eleitorais (o nosso recorde cifra-se em 21 804, em 2000)
podem influenciar votações com inscrições de “última hora”.
NOTA FINAL:
Aparentemente, enquanto vigorar o “Futeluso”, a democracia parece fazer do
Benfica um clube mais fraco face a outro suportado por tiranetes. Mas acredito
que será… temporário. A democracia há-de mostrar que é, sempre, o melhor
caminho. Como foi sempre…
AMANHÃ NO EDB:
1. História Eleitoral do Benfica
2. Opiniões de um associado (eu) acerca dos Estatutos
(actuais)
Alberto,
ResponderEliminarBem sei que anda ocupado com o museu, mas gostaria que nos fizesse uma resenha histórica sobre a evolução do que refere em(1).
Obrigado
Caro
EliminarVou tentar comparar Estatutos desde os anos 60 (são cinco). Para já um texto (22 de Outubro) comparando estes de 2009 com os de 1996.
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
Ansioso pela crónica de amanhã...
ResponderEliminarCaro
EliminarEspero que não tenha defraudado a sua expectactiva.
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
É de salientar que no Benfica apesar do tempo decorrido, das perssões e perseguições do Estado Novo, a democracia sempre prevaleceu, e ser sócio ou sócia não tinha tratamento diferenciado, como sucedia na sociedade civil.
ResponderEliminarEstou certo?
Caro Gaspar Esteves
EliminarEstá certíssimo. No Clube houve sempre igualdade no género. Desde 1904.
Gloriosas Saudações Benfiquistas
AlbertoMiguéns