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05 setembro 2014

O Legado de Álvaro Gaspar

05 setembro 2014 7 Comentários
NÃO É POSSÍVEL QUANTIFICAR A IMPORTÂNCIA DO BENFIQUISMO DE ALGUÉM NA VIDA DO CLUBE. MAS É POSSÍVEL AVALIAR O SEU IMPACTE. NESTE CASO O LEGADO DE ÁLVARO GASPAR


Quanto a títulos não há dúvidas daquilo que Álvaro Gaspar deu ao seu Benfica. Para mim os futebolistas não conquistam títulos, porque o futebol é jogado por equipas. Os futebolistas participam e contribuem (são fundamentais, porque os principais responsáveis, em campo) nas conquistas dos clubes. Mas como elementos das equipas que os conquistam!


REGISTOS ACTUAIS PARA ÁLVARO GASPAR
Época
JOGOS*
*Dados incompletos
TÍTULOS
Classificações do Clube
Total
4.ª
3.ª
2.ª
1.ª
Total
4.ª
3.ª
2.ª
1.ª
1905/06
0
-
-
-
-
1906/07
0
-
-
-
-
1907/08
0
-
-
-
-
1908/09
1
-
1
-
-
-
-
NR
-
-
1909/10
7
-
2
5
-
2
-
V
V
-
1910/11
22
-
-
17
5
1
-
-
V
2.º
1911/12
26
-
-
12
14
2
-
-
V
V
1912/13
32
-
-
11
21
2
-
-
V
V
1913/14
13
-
-
-
13
1
-
-
-
V
1914/15
6
-
5
1
-
2
-
V
V
-
TOTAIS
107
-
8
46
53
10
-
2
5
3
NOTA: NR - Não se realizou o respectivo campeonato regional


Dez títulos de campeão regional
Não é pequeno o contributo de Álvaro Gaspar para o palmarés e grandeza do Benfica. São dez títulos no total: três consecutivos na 1.ª categoria (um Tricampeonato Regional), cinco na 2.ª categoria (com quatro consecutivos) e dois na 3.ª categoria. Em duas temporadas foi bicampeão: 1909/10 com triunfos em dois campeonatos regionais (2.ª e 3.ª categoria), tal como na temporada de "despedida" em 1914/15 com triunfos em dois campeonatos regionais (2.ª e 3.ª categoria).

Taça «Álvaro Gaspar»
Após o seu falecimento o GS Cruz Quebrada colocou em disputa um troféu com o nome do Chacha para equipas com jogadores jovens. Ao tempo chamada categoria Infantil, pois o futebol nesse tempo não tinha outras categorias que não a 1.ª, 2.ª, 3.ª ou 4.ª em que jogavam futebolistas, entre os 14 e os 40 e tal..., sem diferenciação. Havia clubes, entre eles o Benfica, que começaram a separar as idades, apenas permitindo que acima dos 16 anos fosse possível jogar entre os mais velhos. Abaixo dos 16 anos, apenas na categoria Infantil que não tinha campeonatos oficiais organizados. A Taça «Álvaro Gaspar» permitiu que os Grupos Infantis tivessem uma competição minimamente organizada, em vez de jogos esporádicos. Em 1927/28 a AFL ocupou-se da sua organização. Até que a interrompeu em 1934/35. Para não mais ser realizada. Quando o extraordinário goleador Vítor Silva publicou as suas memórias, em meados dos anos 40, ele que nasceu em 20 de Fevereiro de 1909 escreveu acerca da Taça «Álvaro Gaspar» e como foi importante para ele com 15 anos (1923/24) e para outros jogadores que se fizeram grandes, para o futebol, iniciando-se nessa competição, então ainda com uma organização oficiosa pelo GS Cruz Quebrada. Eis dois excertos das suas "Memórias".



NOTA: Vítor Silva equivocou-se ao pensar que a Taça Álvaro Gaspar era organizada pela AFL. Em 1923/24 não era. Mas jogou-a pelo Óquei Clube de Portugal, embora oficiosamente, por que organizada pelo GS Cruz Quebrada. Vítor Silva só na temporada seguinte, em 1924/25, é oficialmente jogador, quando é inscrito pelo Óquei Clube de Portugal (ÓCP). Clube que se estreou no Campeonato de Promoção (para a II Divisão) da AFL nessa temporada. Isto porque o histórico Internacional desinteressara-se do futebol, no final da época de 1923/24, e o campo das Laranjeiras foi alugado ao ÓCP que além do hóquei em campo (Vítor Silva jogou a modalidade neste clube e depois no Benfica) decidiu também praticar futebol. Mas isso são outras histórias. O que interessa agora é Álvaro Gaspar. 

Impressionou quem o viu jogar e morrer: três exemplos: 1925, 1945 e 1947

Cosme Damião nunca o esqueceu
Quando publicou o seu livro em 1925, um decénio depois do desaparecimento de Álvaro Gaspar não se esqueceu do Chacha. E escolheu uma fotografia - "A Fotografia" - de Álvaro Gaspar captada em 7 de Dezembro de 1913, no campo de Sete Rios, no jogo do campeonato regional frente ao Internacional (CIF) publicada na primeira página do semanário "O Sport Lisboa" n.º 17 em 14 de Dezembro de 1913 para ilustrar a capa do seu (único) livro: "Apontamentos e Recortes sobre Football Association"!


O Clube através do seu Semanário continuou a honrar a sua memória
Em 1945, na véspera da passagem da terceira década do seu falecimento foi (re)lembrado na primeira página num texto eloquente, a três colunas, da autoria (presume-se) de António Ribeiro dos Reis.


Ribeiro dos Reis quis perpetuar o seu exemplo
Depois de muitas canseiras e contactos finalmente Ribeiro dos Reis conseguiu que o Benfica - durante muitos anos e naquele tempo ainda mais, avesso a destaques individuais, pois exaltava-se o colectivo, o Clube (Todos Por Um) - inaugurasse uma placa a perpetuar o Chacha como exemplo de Benfiquismo, integrando o acto nobre nas comemorações do 43.º aniversário do "Glorioso", em 27 de Abril de 1947. Foi na bancada "popular" (Peão) do estádio no Campo Grande - onde o SLB estava instalado provisoriamente - com a ideia de seguir depois para o estádio definitivo do Clube.
Cosme Damião já na fase terminal da sua vida - muito limitado fisicamente - não pode estar presente nesse dia (27 de Abril de 1947). Faleceria menos de dois meses depois, em 12 de Junho de 1947.








Quantos simpatizantes angariou o Chacha para o Benfica? Quantos se fizeram sócios? Quantos miúdos não se interessaram pelo futebol ao vê-lo jogar? Quantos miúdos não se tornaram futebolistas por quererem imitá-lo? Quantos futebolistas não progrediram mais e melhor no futebol por tê-lo como exemplo? Quantos miúdos não ficaram Benfiquistas? Quantos se tornaram melhores Benfiquistas através do seu exemplo de dedicação ao Clube? Estamos a falar dos anos 10 do século XX. Mas há "coisas" que nunca mudam!

ÁLVARO JOSÉ GASPAR
Nascimento: 10 de Maio de 1889
Primeiro jogo: Desconhecido (por enquanto)
Primeiro jogo referenciado (3.ª categoria): 20 de Dezembro de 1908 (19 anos)
Primeiro jogo na 2.ª categoria: 24 de Outubro de 1909 (20 anos)
Estreia na 1.ª categoria: 25 de Setembro de 1910 (21 anos)
Último jogo na 1.ª categoria: 1 de Março de 1914 (24 anos)
Último jogo com o "Manto Sagrado" (3.ª categoria): 11 de Abril de 1915 (25 anos)
Falecimento: 3 de Setembro de 1915 (26 anos)
Funeral: 5 de Setembro de 1915 (para o Cemitério da Ajuda)


Alberto Miguéns

NOTA FINAL: Por dificuldades técnicas - impossibilidade por excesso de informação - para que resulte com eficácia (publicar fotografias e documentos a ilustrar os textos) "A Vida Desportiva de Álvaro Gaspar Numa Dúzia de Datas (entretanto 15!)" está programada para os seguintes dias (coincidindo com efemérides relativas à relação de Álvaro Gaspar com o Clube):

PUBLICADO
1.       01.Mar.2014       O Último Jogo;
2.      05.Mar.2014      O Debutante;
3.      16.Mar.2014       O Crescimento;
4.      30.Mar.2014      A Resistência;
5.      09.Abr.2014       O Triunfo;
6.      10.Abr.2014       O Reservista;
7.      29.Abr.2014       A Titularidade;
8.      30.Abr.2014       A Internacionalização;
9.      06.Mai.2014       A Ficha;
10.    28.Mai.2014       O Brasil;
11.     19.Jun.2014       Percursos;
12.     02.Set.2014       A Derradeira Glória;
13.     03.Set.2014        A Última Época;
14.     04.Set.2014        O Funeral;
15.     05.Set.2014        O Legado  

Aquando do 100.º aniversário do seu falecimento, em 3 de Setembro de 2015, conto fazer um "Especial" que junte os 15 textos e mais algum ou alguns se entretanto os tiver feito!  


7 comentários
  1. Comovente. Justa. Impressionante.

    Com esta série de artigos excepcionais o Alberto fez uma comovente e justa evocação da memória de um grande Benfiquista.

    Porque os homens justos e de boa fé não devem nunca esquecer nem deixar esquecer aqueles que foram maiores entre nós.

    Só poderia ser obra de um outro grande Benfiquista.

    Tenho algumas notas mas fica para mais logo.

    Um bem-haja!

    VJC

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    1. Caro Victor João Carocha

      O que é mais gratificante é que na Cultura Benfiquista (no tempo em que esta era dinâmica e intrínseca aos Benfiquistas) não se faziam destaques individuais - o que contava era o colectivo, o Clube - mas havia respeito genuíno pelas Glórias que nos honraram o passado. Por isso eram dados como exemplo de Benfiquismo aos Benfiquistas. Sempre numa perspectiva do Clube enquanto colectivo. Não havia outro clube assim.

      Não foi por acaso que quando se criou, em 5 de Outubro de 1943, a equipa de veteranos esta chamou-se Saudade, e não como nos outros clubes: Velhas Glórias. No Benfica entendia-se que as Glórias nunca eram velhas, porque são Eternas. Não têm idade!

      Por exemplo nos falecimentos honravam-se homenageando os que em vida se dedicaram ao Clube. Não serviam para motivar para vitórias. O que motivava para a vitória era colocar a mão sobre o emblema e entoar, cada um em surdina, o Hino Avante P´lo Benfica antes de um jogo, ao intervalo ou quando alguém, mesmo em campo, procurava forças para virar do avesso a falta de sorte.

      O que pretendo fazer, provavelmente é pretensioso, é fazer ressurgir - divulgando-o aos leitores deste blogue - esta forma de Ser Benfiquista.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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  2. Álvaro Gaspar bem que podia (e devia) ser a capa do jornal do Clube em Setembro do próximo ano!
    Obrigado Alberto por todos estes textos sobre Álvaro Gaspar.

    Ps: Grande texto acima em resposta ao VictorJ

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  3. 1 - "Volumosos e completos registos da secretaria". Presumo que só a partir de 1908, data da fusão. A ausência de dados quanto a Álvaro Gaspar de 1905/06 até 1908/1909 parece indicar isso.

    2 - Placa de homenagem de Álvaro Gaspar I - inaugurada uns meses antes da morte de Cosme Damião. Pergunto-me até que ponto as motivações de António Ribeiro dos Reis não foram determinadas por essa perda eminente.

    3 - Placa de homenagem de Álvaro Gaspar II - 30 anos depois... Curioso, penso ter lido num dos obituários do Chacha que existiria logo na altura do seu funeral, nesse longíquo ano de 1915, já uma ideia de o homenagear com uma obra da autoria de Francisco Santos e António do Couto. As razões que o Alberto indica explicam talvez porque só 30 anos depois a placa foi concretizada. Francisco dos Santos já estava morto desde 1930 mas António do Couto ainda viveu para dar essa contribuição.

    4 - Fico muito contente por ver que esta impressionante série de artigos está a receber um merecido destaque no maior fórum dos Benfiquistas. Não basta ser e sentir o Benfica. É preciso conhecer o Benfica. E quanto mais o conhecemos mais gostamos.

    5 - Concordo em tudo com o Eddie_. Seria bonito ver essa capa e seria mais uma oportunidade de divulgar o Chacha e exaltar o Ser Benfiquista.

    5 - Concordo inteiramente com o Eddie_. Seria bonito ver essa capa.

    Saudações Benfiquistas
    VJC

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    1. Caro Victor João Carocha

      1. Os registos da secretaria só foram feitos no início/ meados dos ano 20 quando o secretário do Clube (Eduardo Martins Pereira) tomou essa hercúlea tarefa. Foi feita retrospectivamente. Ou par falta de tempo (e por ser gigantesca) ou por não ter conseguido consultar um número elevado de publicações está muito incompleta. Mas mesmo assim fundamental. Se nada houvesse seria muito pior. Há é procurar na Biblioteca Nacional de Portugal todos as publicações periódicas nessas épocas como se não existisse arquivo no Clube e depois comparar.

      3. Essa ideia era fazer um berço e lápide a colocar na sepultura. Não sei se chegou a ser feita.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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  4. Parabéns pelo extraordinário trabalho de investigação. Notável!

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    Respostas
    1. Caro Fernando Fernandes

      Agradecimento sincero. Não há nada melhor que ser agraciado pelos seus iguais.

      Saudações

      Alberto Miguéns

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