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15 julho 2012

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HOMENAGEM


Antiga travessa do Borralho em Lisboa, numa homenagem ao infortunado Francisco Lázaro (1891 - 1912)



Eterno Lázaro!   

Com a morte de um campeão, Portugal ficou traumatizado. Só voltariam a realizar-se maratonas nacionais 14 anos depois, em 1936.


A filha que nasceu órfã
Quatro meses depois de Lázaro falecer e dois meses depois dos restos mortais serem sepultados em Benfica, nasceu a sua filha, a que chamaram Francisca. Em 1968, com 56 anos, vivia desde 1956, com o marido e um filho (neto de Lázaro), bem como com a sua mãe Sofia, viúva de Lázaro, em Lourenço Marques (actual Maputo), capital da província ultramarina de Moçambique. D. Sofia se tivesse a idade do marido, em 1968, teria 76 anos. Em 9 de Setembro de 1968 deram uma entrevista, publicada no jornal “O Benfica” que interessa reproduzir.

D. Sofia pronuncia-se:
«O meu marido era operário. Treinava-se quando ia para o trabalho, correndo ao lado dos eléctricos do Chora, de Benfica ao Bairro Alto. À nossa despedida (26 de Junho de 1912) eu chorei muito, apesar de ele se mostrar muito animado e contente, garantindo-me que: venceria ou morreria. E dizia-me muitas vezes que gostaria que o filho que esperávamos fosse uma menina, pois, se saísse rapaz e não gostasse de desporto, seria um desgosto enorme e, no caso de vir uma menina, então levá-la-ia com ele para ficar a ver.»

D. Francisca pronuncia-se:
«A figura do meu pai, apesar de ser operário, despertou muita atenção na Suécia. Segundo dizem, era um rapaz com boa apresentação e o seu falecimento causou geral consternação. A família real da Suécia ficou muito chocada e o príncipe herdeiro, actual rei, tratou de indagar em que condições ficava a família do morto. Impressionado, tratou de organizar um festival desportivo que devia ter a maior importância e cujo produto se destinava a ser entregue à nossa família. Em seguida um barco da marinha de guerra sueca propositadamente, veio a Lisboa trazer o féretro e mandaram-nos uma latinha de terra colhida no local onde meu pai faleceu, assim como uma fotografia da igreja onde esteve o corpo depositado. O produto do festival foi depositado e os juros passaram a ser divididos em três partes – uma para a minha avó (mãe de Lázaro), outra para a minha mãe e outra para mim, dinheiro esse que semanalmente recebíamos no consulado da Suécia em Lisboa. Quando atingi a maioridade entregaram-me o depósito que constituía uma espécie de dote. Nunca deixou toda a família real de manter contacto connosco e nós procedíamos e procedemos ainda hoje (1968) considerando essa amizade como qualquer coisa de admirável que nos toca muito fundo, nos sensibiliza e honra. Ainda outra recordação: no primeiro aniversário da morte (1913) enviaram-nos coroa para que em Lisboa houvesse sobre o túmulo de meu pai as flores da casa real. Acredite, ficámos de tal modo sensibilizados, que durante muito tempo, até mesmo depois de casada, andei a pensar em ir viver para lá. E tenho a certeza de que se o tivesse feito não me teria arrependido, pois a família real haveria de me ajudar!»…

Francisco Lázaro com 21 anos foi vítima do infortúnio, e apesar de quando faleceu já não ser atleta do “Glorioso”, ainda estavam bem presentes na memória dos benfiquistas, as suas valorosas qualidades desportivas e a humildade de uma vida simples.

DATAS              Acontecimentos
08.Jane.1891      Nascimento em Lisboa
03.Mai.1908       Vitória na 2.ª Maratona Nacional
 Junho  1910       Vitória na 4.ª Maratona Nacional
07.Mai.1911        Vitória no I Corta-Mato Nacional
18.Junh.1911       Vitória na 5.ª Maratona Nacional
09.Julh.1911       Vitória no Grande Prémio do Progresso
Ano de 1912        Vitória na 6.ª Maratona Nacional
14.Julh.1912       Maratona Olímpica em Estocolmo
15.Julh.1912        Falecimento na Suécia
23.Sete.1912       Chegada a Portugal da urna
24.Sete.1912       Funeral para o cemitério de Benfica


TRIUNFOS     
Ano  Prova                 Distância                   Tempo
1908 Maratona           24 km                 1 h 39’
1910  Maratona           42,8 km              2 h 57’
1911  Corta-Mato           5 km                       20’ 25’’
1911  Maratona           42,8 km              3 h 09’ 53’’
1911  GP Progresso     30 km                 2 h 10’
1912  Maratona           42,2 km              2 h 52’ 08’’

MELHORES MARCAS
Prova                                    Marca
Maratona (42,2 km)            2 h 52’ 08’’
Fundo (30 km)                     2 h 10’
Corta-Mato (5 km)                     20’ 25’’

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