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09 janeiro 2018

Otto Glória: 101 Anos (Parte II)

09 janeiro 2018 3 Comentários
HÁ UM FUTEBOL DO BENFICA A.O. E D.O: ANTES E DEPOIS DO TREINADOR OTTO GLÓRIA.


A primeira passagem pelo Benfica, entre 1954/55 e 1958/59, mudou o Glorioso Futebol e por acréscimo o Futebol português. O Benfica é assim. Quando consegue ser vanguarda de Portugal altera, para melhor, o desporto do próprio País. Que haveria de reconhecer Otto Glória, em 1966, com o terceiro lugar no Campeonato do Mundo de 1966, ainda o melhor de sempre conseguido pela selecção nacional. Ser Campeão da Europa até a Dinamarca e a Grécia foram. E com mérito!

Otto Glória com o presidente do Benfica que o fez regressar ao Clube (Adolfo Vieira de Brito) e Eusébio

Deixou os alicerces do Benfica Europeu
Quando Otto Glória terminou a ligação contratual ao "Glorioso" no final da década de 50 estavam criadas as condições para o Benfica dominar o futebol em Portugal. e, apesar de não se perceber, também na Europa. O treinador brasileiro e o presidente Bogalho organizaram o Clube. preparando-o para voar alto, Depois quatro "ingredientes" fizeram o resto. O dinheiro de mecenato do presidente Maurício Vieira de Brito, o perspicaz e estratego treinador Béla Guttmann, a classe e abnegação dos futebolistas e, claro, o sal de tudo isto, o que deu sabor e possibilidade de fazer bem e melhor: os adeptos do Benfica, incansáveis, ubíquos, capazes de galvanizar e suplantarem-se, incentivando tudo e todos: de dirigentes a treinadores, dos guarda-redes aos avançados-centro.


O carioca Otto Glória que teve uma longa carreira de treinador mas seria no Benfica que ficaria com registo que faz dele um Eterno Glorioso

O hiato: 1959/60 a 1967/68
Após sair do Benfica, Otto Glória foi treinador, entre França e o Brasil, em Portugal do CF "Os Belenenses", FC Porto, Sporting CP e da selecção nacional na fase de apuramento e fase final do Campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra, tendo como seleccionador, o Benfiquista Manuel da Luz Afonso. Depois desta competição rumou a Espanha, para treinar o Clube Atlético de Madrid, em 1966/67 e 1967/68 (parte da época). Seria deste clube que regressaria ao "Glorioso".


Em Inglaterra (1966). Em cima: o treinador da selecção portuguesa Otto Glória e o jornalista Alves dos Santos (bom sportinguista e excelente profissional) embora fosse melhor a escrever que a relatar. Era Alves dos Santos a escrever e Alves dos Cantos na RTP pois era do tipo Eusébio vai marcar (e afinal era Coluna)!
Em baixo: Otto Glória tendo a seu lado o Águia de Ouro Benfiquista Manuel da Luz Afonso (que substituiu, nas eleições de 31 de Março de 1962 o recentemente falecido Gastão Silva como dirigente responsável pelo futebol do Benfica)

Regresso num período de indefinições
Decorria já a temporada de 1967/68, de uma forma atribulada, com a saída de Fernando Riera e a sua substituição pelo adjunto Fernando Cabrita. Foi nesta instabilidade técnica que os dirigentes decidiram fazer regressar Otto Glória que estava livre depois de ter feito pouco mais de uma volta no campeonato espanhol. Otto Glória encontrou, ao fim de nove anos de ausência, um plantel de futebol muito diferente, mas o mesmo Benfica de sempre, formando equipas para dar corpo à intenção dos primórdios - incansável no desejo de vencer. Dos futebolistas apenas Mário Coluna, agora o "capitão", se mantinha no plantel e também Cavem apesar de pouco utilizado. Com o Clube em segundo lugar a dois pontos da liderança do campeonato nacional, à 21.ª jornada (em 26!), a estreia foi animadora, em 14 de Abril de 1968, com uma retumbante goleada (6-0) à equipa da AD Sanjoanense, na "Saudosa Catedral". O Benfica venceria o campeonato nacional pela 17.ª vez.

Sempre interventivo e atento. Um dos melhores treinadores do Clube em 114 temporadas a jogar futebol

Dupla injustiça em Wembley: O Benfica (pela terceira vez) e Otto Glória (que ergueu os alicerces do Bicampeonato de 1961 e 1962) mereciam ser Campeões Europeus em 1968
Com o "Glorioso" apurado, por Riera e depois Cabrita, para as meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, eliminou a Juventus FC, com duas vitórias e Turim a assistir a um dos melhores golos de Eusébio. Seguiu-se a final no estádio de Wembley, frente ao Manchester United FC, mas a derrota no prolongamento tirou-lhe a hipótese de se sagrar campeão europeu e dar ao Benfica, na quinta final da competição em oito temporadas, o terceiro título. A equipa habitual era constituída por: José Henrique; Adolfo, Raul, Jacinto e Cruz; Jaime Graça e Coluna (capitão); Eusébio; José Augusto, José Torres e Simões. Otto Glória conhecia bem todos os futebolistas pois mais de metade do plantel foi titular no Mundial de 1966 e os restantes eram conhecidos do treinador como adversários enquanto treinador do FC Porto (1964/65) e do Sporting CP, em 1965/66.


Como espectador junto ao apresentador/jornalista Artur Agostinho. Culto, «fazia bem» a velha máxima do Futebol: Um treinador que só sabe de Futebol, nem de Futebol sabe.

Uma época de excelência em 1968/69
Iniciando a temporada como treinador - ao contrário da anterior - o Benfica só foi parado por um clube holandês que iria dominar o futebol europeu após o Benfica. Esta época de 1968/69 foi de grande classe, uma das melhores na história centenária do Benfica, apesar de continuar a faltar mais um título europeu, pois o Clube foi eliminado nos quartos-de-final, num jogo de desempate, em França, com o AFC Ajax, depois de uma vitória categórica, por 3-1, em Amesterdão e igual insucesso na "Catedral". No terceiro jogo, no estádio Colombes, em Paris, só no prolongamento os holandeses se superiorizaram ao Benfica. A nível interno o Benfica conquistou o campeonato nacional pela 18.ª vez (terceiro Tricampeonato), a 16.ª Taça de Portugal (quinta dobradinha), a sétima Taça de Honra de Lisboa (terceira consecutiva), e pela primeira vez, o Torneio Ibérico de Badajoz. Afinal Otto continuava Glória.




Quando tudo tem de correr mal, tudo corre muito mal

Na época de 1969/70 o percurso da equipa de futebol tinha tudo para dar certo, com um Tetra e depois tudo correu mal. O afastamento das competições europeias por "moeda ao ar" foi o rastilho e a invasão de campo, numa jornada do campeonato nacional frente ao CF "Os Belenenses" com interdição da "Saudosa Catedral" até final da temporada foi a acendalha. Depois uma derrota inesperada deitou tudo a perder. Nos oitavos-de-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o impensável ocorria nos balneários do nosso Estádio. Depois de uma impiedosa derrota, por 0-3, na Escócia, frente ao Celtic FC, na segunda mão, o Clube recuperou e conseguiu anular a desvantagem. No prolongamento não se alterou o marcador. Três-a-zero! A UEFA que tinha acabado com o terceiro jogo por considerar ingrato o que se tinha passado com o Benfica, só derrotado no prolongamento, em campo neutro, alterou o regulamento para "moeda ao ar". «Pior a emenda que o soneto». Em 26 de Novembro de 1969, no seu estádio depois de um jogo épico, conseguir de 0-3 na primeira mão, igualar a eliminatória para depois tudo perder por uma moeda teimosa! Acabou a "moeda ao ar" e passou-se ao desempate por pontapés da marca de grande penalidade que não são penalidades por não haver possibilidade de recarga após defesa do guarda-redes. No campeonato nacional, frente ao CF "Os Belenenses", em 25 de Janeiro de 1970 (28.º aniversário de Eusébio), aos 43 minutos, o árbitro expulsa o segundo futebolista do "Glorioso" (Malta da Silva) depois do pacato José Torres já ter sido expulso pouco depois da meia-hora de jogo. Invasão de campo, à 16.ª jornada (terceira da segunda volta) de um campeonato com 26 jornadas. O resultado foi homologado em zero-a-zero, o jogo nem ao intervalo chegou e o Benfica distanciava-se do Sporting CP. Pior. Interdição da "Saudosa Catedral" por oito jogos, quando faltavam jogar dez jogos e cinco "em casa". O Benfica foi jogar para o Estádio Nacional. Logo na estreia, à 18.ª jornada, uma derrota por 0-1, com o GD CUF, colocou o Clube em terceiro lugar a nove pontos do líder. Faltavam disputar oito jogos, ou seja, 16 pontos. O Benfica prescindiu do treinador. Para o substituir foi escolhido o futebolista do plantel José Augusto que além do que restava do campeonato nacional fez toda a "campanha" na Taça de Portugal que o Benfica conquistou. 


Na segunda passagem pelo Benfica, o treinador e o capitão. E seria José Augusto a substitui-lo no comando técnico do Glorioso Futebol, ia a temporada de 1969/70 a meio...


8 de Fevereiro de 1970: ainda nem tinha começado a jogar-se a Taça de Portugal
Era o adeus definitivo de Otto Glória que dirigiu o Benfica, no somatório das duas passagens, anos 50 e 60, em 323 jogos, com 196 vitórias (61 por cento), 64 empates e 63 derrotas, com 797 golos marcados e 325 sofridos. Apesar de treinar inúmeras equipas de vários clubes de países europeus e sul-americanos, nunca conseguiu o êxito que obteve no Benfica. Foi um treinador que inovou em Portugal (na primeira passagem na segunda metade dos Anos 50), autêntico "revolucionário" do Futebol, alterando completamente este desporto no nosso país. A sua passagem pelo Benfica permitiu ao Clube sagrar-se campeão nacional em quatro temporadas (1954/55, 1956/57, 1967/68 - últimas cinco jornadas - e 1968/69) e conquistar a "Taça de Portugal" também em quatro edições (1954/55, 1956/57, 1958/59 - até aos quartos-de-final - e 1968/69).



A terminar a sua estadia em Portugal ainda se cruzou no Clube com outro treinador que iria fazer uma pequena "revolução" no Futebol do Glorioso e em Portugal, Sven Goran-Eriksson


Continuou sempre muito próximo do Benfica
Consciente que o Benfica foi o clube que lhe deu condições que ele soube aproveitar para brilhar esteve sempre activo, mesmo enquanto terminava a sua longa carreira de treinador já no início dos anos 80. Regressou ao Rio de Janeiro, onde faleceu, aos 69 anos, em 4 de Setembro de 1986.



Otto Glória merece ser sempre honrado pelo Benfica. Eterno treinador campeão


Alberto Miguéns
3 comentários
  1. Caríssimo Alberto Miguéns

    Peço-lhe desde já imensa desculpa, mas apenas gostaria de corrigir um pequeno detalhe:
    Na foto a cores onde está Otto e (sic) Manuel da Luz Afonso, Otto está efectivamente mas o outro figurante é o saudoso jornalista Alves dos Santos, apresentador do "Domingo Desportivo"
    na RTP, que passava os resumos curtíssimos (e só alguns) das jornadas domingueiras do então
    Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
    Peço mais uma vez humildes desculpas, por fazer esta pequena correcção, que não tira em nada
    o brilho, de mais um extraordinário texto seu, sôbre o riquíssimo historial do nosso Benfica.

    Tetra saudações Mário Rui Cardoso

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    Respostas
    1. Caro Constança Boavida

      Ora essa! Bem-vinda correcção. Eu é que agradeço até porque permite colocar (acrescentar) a foto que originalmente queria colocar, mas depois não tive tempo de legendar e optei por colocar a que só tem essas duas grandes figuras ligadas ao desporto português.

      Sempre que detectar alguma incorrecção - pequeno ou maior - tenho todo o gosto em receber as suas sábias palavras.

      Agradeço os elogios, mas reencaminho-os para o Benfica. Se o Benfica não fosse o que é por muito que me esforçasse pouco brilho conseguiria ter. Assim fico com a ideia que seria sempre possível dizer mais ou dar mais destaque ao que é importante e não ao acessório.

      Mas já me habituei que o Glorioso é tão grande que nem duas vidas chegariam para o conhecer e divulgar como ele merece ser conhecido e dado a conhecer.

      Tetra saudações Gloriosíssimas

      Alberto Miguéns

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  2. Caríssimo Alberto Miguéns

    Extremamente agradecido pela sua amável resposta, ao meu comentário. Graças a Deus, foi o único reparo que encontrei a um texto seu, nestes últimos anos em que fiel e diáriamente leio os seus textos. Como utilizo em casa o computador de minha mulher Constança Boavida, o comentário aparece como sendo dela, mas o meu nome é Mário Rui Cardoso e foi assim que assinei
    o anterior.

    Mais uma vez tetra saudações

    Mário Rui Cardoso

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