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27 março 2015

Meu Amigo Anacleto

27 março 2015 2 Comentários
O FALECIMENTO DO ATLETA BENFIQUISTA ANACLETO PINTO TROUXE-ME À MEMÓRIA RECORDAÇÕES VÁRIAS.


Não fui apanhado de surpresa pois há alguns dias que sabia do seu estado de saúde precário. Mas não deixa de ser muito triste quando penso que foi através de Anacleto Pinto que me interessei pelo atletismo do Benfica. Eu que até ouvir falar dele e depois de começar a vê-lo correr, na nossa antiga pista de tartan no campo 2 ou na televisão, pensava que só havia atletismo, em Portugal, no Sporting CP!



Afinal não era só no Sporting CP que havia Atletismo!
Comecei a saber da sua categoria no defunto "O Benfica Ilustrado" que começou por ser um suplemento mensal do semanário "O Benfica" em forma de revista. Foi aí que comecei a ler prosas magníficas acerca dele e fotografias apaixonantes de Roland Oliveira. Ainda tenho a revista onde se destaca a sua proeza, em 1966, quando, com 18 anos e dois dias, em 27 de Fevereiro, nos terrenos junto ao aeroporto de Lisboa, se sagrou campeão nacional em corta-mato. Numa temporada em que integrou a equipa vencedora da mítica estafeta Cascais-Lisboa, uma prova de estrada, em 6 de Março de 1966.


Anos 60
Natural de Viseu onde nasceu em 25 de Fevereiro de 1948, iniciou-se nas "corridas" na "Terra de Viriato" no início dos anos 60 com pouco mais de 13 anos. Não seguiu o percurso habitual que levava muitos atletas desse clube ao Sporting CP por "oposição" à filial do Clube, Sport Lisboa e Viseu ou Sport Viseu e Benfica, então uma das filiais mais fortes, influentes e importantes do "Glorioso". "Força da natureza" cedo foi considerado a grande esperança do atletismo português numa modalidade individual com tempos certificados por idades onde é possível fazer comparações objectivas.

Benfiquismo "exercido em mais dois clubes"
Envergou o Manto Sagrado em 1964 (com 16 anos) e foi com ele que se despediu em 1985, com 37 anos, embora tivesse passado por outros clubes: Benfica (1964-1969; 1974-1977; 1980-1985), CAF Viseu (1970; 1978-1979) e Sporting Clube de Luanda (1971-1974). Terminada a carreira e de regresso à sua "amada terra" correu pelos veteranos do Académico Viseu FC (nova designação do mítico Clube Académico de Futebol).


Relâmpago vermelho em nuvens verdes
Chegou, viu e venceu. Entre 1965 e 1968 (os campeonatos realizavam-se até meados de Fevereiro e ele comemorava os aniversários em finais desse mês) ou seja, entre os 16 e os 19 anos, durante quatro temporadas consecutivas sagrou-se campeão regional e nacional de corta-mato no escalão juniores. Uma proeza, provavelmente única, em Portugal. Logo a partir de 1964, ele pelo "Glorioso" e Manuel Oliveira pelo Sporting CP, então o maior expoente da modalidade em Portugal, que conseguira o 4.º lugar nos 3 mil metros obstáculos nos Jogos Olímpicos de Tóquio (1964) protagonizaram os despiques mais intensos nos campos, estradas e pistas do País. O sportinguista de Mangualde (concelho de Viseu!!!) com 26 anos, Anacleto Pinto com menos oito!

Prodigioso atleta fundista (em pista)
No início, entre meados dos anos 60 e metade da década de 70, dedicou-se às corridas de fundo (5 e 10 mil metros) chegando a recordista nacional dos 10 mil metros em 1967 (30.05,8), ainda com idade de júnior, e em 1968, quando se tornou o primeiro português a fazer menos de meia-hora (29.57,6). Sagrou-se campeão de Portugal nos cinco mil metros em 1966, 1976 e 1977. Em 1967 o "Glorioso" sagrou-se campeão nacional de pista, após onze temporadas de interregno numa dupla vitória pois também adicionámos a campeonato regional, datando de 1955, a última conquista neste título. Ser regional ou nacional "ia dar ao mesmo" visto os títulos serem disputados apenas por dois clubes, precisamente, da mesma "região": Benfica e Sporting CP!


Prodigioso atleta na maratona (em estrada)
Em meados dos anos 70, com maior maturidade começou a dedicar-se à maratona, especialidade na qual foi olímpico pela primeira vez nos Jogos de Montreal’1976 e voltaria a sê-lo em Moscovo’1980. No Canadá foi 22.º classificado com 2:18.53,4 horas, melhorando a sua classificação (e tempo) na URSS (actual Rússia) quatro anos depois, com o 16.º lugar em 2:17.04,0 horas. Ainda conservo o seu cromo da caderneta dos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976. Tinha eu, então, 15 anos.


Anacleto Pinto versus Carlos Lopes
O nosso Anacleto é contemporâneo do gigante Carlos Lopes. E conterrâneos. Carlos Lopes nasceu em Vildemoinhos, bairro da freguesia de São Salvador de Viseu, em 18 de Fevereiro de 1947, ou seja, é um ano mais velho que Anacleto Pinto. Conta-se que o Sporting CP contratou-o, em 1967, temendo a capacidade que Anacleto Pinto vinha demonstrando no domínio da modalidade com o "Manto Sagrado". Carlos Lopes iniciou-se no atletismo por ser recusado (muito franzino!) no futebol do Lusitano FC Vildemoinhos. Pouco tempo depois, ganhou o campeonato distrital de Viseu em corta-mato e, no seguimento desta conquista, foi terceiro no campeonato nacional de corta-mato para juniores, disputado em Évora, a 30 de Janeiro de 1966, conquistado brilhantemente por Anacleto Pinto (que também conquistaria, um mês depois, o de seniores). Portugal decidiu levar uma equipa de juniores ao "Cross das Nações" que se disputou em Rabat (Marrocos) a 20 de Março de 1966. Anacleto Pinto (SL Benfica) desistiu e Carlos Lopes (LFC Vildemoinhos) foi o melhor português, em 25.º lugar. Carlos Lopes tinha então dezanove anos. Anacleto Pinto tinha dezoito! No ano seguinte Carlos Lopes corria de verde-e-branco às riscas horizontais! À Sporting!

Descola Anacleto! Arranca Mendes!
Tinha sempre grande expectativa quando Anacleto Pinto corria frente a Carlos Lopes. Ansiava por vê-lo vencer o invencível. Idêntico prazer em ver Fernando Mendes deixar Joaquim Agostinho para trás no ciclismo, pois considerava que esses dois sportinguistas tinham uma visibilidade na Imprensa perfeitamente desmesurada para a realidade. Como se nada mais existisse além deles!

Multicampeão
Com sete títulos de campeão nacional, conquistou quatro em pista ao ar livre: três vezes campeão em 5 mil metros (1966, 1976 e 1977) e na estafeta 4x1500 m (1967). Na estrada consagrou-se como campeão nacional da maratona (1976 e 1978), além do nacional de corta-mato (1966). Além de dois Jogos Olímpicos, esteve presente em cinco em Mundiais de corta-mato e treze campeonatos (Europeus e Mundiais) em pista, entre 1966 e 1980.


Elite e popular
Atleta dos mais conceituados em Portugal era um Atleta À Benfica. Sabia correr entre os maiores e melhores do seu tempo ou entre os populares por todo o Portugal. Foi o primeiro vencedor da Meia-Maratona da Nazaré em 1975, em 1:11.59 horas, competição que ganhou três vezes entre 1975 e 1978. Recordemos que a Nazaré foi a pioneira neste tipo, hoje tão generalizado, de competições de divulgação da modalidade.

Um até sempre!
Em 21 de Março de 2015 faleceu, em Tondela, aos 67 anos. Apesar de nunca ter falado com ele, "conhecia-o" desde 1966. Pelo respeito como atleta de valor supremo, mas principalmente, como Glorioso do nosso atletismo, considero que perdi um Amigo! Que tantas alegrias me deu.


Obrigado Anacleto por ter aprendido contigo a gostar, ainda mais, do nosso Clube.

Alberto Miguéns

NOTA: Para saber mais, muito de mais, de Anacleto Pinto, tal como do Atletismo em Portugal, na Europa e no Mundo não tem nada que saber: Atletismo Estatística.


 PLANO PARA AS EDIÇÕES DESTA SEMANA
(provisório como é evidente)
28 de Março a 7 de Abril de 2015 (Sempre à meia-noite)
Sábado (de 27 para 28): O Desporto mais importante no fim-de-semana;
Domingo (de 28 para 29): Jogos particulares de primeira e segunda!;
Segunda-feira (de 29 para 30): Luisão não tem culpa!;
Terça-feira (de 30 para 31): Mentiras Oficializadas by SLB;
Quarta-feira (de 31 para 01): O Mais Belo e Inigualável 138;
Quinta-feira (de 01 para 02): Benfica tão brilhante que se vê no escuro;
Sexta-feira (de 02 para 03): Taça da Liga: melhor do que a pintam;
Sábado (de 03 para 04): Vem aí o CD Nacional;
Domingo (de 04 para 05): E depois do CD Nacional?;
Segunda-feira (de 05 para 06): Rola e enrola;
Terça-feira (de 06 para 07): Já cá faltava eu!
2 comentários
  1. Morreu um Benfiquista. Um atleta de classe que prestigiou o Benfica.
    Um agradecimento respeitoso e sentido pelas vitórias e pelo brilho que sempre trouxe à nossa camisola.
    Muito obrigado
    Que descanse em Paz.

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  2. ...Sr Dr Alberto...como prometido aqui está mais uma vez o Sr Dr A HONRAR QUEM NOS HONROU O PASSADO.....num momento sempre triste quando vemos partir alguém da (NOSSA)FAMILIA BENFIQUISTA dá sempre algum conforto ler as páginas do EM DEFESA DO BENFICA ler ALBERTO MIGUÉNS.....Que esteja em paz o nosso ANACLETO PINTO....abraço

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